A denúncia de Janot abre a temporada das negociações sem limites do governo com o Congresso para manter o presidente Michel Temer no cargo
[considerando que a Câmara dos Deputados não vai conceder licença para Temer ser processado, a possibilidade dele ser afastado por até 180 dias (o que possibilitaria a segurança do Brasil ter um presidente por seis meses - Rodrigo Maia - e o governo continuar funcionando) deixa de existir.
Com isso, manter a pressão sobre Temer não resolve nada em termos de punição - caso seja culpado não haverá meios da culpa ser provada - e o Governo para de vez e o Brasil só se ferra - especialmente os que estão desempregados, cujo número terá todos os ingredientes para voltar a crescer, infelizmente.
Fica a impressão de uma gincana em que ganha quem descobrir como derrubar Temer e o Brasil que se f ... .]
A denúncia oferecida pelo procurador-geral da República, Rodrigo Janot, contra o presidente Michel Temer encerra de vez a fase da vergonha em Brasília. Daqui para a frente, Temer, seus ministros mais próximos, seus assessores de confiança (os poucos que não estão presos ou fora do governo por precaução) e seus aliados no Congresso trabalharão pela sobrevivência à beira do precipício. Nessa situação, o limite nas atitudes fica mais elástico, a ponto de sumir. Esperam-se rasteiras, bate-bocas, enfim, uma pancadaria política generalizada e crescente. No Congresso, será aberto sem estribeiras o jogo das trocas de votos por cargos, emendas e algo mais que se pode imaginar. Será preciso ter estômago para tudo o que virá.
Temer é o primeiro presidente da história do Brasil processado no cargo por um crime comum – corrupção passiva. Chegou a essa situação porque o empresário Joesley Batista, da JBS, gravou uma conversa mantida com o presidente no Palácio do Jaburu em 7 de março. Pela análise da conversa e devido a investigações posteriores, Janot afirma ao Supremo Tribunal Federal que Temer usou o cargo de presidente da República para receber uma propina de R$ 500 mil por meio do ex-deputado Rodrigo Rocha Loures.
Rocha Loures está preso e pode se tornar um delator. Além desta, Janot ainda vai apresentar mais duas denúncias contra Temer, por dois outros crimes. Cada uma será remetida ao Supremo e será votada na Câmara. Temer terá de reunir, três vezes, pelo menos 171 deputados para barrar as investigações. Custará caríssimo a ele e ao país.
Será preciso ter estômago para observar a Câmara. Acabou aquela vergonha, aquele constrangimento que impediram os parlamentares de assumir certas posições contra a Operação Lava Jato. Aliados do governo adotarão o pragmatismo mais radical e defenderão Temer com frases e justificativas que causam revolta no cidadão comum. Aparecerão aquelas visões que relativizam até fatos abjetos. Deputados que estão de olho em cargos e ascensão, fazem parte da base aliada ou não são opositores ferrenhos farão coisas assim porque o governo estará aberto como nunca a ouvir seus pedidos e atender a eles. Fechados dentro do prédio do Congresso, os deputados poderão exercer aquela postura de desconexão da realidade que rende benefícios políticos em certas ocasiões.
O governo vai trabalhar para Temer. Seus integrantes vão se concentrar em fornecer tudo o que for necessário para a Câmara barrar a denúncia. Também jogarão no outro flanco, no qual atacarão o procurador Rodrigo Janot dia e noite. Pode não ser institucionalmente correto a cúpula de Brasília trabalhar para o presidente, não para a nação, mas foi o que aconteceu na fase mais aguda do impeachment de Dilma Rousseff, há pouco mais de um ano, e é o que acontecerá agora. A reforma trabalhista, que está mais adiantada, andará mais devagar e pode parar. A reforma da Previdência – dura, mas necessária para o país prosseguir – só será assunto no segundo semestre. Ainda assim, não há nenhuma garantia, fora discursos no piloto automático, de que será levada adiante e menos ainda de que será aprovada na amplitude prometida; o mais provável é que sobre apenas uma carcaça. Não pode ser diferente.
Temer é um presidente enfraquecido, que comanda um governo em pedaços, com alguns ex-integrantes presos, outros ameaçados de prisão e dois ministros – Eliseu Padilha e Moreira Franco – mantidos no cargo para evitar esse constrangimento. Mas é um governo que ainda tem algum espaço para negociar com o Congresso. Ali, o campo está aberto para o pragmatismo mais selvagem e sem limites.
Nenhum comentário:
Postar um comentário