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quarta-feira, 28 de junho de 2017

Temer, a esperança dos enrolados com a Justiça

Em conversa com o empresário Joesley Batista no porão do Palácio do Jaburu em 7 de março último, o presidente Michel Temer o ouviu confessar vários crimes – desde o pagamento de suborno para que o ex-deputado Eduardo Cunha não delatasse até a cooptação de juízes e procuradores para que ações contra o Grupo JBS não prosperassem.

Ao invés de dar ordem de prisão a Joesley, o que poderia ter feito, ou denunciá-lo mais tarde, Temer ouviu tudo calado. E quando falou foi para incentivar Joesley a continuar subornando Cunha. Dois meses depois, Temer justificou seu comportamento dizendo que Joesley era um conhecido falastrão além de “bandido notório”. Por isso nada fizera.

Ontem, ao fingir que se defendia da denúncia de Rodrigo Janot, Procurador Geral da República, que o acusou de corrupção, Temer citou o ex-procurador Marcelo Miller, hoje sócio do escritório de advocacia encarregado da defesa de Joesley. Disse que ele saiu da Procuradoria para ir ganhar muito dinheiro. E que poderia tê-lo dividido com Janot. Na conversa com Joesley, Temer foi leniente e cúmplice. No ataque a Janot e a Miller, irresponsável e leviano. Não poderia ter ouvido sem reagir ao que Joesley lhe contou. Não poderia ter dito o que disse sobre Janot e Miller sem apresentar provas. Não vale o truque besta de que fazia uma ilação porque se julga vítima de outra.

A autoridade máxima da República, em país que se dá ao respeito, não procede como Temer procedeu nas duas ocasiões, e em outras tantas. Por muito menos, em vários lugares, governantes renunciam ao cargo – ou são forçados a fazê-lo. No Japão, por vergonha, alguns se suicidam.  A ex-presidente das Filipinas está presa.  Esperou-se de Temer, um homem sóbrio, elegante no uso das palavras, que se explicasse ao país depois de atingido pela denúncia de Janot. Estava obrigado a oferecer fatos para desmanchar os fatos apurados pela Polícia Federal que ameaçam o seu mandato. Mas, não. Temer limitou-se a posar de vítima e a bater nos seus acusadores.

Sobre as provas, desconheceu-as. Disse simplesmente que elas não existem. Sobre as intenções de Janot ao fazer a denúncia, disse que elas escondem o desejo dele de paralisar o governo e o Congresso. Por fim, sacou outro truque da cartola – o de tentar se confundir com a instituição que representa, a presidência, e de dizer que ela foi posta em xeque.

Em xeque está ele. Temer não falou aos brasileiros como se imaginava. Falou para o sistema político corrompido, acuado pela Lava Jato,  e que poderá livrá-lo da perda do mandato. A denúncia de Janot só será apreciada pela Justiça se a Câmara dos Deputados, por dois terços dos seus votos, permitir. No momento, não há sinal de que permitirá.

Os cofres públicos estão desde já abertos para a compra de votos de deputados ávidos pela liberação de verbas destinadas a obras em sua base eleitoral. Os mais enrolados com a Justiça, e os que enfrentarão maiores dificuldades para se reeleger, enxergam em Temer um protetor confiável. Mantê-lo na presidência, pois, é uma forma de se manterem vivos. A ver.

Fonte: Blog do Noblat - O Globo
 

terça-feira, 27 de junho de 2017

Acabou a fase da vergonha - a pergunta continua: Temer saindo, quem assume?

A denúncia de Janot abre a temporada das negociações sem limites do governo com o Congresso para manter o presidente Michel Temer no cargo 

[considerando que  a Câmara dos Deputados não vai conceder licença para Temer ser processado, a possibilidade dele ser afastado por até 180 dias (o que possibilitaria a segurança do Brasil ter um presidente por seis meses - Rodrigo Maia - e o governo continuar funcionando) deixa de existir.

