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quarta-feira, 2 de novembro de 2022

"Futuro em jogo"

Alexandre Garcia

Eleição decidida. Próximos quatro anos com um presidente petista. Como serão? Será preciso perguntar à bola de cristal? Ou apenas projetar nesses próximos quatro os 14 já passados e conhecidos? Para 60 milhões de eleitores, os 14 anos já não contam — ou sequer lembram ou não querem lembrar. Na época, eram crianças ou adolescentes, 21 milhões de eleitores de hoje. Muitos outros ainda só recebem notícia de uma única fonte — a fonte que lhes mostra a sua versão dos fatos.

Assim decidimos os próximos quatro anos. Aparentemente, não serão fáceis para o presidente eleito. A Câmara dos Deputados está com 73% de centro-direita e o Senado, com 67%. Além disso, a maior parte dos governadores foi eleita pelo grupo que apoia o presidente que sai.

O presidente que entra vai receber um raro legado, longe da "herança maldita" de outros tempos. Inflação e desemprego em queda, PIB, arrecadação federal e investimentos em alta, balança comercial superavitária, endividamento público em baixa, otimismo entre empreendedores, credibilidade do governo, impostos em baixa, obras de infraestrutura por toda a parte, inclusive água para o Nordeste e ministérios e estatais imunizados de partidos políticos — uma grande oportunidade para o novo chefe do governo, se estiver de bem com a maioria centro-direita do Congresso. [será que o legado resiste aos primeiros seis meses da nova administração? o eleito tem planos para destruir tudo que hoje existe = tudo que vai receber.]

O Senado ainda precisa empurrar o Supremo Tribunal Federal (STF) de volta ao segundo artigo da Constituição, para que o tribunal deixe de ser também legislador e constituinte. Não vai adiantar simplesmente tirar ministro, a menos que o novo presidente indique realmente juízes e não advogados com causa.

A judicialização da política, lamentada no discurso de posse de Luiz Fux, mostra que o tribunal ficou entre dois fogos, por não se manter acima da fogueira das vaidades. Primeiro, é acusado de contribuir para tirar o PT do poder; hoje, é acusado de contribuir para tirar Bolsonaro do poder. Ativismo não é próprio de juízes. Juízes são isentos por natureza, já a natureza de advogados é defender causas. Fazer o STF abandonar o ativismo é um desafio para os poderes com mandato popular. [será? um único exemplo: o 'piso nacional de enfermagem' aprovado pelo voto de senadores e deputados, que somados representam mais de 100.000.000 de eleitores e sancionado pelo presidente da República - quase 60.000.000 de votos - foi suspenso (suspensão que não tem prazo para ser revista e enquanto não for revista,  tem validade total)  por decisão monocrática do ministro Barroso, STF, que não recebeu um único voto para representar o povo.]

Numa eleição de 124 milhões de votos, decidida por pouco mais de 2 milhões de eleitores, mostra duas metades e destaca o quanto o não votar pode ser decisivo. 32 milhões de brasileiros deixaram que os outros decidissem. Não há como não lembrar de Pilatos, que lavou as mãos enquanto o povo optava por quem seria libertado ou crucificado.

Belo discurso
O eleito leu um belo discurso após o resultado. Bonitas palavras, como discursos do século passado — ser um presidente de todos, por exemplo. Nada encontrei sobre a intenção de prevenir a corrupção, nenhuma disposição sobre o teto de gastos, a conquista do equilíbrio fiscal aprovada no período Temer. 
Das palavras ditas, resgatei a afirmação de que o crescimento econômico será repartido entre toda a população. Anunciou a volta das "conferências nacionais" da esquerda e avisou que vai refazer tudo: "É preciso reconstruir este país na política, na economia, na gestão pública, nas relações internacionais" — um indicador da volta daqueles 14 anos de PT.[a certeza é que o futuro governo do eleito, vai conseguir trazer de volta, apena os dois últimos anos do governo Dilma.]

