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segunda-feira, 2 de janeiro de 2023

Divulgadas imagens do corpo do papa Bento XVI

Religioso morreu no fim de semana

Corpo do papa emérito ficará exposto ao público a partir desta segunda-feira, 2 | Foto: Reprodução/VaticanNews
Corpo do papa emérito ficará exposto ao público a partir desta segunda-feira, 2 | Foto: Reprodução/VaticanNews

O Vaticano divulgou imagens do corpo do papa Bento XVI na capela do Mosteiro Mater Ecclesiae, onde morreu, no sábado 31. Nas imagens, o cadáver do pontífice aparece vestido com roupas sacerdotais e com terço e cruz em suas mãos.

A partir desta segunda-feira, 2, o corpo do pontífice vai ficar exposto na Basílica de São Pedro, em Roma, para visitação pública.

Daqui a três dias, o papa Francisco vai conduzir uma cerimônia para sepultar o antecessor.

Quem foi o papa Bento XVI
Joseph Aloisius Ratzinger nasceu em 16 de abril de 1927, em uma pequena vila chamada Marktl am Inn, na Baviera, região ao sul da Alemanha. Ele cresceu no período em que o regime nazista aumentou na região e passou boa parte da juventude na Áustria, onde iniciou a trajetória religiosa.

Foi ordenado padre em 1951 e bispo em 1977. No mesmo ano, o papa Paulo VI o nomeou cardeal. Chegou a ser arcebispo de Munique, na Alemanha, e de 1981 a 2005 ocupou o cargo de prefeito da Congregação para a Doutrina da Fé, tornando-se braço direito do papa João Paulo II, no comando das questões morais.

A proximidade com o papa o tornou um dos favoritos no conclave que o elegeu. Na tarde de 19 de abril de 2005, Ratzinger foi escolhido como papa para suceder ao futuro santo João Paulo II, que exerceu a função por 26 anos, cinco meses e 17 dias.

Após dois dias e quatro rodadas, às 17h56 (horário local), a chaminé da Capela Sistina exalou a fumaça branca: havia sido escolhido o 265º sucessor de São Pedro. Então prefeito da Congregação para a Doutrina da Fé, Ratzinger pediu para ser chamado de Bento XVI.

Ele justificou a escolha porque queria se inspirar na coragem de Bento XV (1914-1922) durante a Primeira Guerra Mundial. E também em São Bento de Núrsia, copadroeiro da Europa, chamado de patriarca do monarquismo ocidental.

Durante seu papado, Bento XVI teve de lidar com escândalos de pedofilia de outros padres. O então papa assumiu a responsabilidade sobre as denúncias, encontrou vítimas e emitiu pedidos de desculpas. Também adotou normas para dar mais transparência e celeridade às apurações dos casos.

segunda-feira, 27 de junho de 2022

Zelensky pede que G7 'faça o máximo' para terminar guerra até fim do ano - O Globo

O presidente da Ucrânia, Volodymyr Zelensky, fez um apelo nesta segunda-feira para que os líderes do Grupo dos Sete (G7), que reúne algumas das economias mais avançadas do mundo, "façam o máximo" para pôr um fim à invasão russa até o fim do ano, afirmando, porém, que "este não é o momento para negociações". O grupo, que se reúne na Alemanha, prometeu a ajudar Kiev "financeira, humanitária, militar e diplomaticamente" pelo "tempo que for necessário".[comentando, sendo até recorrente: esse Zelensky não é só um ex-comediante, é na realidade uma comédia; o cidadão arruma para a Ucrânia uma guerra que não pode ganhar - também contava que os aliados do País que preside iriam combater contra a Rússia e ele fazer discursos e na Ucrânia tudo normal - e agora quer que os aliados acabem a guerra no tempo que ele quer - "até o fim do ano".
Uma guerra em que o Ocidente não vai combater - fornecerá equipamento militar, ajuda humanitária, dinheiro, sanções econômicas (de efeito demorado e de pouca valia) e a Rússia continuará no controle da guerra, decidindo quando e onde atacar e a força do ataque, retaliando os países europeus que continuam dependentes do petróleo e gás russos, os países mais pobres tendo a fome aumentada e, infelizmente, mais ucranianos morrendo.  
Ao que pensamos ou o presidente ucraniano aceita uma negociação em que seu país perderá alguma coisa - não perdendo tudo - ou a Ucrânia terá que mais adiante dispensar os serviços do Zelensky e aceitar paz sobre condições mais duras.
Não estamos de nenhum dos lados, apenas expressamos o que nos parece ser o desfecho inevitável.]

O G7, até agora, disse que irá impor novas sanções para restringir as importações russas de tecnologia bélica, reafirmando em uma declaração conjunta de apoio à Ucrânia seu "comprometimento irrevogável com o governo e povo" do país. As sete nações disseram ainda que irão expandir as medidas para russos responsáveis por crimes de guerra e que pioram "a insegurança alimentar global" ao "roubar e exportar grãos ucranianos".

Os comentários vieram após Zelensky participar por videoconferência da reunião no castelo Elmau, na Baviera, no Sul da Alemanha. Segundo fontes da AFP, ele "apresentou uma mensagem muito forte e disse que é necessário fazer o máximo para tentar acabar com a guerra antes do fim do ano".

