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segunda-feira, 23 de março de 2015

It's time of panelaço



As manifestações de 15 de março não tiveram a menor importância. Como todo mundo sabe, manifestação que vale é aquela à qual o pessoal vai de vermelho em troca de sanduíche de mortadela. [correção: de última hora o kit passeata foi modificada e o sanduba de mortadela foi trocado por um pão com margarina.
Com receio de serem expulsos do poder e excluídos do aparelhamento do Estado, a corja petista aumentou a parcela da propina a ser retida como provisão para futuro duvidoso – que é a única certeza que a petralhada tem: o futuro não será promissor para eles.] As multidões que tomaram o país de verde-amarelo, sem bandeiras partidárias ou sindicais, não contam. O mais chocante de tudo, porém, é o que está acontecendo com Dilma Rousseff: o procurador-geral da República e o ministro relator do petrolão no STF declararam que ela é inocente por antecipação. E o Brasil acreditou! Nesse ritmo, a próxima manifestação terá milhões de pessoas nas ruas pedindo a renúncia de Fernando Henrique. 

Claro que a declaração de inocência absoluta de Dilma, a ponto de não poder sequer ser investigada, é uma piada. Por enquanto, para inglês rir. O que fez John Oliver, no seu programa na HBO, ao comentar que Dilma presidiu o Conselho de Administração da Petrobras enquanto o escândalo devorava a estatal, e foi isenta de suspeitas? Caiu na gargalhada.  E terminou o programa batendo panela em sua bancada, explicando que no Brasil "it"s time of panelaço" ("é hora de panelaço"). 

Será que John Oliver já sabe do Vaccari? Alguém precisa contar a ele que a Operação Lava Jato denunciou o tesoureiro do PT por cavar propinas do petrolão para abastecer a campanha de Dilma Rousseff, a base de Dilma Rousseff, o governo de Dilma Rousseff. Como não é brasileiro, Oliver vai se escangalhar de rir. O mais divertido (para ele) seria entrevistar o procurador-geral, Rodrigo Janot, e o ministro do Supremo Teori Zavascki. A dupla sustenta (e o Brasil acredita) que não há fatos que ensejem uma investigação sobre Dilma. Sugestão a John Oliver para a hipotética entrevista com os justiceiros do Brasil: comece perguntando "Who is Renato Duque?" 

Deixem uma UTI móvel na porta dos estúdios da HBO, porque o apresentador pode ter um piripaque de tanto rir. Vai ser demais para ele saber que Duque, preso como pivô do escândalo do petrolão, era homem do partido de Dilma na direção da Petrobras. Que era preposto de um companheiro de Dilma julgado e condenado por outro mega escândalo gestado no governo do PT - companheiro este que, mesmo atrás das grades, jamais foi censurado publicamente por Dilma, a inocente. Parem a gravação para abanar Oliver, porque ele já está com falta de ar. 

Muito cuidado com a saúde do apresentador inglês, porque é hora de perguntar a Mr. Zavascki como ele se sente tendo mandado soltar Renato Duque e sabendo agora que o acusado aproveitou sua liberdade embolsando novas propinas. Oliver está rolando no chão.   Não detalhem ao apresentador da HBO o escândalo da compra da refinaria de Pasadena, em operação presidida pela inocência de Dilma Rousseff no Conselho da Petrobras. E, por favor, não digam a ele que esse delito e o do financiamento sujo da campanha dela em 2010 estão sendo engavetados pelos justiceiros "porque Dilma não estava no exercício da Presidência". Oliver não encontraria fôlego para perguntar, entre gargalhadas histéricas, se um presidente que cometeu um homicídio antes de se eleger também seria poupado de investigações por estar "no exercício da Presidência". 

Dilma Rousseff é a representante máxima de um projeto político podre, que engendrou os dois mais obscenos escândalos de corrupção da história da República, e não pode ser investigada porque... Por que mesmo? Porque o Brasil acredita em qualquer bobagem que lhe seja dita de forma categórica em juridiquês castiço.  Também não contem, por favor, a John Oliver que depois de 2 milhões de pessoas saírem às ruas gritando "fora, Dilma!", a presidente deu uma entrevista emocionada com a liberdade de manifestação no país que ela ajudou a conquistar. Como se diz "cara de pau" em inglês, perguntaria o apresentador, atônito. Ora, Mr. Oliver, faça essa pergunta ao carniceiro Nicolás Maduro, amigo de fé e irmão camarada da heroína da liberdade. 

Assim é o Brasil de hoje. Dilma não pode ser investigada, e a casta intelectual que a apoia espalha que a multidão de verde-amarelo contra a corrupção usava camisas da CBF... [Dilma não pode ser investigada na interpretação parcial do Zavascki e do Janot; A Constituição permite que Dilma, e qualquer outro no exercício do cargo de presidente da República,  seja investigada, não permite é que seja processada (o).
O procurador-geral, cujo mandato está no final, depende para ser reconduzido ao cargo da indicação da doutora Dilma; assim, deveria se declarar suspeito para continuar exercendo o cargo em tudo referente à Lava Jato ou então se declarar de forma irrevogável não candidato à recondução.
Convenhamos que é difícil ser isento acusando o seu principal e único eleitor.] 

Só faltou denunciar os que foram protestar contra o petrolão pegando ônibus com diesel da Petrobras...  Como se vê, a covardia não tem limite. Vejamos se a paciência tem.

Fonte: Guilherme Fiúza – Revista Época