Em conversa com o empresário Joesley Batista no porão do Palácio do
Jaburu em 7 de março último, o presidente Michel Temer o ouviu confessar
vários crimes – desde o pagamento de suborno para que o ex-deputado
Eduardo Cunha não delatasse até a cooptação de juízes e procuradores
para que ações contra o Grupo JBS não prosperassem.
Ao invés de dar ordem de prisão a Joesley, o que poderia ter feito, ou
denunciá-lo mais tarde, Temer ouviu tudo calado. E quando falou foi para
incentivar Joesley a continuar subornando Cunha. Dois meses depois,
Temer justificou seu comportamento dizendo que Joesley era um conhecido
falastrão além de “bandido notório”. Por isso nada fizera.
Ontem, ao fingir que se defendia da denúncia de Rodrigo Janot,
Procurador Geral da República, que o acusou de corrupção, Temer citou o
ex-procurador Marcelo Miller, hoje sócio do escritório de advocacia
encarregado da defesa de Joesley. Disse que ele saiu da Procuradoria
para ir ganhar muito dinheiro. E que poderia tê-lo dividido com Janot. Na conversa com Joesley, Temer foi leniente e cúmplice. No ataque a
Janot e a Miller, irresponsável e leviano. Não poderia ter ouvido sem
reagir ao que Joesley lhe contou. Não poderia ter dito o que disse sobre
Janot e Miller sem apresentar provas. Não vale o truque besta de que
fazia uma ilação porque se julga vítima de outra.
A autoridade máxima da República, em país que se dá ao respeito, não
procede como Temer procedeu nas duas ocasiões, e em outras tantas. Por
muito menos, em vários lugares, governantes renunciam ao cargo – ou são
forçados a fazê-lo. No Japão, por vergonha, alguns se suicidam. A
ex-presidente das Filipinas está presa. Esperou-se de Temer, um homem sóbrio, elegante no uso das palavras, que
se explicasse ao país depois de atingido pela denúncia de Janot. Estava
obrigado a oferecer fatos para desmanchar os fatos apurados pela
Polícia Federal que ameaçam o seu mandato. Mas, não. Temer limitou-se a
posar de vítima e a bater nos seus acusadores.
Sobre as provas, desconheceu-as. Disse simplesmente que elas não
existem. Sobre as intenções de Janot ao fazer a denúncia, disse que elas
escondem o desejo dele de paralisar o governo e o Congresso. Por fim,
sacou outro truque da cartola – o de tentar se confundir com a
instituição que representa, a presidência, e de dizer que ela foi posta
em xeque.
Em xeque está ele. Temer não falou aos brasileiros como se imaginava.
Falou para o sistema político corrompido, acuado pela Lava Jato, e que
poderá livrá-lo da perda do mandato. A denúncia de Janot só será
apreciada pela Justiça se a Câmara dos Deputados, por dois terços dos
seus votos, permitir. No momento, não há sinal de que permitirá.
Os cofres públicos estão desde já abertos para a compra de votos de
deputados ávidos pela liberação de verbas destinadas a obras em sua base
eleitoral. Os mais enrolados com a Justiça, e os que enfrentarão
maiores dificuldades para se reeleger, enxergam em Temer um protetor
confiável. Mantê-lo na presidência, pois, é uma forma de se manterem
vivos. A ver.
Fonte: Blog do Noblat - O Globo
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