O governo ucraniano crê que o plano do Kremlin é postergar o conflito até o inverno no Hemisfério Norte, que é bastante rigoroso na Ucrânia. Segundo Kiev, Moscou crê que o frio e a neve poderão facilitar novos ganhos territoriais. Além disso, as consequências na Europa da redução do envio de gás russo serão mais sentidas. [um pouco de História: foi o "general inverno"  que derrotou a poderosa Wehrmacht - no caso a Rússia foi quem ganhou com o inverno, era quem estava sob ataque alemão,  e agora  quer usar o "general  inverno" para atacar a Ucrânia e ganhar a guerra mais rapidamente.]

Segundo fontes da Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan) ouvidas pelo Financial Times, acredita-se que o Kremlin deve frear sua ofensiva em algum momento nos próximos meses para reagrupar e repensar sua estratégia, voltando com força máxima no fim do ano. O plano russo seria similar ao visto no fim de março, quando, após acumular fracassos em seus planos iniciais de tomar grandes cidades, como Kharkiv e a própria capital, Kiev, fez uma correção de curso. Os esforços foram concentrados em Donbass, no Leste, composta pelas regiões de Donetsk e Luhansk. Na sexta, caiu Severodonetsk, a penúltima cidade controlada pelos russos em Luhansk e que agora está segundo seu prefeito,  Oleksandre Striuk, totalmente ocupada pelos russos.

Segundo as fontes com conhecimento sobre os pontos discutidos nesta segunda, Zelensky disse para os líderes do G7 que o inverno boreal significará que “entraremos em uma situação em que as posições ficarão congeladas”. É necessário, disse Zelensky, que as sanções sejam “intensificadas e a pressão seja mantida”.

Em uma nota, o governo francês disse que o presidente ucraniano foi direto em seu pronunciamento, afirmando que “agora não é o momento para negociações, que a Ucrânia negociará quando estiver em posição de fazê-lo”.

As negociações estão paralisadas desde abril. Kiev, que inicialmente concordara em deixar a Península da Crimeia, anexada por Moscou em 2014, fora das negociações, e em dar autonomia às regiões onde atuam separatistas pró-Rússia em Donbass, mudou de posição depois de receber armamentos mais sofisticados do Ocidente. "Entretanto, é necessário pôr fim a guerra o mais rápido possível", disse o Eliseu, destacando como prazo o inverno no Hemisfério Norte e afirmando que Zelensky insistiu na "necessidade de um apoio pleno, completo e muito operativo" para "restaurar a integridade territorial" ucraniana.

Já o chanceler alemão, Olaf Scholz, disse que o grupo seguirá “aumentando a pressão” sobre o líder russo, Vladimir Putin: “Como G7, estamos unidos ao lado da Ucrânia e continuaremos apoiando-a. Para isso, precisaremos tomar decisões difíceis, mas necessárias”, tuitou o social-democrata, anfitrião da cúpula. “Seguiremos aumentando a pressão sobre Putin. Essa guerra deve terminar.”

Pelo Telegram, Zelensky agradeceu pela "ajuda relativa na defesa e nas finanças", afirmando que Kiev "sente o apoio". Fez, contudo, um apoio para que os líderes sejam mais ambiciosos: “Para nós, é importante que os países do G7 adotem uma posição coerente no que diz respeito às sanções. Elas devem ser mais reforçadas, limitando o preço do petróleo exportado pelo agressor”, escreveu.

Ele refere-se ao debate sobre a imposição de um teto ao preço do petróleo russo, buscando minar a capacidade do Kremlin de financiar o conflito. Logo após o início da invasão, em 24 de fevereiro, países como os Estados Unidos, o Reino Unido e a Austrália anunciaram boicotes ao petróleo russo. O impacto dos cortes e sanções, contudo, não tem sido significativo até o momento.

China e Índia, os países mais populosos do mundo, investiram para comprar aproximadamente o mesmo volume de petróleo russo que teria ido para o Ocidente. Como o preço do produto disparou, Moscou recebe mais do que em janeiro, um mês antes do conflito eclodir.

De acordo com fontes, o mecanismo debatido no G7 só permitiria o transporte de petróleo e derivados russos vendidos abaixo de um limite acordado. Embora esse acordo possa ser fechado na cúpula — incluindo as nações convidadas, grupo que inclui a Índia — ainda não está claro se os líderes serão capazes de definir detalhes específicos, como o nível do teto de preço, antes do final do encontro.

A discussão vem no mesmo dia em que Moscou entrou em calote pela primeira vez em mais de um século, depois que venceu no domingo o período de carência para o pagamento de cerca de US$ 100 milhões em juros de uma dívida que expirou em 27 de maio. O país nega ter dado o calote, já que tem dinheiro para pagar a dívida, mas está praticamente excluído do sistema financeiro global devido às sanções ocidentais.

Formado por EUA, Reino Unido, Canadá, França, Alemanha, Itália e Japão, o G7 foi criado durante a Guerra Fria pelas maiores economias do mundo capitalista. Hoje, é um grupo de coordenação entre países aliados dos EUA, do qual participa também uma representação da União Europeia (UE).

