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A divulgação da pesquisa com aumento da popularidade de
Bolsonaro não deveria surpreender tanto. A negação da pandemia de
coronavírus, para muitos de nós, parecia um fator de desgaste. Mas nem
isso colou, pois 47% dos entrevistados consideram que Bolsonaro não tem
culpa pelo fracasso nacional diante da pandemia. O ponto elementar do aumento do prestígio de Bolsonaro é a ajuda
emergencial. No início queria que fosse de R$ 200, mas as negociações
com o Congresso acabaram elevando-a para R$ 600. [dependesse do deputado Maia ficaria ente R$ 400 a R$ 500, o presidente é que bancou os R$ e o deputado não teve coragem tentar baixar o valor.] Apesar do esforço dos
deputados, Bolsonaro capitalizou sozinho essa extraordinária
transferência de renda, que salvou muita gente e em alguns pontos do
Nordeste melhorou as condições de vida.
Isso tudo, num momento em que discutimos a democracia e seus limites,
deveria ser visto com bastante calma. Em primeiro lugar, é comum em
todos os estudos da democracia apontar um apoio maior ao governo em
regiões que dependem da assistência oficial. Tem sido assim no Nordeste.
De modo geral, é a última região onde os governos perdem força. Os anos em que a esquerda esteve no poder deram-lhe a sensação de que
estava selada entre ela e a população mais pobre uma aliança histórica
irreversível. Há muita ilusão nessa ideia. Alguns críticos da esquerda
afirmam que ela errou por considerar apenas o aspecto fisiológico da
aliança, sem avançar na educação política. Pessoalmente, acho que errou
apenas ao enfatizar as melhorias no aumento de um tipo de consumo,
deixando de lado alguns avanços que seriam vitais para os pobres, como,
por exemplo, o saneamento básico.
Uma questão que se coloca para a democracia é até que ponto as
limitações econômicas não transformam em fantasia a ideia de que as
pessoas escolhem livremente seu caminho. Ou, em outras palavras,
enquanto houver pessoas abaixo da linha de pobreza não há escolha para
elas senão tentar escapar dela. As pesquisas fora do Brasil que mostram a decadência da democracia
entre gente da classe média e jovens são eloquentes nesse sentido. Em
muitos lugares há uma tendência crescente a aceitar um governo
autoritário e mesmo uma ditadura militar. Não é a extrema pobreza que
produz esse sentimento.
Em muitos casos a decadência da adesão
democrática se dá apenas porque foi interrompido o processo de melhoria
de vida. Em outros casos, os entrevistados dizem que estão bem de vida,
mas abandonam a crença na democracia porque uma cidade vizinha ficou
pobre ou porque um bairro próximo apresenta altos níveis de violência. Em síntese, se setores da classe média orientam suas posições por um
pressentimento quanto ao futuro, como questionar que pessoas em extrema
dificuldade canalizem seu apoio político diante de algo mais essencial,
que é a sobrevivência física?
Certamente outras políticas públicas têm peso na vida dos mais
pobres. A de saúde é uma delas. Acontece que neste período de pandemia,
apesar da corrupção, houve aumento de vagas em hospitais e uma sensação
de que a maioria dos pacientes foi atendida. Alguns erros, como a não
hospitalização mais precoce, não chegaram a ser sentidos com clareza.
Muito menos a incidência maior de mortes em regiões mais pobres foi
politizada, uma vez que a vimos com a habitual resignação diante de
problemas estruturais. Outra política que influencia a vida das pessoas mais pobres é a de
educação. No período da pandemia o setor ficou congelado. Mesmo a
educação privada sofreu o impacto e conseguiu se sair melhor com o
trabalho a distância. Mas também essa diferença foi atenuada pelo fato
de que nos acostumamos com o desnível estrutural entre o ensino
particular e o público.
Um dos pontos que não foram articulados na análise da pesquisa é até
que ponto a política assistencial de Bolsonaro será sustentável. Os
dados que complementam a análise mostram que há uma previsão de queda de
11% na atividade econômica do segundo semestre. O País poderá com isso
entrar em recessão. Em que bases o governo consegue ser popular numa recessão? Precisaria
de muito mais estudo para formular a saída. O único exemplo de governo
que se sustenta apesar do avanço da pobreza é o da Venezuela. Ali se
combinam dois fatores importantes. Uma parte da população se sente
contemplada. E as Forças Armadas, sócias do chavismo e das benesses do
governo, são de uma fidelidade até o momento inabalável.
