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sexta-feira, 12 de outubro de 2018

A boca do jacaré

No jargão dos institutos de pesquisa, quando os gráficos mostram um desenho que distancia dois competidores de maneira clara, diz-se que “abriu a boca do jacaré”. E quando ela abre, é difícil de ser fechada. O fato é que uma vitória de Haddad seria mudar em 15 dias tudo o que o eleitorado brasileiro fez no último domingo, quando varreu figuras tradicionais da política brasileira, apartidariamente, mas atingindo, inclusive, políticos do PT ou seus aliados mais explícitos, com uma ou outra exceção devido a peculiaridades da política local.

A situação é tão grave que o PT aceitou uma derrota simbólica de relevância, permitindo que Haddad apagasse de sua propaganda o rosto de Lula e, mais que isso, trocasse a cor vermelha da propaganda, pelo verde e amarelo típico da campanha de Bolsonaro. [o objetivo covarde e rasteiro do PT é confundir o eleitor e tentar pegar carona nas cores do Bolsonaro - o tiro sairá pela culatra, já que o eleitor - apesar de grande maioria ter votado (passado) em trastes tipo Lula e Dilma - ficou mais esperto e agora saberá diferenciar a tentativa de enganação do PT - o eleitor já está dizendo que o PT pensa que votam no partido dos trouxas, são burros, são trouxas.
A tentativa de fazer sua campanha passar por a do BOLSONARO vai dar o mesmo resultado de contar com os votos do Ciro Gomes - que deu uma banana para Haddad e Lula e viajou para a Europa - clique e leia: Ciro dá o troco no PT e frustra Haddad.]
 
É interessante notar que desde 2013, quando das manifestações populares difusas contra “tudo o que está aí”, e depois nas passeatas a favor do impeachment de Dilma, os manifestantes que usavam o verde e amarelo, geralmente com a camisa da seleção brasileira de futebol, eram ridiculamente acusados pelos petistas de serem “coxinhas” coniventes com a corrupção da CBF. 

Agora, os cartazes do petismo que quer se esconder mostram moças e rapazes com a camisa da seleção, com a mão no peito em sinal de respeito, e olhando para o horizonte, dignos do realismo socialista do tempo de Stalin na União Soviética. E o desaparecimento da figura de Lula dos cartazes lembra muito o hábito stanilista de apagar das fotos os que caiam em desgraça no regime comunista, muito antes de aparecer o photoshop.

É claro que o PT não chegou a esse ponto, e Lula continua sendo “o grande líder”. Mas como a rejeição a ele e ao PT é grande, a ponto de o diretor do Ibope Carlos Augusto Montenegro avaliar que se o ex-presidente fosse candidato hoje poderia perder a eleição, estrategicamente escondem-no, com o consentimento do próprio.  Haddad, aliás, escreveu um livro, justamente no ano da queda do Muro de Berlim, cujo objetivo é demonstrar que a revolução comunista de 1917 não conseguiu implantar o verdadeiro socialismo. Quando era ministro da Educação, para reagir às críticas ao livro “Por uma Vida Melhor”, que admitia erros de português como sendo uma forma espontânea de se expressar, Haddad saiu-se com essa bizarrice: “Há uma diferença entre o Hitler e o Stálin que precisa ser devidamente registrada. Ambos fuzilavam os seus inimigos, mas o Stálin lia os livros antes de fuzilá-los”.

O eleitor, na prática, fez o mesmo que Lula nas eleições de 2010 e 2012, que escalou seus adversários preferenciais para derrotar, em diversos partidos: Tasso Jereissati, do PSDB; Arthur Virgílio, do PSDB; Marco Maciel,do DEM; Heloisa Helena, hoje na Rede.
Lula fez campanha pessoalmente contra Arthur Virgilio, e disse que o povo havia dado uma lição a ele com a vitória de Vanessa Graziotin para o Senado. Hoje, Virgilio é prefeito de Manaus e Graziotin não foi reeleita. Sobre a derrota de Tasso Jereissati naquela altura, disse que o povo “fez um favor danado”. Tasso hoje é senador.

De volta a 1989
A proposta de Katia Abreu, vice de Ciro Gomes, para que Haddad renuncie para permitir que Ciro dispute com Bolsonaro, o único que poderia vencê-lo segundo sua opinião, lembra um episódio da eleição presidencial de 1989, que tantas semelhanças tem com a de hojeDerrotado por Lula por exatos 0,67% de votos , Brizola pediu que Lula renunciasse para que Mario Covas, do PSDB, que ficou em quarto lugar, pudesse enfrentar Collor, pois teria mais condições para isso que Lula. Como agora, não deu certo.