Acentuou que ninguém está acima da Constituiçãoparece recado ao Supremo. Chegou a falar no "orgulho que sempre tivemos do verde e amarelo da bandeira"… mas uma parte sincera do discurso foi a afirmação de que a eleição "colocou frente a frente dois projetos opostos de país". Agora, um projeto vai se opor ao outro. Se o Congresso permitir.

Alexandre Garcia, colunista - Correio Braziliense


quinta-feira, 28 de julho de 2022

Bolsonaro perde [SIC] um aliado na troca de comando em tribunal militar - Malu Gaspar

Ministro Lúcio Mário de Barros Góes, o novo presidente do Superior Tribunal Militar (STM), durante sessão da corte Divulgação/STM

Barros Góes é considerado por colegas militares um nome “muito equilibrado”, discreto, de perfil conciliador – e politicamente “neutro”, pelo menos até hoje.  O general foi indicado ao STM em 2012 pela então presidente Dilma Rousseff e assume a chefia do tribunal em 3 de agosto, na próxima quarta-feira. [antes que desavisados considerem a indicação do general Barros Góes, pela 'escarrada' ex-presidente, como indicativo de vínculo entre o general e a 'engarrafadora de vento', esclarecemos que a indicação para o STM, especialmente dos oficiais  generais,  quatro estrelas,  das 3 Forças, segue critérios rígidos havendo pouco espaço para indicações políticas. 
O general Barros Góes, certamente atendeu tais critérios. 
Portanto, ter sido indicado pela petista, em nossa opinião,  não vai representar uma nódoa na carreira do atual presidente da Instância máxima da Justiça Militar da União.]  Até lá, um ministro interino vai comandar a Corte.

De saída do STM, Gomes Mattos é um general alinhado aos interesses do Palácio do Planalto. Na semana passada, ele compareceu à controversa reunião em que o presidente Bolsonaro levantou suspeitas infundadas contra as urnas eletrônicas um sistema eletrônico de votação que está em vigor desde 1996, sem nenhuma acusação de fraude comprovada.

Gomes Mattos foi o único presidente de tribunal superior que aceitou o convite do governo para a reunião com embaixadores, minimizando o isolamento do mandatário. [isolamento só existente nas 'narrativas' da mídia militante. Um exemplo da 'imparcialidade' daquela imprensa: - ontem no noticiário de uma Rede de TV foi narrada  a queda da inflação, prévia deste mês (em alguns estados houve deflação) só que o apresentador, precisando do emprego, teve que dar destaque a possíveis repiques da inflação em função da queda de agora  e usou o  fatos do século passado a justificar seu raciocínio contra o 'despiora'.] Não por acaso, o general Braga Netto, companheiro de chapa de Bolsonaro, fez questão de marcar presença e prestigiar a solenidade de sua despedida ontem em Brasília.

O STM, convém ressaltar, não tem qualquer ingerência sobre a organização das eleições e a atuação dos militares no pleito. O próprio Gomes Mattos fez questão de ressaltar isso ontem. "Nós temos uma Justiça Eleitoral e ela é a responsável pelo funcionamento real daquilo. Nossa missão é diferente", disse o general a jornalistas. "Não temos que nos envolver… temos que garantir que o processo seja legítimo e tudo. Essa é a missão das Forças Armadas."

Generais ouvidos reservadamente pela equipe da coluna [nossos 'dois leitores' já conhecem nosso pensamento sobre a citação do 'ouvidos reservadamente' - é sempre a forma da mídia militante = militância formada por jornalistas a favor da censura. Mesmo assim, vamos ser recorrentes:  = sustentar alguma narrativa.] avaliam que, ao contrário de Gomes Mattos, Barros Góes teria declinado o convite.

“Barros Góes é pernambucano, discreto, preparado, conciliador e de fácil trato. Não é fanático”, disse um general [sic] à equipe da coluna. A aposta é a de que o novo presidente do STM fique “equidistante” em relação à cruzada bolsonarista contra as urnas. Gomes Mattos, por outro lado, já demonstrou reservadamente [sic]  que, assim como Bolsonaro, também tem desconfianças sobre o sistema eletrônico de votação. Para militares, ao aceitar o convite para a reunião sobre as urnas, o general acabou assumindo o lado do chefe do Executivo.[talvez militares 'melancia - são poucos, mas tem alguns. As regras de agora, que os inimigos do presidente = inimigos do Brasil, tentam impor, torna cabível que ficar ao lado do presidente Bolsonaro seja  caso de corte marcial.]

