Bolsonaro alega que o assessor do filho lhe devia dinheiro. Falta explicar por que a transação não foi declarada e por que o PM precisaria do empréstimo
[o enrolado médium de Abadiânia, deverá ser convocado para auxiliar a esclarecer a inusitada situação de um PM precisar de empréstimo.]
O presidente eleito ainda não tomou posse, mas já surgiu o primeiro rolo do novo governo. O jornal “O Estado de S. Paulo” revelou que um ex-assessor de Flávio Bolsonaro caiu
na malha finado Conselho de Controle de Atividades Financeiras (Coaf ). O órgão registrou movimentação atípica de R$ 1,2 milhão na conta do policial militar Fabrício Queiroz, que exercia as funções de motorista e segurança. A investigação rastreou um cheque dele para Michelle Bolsonaro, a futura primeira-dama, no valor de R$ 24 mil.
A informação está nos autos da Operação Furna da Onça, que prendeu dez deputados estaduais. [conforme foi amplamente noticiado o filho do presidente Bolsonaro não foi alvo da operação.] A Procuradoria da República não quis responder se o filho do capitão também está na mira da investigação. Supondo-se que não esteja, persiste a dúvida: por que seu assessor, que recebia R$ 8.517 por mês na Alerj, repassaria quase o triplo para a mulher do presidente?
A notícia do cheque foi recebida com um silêncio incomum no bunker da transição. Na quinta-feira, ninguém falou. Flávio se limitou a escrever, no Twitter, que o PM daria “todos os esclarecimentos”. Na sexta, o futuro ministro Sergio Moro deu as costas à imprensa para não comentar o assunto. Seu colega Onyx Lorenzoni não exibiu a mesma frieza e se destemperou diante das câmeras. Questionado, ele tentou desviar o foco atacando a imprensa, o PT e o Coaf. Chegou a insinuar que o órgão teria se omitido no escândalo do mensalão — o deputado integrou a CPI dos Correios e sabe que isso não ocorreu. Irritado, ele ainda perguntou quanto um repórter ganhava antes de abandonara entrevista.
O presidente eleito cancelou a presença em mais uma cerimônia militar e foi para casa. Em nota, alegou ordens médicas para ficar em repouso. Cinco dias antes, ele ostentava disposição no estádio do Palmeiras. [uma das causas da recomendação médica apara ficar em repouso, foi exatamente os excessos cometidos no estádio do Palmeiras.] Deu a volta olímpica com os jogadores e ergueu a taça do Campeonato Brasileiro, que pesa 15 quilos.
À noite, Bolsonaro deu sua primeira versão sobre o caso. Ao site O Antagonista, atribuiu o repasse do PM a um empréstimo não declarado. “Ele estava com problema financeiro e uma dívida que ele tinha comigo se acumulou. Não foram R$ 24 mil, foram R$ 40 mil”, disse, indicando a existência de outros cheques. Sobre o fato de o repasse ter ido para Michelle, ele afirmou: “Foi para a conta da minha esposa porque eu não tenho tempo de sair”.
Faltou explicar por que a operação não foi declarada à Receita e por que alguém que movimentou ao menos R$ 1,2 milhão em um ano precisaria pedir dinheiro emprestado a um deputado que recebe R$ 33 mil por mês. O PM tinha prestígio como clã Bolsonaro. Além dele, a mulher e as duas filhas estiveram penduradas no gabinete de Flávio. Uma das herdeiras também ocupou cargo de confiança no gabinete do presidente eleito.
Ao acompanhar o noticiário, o cientista político Sérgio Praça se lembrou de outro rolo que envolveu um cheque suspeito para uma primeira-dama. Aconteceu em 1991, quando Rosane Collor ganhou um Fiat Elba do esquema PC. A descoberta ajudou a desvendar o laranjal que pagava as despesas pessoais do presidente Fernando Collor, eleito coma promessa de combatera corrupção.
Bernardo Mello Franco - O Globo