[muitos insistem em que o presidente Bolsonaro e a direita mudaram de rumo, em busca da governabilidade e recuperação da popularidade do Chefe da Nação,ao criar o auxilio-emergencial = consideram uma opção pelo assistencialismo.
O assistencialismo continua sofrendo restrições e o caminho de socorrer os necessitados não foi alcanças popularidade e votos - nada disto. Foi consequência direta da pandemia e o presidente Bolsonaro tem a responsabilidade ética, legal e moral de usar recursos do Estado do qual é o Chefe para socorrer milhões pessoas, seres humanos, extremamente necessitados em consequência da maldita peste.
Bolsonaro tem o DEVER CRISTÃO de socorrer às vítimas da pandemia - mesmo impedido por decisões estranhas de assumir a linha de frente.]
A decisão de destinar mais dinheiro à Defesa do que à Educação e à
Saúde revela que o caminho de se associar às Forcas Armadas Bolsonaro
adotou desde o início. O que há de novidade é a ajuda assistencial, que
ele sempre considerou uma forma de a esquerda comprar votos, passar a
ser a principal esperança de sua sobrevivência política. A esquerda tem dificuldade de aceitar que as massas apoiem a direita
por causa da ajuda assistencial. E a direita sempre atacou o Bolsa
Família como se fosse algo que entorpecia não só a escolha política,
como o desejo de trabalhar e empreender. Parece que, em certos casos, pouco importa ser de esquerda ou de direita, a história já está previamente escrita.
Blog do Gabeira - Fernando Gabeira, jornalista
Artigo publicado no Estadão em 21/08/2020
A divulgação da pesquisa com aumento da popularidade de
Bolsonaro não deveria surpreender tanto. A negação da pandemia de
coronavírus, para muitos de nós, parecia um fator de desgaste. Mas nem
isso colou, pois 47% dos entrevistados consideram que Bolsonaro não tem
culpa pelo fracasso nacional diante da pandemia. O ponto elementar do aumento do prestígio de Bolsonaro é a ajuda
emergencial. No início queria que fosse de R$ 200, mas as negociações
com o Congresso acabaram elevando-a para R$ 600. [dependesse do deputado Maia ficaria ente R$ 400 a R$ 500, o presidente é que bancou os R$ e o deputado não teve coragem tentar baixar o valor.] Apesar do esforço dos
deputados, Bolsonaro capitalizou sozinho essa extraordinária
transferência de renda, que salvou muita gente e em alguns pontos do
Nordeste melhorou as condições de vida.
Isso tudo, num momento em que discutimos a democracia e seus limites, deveria ser visto com bastante calma. Em primeiro lugar, é comum em todos os estudos da democracia apontar um apoio maior ao governo em regiões que dependem da assistência oficial. Tem sido assim no Nordeste. De modo geral, é a última região onde os governos perdem força. Os anos em que a esquerda esteve no poder deram-lhe a sensação de que estava selada entre ela e a população mais pobre uma aliança histórica irreversível. Há muita ilusão nessa ideia. Alguns críticos da esquerda afirmam que ela errou por considerar apenas o aspecto fisiológico da aliança, sem avançar na educação política. Pessoalmente, acho que errou apenas ao enfatizar as melhorias no aumento de um tipo de consumo, deixando de lado alguns avanços que seriam vitais para os pobres, como, por exemplo, o saneamento básico.
Uma questão que se coloca para a democracia é até que ponto as limitações econômicas não transformam em fantasia a ideia de que as pessoas escolhem livremente seu caminho. Ou, em outras palavras, enquanto houver pessoas abaixo da linha de pobreza não há escolha para elas senão tentar escapar dela. As pesquisas fora do Brasil que mostram a decadência da democracia entre gente da classe média e jovens são eloquentes nesse sentido. Em muitos lugares há uma tendência crescente a aceitar um governo autoritário e mesmo uma ditadura militar. Não é a extrema pobreza que produz esse sentimento.
