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terça-feira, 26 de novembro de 2019

Silêncio dos inimigos da 2ª instância é traiçoeiro - Blog do Josias



Arma-se em torno das propostas sobre a volta da prisão na segunda instância uma cena típica de faroeste. Nela, Rodrigo Maia e Davi Alcolumbre cavalgam à frente dos carroções da moralidade como espécies de John Wayne liderando os colonos do Legislativo a caminho da clareira do plenário. De repente, dois integrantes da caravana travam o seguinte diálogo:

— Estou preocupado com os índios da tribo dos enforcados.

— Índios? Mas não vejo índio nenhum!

 — O que inquieta é justamente isso. Em matéria de prisão, nada pode ser mais preocupante do que o silêncio dos índios da tribo com a corda no pescoço.



Nesta terça-feira, Davi Alcolumbre recebe na residência oficial da Presidência do Senado líderes partidários e o ministro Sergio Moro (Segurança Pública). Espera-se que Rodrigo Maia, o John Wayne da Câmara, também participe. O pretexto do encontro é a busca do consenso sobre prisão na segunda instância.



No momento, Senado e Câmara dançam em ritmos diferentes. Um grupo de senadores gostaria de ressuscitar rapidamente a regra derrubada pelo Supremo Tribunal Federal. Com as bênçãos de Moro, esse grupo avalia que o melhor a fazer seria aprovar um projeto de lei. Rodrigo Maia avisou que a Câmara já optou pelo caminho mais longo e árduo da emenda constitucional. A pretexto de costurar um hipotético entendimento, Alcolumbre provocou o cancelamento de audiência pública que ocorreria nesta terça-feira na Comissão de Constituição e Justiça do Senado. Os senadores ouviriam Sergio Moro sobre as vantagens de restabelecer a regra sobre prisão por meio de projeto de lei, mais fácil de aprovar do que a emenda concebida na Câmara.


Na outra ponta, Rodrigo Maia se apresenta como um negociador sui generis, do tipo que admite conversar sobre tudo, desde que prevaleça a opção dos deputados por uma alteração constitucional cuja tramitação invadirá o ano eleitoral de 2020. Os partidários da volta da prisão ruminam a suspeita de que Alcolumbre e Maia ajeitam o palco para a emboscada dos índios da tribo dos enforcados.



Blog do Josias - Josias de Souza, jornalista - UOL

domingo, 19 de maio de 2019

Hímens de aço [fora do tema]

Doris Day nunca fez sexo sem casamento em seus filmes. Marilyn Monroe e Frank Sinatra, também não

Doris Day morreu no dia 13 último e a imprensa martelou a batida frase de Oscar Levant —atribuída pelos desinformados a Groucho Marx— sobre sua suposta virgindade na tela. Suposta? Não, real. De fato, em nenhum de seus 41 filmes subentende-se que Doris Day tenha feito sexo antes do casamento. Que careta, não? Pois tenho novidades: Ava Gardner, Elizabeth Taylor, Katharine Hepburn, Shirley MacLaine, Lauren Bacall, Cyd Charisse, Audrey Hepburn, Ingrid Bergman, Bette Davis, Judy Garland, Kim Novak, Susan Hayward, Natalie Wood, Jayne Mansfield e até Marilyn Monroe também nunca fizeram sexo antes do casamento em seus filmes.

E, para que não se diga que só as atrizes tinham hímens de aço, posso garantir que Humphrey Bogart, Clark Gable, Errol Flynn, Robert Mitchum, Kirk Douglas, Burt Lancaster, Gregory Peck, Gary Cooper, James Stewart, Henry Fonda, Orson Welles, William Holden, Paul Newman, John Wayne e até Frank Sinatra também nunca fizeram sexo antes do casamento em seus filmes. Vou adiante: entre 1934 e 1968, período em que todos eles trabalharam, ninguém fez sexo sem casamento nos filmes americanos.

Todos os estúdios de Hollywood obedeciam a um Código de Produção —imposto por eles próprios para evitar a censura federal—, que obrigava até casais casados a dormir em camas separadas. O Código só caiu em 1968, de caduco. Mas, em seus 34 anos de vigência, ninguém ousou contestá-lo. Sexo, só com casamento e, mesmo assim, subentendido. Era a lei.

Toda a carreira de Doris Day no cinema, de 1948 a 1968, se deu nesse período. Você dirá que, em suas comédias românticas —em que interpretava mulheres independentes e que não tinham de dar satisfações a ninguém—, ela rebatia os assédios do galã por moralismo. Não. Estava só fazendo algo que, hoje, as mulheres valorizam muito: exercendo o direito de dizer não.  