Outra demanda perene de Zelensky é por mais armas, após Kiev esgotar seu arsenal próprio e depender dos aliados para mais apoio militar. Dias após enviar os poderosos sistemas de foguetes Himars prometidos no início do mês, Biden deve anunciar nesta semana que Washington vai comprar e doar para Kiev os chamados Sistemas Nacionais de Mísseis Aéreos Avançados (Nasams, na sigla inglês), sistemas de defesa aérea de médio a longo alcance.

A reunião do G7 vem em meio a uma maratona de cúpulas internacionais em que Kiev estará no centro dos debates. No final da semana passada, os líderes da União Europeia se reuniram e confirmaram que os ucranianos tornaram-se candidatos à adesão ao bloco. Já entre os dias 28 e 30, os chefes dos países-membros da Otan se reunirão em Madri para discutir o maior reforço militar desde a Guerra Fria.

O Globo; Agências Internacionais — Schloss Elmau, Alemanha

 

sábado, 20 de junho de 2020

Vai ter putsch? - Demétrio Magnoli

Folha de S. Paulo 

Cooptação em massa de oficiais da reserva ameaça fragmentar dique institucional
"Vai ter golpe?", indagou-me um amigo dileto pouco tempo atrás. Retruquei com uma negativa convicta: a geração atual de comandantes das Forças Armadas aprenderam com a história e não repetirão, como farsa, a tragédia de 1964. "Vai ter putsch?", meu amigo pergunta agora. Respondi-lhe com mais um "não", acompanhado por argumentos razoáveis. Contudo, pensando melhor, acho que perdi uma parte da paisagem. Putsch é um intento golpista fadado, de antemão, ao fracasso. No célebre Putsch da Cervejaria de Munique (1923), Hitler e seus seguidores não obtiveram o esperado apoio de setores do Exército ou da polícia da Baviera.

[sugiro ao ilustre articulista:
- ser mais elegante no trato com seus inimigos políticos - os bolsonaristas não são escória; 
- ser mais cuidadoso, ou mesmo respeitoso, ao considerar caminho para a corrupção estatal participar do atual governo.
O ex-deputado Márcio Moreira Alves é um exemplo de que o tratamento não cordial pode ter consequência. A citação ao parlamentar, já falecido é feita como exemplo e com o devido respeito.]

Mas aquela escória nazista, forjada no caldeirão fervente da derrota alemã na guerra europeia, mostrou-se disposta a combater e morrer de verdade. Já a escória de fanáticos bolsonaristas é feita do material lânguido fabricado pelas redes sociais. Deles, nada surgirá, exceto ameaças anônimas digitadas a distância ou fogos de artifício numa esplanada deserta.  A fuga de Weintraub rumo a uma bem remunerada diretoria inútil do Banco Mundial comprova, para quem ainda nutria dúvidas, que esses cachorros barulhentos não mordem. A parte que perdi da paisagem é outra. Até que ponto o bolsonarismo conseguirá limar a disciplina militar?

O fenômeno mais saliente é a ação ininterrupta das redes bolsonaristas nos quartéis. A cooptação de militares e policiais para a militância antidemocrática ganhou alento com as publicações de manifestos golpistas de altos oficiais da reserva e a difusão de mensagens dúbias oriundas dos generais do Planalto.  Contudo, paralelamente, desenrola-se um novelo menos visível, mas talvez ainda mais relevante: a militarização extensiva dos altos e médios escalões da administração pública federal. O Ministério da Saúde, ocupado de alto a baixo por militares, ilustra uma tendência generalizada. Nesse passo, generais e coronéis passam a desempenhar funções de intermediários de contratos e compras governamentais. Abrem-se, assim, de par em par, as portas para a incorporação dos militares no ramificado negócio da corrupção estatal.

Dinheiro, muitas vezes, pesa mais que ideologia. No Egito, Hosni Mubarak consolidou seu poder pelo loteamento do aparelho administrativo e das empresas estatais entre os comandantes militares. Quando o ditador tornou-se um fardo político pesado demais, o sistema ditatorial reciclou-se, substituindo-o por Abdel Fatah al-Sisi. Na Argélia, Abdelaziz Bouteflika operou de modo similar, entregando ao Exército as chaves da economia para estabilizar, por duas décadas, seu regime autoritário.

A ferramenta funciona à direita e à esquerda. Maduro não caiu porque, seguindo a receita cubana, transferiu às Forças Armadas os setores mais lucrativos de uma economia em ruínas: comércio exterior e distribuição de alimentos. Na Bolívia, prova inversa, Evo Morales nunca incluiu o Exército no jogo do capitalismo de estado, o que acabou decidindo seu destino. O Brasil não é o Egito, Argélia, Cuba ou Venezuela. Por aqui, não se verifica uma transferência das chaves da economia às Forças Armadas. A instituição militar segue separada do governo, circunscrita às suas missões profissionais definidas pela Constituição. Mas a cooptação em massa de oficiais da reserva para a administração pública, elemento do projeto de politização dos homens em armas conduzida pelo bolsonarismo, ameaça fragmentar o dique institucional.

Lá atrás, os generais estrelados cederam à ilusão de que seria possível conciliar o apoio político dos militares ao governo Bolsonaro com a preservação da neutralidade institucional das Forças Armadas. Hoje, quando se fecha o cerco judicial à subversão bolsonarista, a tensão entre esses objetivos incompatíveis atinge temperatura insuportável. Não vai ter golpe. Reúnem-se, porém, as condições para um putsch.