Em muitos casos a decadência da adesão democrática se dá apenas porque foi interrompido o processo de melhoria de vida. Em outros casos, os entrevistados dizem que estão bem de vida, mas abandonam a crença na democracia porque uma cidade vizinha ficou pobre ou porque um bairro próximo apresenta altos níveis de violência. Em síntese, se setores da classe média orientam suas posições por um pressentimento quanto ao futuro, como questionar que pessoas em extrema dificuldade canalizem seu apoio político diante de algo mais essencial, que é a sobrevivência física?
Certamente outras políticas públicas têm peso na vida dos mais pobres. A de saúde é uma delas. Acontece que neste período de pandemia, apesar da corrupção, houve aumento de vagas em hospitais e uma sensação de que a maioria dos pacientes foi atendida. Alguns erros, como a não hospitalização mais precoce, não chegaram a ser sentidos com clareza. Muito menos a incidência maior de mortes em regiões mais pobres foi politizada, uma vez que a vimos com a habitual resignação diante de problemas estruturais. Outra política que influencia a vida das pessoas mais pobres é a de educação. No período da pandemia o setor ficou congelado. Mesmo a educação privada sofreu o impacto e conseguiu se sair melhor com o trabalho a distância. Mas também essa diferença foi atenuada pelo fato de que nos acostumamos com o desnível estrutural entre o ensino particular e o público.
Um dos pontos que não foram articulados na análise da pesquisa é até que ponto a política assistencial de Bolsonaro será sustentável. Os dados que complementam a análise mostram que há uma previsão de queda de 11% na atividade econômica do segundo semestre. O País poderá com isso entrar em recessão. Em que bases o governo consegue ser popular numa recessão? Precisaria de muito mais estudo para formular a saída. O único exemplo de governo que se sustenta apesar do avanço da pobreza é o da Venezuela. Ali se combinam dois fatores importantes. Uma parte da população se sente contemplada. E as Forças Armadas, sócias do chavismo e das benesses do governo, são de uma fidelidade até o momento inabalável.
[muitos insistem em que o presidente Bolsonaro e a direita mudaram de rumo, em busca da governabilidade e recuperação da popularidade do Chefe da Nação,ao criar o auxilio-emergencial = consideram uma opção pelo assistencialismo.
O assistencialismo continua sofrendo restrições e o caminho de socorrer os necessitados não foi alcanças popularidade e votos - nada disto. Foi consequência direta da pandemia e o presidente Bolsonaro tem a responsabilidade ética, legal e moral de usar recursos do Estado do qual é o Chefe para socorrer milhões pessoas, seres humanos, extremamente necessitados em consequência da maldita peste.
Bolsonaro tem o DEVER CRISTÃO de socorrer às vítimas da pandemia - mesmo impedido por decisões estranhas de assumir a linha de frente.]
A decisão de destinar mais dinheiro à Defesa do que à Educação e à Saúde revela que o caminho de se associar às Forcas Armadas Bolsonaro adotou desde o início. O que há de novidade é a ajuda assistencial, que ele sempre considerou uma forma de a esquerda comprar votos, passar a ser a principal esperança de sua sobrevivência política. A esquerda tem dificuldade de aceitar que as massas apoiem a direita por causa da ajuda assistencial. E a direita sempre atacou o Bolsa Família como se fosse algo que entorpecia não só a escolha política, como o desejo de trabalhar e empreender. Parece que, em certos casos, pouco importa ser de esquerda ou de direita, a história já está previamente escrita.
Blog do Gabeira - Fernando Gabeira, jornalista
Artigo publicado no Estadão em 21/08/2020
Isso tudo, num momento em que discutimos a democracia e seus limites, deveria ser visto com bastante calma. Em primeiro lugar, é comum em todos os estudos da democracia apontar um apoio maior ao governo em regiões que dependem da assistência oficial. Tem sido assim no Nordeste. De modo geral, é a última região onde os governos perdem força. Os anos em que a esquerda esteve no poder deram-lhe a sensação de que estava selada entre ela e a população mais pobre uma aliança histórica irreversível. Há muita ilusão nessa ideia. Alguns críticos da esquerda afirmam que ela errou por considerar apenas o aspecto fisiológico da aliança, sem avançar na educação política. Pessoalmente, acho que errou apenas ao enfatizar as melhorias no aumento de um tipo de consumo, deixando de lado alguns avanços que seriam vitais para os pobres, como, por exemplo, o saneamento básico.