[apesar de nos tempos de agora, ser recorrente que mulheres mesmo tendo o direito (que merecem) de dizer não, acusem  determinadas pessoas de abuso - os alvos são sempre os que por algum motivo, já estão na mídia - digam que foram abusadas, alguns dias depois voltaram a procurar o abusador, foram novamente abusadas, algumas voltaram a procurar o abusador outras vezes e que só após anos e anos do ocorrido é que estão denunciando.

Talvez nem Freud explique esse procedimento. O normal, natural e correto é se não teve condições de resistir ao primeiro abuso, denunciar logo que possível;
mesmo que opte por razões pessoais em não denunciar, o que motiva a abusada a voltar a procurar o abusador?
 
Ruy Castro, Jornalista e escritor.



terça-feira, 1 de maio de 2018

“Armaram para o tráfico voltar”

O fracasso da 1ª intervenção em favela 

Na noite de 11 de outubro de 1993, o coronel Carlos Frederico Cinelli, atual porta-voz do Comando Militar do Leste, era o oficial de dia no 24º Batalhão de Infantaria Blindado (BIB) quando mais de 50 traficantes começaram a trocar tiros perto do campo de futebol da favela Roquete Pinto, na Zona Norte do Rio de Janeiro. “Era antes do piscinão de Ramos, onde tinha uma rua que fazia a divisão entre os territórios de cada facção”, disse o cabo Joel Carlos Santana, que integrava a segunda companhia na “guarda leste” no momento do tiroteio. Aos 45 anos, atualmente trabalha como eletricista. Uma bala acabou acertando a perna do soldado André Barbosa Pegado, que aguardava sentado a sua vez de assumir o posto de sentinela no 24º BIB. Esse fato mudou o destino da favela Roquete Pinto.

O comandante militar do Leste à época, general Rubens Bayma Denys, mandou abrir um Inquérito Policial Militar para investigar a ocorrência. O documento serviu de álibi para o coronel Marco Antonio Auvray Guedes, aos 47 anos, iniciar e manter por 11 meses — a primeira incursão do Exército contra o tráfico de drogas numa favela do Rio de Janeiro: a chamada Operação Fênix.  Em vez de usar armas, infiltrou três espiões na favela: um se passava por vendedor de bonecos de pelúcia com câmeras no lugar dos olhos, o segundo ajudava a descarregar botijões de gás de um caminhão; o terceiro consertava as tubulações de esgoto, disfarçado com o uniforme da prefeitura. “Em três dias eu tinha 47 nomes na minha mão”, afirmou o coronel.

“Juntei cinco homens da Polícia Civil, cinco da PM, cinco da PF, cinco do Batalhão de Forças Especiais do Exército e cinco meus”, contou. “Dei o nome de Centro de Operações Táticas, o COT.” Além disso, cerca de 40 homens da PM e dos Bombeiros, além de médicos, agentes da Defesa Civil e veterinários, foram cedidos pelo governador Leonel Brizola e pelo prefeito Cesar Maia, a pedido do coronel.  A operação foi marcada para 1h45 da madrugada. Houve quem achasse melhor por volta das 6 horas, mas o coronel tinha justificativa: o horário que escolheu era o “pico do movimento da droga”, disse. “Era quando o cara estava começando a receber o dinheiro, a fazer a contabilidade e a vender para os clientes remanescentes de um tráfico que havia começado às sete horas da noite.”

No horário combinado, as equipes foram divididas para capturar os alvos espalhados pela favela. “Só coloquei uma imposição”, lembrou Guedes. “Não quero nenhum morto.” Caso houvesse a necessidade de usar as armas, a ordem do coronel era sucinta: “Joelho e perna”, dizia aos soldados. “Se quiser dar continuidade a um trabalho desse, você não consegue começar em cima de um banho de sangue”, disse. No fim, não houve mortos, mas 17 feridos foram levados para o Hospital Getulio Vargas, na Penha. Segundo o militar, todos eram ligados ao tráfico.   Guedes acompanhou o tratamento de cada um. Na visão do coronel, os traficantes eram também “filhos, amigos, irmãos, cônjuges ou empregadores da comunidade” — a desgraça deles significaria comprar briga com a população da Roquete Pinto, o que Guedes queria evitar. “Você nunca vai dominar uma comunidade sem o apoio total da população.” O método do coronel incluía convencer os delegados a indiciar os presos por formação de quadrilha, tráfico e associação para o tráfico. “Para não serem soltos logo em seguida.”

