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domingo, 23 de setembro de 2018

STF X Lava Jato: Toffoli tenta silenciar Dallagnol


Em sua primeira entrevista como presidente do Supremo Tribunal Federal, o ministro Dias Toffoli soou enfático: ''O STF sempre deu suporte à Lava Jato, vamos parar com essa lenda urbana, com esse folclore'', declarou. O procurador da República Deltan Dallagnol protocolou na Corregedoria Nacional do Ministério Público um documento que contradiz Toffoli. Ele relaciona dezenas de decisões anti-Lava Jato tomadas pela Segunda Turma do Supremo. São deliberações reais, não fantasiosas ou folclóricas.

Coordenador da força-tarefa da Lava Jato em Curitiba, Dallagnol produziu o documento, suprema ironia, em resposta a um procedimento disciplinar aberto contra ele a pedido de Toffoli. Enumerou 27 decisões da Segunda Turma contra a Lava Jato. Entre elas 16 liberações de presos, quatro rejeições de denúncias e cinco remessas de processos para a Justiça Eleitoral ou outras jurisdições. Listou também decisões monocráticas (individuais) dos ministros, com especial realce para 47 habeas corpus concedimentos por Gilmar Mendes para libertar presos.

Sem alarde, a reclamação disciplinar contra Dallagnol começou a tramitar na corregedoria do Conselho Nacional do Ministério Público (CNMP) em 17 de agosto, exatamente um mês antes do encontro de Toffoli com os repórteres, na última segunda-feira (17). A peça com a defesa do procurador foi entregue há dez dias, em 13 de setembro, a mesma data em que Toffoli assumiu o comando do Supremo, no lugar de Cármen Lúcia.

O embate entre o ministro e o procurador foi motivado por uma entrevista do chefe da Lava Jato à rádio CBN, em 15 de agosto. Nela, Dallagnol criticou a decisão da Segunda Turma que transferiu do juiz Sérgio Moro para a Justiça Eleitoral em Brasília processo contra o ex-ministro petista Guido Mantega. O caso foi relatado por Toffoli. Envolve a troca de medidas provisórias por propina de R$ 50 milhões da Odebrecht. Parte da verba suja remunerou João Santana e sua mulher Monica Moura, o casal do marketing das campanhas petistas.

Na entrevista, Dallagnol lamentou o fato e a decisão ter sido tomada por 3 votos a 1. Referindo-se a Toffoli, Gilmar Mendes e Ricardo Lewandowski, o trio anti-Lava Jato da Segunda Turma, o procurador emendou: “Os três mesmos de sempre do Supremo Tribunal Federal que tiram tudo de Curitiba e que mandam tudo para a Justiça Eleitoral e que dão sempre os habeas corpus, que estão sempre formando uma panelinha assim, que manda uma mensagem muito forte de leniência a favor da corrupção”.

Dallagnol teve o cuidado de enfatizar: “Não estou dizendo que [os ministros] estão mal-intencionados nem nada”. Contudo, ele deixou seu ponto de vista bastante claro: “Estou dizendo que, objetivamente, a mensagem que as decisões mandam é de leniência. E esses três de novo olham e querem mandar para a Justiça Eleitoral como se não tivesse indicativo de crime? Isso para mim é descabido.”  Um dia depois da entrevista de Dallagnol, Toffoli reuniu-se com o corregedor do CNMP, Orlando Rochadel Moreira. Solicitou providências contra o procurador. Acusa-o de falta de decoro e de violação do dever funcional de manter uma conduta respeitosa à dignidade da instituição que representa e da Justiça.

Num procedimento inusitado, a ação disciplinar contra o chefe da Lava Jato foi inaugurada a partir da troca de um par de mensagens de WhatsApp. Numa, Toffoli enviou ao corregedor o link com a notícia sobre as declarações de Dallagnol. Noutra o doutor Orlando Rochadel acusou o recebimento da queixa e comprometeu-se a adotar as “providências pertinentes.” E Toffoli: ''Grato''.


