Blog Prontidão Total NO TWITTER

Blog Prontidão Total NO  TWITTER
SIGA-NOS NO TWITTER
Mostrando postagens com marcador cockpit. Mostrar todas as postagens
Mostrando postagens com marcador cockpit. Mostrar todas as postagens

quinta-feira, 14 de março de 2019

Simplórios no comando

A complicada relação entre humanos e automação é agravada por populismo barato

O conselho mais sábio dado por instrutores de voo a jovens pilotos é também o mais antigo: em caso de pane, voe o avião (está lá no filme Sully, do famoso pouso no Rio Hudson em Nova York). Significa simplesmente utilizar de maneira coordenada pés e mãos, e pilotar a máquina até chegar lá embaixo, como fez o Capitão Sully.
Então como entender que engenheiros projetaram um sistema de computadores que interfere diretamente na atitude do avião (nariz para baixo, no caso) somente quando o piloto automático NÃO está acionado, ou seja, o avião está sendo voado pelo ser humano? É o caso do Boeing 737 Max 8, obrigado a ficar no chão ou proibido de voar no espaço aéreo de dezenas de países depois de dois acidentes fatais levantarem a suspeita de que pilotos não conseguiram lidar ou foram driblados por modernos sistemas automáticos.
A questão está longe de ser meramente técnica. Na verdade, é profundamente filosófica, e por consequência política, e tem a ver com a relação entre humanos e automação. Modernos aviões comerciais voam contro ados por sistemas que “protegem” os pilotos de si mesmos, isto é, sensores levam computadores a agir diretamente na pilotagem se dados essenciais como velocidade, por exemplo, estiverem fora de limites fixados num software. 
No já clássico The human factor, de William Langewieche, que trata da tragédia do AF447 entre Rio e Paris, em 2009 – talvez o melhor texto jamais escrito sobre um grande acidente aeronáutico – verifica-se que é a automação que permitiu eliminar grande parte do “fator humano” e dar enorme segurança ao transporte aéreo. Mas o “fator humano” é o decisivo quando pilotos educados a confiar na automação se desorientam na ausência dela – caso dos pilotos do AF447, surpreendidos pelo desligamento dos computadores depois de uma pequena falha de um sensor de velocidade, e que não conseguem “voar o avião”. 

No extremo oposto, como parece ser o caso de pelo menos um acidente fatal envolvendo o 737 Max, os pilotos aparentemente lutaram para manter o avião sob controle nas mãos mas, o computador, novamente por culpa de dados errôneos de sensores, insistiu em jogar o nariz para baixo provocando um mergulho fatal. “Automation surprise” chama-se no jargão técnico esse súbito pesadelo de duas faces: a desorientação do piloto quando os sistemas automáticos não fazem o que se espera que deveriam fazer, ou, ao contrário, quando fazem o que não deveriam.
A questão é política pois são entidades governamentais que certificam a segurança de aviões, fiscalizam a aplicação de medidas, obrigam (ou cedem, depende) grandes fabricantes a seguir ou alterar normas, com enorme impacto econômico, psicológico e social numa indústria competitiva e dominada por poucos. E de imenso apelo emocional ao público, para o qual o debate sobre quem manda na máquina, o piloto ou o computador, só torna o voo uma coisa ainda mais misteriosa.
E tanto é político que esse apelo se tornou irresistível para populistas como Donald Trump. Acreditando equivocadamente que sistemas de alta complexidade de segurança de voo criam apenas mais perigos em troca de vantagens mínimas, além de serem caros e demandarem a complexa formação de profissionais, Trump foi ao Twitter declarar que preferia não ter um Albert Einstein como piloto e, sim, gente que fosse autorizada a rápida e facilmente assumir o controle do avião. Aguardou as reações. E aí mandou o avião ficar no chão, sem esperar a FAA, a agência reguladora.
Claro que não é possível comparar o escritório de trabalho de um chefe de Estado como Trump com o cockpit de uma moderna aeronave comercial. Mas provavelmente só em  - palácios de governo é que simplórios conseguem ficar tanto tempo no comando.
 

William Waack - O Estado de S.Paulo

 

quinta-feira, 26 de março de 2015

Copiloto jogou avião para baixo deliberadamente

Piloto ficou trancado do lado de fora da cabine, dizem promotorias

Gravações do Airbus indicam que um dos comandantes do voo tentou, em vão, arrombar porta do cockpit

Os mistérios acerca da queda do Airbus da Germanwings com 150 pessoas a bordo ganhou novos contornos quando um investigador disse ao "New York Times" que as provas de um gravador de vozes indicam que um dos pilotos deixou a cabine antes da queda e foi incapaz de voltar. Ele teria tentado arrombar a porta. Caso os registros realmente apontem para isto, surgem teorias variadas como sabotagem, suicídio ou inconsciência do comandante que estava sozinho na cabine. As promotorias alemã e francesa confirmaram a informação. 



Um alto funcionário militar envolvido na investigação descreveu conversas muito tranquilas entre os pilotos durante a primeira parte do voo de Barcelona até Düsseldorf. Em seguida, o áudio indicou que um dos pilotos deixou a cabine e não conseguiu voltar. Não se sabe qual deles foi.  “O homem do lado de fora está batendo de leve na porta e não há nenhuma resposta”, disse o investigador. "Então ele passa a bater mais forte e nunca há uma resposta. É possível ouvir que ele está tentando arrombar a porta”.

Nos novos aviões da Airbus, para abrir a porta trancada, um comandante dentro da cabine precisa destravá-la de dentro, através de uma chave no painel. Nas gravações, como não há voz de dentro da cabine, é possível presumir que o piloto que estava no comando não teria experimentado um problema técnico, já que teria relatado a situação.

Uma dúvida que ainda paira é a de como o avião teria começado a cair, pois estava no piloto automático após atingir altura e velocidade de cruzeiro. Segundo especialistas, poderia ser tanto sabotagem quanto algum mal súbito que derrubaria a alavanca responsável pela altura.

Enquanto o áudio parecia dar algumas pistas sobre as circunstâncias que levaram ao acidente, a gravação também deixou muitas perguntas sem resposta. “Não sabemos ainda a razão pela qual um dos pilotos saiu”, disse o funcionário, que pediu anonimato porque a investigação está em andamento. “Mas o que é certo é que no final do voo, o outro piloto está sozinho e não abre a porta”.

Os dados do gravador de voz parecem apenas aprofundar o mistério em torno do acidente. A queda do avião de 38 mil pés de altura durante cerca de 10 minutos foi alarmante, mas gradual o suficiente para indicar que o Airbus A320 não havia sofrido grandes danos. Em nenhum momento durante a descida houve qualquer comunicação a partir da cabine para controladores de tráfego aéreo ou qualquer outro sinal de emergência.
O Departamento de Investigações e Análises da França confirmou apenas que as vozes humanas e outros sons tinham sido detectados e seriam submetido a uma análise detalhada.


Questionada sobre a nova evidência revelada nas gravações da cabine, Martine del Bono, porta-voz do departamento, se recusou a comentar. — Nossas equipes continuam a trabalhar na análise das gravações da cabine — disse ela — Assim que tivermos informações precisas temos a intenção de realizar uma coletiva.

Continua o mistério do vôo MH-370 - mais de um ano e nada