O problema é que a quadrilha era também composta por 62 crianças, que atuavam como vapores, aviões e soldados. Com exceção de Pedrinho — que tinha quatro assassinatos no currículo e foi mandado para uma casa de correção — todas as outras foram obrigadas pelo coronel a participar de um grupo escoteiro.  Como as famílias das crianças viviam com a renda do narcotráfico, Guedes decidiu negociar, com uma vereadora, vagas em cursos profissionalizantes, além de mapear oportunidades no comércio local. “Não abria uma vaga profissionalizante se não tivesse o emprego garantido”, contou. Conseguia atender uma média de 30 adolescentes por curso. Com a favela livre dos principais gerentes e chefes do crime — quem não foi preso fugiu para a favela da Varginha, ali perto —, Guedes teve passe livre para entrar na comunidade. Descobriu que a cocaína era distribuída em quentinhas, todas as sexta-feiras. Encontrou lixo espalhado pelos becos e organizou grupos de limpeza. O esgoto corria a céu aberto. Doenças de pele, viroses e tuberculose eram comuns. Buscou mutirões e atendimento médico comunitário.

Até agosto de 1994, os militares passaram a entrar todos os dias na comunidade, dia e noite, de surpresa, incluindo os feriados. Quando notavam uma multidão reunida em bares ou praças, convidavam os moradores a posar para uma “fotografia para a posteridade”, nas palavras do coronel Guedes — tática para mais tarde localizar criminosos remanescentes.
O lixão do batalhão se transformou em horta comunitária. O lixo da comunidade foi resolvido com dois latões por beco, recolhidos pela Comlurb, a pedido de Guedes, todas as manhãs. Quarenta toneladas deixaram a favela no primeiro dia. Guedes mandou analisar o lixo para descobrir mais sobre o estilo de vida dos moradores da comunidade.

Em 11 meses, a vida na favela mudou. Os jornais anunciavam o sucesso da empreitada de um homem solitário. “O coronel Guedes mudou o batalhão”, lembrou o cabo Joel. “E mudou a cara da Roquete Pinto da água para o vinho sem disparar um tiro.”  Numa tarde de julho de 1994, por volta das 15 horas, o coronel Guedes recebeu um telefonema em seu gabinete. Do outro lado da linha, uma voz masculina se apresentou como advogado do chefe do tráfico na região, alguém a quem chamou de John Wayne, e que estaria preso no presídio Ary Franco, em Água Santa. “Ele estava se referindo ao capo daquelas favelas”, disse Guedes. Segundo conta, eram 19 as bocas de fumo na Roquete Pinto e em Ramos naquela época. “Ele disse: ‘Coronel, meu cliente disse para oferecer ao senhor uma quantidade de dinheiro para o senhor dar um mole para o tráfico voltar. Estamos com prejuízo de milhões de reais com a venda de droga nessa área aí’”, contou Guedes, acrescentando: “Foi muito dinheiro, mais de um milhão”. Mas o coronel recusou. Na sequência, ouviu: “Até agosto, o senhor está fora do comando”.

Com as mãos sobre o tampo de vidro, o coronel Guedes fez uma pausa, respirou e admitiu: “O que ele disse aconteceu. Em agosto, saí do comando”.  A remoção do coronel do comando do 24º BIB veio por ordem do ministro do Exército, o general Zenildo de Lucena. Não houve despedida nem passagem de comando. “Fiquei surpreso. Foi de repente.” A justificativa veio por meio do comandante da 5ª Brigada de Cavalaria Blindada, general José Gualter Pinto, desafeto de Guedes: “A desculpa que me deram foi a seguinte: ‘Você está sendo exonerado para te preservar’”, disse o coronel. “Naquele primeiro momento, achei que era porque queriam me matar. Mas me lembrei do telefonema na mesma hora”, continuou. “Sei que armaram. Sei que foi feita uma grande armação para o tráfico voltar.”

Os trabalhos na comunidade foram imediatamente interrompidos. O Exército proibiu operações dentro das vielas. “Começaram a desmontar lá dentro tudo o que eu tinha feito”, declarou Guedes. “Soube pelos jornais que tudo foi destruído.” Depois que foi removido do posto, seis moradores que eram próximos ao coronel foram assassinados.  Guedes foi transferido para o comando da 2ª Brigada de Infantaria Motorizada, em Niterói. Seis meses depois, recebeu a visita do ministro Lucena. “Ele pediu desculpas”, declarou. “Disse que cometeu um grande erro e que foi enganado, mas não disse quem o enganou.” O coronel foi então levado ao 24º BIB, uma despedida oficial foi organizada em sua homenagem, e ele recebeu a Medalha do Mérito Militar, a mais alta do Exército. Lucena morreu em março de 2017. Atualmente, a favela Roquete Pinto é dominada por milicianos.

Revista Época 

 

domingo, 17 de setembro de 2017

Quem “matará” os facínoras? Como o Brasil foi parar nas mãos dessa turma de delinquentes