‘Espero que as Forças Armadas não participem nunca mais da verificação do processo eleitoral’, disse o General Santos Cruz
O primeiro ministro-chefe da Secretaria do Governo de Jair Bolsonaro, General Carlos Alberto Santos Cruz rompeu com o presidente seis meses depois. Ao Radar, ele falou o que pensa sobre as manifestações que não aceitam a vitória de Lula, expôs a impossibilidade de uma intervenção militar na atual conjuntura e opinou sobre a participação do Exército no processo eleitoral. “As Forças Armadas não têm que participar do processo eleitoral, o responsável pelo processo eleitoral é o Tribunal Superior Eleitoral [órgão da Justiça Eleitoral, que existe apenas no Brasil, sendo dispensável nas maiores democracias do planeta] e a fiscalização é feita pelos partidos políticos e alguns órgãos técnicos”, disse o ex-ministro.
O Exército não deveria ter aceitado participar do pleito, afirmou o General. E agora, as Forças Armadas arriscam sua credibilidade por não apresentar o relatório da inspeção paralela. “Quando você entra em um ambiente desses, e você se compromete em fazer um relatório, já tem o primeiro problema. E quando você não apresenta, tem outro problema que é colocar a sua credibilidade em xeque. Esse relatório tem que sair”, pontuou. [ao que se sabe o relatório está sendo elaborado de forma responsável e a tempo de eventuais medidas que se mostrarem indispensáveis serem adotadas - há tempo razoável até 1º janeiro 2022.]
Sobre os atos em frente aos quartéis, Santos Cruz disse que a manifestação pacífica é legítima. No entanto, os manifestantes estão “manipulados” por “oportunistas”. “Eu não vejo nenhuma possibilidade do Exército querer tomar atitudes relativas à política. Estamos em um cenário de normalidade”, disse o ex-ministro.
Com a experiência de quem comandou tropas na missão do Exército brasileiro no Haiti, Santos Cruz descartou qualquer ensejo antidemocrático das tropas. Para o General, quem pede uma tomada de poder das Forças Armadas fez uma interpretação equivocada do artigo 142 da Constituição Federal. “De 4 em 4 anos, tem eleição. Não se pode aceitar apenas um resultado, isso não tem nada a ver com as Forças Armadas. Os comandantes são pessoas responsáveis, que não vão tomar atitudes ilegais, são pessoas preparadas”.
Em 16 de novembro, em São Paulo, Santos Cruz lança o livro “Democracia na Prática”, que segundo o autor, extrapola os conceitos acadêmicos e pretende se comunicar de forma direta com o cidadão. O General elencou 23 temas que considera relevantes para a compreensão de sistemas democráticos. A publicação também será lançada em Brasília neste mês.
Radar - Revista VEJA