Demétrio Magnoli, jornalista - Folha de S. Paulo

domingo, 4 de novembro de 2018

O avanço da direita

Por que essa ideologia política, que inevitavelmente guarda em si o conservadorismo social, ganhou força em diversos países e agora chega ao poder no Brasil

Um tsunami de conservadorismo social e de ideologia política de direita cobre atualmente boa parte do mundo e o Brasil, pela democrática soberania da vontade popular, acaba de ingressar justamente nesse cenário com a eleição de Jair Bolsonaro à Presidência da República. Entre os países que formam tal bloco, independentemente de suas localizações geográficas, há particularidades advindas da formação e do desenvolvimento de cada sociedade. Todos eles, no entanto, guardam um ponto em comum: a falência de regimes democráticos. Isso é cíclico na história da humanidade, e impõe-se, aqui, a lembrança do estadista britânico Winston Churchill (ícone antifascista que Bolsonaro diz admirar) e da historiadora americana Barbara Wertheim Tuchman, autora do clássico “The Guns of August”. Churchill dizia que a “democracia é o pior dos regimes políticos, exceto todos os demais” — exercendo o inteligente e seco humor dos ingleses, ele criticava, assim, as recaídas dos povos em regimes que pendem para a extrema direita. Barbara preferiu referir-se a tal pêndulo histórico como a “marcha da insensatez”. Por que insensata? Porque é sempre um salto de alto trapézio. Pode-se ou não ouvir rufar de tambores. Mas nunca há rede de proteção.
PASSADO E PRESENTE Seguindo o conservadorismo europeu, Jânio Quadros proibiu o biquíni nos desfiles de misses e também nas praias, mandando multar as mulheres que o usassem, a exemplo do que ocorria no litoral de Rimini, na Itália. Como o moralista Jânio, Bolsonaro será um delegado de costumes? (Crédito: Divulgação)

O joguinho da esquerda
Mesmo em uma rápida viagem pela União Europeia, como será a nossa viagem nesse momento, vemos civilizações (antigas civilizações) optando claramente pelo ideário de direita no campo político e pelo conservadorismo na área do comportamento social. O exemplo mais recente nos vem de uma das mais ricas e prósperas regiões da Alemanha, a região da Baviera, da qual se irradia efeitos políticos para todo o país. Desde o término da Segunda Guerra Mundial havia no país uma espécie de blindagem contra a ideologia de direita. O escudo se tecia com a aliança entre a União Social Cristã e a União Democrata Cristã, partido da atual chanceler Angela Merkel. Era na Baviera que tal aliança não poderia se romper. Foi na Baviera, com a ida da população às urnas, que a aliança se rompeu. Pela primeira vez o partido radical de direita Alternativa para a Alemanha, empunhando a bandeira da anti-imigração, conseguiu cadeiras no Legislativo. A União Social Cristã já não tem maioria, faz-se imperioso negociar com os extremistas. Angela Merkel, ela sabe e admite, está a um passo de cair. Na terça-feira 30, anunciou que não será candidata a mais uma gestão.

Ainda com a proposta de que imigrante bom é imigrante barrado na fronteira, países como Hungria, Áustria, Dinamarca, Suécia, França e Itália seguem o mesmo caminho político — o do nacionalismo exacerbado que toma corpo como xenofobia e se torna o ventre dos extremismos populistas. [o Brasil seguindo o politicamente correto, aceita receber venezuelanos e os encaminha para empregos - nesse gesto populista, finge esquecer que o Brasil tem mais de 12.000.000 de desempregados e cada emprego conseguido por um imigrante venezuelano é um emprego perdido por um brasileiro.
Seria ótimo se o Brasil tivesse uma economia exuberante que propiciasse condições de empregar todos os venezuelanos que ingressassem em território nacional.
Mas, não tem. O que torna obrigatório, humano e aceitável que se priorize os brasileiros.] É esse mesmo sentimento de onipotência nacionalista e de isolacionismo que move o Reino Unido na direção de abandonar a União Europeia, provavelmente em março de 2019, e mergulha a Espanha numa grave crise institucional, a partir da onda separatista da Catalunha.

Falou-se acima sobre o fato de cada país ter suas particularidades. Pois bem, voltemos ao Brasil. Não foi, é claro, a questão imigratória que colocou, pelo voto, Bolsonaro no poder. [UM dos fatores que elegeu Bolsonaro foi o medo de grande parte dos brasileiros de mais um governo petista transformar o Brasil em uma imensa Cuzuela([o risco de ser eleito um governo petista foi o que motivou o uso do da palavra CUZUELA que seria transformar o Brasil na soma de Cuba com Venezuela e com um fator agravante: para onde os brasileiros, fugindo da miséria que mais um período de governo do PT criaria, iriam fugir? procurar empregos?)]   Um dos motivos é que o povo brasileiro cansou (e olha que demorou!) do joguinho que a esquerda, representada pelo PT, e a social-democracia, encarnada no PSDB, faziam o tempo todo. 