Merval Pereira - O Globo
 

sexta-feira, 31 de julho de 2015

Falta de compostura



Maior responsável pela grave crise política, econômica, social e moral em que o País está mergulhado depois de mais de 12 anos de domínio petista, Luiz Inácio Lula da Silva tenta reagir à queda do pedestal em que se entronizou graças à conjugação de circunstâncias históricas alheias à sua vontade, com a habilidade e a falta de escrúpulos com que manejou um populismo irresponsável. Diante da revelação, da forma mais dolorosa possível para os brasileiros, de seu legado maldito e apavorado com a perspectiva cada vez mais próxima de ter de prestar contas à Justiça de seu envolvimento em acontecimentos que o beneficiaram e a toda sua família, Lula entrega-se ao destempero retórico. 

Perdeu completamente a compostura.
Na sexta-feira passada, em discurso na posse da diretoria do Sindicato dos Bancários do ABC, em Santo André, Lula não teve o menor constrangimento em se colocar no papel de vítima de “nazistas” e de uma “elite perversa” que não aceita conquistas sociais. Numa tentativa canhestra de explicar a decepção em que se transformou o poste que escolheu para substituí-lo na Presidência, atribuiu o desastre ao machismo da elite: “Nunca tinha visto na vida pessoas que se diziam democráticas (sic) e não aceitaram uma eleição que elegeu uma mulher presidente da República”.

Com a popularidade em baixa, não seria agora que Lula se exporia diante do “povo”. Só fala a plateias selecionadas que não representem ameaça à sua megalomania. Diante de tal público, sente-se à vontade para derramar todo seu repertório de demagogo sacramentado. Parece não lhe ocorrer, no entanto, que o que ele imagina ser uma deferência especial sua a uma plateia selecionada significa, na verdade, um insulto aos cidadãos que, salvo a hipótese de se tratar de fanáticos irredimíveis, só estão ali porque Lula lhes atrai a curiosidade. E nada mais. Quanto aos áulicos, estes estão dispostos a aceitar e aplaudir qualquer barbaridade que profira, como essa de que a culpa pelo desastrado governo de Dilma é dos machistas que não aceitam o fato de ela ser presidente.

No cenário armado em Santo André, Lula lembrou seus dias de líder que fazia oposição a “tudo isso que está aí”: “Quero dizer para vocês que estou cansado de mentiras e safadezas; estou cansado de agressões à primeira mulher que hoje governa esse país; estou cansado com o tipo de perseguição e criminalização que tentam fazer à esquerda desse país. 
Parece os nazistas criminalizando o povo judeu e romanos criminalizando os cristãos”. Pois é. O homem, logo quem, está cansado de “mentiras e safadezas”. E ainda finge ser de esquerda, o que, definitivamente, é um dos poucos equívocos que não lhe podem ser imputados. A única coisa autêntica nessa arenga foram os erros de português.

Embora seja hoje um rico e ativo membro do jet set internacional, Lula mantém a humildade: “Eles não suportam que um metalúrgico quase analfabeto tenha colocado mais gente na faculdade do que eles, não suportam que a gente não deixou privatizar o Banco do Brasil”. Defendeu as realizações sociais e econômicas que efetivamente promoveu em seu governo enquanto navegou nas águas de uma conjuntura internacional favorável e de uma política econômica interna pautada pelos princípios “liberais” herdados dos governos tucanos. Mas ignorou, é claro, que todas aquelas conquistas estão hoje comprometidas pela teimosia do governo Dilma em impor ao País uma “nova matriz econômica” estatista. E lamentou: “Eu, sinceramente, ando de saco cheio. Profundamente irritado. Pobre ir de avião começa a incomodar; fazer faculdade começa incomodar; tudo que é conquista social incomoda uma elite perversa”.

Para concluir, a manipulação desavergonhada dos números: “A inflação está 9%, com perspectiva de cair. Quando eu peguei esse país, a inflação estava a 12%, o desemprego a 12%”. Só esqueceu de mencionar que antes do Plano Real, em junho de 1994, a hiperinflação era de mais de 47% e que a meta do atual governo, de 4,5%, sempre esteve longe de ser cumprida.

Cada vez menos, Lula consegue reunir plateias dóceis para deitar falação. Muito pouca gente se engana com ele. Para a grande maioria dos brasileiros, Lula e tudo o que ele representa foram uma ilusão passageira.

Fonte: Editorial – O Estado de São Paulo