Uma questão que se coloca para a democracia é até que ponto as limitações econômicas não transformam em fantasia a ideia de que as pessoas escolhem livremente seu caminho. Ou, em outras palavras, enquanto houver pessoas abaixo da linha de pobreza não há escolha para elas senão tentar escapar dela. As pesquisas fora do Brasil que mostram a decadência da democracia entre gente da classe média e jovens são eloquentes nesse sentido. Em muitos lugares há uma tendência crescente a aceitar um governo autoritário e mesmo uma ditadura militar. Não é a extrema pobreza que produz esse sentimento.
Em muitos casos a decadência da adesão democrática se dá apenas porque foi interrompido o processo de melhoria de vida. Em outros casos, os entrevistados dizem que estão bem de vida, mas abandonam a crença na democracia porque uma cidade vizinha ficou pobre ou porque um bairro próximo apresenta altos níveis de violência. Em síntese, se setores da classe média orientam suas posições por um pressentimento quanto ao futuro, como questionar que pessoas em extrema dificuldade canalizem seu apoio político diante de algo mais essencial, que é a sobrevivência física?
Certamente outras políticas públicas têm peso na vida dos mais pobres. A de saúde é uma delas. Acontece que neste período de pandemia, apesar da corrupção, houve aumento de vagas em hospitais e uma sensação de que a maioria dos pacientes foi atendida. Alguns erros, como a não hospitalização mais precoce, não chegaram a ser sentidos com clareza. Muito menos a incidência maior de mortes em regiões mais pobres foi politizada, uma vez que a vimos com a habitual resignação diante de problemas estruturais. Outra política que influencia a vida das pessoas mais pobres é a de educação. No período da pandemia o setor ficou congelado. Mesmo a educação privada sofreu o impacto e conseguiu se sair melhor com o trabalho a distância. Mas também essa diferença foi atenuada pelo fato de que nos acostumamos com o desnível estrutural entre o ensino particular e o público.
Um dos pontos que não foram articulados na análise da pesquisa é até que ponto a política assistencial de Bolsonaro será sustentável. Os dados que complementam a análise mostram que há uma previsão de queda de 11% na atividade econômica do segundo semestre. O País poderá com isso entrar em recessão. Em que bases o governo consegue ser popular numa recessão? Precisaria de muito mais estudo para formular a saída. O único exemplo de governo que se sustenta apesar do avanço da pobreza é o da Venezuela. Ali se combinam dois fatores importantes. Uma parte da população se sente contemplada. E as Forças Armadas, sócias do chavismo e das benesses do governo, são de uma fidelidade até o momento inabalável.
[muitos insistem em que o presidente Bolsonaro e a direita mudaram de rumo, em busca da governabilidade e recuperação da popularidade do Chefe da Nação,ao criar o auxilio-emergencial = consideram uma opção pelo assistencialismo.
O assistencialismo continua sofrendo restrições e o caminho de socorrer os necessitados não foi alcanças popularidade e votos - nada disto. Foi consequência direta da pandemia e o presidente Bolsonaro tem a responsabilidade ética, legal e moral de usar recursos do Estado do qual é o Chefe para socorrer milhões pessoas, seres humanos, extremamente necessitados em consequência da maldita peste.
Bolsonaro tem o DEVER CRISTÃO de socorrer às vítimas da pandemia - mesmo impedido por decisões estranhas de assumir a linha de frente.]
A decisão de destinar mais dinheiro à Defesa do que à Educação e à Saúde revela que o caminho de se associar às Forcas Armadas Bolsonaro adotou desde o início. O que há de novidade é a ajuda assistencial, que ele sempre considerou uma forma de a esquerda comprar votos, passar a ser a principal esperança de sua sobrevivência política. A esquerda tem dificuldade de aceitar que as massas apoiem a direita por causa da ajuda assistencial. E a direita sempre atacou o Bolsa Família como se fosse algo que entorpecia não só a escolha política, como o desejo de trabalhar e empreender. Parece que, em certos casos, pouco importa ser de esquerda ou de direita, a história já está previamente escrita.
Blog do Gabeira - Fernando Gabeira, jornalista
Artigo publicado no Estadão em 21/08/2020