Quando precisava conquistar eleitor do centro, o PT movia-se nesse rumo, mas ai de quem o rotulasse como não sendo de esquerda. Quanto ao PSDB, ao carecer de votos da direita, pedia-os envergonhadamente, mas também ai de quem não o chamasse de social-democrata. Junte-se a isso a bandalheira da corrupção. Nesse vaivém de posicionamentos, o PSDB não soube mais fazer oposição e, em decorrência, também não soube mais como enfrentar o PT. Já o Partido dos Trabalhadores, quando esteve no poder, tirou a máscara de democrata e de centro, apostando pesado na esquerda stalinista e aparelhando partidariamente o Estado. Formou-se a república do patrimonialismo e do compadrio. Melhor: a república da organização criminosa.

Delegado de costumes
Em nome do rigor histórico é preciso reconhecer um fato: desde a bem-vinda redemocratização do País, que fundou em 1985 a Nova República, os governantes civis, exceto Itamar Franco e Fernando Henrique Cardoso, frustraram a expectiva da Nação. Não estamos afirmando com isso que a ditadura militar foi melhor, ela foi péssima. Ditaduras civis ou militares têm de ser banidas. Democracia sempre! O que se quer dizer é que o governo de José Sarney foi mal na economia, o de Fernando Collor desaguou em seu impeachment sob a acusação de corrupção, as gestões de Lula deram no que deram (ele está preso em Curitiba por lavagem de dinheiro e corrupção), Dilma Rousseff acabou afastada e também sofreu impeachment por tratar do erário sem o devido zelo. Era portanto inevitável que uma nova direita, que PT e PSDB supunham ou fingiam supor que não existia — ao se julgarem os únicos e eternos agentes no cenário político nacional — mostrasse o seu rosto.

Com o pensamento liberal de Bolsonaro o Brasil poderá se estabilizar economicamente? Deus queira que sim. No terreno comportamental o Brasil avançará? Não, não mesmo. E corremos o risco de termos um presidente que atuará também como uma espécie de delegado de costumes, a exemplo do que foi Jânio Quadros no início dos anos 1960 — Jânio preocupava-se sobretudo em mandar multar quem trajasse biquíni nas praias (imitando o que ocorria na Itália), jogasse no bicho ou apostasse em briga de galos. O Brasil recuará na questão da legalização do aborto e o Estatuto do Desarmamento vai para o museu. [liberar o aborto é algo tão absurdo que sequer deve ser cogitado - o correto é aumentar as penas, tanto para a mãe assassina, quanto para todos os envolvidos no processo de assassinato de um ser humano inocente e indefeso.
O Estatuto do Desarmamento precisa urgentemente ser adaptado e com isso se evitando só policiais e bandidos possam portar armas - um detalhe: o atual 'estatuto' estabelece que só podem portar armas, os maiores de 25 anos, o que cria uma situação absurda: um policial, civil ou militar, digamos, com 21 anos, durante o serviço pode portar qualquer tipo de arma, efetuar prisões, trocar tiros com bandidos;
só que na hora de ir para casa NÃO pode portar armas - ficando mais fácil para algum bandido que já foi preso por ele, matar o policial que o prendeu.]  

Mas Bolsonaro não poderá ser criticado por nada disso, ele foi eleito democraticamente deixando mais do que claro que esses dois pontos constavam de seu programa. Aliás, em referendos, a maioria dos brasileiros já se mostrou contrária à interrupção da gravidez e a favor de possuir uma arma em casa para usá-la em legítima defesa da vida. Bolsonaro nada mais fez do que encampar tais consultas populares. E o povo, agora consultado sobre ele, o colocou no Planalto.

PT e PSDB se julgavam os únicos e eternos agentes no cenário político nacional. Imaginavam, ou fingiam imaginar, que a direita não existia 

IstoÉ

 

segunda-feira, 25 de julho de 2016

Atirador de Munique planejou ataque por um ano e comprou arma pela internet

Ali Sonboly já teria sido internado durante dois meses por problemas psiquiátricos e pesquisado por outros tiroteios em massa 

Os investigadores do caso do jovem que atirou e matou nove pessoas na última sexta-feira (22) em Munique, no sul da Alemanha, confirmaram que Ali Sonboly já planejava o tiroteio há mais de um ano. A arma de fogo utilizada, uma pistola Glock 17, teria sido comprada na dark internet, um meio que se tornou inacessível pelos métodos convencionais e geralmente é acessada para cometer atos ilegais, devido à possibilidade de manter o anonimato.


 Suspeito é identificado pela mídia como Ali Sonboly - Reprodução internet

[aos inocentes úteis - talvez defini-los como 'babacas inúteis' seja mais apropriado - que no Brasil defendem o desarmamento deve ser lembrado que a Alemanha possui uma das legislações mais rígidas sobre posse e porte de armas - inclusive a estúpida exigência de só vender armas a maiores de 25 anos, que é também adotada no Brasil - e, mesmo assim, um jovem de 18 anos conseguiu adquirir, sem nenhuma dificuldade,  uma Glock .9mm, uma das melhores armas entre as chamadas 'armas curtas'.
Chamamos de estúpida exigência dos 25 anos, já que cria uma situação curiosa: com 20 anos ou um pouco mais qualquer jovem pode se tornar militar, policial e ter direito a portar armas, mesmo o impatriótico 'estatuto do desarmamento' impondo a idade mínima de 25 anos.]

