Repatriação, foto, filme e o destempero de Rodrigo Maia. Devagar com andor, deputado!
Presidente
da Câmara está confundindo autoridade com “falar grosso”. Isso não resolve nada; só faz barulho
O deputado Rodrigo
Maia (DEM-RJ) está confundindo alhos com bugalhos. Ele é o presidente da
Câmara. Ocupa hoje o segundo cargo na hierarquia institucional. Isso lhe impõe especial
responsabilidade. Gente que está nessa função — e,
sim, eu vou lhe passar um ensinamento que vem da história, não da experiência pessoal (eu nunca fui presidente da Câmara, mas ele também não) — precisa ter moderação. Sr. Maia, atenção! Sabe quem fala grosso? Quem não tem certeza
sobre o próprio poder e a própria competência. As pessoas seguras e realmente
poderosas são serenas. Mais: Maia tem de entender, também para temperar seu
discurso, que é personagem incidental de um roteiro que nem foi escrito por
ele. Foi escrito pelas ruas. Então devagar com andor!
Por que isso? Rodrigo Maia disse que
o governo federal está tratando os deputados como “palhaços” — ele usou essa expressão — na questão da Lei de Repatriação. E
fez um ameaça, como se fosse o dono da pauta e, quem sabe?, do Brasil: “Então não vota nada. Agora, depois não vá querer
aumentar imposto. Quero dizer o seguinte: se essa arrecadação vier abaixo do
que está se esperando, o governo não vai fechar a conta e vai ficar com a conta
aberta. Estou dizendo explicitamente. O grande conflito era foto ou filme.
Agora o governo quer de novo filme, então não trate a gente como palhaço”.
Falta tudo à sua fala, a começar da
temperança. Vamos explicar as metáforas. “Foto”
remete a uma imagem congelada, certo? Filme
tem movimento. Há quem entenda que a multa que o repatriador tem de pagar
deva incidir sobre o valor que ele tinha no dia 31 de dezembro de 2014. É o que
querem os deputados. O governo defende, e eu também, a modalidade “filme”: tributar o valor
movimentado. Mais: a lei estabelece que aquele que prestar informações incorretas está
excluído do programa. Os deputados também são contra.
Eu traduzo “foto” ou “filme” de outro modo: a “foto”, como querem os deputados, é muito mais boazinha com
sonegadores; o “filme” é bem mais
severo. O governo havia acenado com a possibilidade de apoiar a “foto”, mas, agora, quer que seja “filme”, segundo recomendação da Receita
Federal.
Ora, isso não é fazer ninguém de “palhaço”, senhor Rodrigo Maia. A
política supõe negociação, idas e vindas. Não é com palavras que geram muito
calor e nenhuma luz que Maia vai demonstrar a altivez da Câmara. Até porque,
levado ao pé da letra, o presidente da
Casa está dizendo que ou se vota tudo como ele quer, ou, então, não se vota
nada. E ele próprio avança: “Depois
que não se queira aumentar impostos”. Acho que Rodrigo Maia está
confundindo as cadeiras. Ele não ocupa a
primeira do Palácio do Planalto, mas a primeira da Câmara dos Deputados.
Não é a primeira vez que atravessa o
samba. Já gerou uma confusão e tanto na base quando anunciou como dado da
natureza que Michel Temer seria candidato à reeleição. E ele o fez por conta
própria, sem consultar ninguém, falando com os próprios botões. A frase foi
tomada por um recado do próprio presidente, o que, obviamente, não era. O
governo informa já ter arrecadado mais de R$ 8 bilhões com o programa e espera
chegar a R$ 50 bilhões.
Nesta quarta, depois de muita
atrapalhação, foi votado o requerimento de urgência. Maia, mais uma vez,
estrilou: “Se eu encerrar a sessão [por
falta de quórum], esse assunto não volta mais à pauta neste ano”. Há um
excesso de “eus” nas falas do
presidente da Câmara. Ele vem de uma
escola de marketing ruim: a de seu pai, Cesar Maia, que consagrou a palavra
“factoide”. O ex-prefeito do Rio
sempre foi melhor do que as notícias que gerou. É bom Rodrigo ir com calma. Ninguém precisa de incendiário na
Presidência da Câmara.
Fonte: Blog do Reinaldo
Azevedo