Dallagnol enxerga na providência uma tentativa de censurá-lo. Sustenta em sua defesa que não fez senão exercitar a liberdade de  expressão.“Procuradores e promotores não são meio-cidadãos”, escreveu. “Têm direito legítimo a realizar críticas, mesmo ácidas e contundentes, contra decisões judiciais.” O procurador avalia que é parte de sua obrigação funcional a “prestação de contas de seu trabalho para a sociedade.” Isso inclui “avaliar criticamente o significado de decisões judiciais.”

De resto, o procurador teve a preocupação de demonstrar que não disse inverdades na entrevista que aborreceu Toffoli. Daí ter empilhado as decisões prejudiciais à Lava Jato. Fez mais: comparou o refresco servido pela Segunda Turma aos corruptos com o tratamento draconiano dispensado a réus que cometeram crimes mais brandos. Quem atravessa a peça do procurador do primeiro parágrafo ao ponto final emerge da leitura com a impressão de que a “lenda urbana” de que falou Toffoli inclui um conjunto de decisões desconexas que, reunidas num mesmo documento, emitem “uma mensagem muito forte de leniência a favor da corrupção”.

Dallagnol citou o julgamento em que a Segunda Turma decidiu libertar José Dirceu por 3 votos a 2. Reproduziu trechos dos votos divergentes de Edson Fachin e Celso de Mello para demonstrar que havia sólidas razões para manter o ex-chefão da Casa Civil de Lula atrás das grades. O procurador comparou a decisão que beneficiou Dirceu a outras deliberações da mesma Turma. O resultado do cotejo exala incoerência.Por exemplo: o ex-prefeito da cidade de Redenção do Gurgueia (PI), Delano Parente, foi acusado dos mesmos crimes atribuídos a Dirceu: corrupção, lavagem de dinheiro e organização criminosa. Mas teve o habeas corpus negado pela Segunda Turma. Alegou-se que a prisão tinha sido baseada na prática habitual e reiterada dos crimes. Exatamente o mesmo argumento usado para encarcerar o ex-ministro petista. Delano desviara R$ 17 milhões. Dirceu, R$ 19 milhões, noves fora o mensalão.

Há coisa pior: preso há mais de dois anos, Thiago Maurício Sá Pereira, conhecido como Thiago Poeta, teve um pedido de habeas corpus negado pela Segunda Turma em março. Acusado de traficar drogas, foi preso com 162 gramas de cocaína e 10 gramas de maconha. Sua pena foi menor que a de Dirceu: 17 anos e 6 meses, contra 30 anos. Mas os ministros não tiveram com o “Poeta” a complacência dedicada a Dirceu. [felizmente o erro da complacência excessiva com o criminoso Dirceu não se repetiu no exame do habeas corpus impetrado pelo traficante - cuja pena minima deveria ser de trinta anos.] 
 
Não é só: réu primário, Alef Gustavo Silva Saraiva foi flagrado com menos de 150 gramas de cocaína e maconha. Depois de passar quase um ano na cadeia, pediu um habeas corpus ao Supremo. Num julgamento ocorrido em dezembro de 2016, a prisão foi mantida por 4 votos. Gilmar Mendes ausentou-se. [vale o comentário acima.]  Ricardo Lewandowski, adepto da política de celas abertas para réus graúdos, disse o seguinte sobre o caso de Alef: “..Há farta jurisprudência desta Corte, em ambas as Turmas, no sentido de que a gravidade in concreto do delito ante o modus operandi empregado e a quantidade de droga apreendida – no caso, 130 invólucros plásticos e 59 microtubos de cocaína, pesando um total de 87,90 gramas, e 3 invólucros plásticos de maconha, pesando um total de 44,10 gramas (apreendidas juntamente com anotações referentes ao tráfico e certa quantia em dinheiro), permitem concluir pela periculosidade social do paciente e pela consequente presença dos requisitos autorizadores da prisão cautelar elencados no art. 312 do CPP, em especial para garantia da ordem pública.”


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segunda-feira, 10 de outubro de 2016

PEC DO TETO – Temer começa a enfrentar na Câmara, nesta segunda, a mãe de todas batalhas



Se partidos que fecharam questão e que dizem que podem fazê-lo cumprirem o prometido, PEC deve ser aprovada com relativa facilidade. Mas todo cuidado será sempre pouco

O governo do presidente Michel Temer começa a enfrentar nesta segunda a sua batalha principal. E também está em jogo aquele que pode ser o seu melhor legado. Vamos ver.