O adolescente, que é suspeito de tentar atrair suas vítimas ao restaurante Mc Donald’s para efetuar os disparos, já havia ficado dois meses internado em reabilitação por problemas psiquiátricos.  Segundo o jornal britânico The Guardian, o investigador Robert Heimberger afirma que Ali Sonboly tinha visitado a cena de um tiroteio em uma escola na cidade alemã de Winneden e tirado fotografias do crime, o que contou como prova de que o adolescente estava realmente obcecado por tiroteios em massa.

Além da foto de Anders Breivik que era utilizada como identificação de Sonboly no aplicativo Whatsapp, as autoridades encontraram mais imagens do atirador norueguês que matou 77 pessoas em 2011 em seu computador. A data foi planejada para ocorrer exatamente no mesmo dia do atentado cometido por Breivik na Noruega – que também utilizou uma pistola Glock.

Segundo os investigadores, Sonboly teria utilizado uma arma de fogo não utilizada anteriormente. A suspeita é de que o cano da arma não teria sido desativado corretamente, o que revela uma falta de monitoramento do país. O minstro do Interior Thomas de Maizière citou a possibilidade de tornar as leis de controle de armas mais duras para evitar esse tipo de conduta.

Atirador de Munique planejou ataque por um ano - David Sonboly comprou arma pela internet, informaram as autoridades alemãs

O atirador que matou nove pessoas em Munique na sexta-feira estava planejando o ataque durante um ano e comprou a arma pela internet, informaram as autoridades alemãs neste domingo. Depois do massacre, políticos cobraram o maior controle de armas no país. 
Em uma entrevista coletiva, o chefe de polícia da região da Baviera, Robert Heimberger, disse que o jovem David Sonboly colocou uma armadilha para as vítimas no Facebook, seguindo um planejamento que havia "preparado por um ano".

Na rede social, o assassino publicou uma oferta falsa de lanche grátis no McDonald’s — local inicial do ataque. Em seguida, o atirador continuou os disparos no shopping Olyimpia, o maior centro comercial da região da Baviera. Ainda de acordo com as autoridades, Sonboly, de 18 anos e cidadania alemã-iraniana, comprou ilegalmente pela internet a pistola Glock 9mm usada no ataque.

A polícia considera que o atirador foi influenciado pela matança em Winnenden, em março de 2009, onde um jovem de 17 anos abriu fogo em seu ex-colégio, matando 15 pessoas, antes de se suicidar. — As primeiras observações levam à conclusão de que ele estava interessado neste ato, indo visitar a cidade e tirando fotos há um ano e em seguida planejou seu próprio ato — precisou o chefe da polícia.

Segundo a investigação, Sonboly não escolheu as vítimas de forma específica, explicou o procurador da cidade, Thomas Steinkraus-Koch. — Aqui não há nada contra os estrangeiros — disse ele em entrevista coletiva, contrariando conclusões iniciais de racismo devido ao significativo número de vítimas estrangeiras no ataque. Segundo o último balanço divulgado neste domingo, onze de um total de 35 feridos estão em estado grave. Entre os nove mortos, sete eram adolescentes — três do Kosovo, três turcos e um grego.

Os investigadores suspeitam ainda de um possível vínculo entre o tiroteio de Munique e o assassino supremacista branco norueguês Anders Behring Breivik. O ataque na cidade alemã aconteceu justamente no dia em que o massacre de 77 pessoas cometido pelo radical de direita norueguês completava 5 anos.


No quarto de Sonboly foram encontrados documentos desse massacre e de outros similares, assim como um livro de matanças perpetradas por estudantes. O ataque em Munique foi o terceiro contra civis na Europa Ocidental em menos de dez dias, depois do atentado com um caminhão em Nice (sul da França), em 14 de julho, que deixou 84 mortos, e de um ataque com um machado em um trem na Baviera, que resultou em cinco feridos.

Fonte: Revista Época

domingo, 1 de novembro de 2015

'Mein Kampf' - Minha luta - por Adolph Hitler - opus magna do Führer, muito criticada, só que seus críticos, em sua maioria, nunca o leram


Teste de maturidade 

Talvez nenhuma outra obra traga embutidos tantos mitos, desperte tanto asco e medo quanto ‘Mein Kampf’

Quem mexe com Hitler sabe que vai atrair polêmicas. Mexer com a opus magna do Führer, “Mein Kampf” (“Minha luta”), é mais tóxico ainda. Por isso, o mercado editorial enfrenta hoje um momento de decisão tão histórico quanto coalhado de armadilhas. 

Exatamente à meia-noite do próximo 31 de dezembro expira o instrumento jurídico que proibia a reedição da obra. Em outras palavras, na virada do ano “Mein Kampf” passará a domínio público e poderá ser republicado por quem quiser se arriscar. Dias atrás a centenária editora Fayard, da França, tornou-se a primeira empresa literária da Europa a anunciar para 2016 o lançamento do texto maldito. A decisão deixou o país em polvorosa — não apenas a intelectualidade, como os círculos políticos, religiosos e acadêmicos do país.

Embora a Fayard esclareça que o texto original virá acompanhado de extensa pesquisa crítica e de anotações histórico-científicas para corrigir o vitriólico conteúdo, a polêmica adquiriu vida própria. Tampouco adiantou garantir que a editora não terá qualquer lucro financeiro com a empreitada, pois repassará a eventual receita a entidades de pesquisa. O embate entre os que consideram indispensável a reedição de um documento de tamanho peso histórico, e os temerosos da ressurreição de um texto que negou a própria ideia de humanidade, não tem data para terminar.