Com isso, manter a pressão sobre Temer não resolve nada em termos de punição - caso seja culpado não haverá meios da culpa ser provada - e o Governo para de vez e o Brasil só se ferra - especialmente os que estão desempregados, cujo número terá todos os ingredientes para voltar a crescer, infelizmente.

Fica a impressão de uma gincana em que ganha quem descobrir como derrubar Temer e o Brasil que se f ... .]

A denúncia oferecida pelo procurador-geral da República, Rodrigo Janot, contra o presidente Michel Temer encerra de vez a fase da vergonha em Brasília. Daqui para a frente, Temer, seus ministros mais próximos, seus assessores de confiança (os poucos que não estão presos ou fora do governo por precaução) e seus aliados no Congresso trabalharão pela sobrevivência à beira do precipício. Nessa situação, o limite nas atitudes fica mais elástico, a ponto de sumir. Esperam-se rasteiras, bate-bocas, enfim, uma pancadaria política generalizada e crescente. No Congresso, será aberto sem estribeiras o jogo das trocas de votos por cargos, emendas e algo mais que se pode imaginar. Será preciso ter estômago para tudo o que virá.

Temer é o primeiro presidente da história do Brasil processado no cargo por um crime comum corrupção passiva. Chegou a essa situação porque o empresário Joesley Batista, da JBS, gravou uma conversa mantida com o presidente no Palácio do Jaburu em 7 de março. Pela análise da conversa e devido a investigações posteriores, Janot afirma ao Supremo Tribunal Federal que Temer usou o cargo de presidente da República para receber uma propina de R$ 500 mil por meio do ex-deputado Rodrigo Rocha Loures

Rocha Loures está preso e pode se tornar um delator. Além desta, Janot ainda vai apresentar mais duas denúncias contra Temer, por dois outros crimes. Cada uma será remetida ao Supremo e será votada na Câmara. Temer terá de reunir, três vezes, pelo menos 171 deputados para barrar as investigações. Custará caríssimo a ele e ao país.

Será preciso ter estômago para observar a Câmara. Acabou aquela vergonha, aquele constrangimento que impediram os parlamentares de assumir certas posições contra a Operação Lava Jato. Aliados do governo adotarão o pragmatismo mais radical e defenderão Temer com frases e justificativas que causam revolta no cidadão comum. Aparecerão aquelas visões que relativizam até fatos abjetos. Deputados que estão de olho em cargos e ascensão, fazem parte da base aliada ou não são opositores ferrenhos farão coisas assim porque o governo estará aberto como nunca a ouvir seus pedidos e atender a eles. Fechados dentro do prédio do Congresso, os deputados poderão exercer aquela postura de desconexão da realidade que rende benefícios políticos em certas ocasiões.

O governo vai trabalhar para Temer. Seus integrantes vão se concentrar em fornecer tudo o que for necessário para a Câmara barrar a denúncia. Também jogarão no outro flanco, no qual atacarão o procurador Rodrigo Janot dia e noite. Pode não ser institucionalmente correto a cúpula de Brasília trabalhar para o presidente, não para a nação, mas foi o que aconteceu na fase mais aguda do impeachment de Dilma Rousseff, há pouco mais de um ano, e é o que acontecerá agora. A reforma trabalhista, que está mais adiantada, andará mais devagar e pode parar. A reforma da Previdência dura, mas necessária para o país prosseguir – só será assunto no segundo semestre. Ainda assim, não há nenhuma garantia, fora discursos no piloto automático, de que será levada adiante e menos ainda de que será aprovada na amplitude prometida; o mais provável é que sobre apenas uma carcaça. Não pode ser diferente.

Temer é um presidente enfraquecido, que comanda um governo em pedaços, com alguns ex-integrantes presos, outros ameaçados de prisão e dois ministros – Eliseu Padilha e Moreira Franco – mantidos no cargo para evitar esse constrangimento. Mas é um governo que ainda tem algum espaço para negociar com o Congresso. Ali, o campo está aberto para o pragmatismo mais selvagem e sem limites.

Fonte: Revista Época