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domingo, 4 de novembro de 2018

O avanço da direita

Por que essa ideologia política, que inevitavelmente guarda em si o conservadorismo social, ganhou força em diversos países e agora chega ao poder no Brasil

Um tsunami de conservadorismo social e de ideologia política de direita cobre atualmente boa parte do mundo e o Brasil, pela democrática soberania da vontade popular, acaba de ingressar justamente nesse cenário com a eleição de Jair Bolsonaro à Presidência da República. Entre os países que formam tal bloco, independentemente de suas localizações geográficas, há particularidades advindas da formação e do desenvolvimento de cada sociedade. Todos eles, no entanto, guardam um ponto em comum: a falência de regimes democráticos. Isso é cíclico na história da humanidade, e impõe-se, aqui, a lembrança do estadista britânico Winston Churchill (ícone antifascista que Bolsonaro diz admirar) e da historiadora americana Barbara Wertheim Tuchman, autora do clássico “The Guns of August”. Churchill dizia que a “democracia é o pior dos regimes políticos, exceto todos os demais” — exercendo o inteligente e seco humor dos ingleses, ele criticava, assim, as recaídas dos povos em regimes que pendem para a extrema direita. Barbara preferiu referir-se a tal pêndulo histórico como a “marcha da insensatez”. Por que insensata? Porque é sempre um salto de alto trapézio. Pode-se ou não ouvir rufar de tambores. Mas nunca há rede de proteção.
PASSADO E PRESENTE Seguindo o conservadorismo europeu, Jânio Quadros proibiu o biquíni nos desfiles de misses e também nas praias, mandando multar as mulheres que o usassem, a exemplo do que ocorria no litoral de Rimini, na Itália. Como o moralista Jânio, Bolsonaro será um delegado de costumes? (Crédito: Divulgação)

O joguinho da esquerda
Mesmo em uma rápida viagem pela União Europeia, como será a nossa viagem nesse momento, vemos civilizações (antigas civilizações) optando claramente pelo ideário de direita no campo político e pelo conservadorismo na área do comportamento social. O exemplo mais recente nos vem de uma das mais ricas e prósperas regiões da Alemanha, a região da Baviera, da qual se irradia efeitos políticos para todo o país. Desde o término da Segunda Guerra Mundial havia no país uma espécie de blindagem contra a ideologia de direita. O escudo se tecia com a aliança entre a União Social Cristã e a União Democrata Cristã, partido da atual chanceler Angela Merkel. Era na Baviera que tal aliança não poderia se romper. Foi na Baviera, com a ida da população às urnas, que a aliança se rompeu. Pela primeira vez o partido radical de direita Alternativa para a Alemanha, empunhando a bandeira da anti-imigração, conseguiu cadeiras no Legislativo. A União Social Cristã já não tem maioria, faz-se imperioso negociar com os extremistas. Angela Merkel, ela sabe e admite, está a um passo de cair. Na terça-feira 30, anunciou que não será candidata a mais uma gestão.

Ainda com a proposta de que imigrante bom é imigrante barrado na fronteira, países como Hungria, Áustria, Dinamarca, Suécia, França e Itália seguem o mesmo caminho político — o do nacionalismo exacerbado que toma corpo como xenofobia e se torna o ventre dos extremismos populistas. [o Brasil seguindo o politicamente correto, aceita receber venezuelanos e os encaminha para empregos - nesse gesto populista, finge esquecer que o Brasil tem mais de 12.000.000 de desempregados e cada emprego conseguido por um imigrante venezuelano é um emprego perdido por um brasileiro.
Seria ótimo se o Brasil tivesse uma economia exuberante que propiciasse condições de empregar todos os venezuelanos que ingressassem em território nacional.
Mas, não tem. O que torna obrigatório, humano e aceitável que se priorize os brasileiros.] É esse mesmo sentimento de onipotência nacionalista e de isolacionismo que move o Reino Unido na direção de abandonar a União Europeia, provavelmente em março de 2019, e mergulha a Espanha numa grave crise institucional, a partir da onda separatista da Catalunha.