Talvez nenhuma outra obra traga embutidos tantos mitos, desperte tanto asco e medo, gere tamanha curiosidade e especulação, além de se beneficiar da aura de leitura proibida por 70 anos.  Hitler escreveu “Mein Kampf” em dois tempos. A primeira parte data de 1924 e pretendeu ser sua autobiografia estilizada, mesclada às raízes do Partido Nacional-Socialista. Escreveu-a da prisão onde cumpria pena por participação num fracassado putsch em Munique contra o governo da Baviera. Vendeu perto de dez mil exemplares. O segundo tomo, publicado dois anos depois, contém o programa do nacional-socialismo, a formulação da ideologia nazista e o papel alocado à raça ariana.

Traduzido para 18 idiomas e com mais de 12 milhões de cópias impressas entre a ascensão ao poder do autor, em 1933, e sua queda no final da Segunda Guerra, “Mein Kampf” tornou-se leitura quase obrigatória na Alemanha. Tanto quanto os “Pensamentos” do camarada Mao Tsé-tung reunidos no famoso Livrinho Vermelho de 1964.

Se o manifesto alemão foi efetivamente lido com ardor de ponta a ponta, não se sabe, pois, ao contrário dos ensinamentos do líder chinês, breves e de compreensão fácil, o texto de Hitler é atroz. Mas passou a representar a matriz do pensamento nazista. Com o suicídio do Führer em 1945 e a derrocada de seu regime, as tropas americanas de ocupação intervieram na editora Franz Eher, que publicava os textos nazistas em Munique, e repassaram os direitos autorais de “Mein Kampf” às autoridades da Baviera. Desde então, a proibição de reeditar ou distribuir a obra em qualquer formato vinha sendo imposta com zelo de cão farejador pelos sucessivos governos bávaros.

É este instrumento jurídico que expira agora no final do ano, decorrido o prazo de 70 anos após a morte do autor. É claro que nesse longo hiato sempre circularam cópias disponíveis. Ainda esta semana bastava entrar no site Estante Virtual para encontrar 24 edições em português, além de outras em espanhol, italiano e até mesmo uma em alemão gótico, de 1933, para quem estiver disposto a desembolsar R$ 4.700. Mas, de um modo geral, “Mein Kampf” virara fetiche, enquanto os demais textos de Hitler discurso, testamento, conversas com diplomatas, instruções militares — sempre estiveram liberados. Era uma lacuna abissal para pesquisadores.

Esta lacuna está prestes a ser preenchida pelo Instituto de História Contemporânea de Munique (IZG, da sigla em alemão). Há seis anos, um núcleo de sete pesquisadores, auxiliados por especialistas em disciplinas tão variadas como Germanística e Genética Humana, Judaísmo e História da Arte, Pedagogia e Economia, trabalha numa edição comentada de “Mein Kampf”. Às quase 800 páginas do texto original foram somados 3.500 comentários científicos e anotações que visam desconstruir o discurso nazista e contextualizá-lo academicamente.

Este colosso crítico em dois volumes e perto de duas mil páginas já está no forno e será publicado com o selo do IZG tão logo a obra caia em domínio público. No futuro também estará disponível on-line, grátis, portanto livre da acusação de possível lucro imputada à versão anunciada pela Fayard. Independentemente do texto de Hitler em breve ter seus direitos autorais liberados, a lei francesa pode continuar a vetar sua publicação a menos que o texto original venha acompanhado de material explicativo sobre os crimes cometidos em seu nome. Isso porque a incitação ao ódio racial é uma das raras restrições da liberdade de expressão na França e a obra pode ser usada como instrumento de propaganda racista.

“Publicar ‘Mein Kampf’ logo agora, nesse contexto político sufocante em que o antissemitismo está avivado, junto com sua nauseabunda contrapartida, o ódio ao muçulmano?”, indaga o secretário-geral do Partido de Esquerda, Alexis Corbière. “Sua publicação por uma grande casa editora romperá a fronteira de todas as proibições morais”, acredita ele. As reticências do professor da Sorbonne Johann Chapoutot, especialista em História do Nazismo, são de outra ordem. “Não vejo o motivo para se focar tanto num livro que não tem a importância que lhe é atribuída, nem seu autor tem a centralidade absoluta imaginada, mas uma boa edição crítica poderá mostrar isso”, declarou ao jornal “Libération”.

No fundo um mesmo receio permeia o debate: e se “Mein Kampf” vier a se tornar o grande sucesso de livraria de 2016? É um risco a correr e não representará necessariamente o naufrágio da civilização ocidental. Ela já esteve a pique várias vezes, por sinal. Tanto a França como o resto da Europa assolada por levas de refugiados precisam passar por este teste de amadurecimento. A melhor maneira de compreender e não repetir a história é estudá-la e conhecê-la.

Por: Dorrit Harazim, jornalista - O Globo

domingo, 18 de outubro de 2015

O pianista

Ahmad se decidiu pelo êxodo no dia em que fez 27 anos. Naquela madrugada não conseguira alimentar o filho faminto

Música não precisa de tradução nem visto de entrada. É linguagem universal. Além de suas outras utilidades mil, ela serve de bálsamo para vidas à deriva, atravessa muros e fronteiras, fura bloqueios e não pesa na bagagem. Que o diga o jovem sírio Ayham Ahmad.

