Doris Day nunca fez sexo sem casamento em seus filmes. Marilyn Monroe e Frank Sinatra, também não
Doris Day morreu no dia 13 último e a imprensa martelou a batida frase de Oscar Levant —atribuída pelos desinformados a Groucho Marx— sobre sua suposta virgindade na tela. Suposta? Não, real. De fato, em nenhum de seus 41 filmes subentende-se que Doris Day tenha feito sexo antes do casamento. Que careta, não? Pois tenho novidades: Ava Gardner, Elizabeth Taylor, Katharine Hepburn, Shirley MacLaine, Lauren Bacall, Cyd Charisse, Audrey Hepburn, Ingrid Bergman, Bette Davis, Judy Garland, Kim Novak, Susan Hayward, Natalie Wood, Jayne Mansfield e até Marilyn Monroe também nunca fizeram sexo antes do casamento em seus filmes.
E, para que não se diga que só as atrizes tinham hímens de aço, posso garantir que Humphrey Bogart, Clark Gable, Errol Flynn, Robert Mitchum, Kirk Douglas, Burt Lancaster, Gregory Peck, Gary Cooper, James Stewart, Henry Fonda, Orson Welles, William Holden, Paul Newman, John Wayne e até Frank Sinatra também nunca fizeram sexo antes do casamento em seus filmes. Vou adiante: entre 1934 e 1968, período em que todos eles trabalharam, ninguém fez sexo sem casamento nos filmes americanos.
Todos os estúdios de Hollywood obedeciam a um Código de Produção —imposto por eles próprios para evitar a censura federal—, que obrigava até casais casados a dormir em camas separadas. O Código só caiu em 1968, de caduco. Mas, em seus 34 anos de vigência, ninguém ousou contestá-lo. Sexo, só com casamento e, mesmo assim, subentendido. Era a lei.
Toda a carreira de Doris Day no cinema, de 1948 a 1968, se deu nesse período. Você dirá que, em suas comédias românticas —em que interpretava mulheres independentes e que não tinham de dar satisfações a ninguém—, ela rebatia os assédios do galã por moralismo. Não. Estava só fazendo algo que, hoje, as mulheres valorizam muito: exercendo o direito de dizer não.
[apesar de nos tempos de agora, ser recorrente que mulheres mesmo tendo o direito (que merecem) de dizer não, acusem determinadas pessoas de abuso - os alvos são sempre os que por algum motivo, já estão na mídia - digam que foram abusadas, alguns dias depois voltaram a procurar o abusador, foram novamente abusadas, algumas voltaram a procurar o abusador outras vezes e que só após anos e anos do ocorrido é que estão denunciando.
Talvez nem Freud explique esse procedimento. O normal, natural e correto é se não teve condições de resistir ao primeiro abuso, denunciar logo que possível;
mesmo que opte por razões pessoais em não denunciar, o que motiva a abusada a voltar a procurar o abusador?]
Ruy Castro, Jornalista e escritor.