Temer reuniu mais de 400 pessoas num jantar no Palácio da Alvorada neste domingo — o número de deputados passava de 200. O prato principal do cardápio era a Proposta de Emenda Constitucional que estabelece o teto de gastos. O governo faz um esforço para votar o texto na Câmara ainda nesta segunda. Depois, é preciso esperar cinco sessões para a segunda votação. Para ser aprovado, o texto precisa do apoio de pelo 60% dos deputados (308) e dos senadores (49) em dois escrutínios em cada uma das Casas.

O presidente foi enfático na necessidade de aprovar a medida e chegou a dizer que, ao fim do seu mandato, todos estarão erguendo a mão para o céu, certos de que salvaram o Brasil. Para lembrar, a PEC estabelece que o Orçamento de um ano tem de repetir o do ano anterior, com a correção da inflação apenas. Vale para os três Poderes da República e para o Ministério Público Federal. Note-se que saúde e educação terão um tratamento especial. [a intenção da PEC é louvável; mas, dito popular bem antigo diz que de BOAS INTENÇÕES o inferno está cheio.
A PEC não passa e passando será derrubada por inconstitucionalidade no Supremo – além da indiscutível inconstitucionalidade (confere ao Poder Executivo ascendência sobre os demais – quem tem a ‘chave do cofre’ tem o Poder) os ministros do Supremo não vão aceitar que o presidente da República tenha o salário deles e de todos os membros do Judiciário sobre seu controle.]

O governo espera obter o apoio de pelo menos 350 deputados. A medida enfrenta, como era de esperar, a resistência dos partidos de esquerda e, ora veja, do Ministério Público Federal. As razões são puramente corporativistas. A expectativa é que se realize a segunda votação no dia 24 ou 25. O texto seguirá, então, para o Senado. E se espera que seja aprovado até o fim do ano.

Atenção! Nada aconteceu de tão importante nas finanças brasileiras desde a aprovação da Lei de Responsabilidade Fiscal, no ano 2000. Mesmo assim, vejam o que aconteceu com as contas públicas. É claro que a recessão teve um peso brutal no desastre econômico, mas é evidente que a falta de uma regra está na raiz do descontrole.

Em seu discurso, Temer considerou inadmissível o combate à medida. Tudo parece caminhar em favor da aprovação. Já fecharam questão os seguintes partidos: PMDB, PSDB, PP, PR, PSD, PTB e PSC. Só nesse bloco, há 265 deputados. O DEM, com 27, e o Solidariedade, com 14, também podem fechar o apoio de bancada, o que elevaria o número para 306. Estima-se que pelo menos 75% dos deputados do PSB possam aderir à PEC, o que somaria mais 25 parlamentares. Se for isso mesmo, já haveria aí 331 votos. [em tese 23 a mais que o necessário, o que não significa uma maioria sequer de 10% e em votações que para ser  vencedor tem que vencer quatro vezes e abstenções de parlamentares favoráveis tem o efeito de voto contra, maioria inferior a 10% não é maioria.]

Mas é preciso acompanhar a coisa com cuidado. Abaixo, há uma lista de deputados considerados indecisos. Como vocês poderão verificar, a maioria pertence a partidos que fecharam questão.



Que se diga de novo: estabelecer o teto dos gastos públicos deixou de ser uma questão de gosto ou de ideologia. Ou o país faz isso ou marcha para o abismo. E que se note: isso só está sendo votado agora porque houve mudança de governo. Como se sabe, o PT e todas as suas lideranças, a começar de Lula, são contrários à proposta.

A questão é saber se é admissível uma postura política que sabota os interesses do conjunto dos brasileiros. [o mais grave é que a postura política contra a PEC tem um argumento irrefutável: a PEC é inconstitucional. Assim, mesmo que a contragosto, cabe reconhecer que aprovar esta PEC é tão errado quanto fatiar a punição da ‘escarrada’ Dilma.]

 Fonte: Blog do Reinaldo Azevedo