Domingo passado, apesar do frio do cão que prenuncia um inclemente inverno europeu, 24 mil pessoas participaram de um concerto ao ar livre na monumental Königsplatz de Munique. Cantaram, dançaram, fizeram selfies e foram felizes durante mais de duas horas na histórica praça traçada dois séculos atrás para concorrer com a Acrópole de Atenas, e de grande serventia para mastodônticos comícios nazistas.

Só que, desta vez, a galera tinha a cara de uma Alemanha nova. Metade era refugiada de guerra exaurida pelo êxodo e recém-aportada na Baviera; a outra metade era de voluntários alemães que os acolheram ou queriam expressar solidariedade. Organizado em menos de duas semanas e intitulado “Danke-Konzert” (concerto de gratidão), o megashow reuniu as bandas indie mais populares do país. O próprio prefeito da cidade se encarregou de empunhar uma guitarra e entoar “Não somos apenas nós”, canção pró-refugiados que o público parecia conhecer. “O mundo é grande o suficiente. Não somos só nós. Alô, Nova York, Rio, Rosenheim (sede administrativa da Baviera), participem também”, incentivou ele, referindo-se à transmissão on-line.

Ahmad nunca tocara para tamanho mar de gente. Muito menos para um mar de caucasianos com cartazes a proclamar que “Nenhum ser humano é ilegal”. Enrolado ao tradicional keffieh palestino no pescoço, ele subiu ao palco como atração principal — seis meses atrás sua imagem tocando um piano detonado entre os escombros de Yarmouk, na Síria, havia corrido mundo. Ele se tornara o cancioneiro do sofrimento sírio e sua música era ouvida como trilha sonora do horror.

Domingo passado, Ahmad tocou canções de sua gente num Yamaha acústico CP de última geração. Todos entenderam o misto de dor e alegria, mesmo quem não entendia árabe. Sua mulher, dois filhos pequenos, o piano carbonizado e o bairro de refugiados palestinos onde nascera haviam ficado para trás. Ele teve sorte. Só no mês passado morreram afogados no Mar Egeu 144 refugiados da mesma travessia — 44 eram crianças. E dois dias atrás morreu a primeira vítima de um dos países europeus que lhes são hostis — foi baleada pelas forças policiais da Bulgária.

A Yarmouk do pianista fora erguida seis décadas atrás nas franjas de Damasco, capital da Síria, como campo de acolhimento para palestinos fugidos de Israel. Consolidada como bairro, chegou a abrigar quase 700 mil pessoas. Hoje, restam no máximo 18 mil a vagar entre ruínas. Ahmad se decidiu pelo arriscado êxodo em abril deste ano, no dia em que completava 27 anos. Naquela madrugada não conseguira alimentar o filho faminto. “Saí de lá porque a vida ali cessou”, explicou à repórter do “Huffington Post” que o perfilou.

Sobrevivera com a família a quatro anos de guerra civil com destruição e morte por toda parte. Primeiro, foram os bombardeios da Síria e o estrangulamento de Yarmouk por bloqueio total, levando os moradores a se alimentarem de plantas, gatos, cachorros e macacos. Depois, já de joelhos, o bairro-cidade foi ocupado pelos homens de preto — os jihadistas do Estado Islâmico (EI). A água acabou, a farinha e o pão sumiram e a música, considerada haram (infiel), foi proibida.

Filho de violinista, Ahmad tocava piano desde os 6 anos de idade e havia estudado música em Homs até a guerra civil inviabilizar qualquer atividade. De volta à Yarmouk destruída, ele decidiu instalar a céu aberto seu surrado piano e passou a tocar entre escombros, para aliviar a alma de quem o ouvisse. Outros músicos de ocasião se juntavam a ele para cantarolar a céu aberto sobre a vida. Com a ocupação do EI, a vida para ele cessou.

Ahmad ainda tentou camuflar o piano numa carreta improvisada coberta por papelão ao partir para Damasco, onde deixou a família. Mas os jihadistas interceptaram o comboio, encharcaram de gasolina o instrumento e o incendiaram à sua frente.  O resto da saga do músico se assemelha a de tantos outros. De Damasco, ele seguiu sozinho a pé, de ônibus, barco inflável, navio grande, trem: Homs, Hama, Dikili, Lesbos, Atenas, Macedônia, Bulgária, Sérvia, Croácia, Áustria e, por fim, Munique, onde chegou em setembro, cinco meses depois de partir.

Como ele mesmo explica, na terra em que morava, a opção era juntar-se a alguma facção ou esperar pela morte. Decidiu esperar pela morte tocando piano e cantando. Agora em terra estrangeira, continua tocando piano e cantando. Espera pela vida ao lado da mulher e filhos. Um dia talvez. “Quero dizer ao mundo que somos apenas civis, que amamos a música”.

Em tempo — Decretado o fim de fotos de mulheres nuas na “Playboy”, quem continuar a comprá-la pode dizer, agora sem cinismo, que o faz para ler as entrevistas de qualidade da revista. Já quem é adepto de obscenidades hard core na vida real basta acompanhar a política praticada em Brasília.

Por: Dorrit Harazim, jornalista