Falou-se acima sobre o fato de cada país ter suas particularidades. Pois bem, voltemos ao Brasil. Não foi, é claro, a questão imigratória que colocou, pelo voto, Bolsonaro no poder. [UM dos fatores que elegeu Bolsonaro foi o medo de grande parte dos brasileiros de mais um governo petista transformar o Brasil em uma imensa Cuzuela([o risco de ser eleito um governo petista foi o que motivou o uso do da palavra CUZUELA que seria transformar o Brasil na soma de Cuba com Venezuela e com um fator agravante: para onde os brasileiros, fugindo da miséria que mais um período de governo do PT criaria, iriam fugir? procurar empregos?)]   Um dos motivos é que o povo brasileiro cansou (e olha que demorou!) do joguinho que a esquerda, representada pelo PT, e a social-democracia, encarnada no PSDB, faziam o tempo todo. 

Quando precisava conquistar eleitor do centro, o PT movia-se nesse rumo, mas ai de quem o rotulasse como não sendo de esquerda. Quanto ao PSDB, ao carecer de votos da direita, pedia-os envergonhadamente, mas também ai de quem não o chamasse de social-democrata. Junte-se a isso a bandalheira da corrupção. Nesse vaivém de posicionamentos, o PSDB não soube mais fazer oposição e, em decorrência, também não soube mais como enfrentar o PT. Já o Partido dos Trabalhadores, quando esteve no poder, tirou a máscara de democrata e de centro, apostando pesado na esquerda stalinista e aparelhando partidariamente o Estado. Formou-se a república do patrimonialismo e do compadrio. Melhor: a república da organização criminosa.

Delegado de costumes
Em nome do rigor histórico é preciso reconhecer um fato: desde a bem-vinda redemocratização do País, que fundou em 1985 a Nova República, os governantes civis, exceto Itamar Franco e Fernando Henrique Cardoso, frustraram a expectiva da Nação. Não estamos afirmando com isso que a ditadura militar foi melhor, ela foi péssima. Ditaduras civis ou militares têm de ser banidas. Democracia sempre! O que se quer dizer é que o governo de José Sarney foi mal na economia, o de Fernando Collor desaguou em seu impeachment sob a acusação de corrupção, as gestões de Lula deram no que deram (ele está preso em Curitiba por lavagem de dinheiro e corrupção), Dilma Rousseff acabou afastada e também sofreu impeachment por tratar do erário sem o devido zelo. Era portanto inevitável que uma nova direita, que PT e PSDB supunham ou fingiam supor que não existia — ao se julgarem os únicos e eternos agentes no cenário político nacional — mostrasse o seu rosto.

Com o pensamento liberal de Bolsonaro o Brasil poderá se estabilizar economicamente? Deus queira que sim. No terreno comportamental o Brasil avançará? Não, não mesmo. E corremos o risco de termos um presidente que atuará também como uma espécie de delegado de costumes, a exemplo do que foi Jânio Quadros no início dos anos 1960 — Jânio preocupava-se sobretudo em mandar multar quem trajasse biquíni nas praias (imitando o que ocorria na Itália), jogasse no bicho ou apostasse em briga de galos. O Brasil recuará na questão da legalização do aborto e o Estatuto do Desarmamento vai para o museu. [liberar o aborto é algo tão absurdo que sequer deve ser cogitado - o correto é aumentar as penas, tanto para a mãe assassina, quanto para todos os envolvidos no processo de assassinato de um ser humano inocente e indefeso.
O Estatuto do Desarmamento precisa urgentemente ser adaptado e com isso se evitando só policiais e bandidos possam portar armas - um detalhe: o atual 'estatuto' estabelece que só podem portar armas, os maiores de 25 anos, o que cria uma situação absurda: um policial, civil ou militar, digamos, com 21 anos, durante o serviço pode portar qualquer tipo de arma, efetuar prisões, trocar tiros com bandidos;
só que na hora de ir para casa NÃO pode portar armas - ficando mais fácil para algum bandido que já foi preso por ele, matar o policial que o prendeu.]  

Mas Bolsonaro não poderá ser criticado por nada disso, ele foi eleito democraticamente deixando mais do que claro que esses dois pontos constavam de seu programa. Aliás, em referendos, a maioria dos brasileiros já se mostrou contrária à interrupção da gravidez e a favor de possuir uma arma em casa para usá-la em legítima defesa da vida. Bolsonaro nada mais fez do que encampar tais consultas populares. E o povo, agora consultado sobre ele, o colocou no Planalto.

PT e PSDB se julgavam os únicos e eternos agentes no cenário político nacional. Imaginavam, ou fingiam imaginar, que a direita não existia 

IstoÉ