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sexta-feira, 13 de março de 2020

Coronavírus na economia - Abandonar as reformas é uma clara tentativa de suicídio do país - J.R. Guzzo

Gazeta do Povo

Coronavírus derrubou as bolsas mundo afora e fez o preço do dólar disparar no Brasil: o mal já está feito, mas Brasil não pode  perder o foco das reformas.

Está difícil. A qualquer minuto, dizem médicos respeitadíssimos, os governos e as redes sociais, o sujeito pode pegar um coronavírus ao botar o pé para fora de casa, e a partir daí não está claro se ele vai ter uma gripe, se não vai acontecer nada ou se vai cair morto. Ler sobre o assunto, em geral, só aumenta a sua própria confusão mental, visto que lhe jogam em cima 1.000 notas, avisos, vídeos, áudios, fotos, etc., que se repetem ou se contradizem uns aos outros. Para completar, começam a surgir, agora, dúvidas cada vez angustiantes sobre outras aflições da vida. Vou perder meu emprego? 
Vou fechar a minha empresa? 
Vou ficar sem um tostão no bolso?

O noticiário é tenebroso. As bolsas caem tanto, em todos os países do mundo, a ponto de suspenderem os pregões. O dólar passa dos R$ 5,00. As companhias de aviação, a continuar essa procissão, estão a caminho da falência porque a cada dia um país diferente proíbe voos vindos do exterior, e os passageiros não podem mais comprar passagens, mesmo que queiram. Na sequência, quebram os hotéis e o restante da indústria de viagem. Segue-se a falência dos fornecedores.

As indústrias não poderão operar se os operários não puderem frequentar ambientes onde há outras pessoas. O mesmo vale para o grande, médio e pequeno comércio. 
Faltam peças e componentes importados
E se proibirem as pessoas de andar de ônibus, metro ou trem? Estão sendo suspensos shows, disputas esportivas, convenções, congressos (inclusive congressos médicos) e mais todo o tipo de atividade onde existe público.

Empresas que podem adotam, pelo menos em parte, o “teletrabalho”. A Amazon quebra, porque não há mais gente para fazer as entregas. 
A Netflix morre por falta de gente para ver seus filmes. 
Os governos (o do Brasil, por exemplo, já está quebrado muito antes de qualquer vírus) param porque não há mais funcionários, nem impostos. Vai somando: o que sobra?

Há duas possibilidades, diante de tudo isso: ou a onda passa, e passa relativamente logo, ou o mundo acaba. Como a segunda hipótese é pouco provável, mesmo porque é impossível dar tudo errado durante o tempo todo, sobra a primeira. Há estimativas, nas quais você acredita se quiser, que as coisas vão piorar durante os próximos três, quatro ou cinco meses, e depois começarão inevitavelmente a melhorar – porque o contágio se esgota e o combate à epidemia se torna mais eficaz.

Muito do mal, entretanto, já está feito. A economia mundial não vai crescer como se poderia esperar – na verdade, o que se espera agora é exatamente o contrário. No Brasil, especialmente, a situação é delicada. Não apenas a estrutura de saúde, pública ou particular, não está equipada para enfrentar uma epidemia dessas proporções – atenção: a de nenhum país está, mesmo no primeiro mundo, porque era impossível prever o coronavirus e executar, durante anos, o volume de obras para enfrentá-lo –, mas na própria economia em si.

O Brasil vem de um não-crescimento de 1% em 2019. A reação que se poderia esperar para este ano, pela excelente posição dos principais fundamentos econômicos, já parece travada – até porque a maioria das empresas, dos investidores e dos consumidores tem certeza de que está travada.

O ministro Paulo Guedes disse que o país tem “capacidade e velocidade de escape” para enfrentar a crise. Não se sabe bem o que é isso, mas é certo que a urgência das reformas se torna cada vez mais vital. O Brasil, sem nenhum vírus, já não tinha outra escolha que não fosse transformar radicalmente o seu Estado. Agora, então, continuar a não mexer em nada parece uma clara tentativa de suicídio.


J. R. Guzzo, jornalista - Vozes - Gazeta do Povo


terça-feira, 10 de março de 2015

Dilma reage ao panelaço. Veja se entende o que ela disse

Louve-se o PT. Você pode não concordar com ele, mas entende o que ele diz por mais absurdo que soe 

Quem pensa confusamente quase sempre se expressa confusamente. Desse mal padece a presidente Dilma Rousseff. Ela só se expressa bem quando lê o que lhe escrevem. Ontem, por exemplo, no rastro do panelaço que marcou sua aparição no último domingo em cadeia nacional de rádio e televisão, ela disse que manifestações contra o governo são normais.

Mas criticou o que seria uma tentativa de promover “um terceiro turno das eleições”. Dilma com a palavra: - O que não é possível no Brasil é a gente também não aceitar a regra do jogo democrático. A eleição acabou. Houve o primeiro e houve o segundo turno. O terceiro turno das eleições, para qualquer cidadão brasileiro (...) não pode ocorrer a não ser que você queira uma ruptura democrática.

O que será que inspirada pelo ministro Aloizio Mercadante, da Casa Civil, ela chama de “terceiro turno”? E que poderia resultar em uma “ruptura democrática”? Nem ela explicou nem o ministro. Onde ela viu no panelaço o risco de “uma ruptura democrática”? Não deve ter visto. Do contrário não o teria tratado como uma manifestação normal contra o governo.
“Terceiro turno” é só uma expressão de que se valeu Mercadante para desqualificar o panelaço. Nada quer dizer de fato. Dilma a repetiu por falta de imaginação. Seu vocabulário consegue ser mais pobre do que o de Lula.

Quanto aos gritos de “Fora, Dilma!” ouvidos durante o panelaço, Dilma observou: - Eu acho que é questão de conteúdo. Eu acho que há que caracterizar razões para impeachment.
Entendeu?  Eu também não. Adiante.

A manifestação a favor do impeachment marcada para o próximo domingo em diversas cidades não parece assombrar Dilma. Talvez aumente sua confusão mental. Confira:
- Ela em si [a manifestação] não representa a legalidade nem a legitimidade de pedidos que rompem com a democracia.
E agora? Entendeu?
Eu também não.
Louve-se o PT. Você pode não concordar com ele, mas entende o que ele diz por mais absurdo que soe.

Marchar contra Dilma é tentativa de golpe. Pedir a deposição dela é golpe, decretou o PT. E estamos conversados.

Fonte: Ricardo Noblat - Blog do Noblat