Ao contrário do que acreditam coxinhas e petralhas, o mundo não gira em torno de suas fixações. Nem tudo é política
Meninos, eu vi: na Copa de 62, quando nem se imaginava a transmissão direta pela TV, a Rádio Bandeirantes montou um imenso painel no Vale do Anhangabaú, em São Paulo, com botões no lugar de jogadores. Pedro Luís e Edson Leite irradiavam e os botões se moviam simulando a partida. Um mar de gente, centenas de milhares de pessoas, acompanhava o painel. O Brasil foi bicampeão; e bicampeões foram os que acompanharam a Copa.
Hoje, diz o Datafolha, a maioria da população, 53%, não tem interesse pela Copa. Já surgiu a tese de que a camisa da Seleção, sendo amarela como o pato da Fiesp usado nos protestos contra Dilma, perdeu prestígio. Besteira: a camisa é canarinho, amarelo-canário, e foi festejada na Copa de 1970, apesar de tentarem (sem êxito) identificá-la com a ditadura militar.
Ao contrário do que acreditam coxinhas e petralhas, o mundo não gira em torno de suas fixações. Nem tudo é política. No caso da Seleção e da Copa, há outro fator: em 58, em 62, em 70, cada torcedor conhecia cada jogador. Os convocados jogavam em seu time, ou contra ele; torcia-se pelo craque do time (e, portanto, pela Seleção). Hoje, poucos craques estão no Brasil, ou aqui se consagraram: saíram meninos e cresceram muito longe da torcida. Normalmente, têm ligação com o Brasil, mas é mais distante.
Gilmar, Nilton Santos, Didi, Vavá, Pelé, esses o torcedor conhecia e sabia onde jogavam. Responda rápido: aqui, onde jogava Roberto Firmino? [ou: quem é Roberto Firmino?]
Sinal de alerta
Seguidores de Jair Bolsonaro voltaram a atacar João Doria.
Adversários de Bolsonaro também colocaram Doria na alça de mira. Mau
sinal para o candidato do PSDB, Geraldo Alckmin: indica que os
concorrentes voltam a considerar provável que, diante da imobilidade de
Alckmin nas pesquisas, o partido resolva trocá-lo por Doria. Doria nega
que queira ser candidato, mas essas coisas são meio complexas: se o
partido lhe fizer um apelo, por que não fazer o sacrifício de atender
aos pedidos e disputar a Presidência?
A tática de Alckmin
Alckmin tem dito a amigos que sua tática é ficar tranquilo, sem fazer
marola. Acredita que Bolsonaro já esteja batendo no teto, incapaz de
chegar mais alto; acredita que o candidato do PT tenha mais chances de
alcançar o segundo turno; acredita que os partidos tradicionalmente
alinhados ao PSDB, que agora tentam criar um candidato de centro, acabem
concluindo que este candidato já existe e é ele, Alckmin. No segundo
turno, ganharia os votos de todo o eleitorado antipetista e chegaria à
Presidência. Pode ser; mas a manutenção de baixos índices nas pesquisas
estimula outros partidos a tentar viabilizar novos candidatos (mesmo que
sejam do próprio PSDB, como Doria). E se, de repente, Ciro Gomes atrai
alguma legenda de centro? [a presença de Alckmin em todas as eleições presidenciais que disputou, sempre favoreceu aos adversários;além de ser uma presença nefasta é ruim de voto -ser candidato a governador é bem diferente de ser candidato a presidente.]
Rir, rir, rir
Henrique Meirelles conta com três fatores para se transformar em nome
forte: apoio da máquina do Governo, bons resultados na economia e
cacife para pagar a maior parte da campanha (ou até mesmo a campanha
toda). Só que o mundo não é bem assim: Michel Temer, com 3% de
aprovação, sob ameaça de novo pedido de processo, não controla mais nem
seus aliados próximos ainda soltos, quanto mais a máquina do Governo. Os resultados da economia são bons, especialmente considerando-se que foram obtidos em curto prazo e sob permanente crise política, mas uma ampla maioria de eleitores acha que a economia vai mal. Até agora, Meirelles, com apelo popular nulo, não conseguiu passar ao eleitor que sua área vai melhor do que se poderia esperar. E pagar a campanha, OK. Mas fará isso mesmo sem chances de crescer? Agora, o dado humorístico: sugeriram a Meirelles que se posicione mais à esquerda. Será engraçado se ele aceitar.
A vida como ela não é
Sim, os ministros do Supremo Tribunal Federal têm à disposição um
servidor que ajeita as cadeiras sempre que algum deles se senta ou
levanta (naturalmente, um funcionário por ministro). Não, este detalhe
não é o top da mordomia: bom mesmo é desfrutar de uma área exclusiva de
embarque no Aeroporto de Brasília, pela qual o Supremo paga R$ 374,6 mil
por ano. Questão de segurança: os ministros não precisam se misturar à
plebe rude para embarcar. Seu espaço fica a uns 2 km do embarque dos
passageiros comuns. No momento do embarque, o ministro é levado de van
até o avião e sobe por uma escada exclusiva para uma porta lateral do finger, onde finalmente (que fazer?) se mistura com os cidadãos sem toga.Mas ainda estão sujeitos a agressões verbais de gente mal-educada, que expressa em voz alta suas restrições ao trabalho de um ou outro ministro.
Bola de cristal
Frase do ex-presidente
americano Ronald Reagan: “A política é supostamente a segunda profissão
mais antiga. Vim a perceber que tem uma semelhança muito grande com a
primeira”.