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quarta-feira, 5 de julho de 2017

Ex-procurador, braço-direito de Janot, pode deixar escritório que negociou leniência da J&F

Ex-procurador Marcello Miller responde a processos sobre eventuais desvios éticos

 Uma semana depois de o presidente Michel Temer levantar suspeitas em relação à conduta profissional do advogado Marcello Miller e, por consequência, do seu ex-chefe, o procurador-geral da República, Rodrigo Janot, nada de verdadeiramente comprometedor pesa contra ambos até agora. Correm, no Tribunal de Ética e Disciplina da Ordem dos Advogados do Brasil — Seção Rio de Janeiro (OAB/RJ) — e na Procuradoria da República no DF, processos para apurar eventuais desvios éticos, quebra de sigilo ou conflito de interesses do acusador que, de um mês para o outro, virou defensor. Não há, porém, previsão de conclusão dos processos.

O ex-procurador da República deixou, em março, o cargo no qual atuava desde 2004, com direito a vencimentos superiores a R$ 30 mil, e pelo qual chegou a assessorar diretamente Janot. No mês seguinte, passou a atuar como sócio na sede do Rio de Janeiro do escritório Trench Rossi Watanabe, cuja equipe participou da negociação para fechamento do acordo de leniência firmado pela Procuradoria-Geral da República com a holding J&F esse acerto ganhou a pecha de delação superpremiada, porque poupa os executivos da empresa de punições.

Ontem, por meio de um assessor de imprensa, Miller negou pedido de entrevista. “Não cometi nenhum ato irregular, mas não responderei às afirmações a meu respeito pela imprensa”, limitou-se a informar o ex-procurador, por meio de mensagem eletrônica. “Apenas me manifestarei perante as autoridades com competência para examinar os fatos e com interesse na aferição da verdade”, concluiu a declaração, um texto igual ao usado na semana passada. Fica pendente de resposta, sem negativa ou confirmação, a pergunta sobre a iminente saída dele do Trench Rossi Watanabe, como noticiado pelo colunista Lauro Jardim, do jornal O Globo, no domingo.

Marcello Miller formou-se em direito pela Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ), em 1997. Nessa mesma instituição, tornou-se, em 2008, mestre em direito internacional. No ano seguinte ao término da graduação, foi aprovado como diplomata pelo Instituto Rio Branco. Durante seis anos, até 2003, atuou no Ministério das Relações Exteriores. Em março de 2004, começou a carreira na Procuradoria da República do Rio de Janeiro como titular de ofício especializado em crimes contra o Sistema Financeiro Nacional e lavagem de dinheiro. Durante 18 meses, entre 2013 e 2015, foi coordenador adjunto da Assessoria Criminal no gabinete de Janot.

Em rede social com foco nas relações profissionais, o Linkedin, o ex-procurador anuncia que é conhecedor de seis idiomas, dos quais três dominaria com fluência além do português, o francês e o inglês.

Dos dois processos que correm para analisar a conduta profissional de Miller, apenas o procedimento preparatório da Procuradoria da República do DF tem prazo. São 90 dias corridos, com possibilidade de prorrogação, para a decisão sobre eventual abertura de um inquérito civil, que poderá apurar a ocorrência de improbidade ou violação do dever funcional. E, desde terça-feira, o Tribunal de Ética e Disciplina da OAB/RJ apura a conduta profissional dele. Essa análise disciplinar segue sigilosa até o trânsito em julgado.

“Apenas me manifestarei perante as autoridades com competência para examinar os fatos e com interesse na aferição da verdade”
Marcello Miller, advogado

Fonte: Correio Braziliense