Aquela não foi a primeira demonstração de alinhamento do agora ex-presidente do STM com o atual ocupante do Palácio do Planalto. Em entrevista à revista Veja publicada no ano passado, Gomes Mattos saiu em defesa de Bolsonaro e do ex-ministro Eduardo Pazuello e chegou a chamar o presidente da República de “democrata”. Quando foi indagado sobre a candidatura de Lula ao Palácio do Planalto, respondeu que “o brasileiro precisa saber votar”.

Gomes Mattos também provocou polêmica ao dizer que a divulgação pelo GLOBO de áudios com relatos de tortura durante a ditadura era “notícia tendenciosa” com o objetivo de “atingir as Forças Armadas”.

O tema da tortura também veio à tona em 2012, na sabatina de Barros Góes pela Comissão de Constituição e Justiça do Senado, que aprovou a indicação de seu nome por unanimidade. Naquela ocasião, o futuro presidente do STM disse que é “absoluto e bem protegido” pela Constituição o direito do ser humano não ser torturado.

Apesar das mudanças de perfil entre os dois generais, há quem adote a postura de cautela e prefira aguardar os próximos acontecimentos.

Isso porque o ministro da Defesa, Paulo Sérgio Nogueira, também era visto como um nome mais técnico e equilibrado, até assumir o comando da pasta, mudar de postura – e reforçar a narrativa bolsonarista contra as urnas.“Não tenho bola de cristal”, resume um conhecido de Barros Góes. A conferir.

Malu Gaspar, jornalista - Blog em O Globo 

[Aos nossos dois leitores:  

- buscando informar  o necessário para ser indicado ministro do STM, com destaque para as vagas reservadas a 10 oficiais generais, quatro estrelas, transcrevemos a biografia do general Mattos, competência e dedicação são essenciais e nos currículos dos indicados não há espaço para reprovações em cursos e concursos. 


 Fonte: site oficial  Corte Castrense.]

 


quarta-feira, 16 de dezembro de 2020

A difícil empregabilidade dos jovens - Percival Puggina

Há de parecer um contrassenso. Há algumas décadas, temia-se pela empregabilidade dos mais idosos. Dizia-se que eles seriam rapidamente superados e, muito provavelmente, substituídos pela juventude que se preparava para entrar no mercado de trabalho. Em reportagens sobre o assunto, li que indústrias japonesas tinham uma sala de estar e de convivência onde seus velhinhos podiam se sentir úteis, convidados a opinar perante certas situações específicas. Cortesias orientais para antigos ocupantes de um mundo que rejuvenescia. Não sei se tais locais ainda existem.

A vida, porém, furou a bola de cristal, ao menos no Brasil. No país do futuro, o Estadão do dia 14 deste mês publicou matéria que merece ser lida, da qual extraí pequeno trecho: “... Ou seja, de cada dez trabalhadores com até 24 anos de idade, quase oito trabalham em situação vulnerável, segundo levantamento da consultoria IDados. Em números absolutos, isso significa perto de 7,7 milhões de pessoas. Na faixa etária entre 25 e 64 anos, o porcentual é de 39,6% e, acima de 65 anos, de 27,4%.” O inteiro teor da matéria pode e deve ser lido aqui.

A constatação não surpreende se recordarmos o minucioso relatório da UNESCO intitulado "Perfil dos professores brasileiros" (2004) – sem dúvida o mais alentado e minucioso que já li – constatou (tab. nº 55, pag. 108) que 72% dos nossos “trabalhadores em educação” assumiam como sua principal função "formar cidadãos conscientes". Apenas 9% priorizavam "proporcionar conhecimentos básicos" e não mais de 8% sublinhavam a importância de "formar para o trabalho". Noutro item da mesma pesquisa (tab. nº 64, pag. 127) 64,5% dos professores tinha consciência, em grau alto e muito alto, de exercer um "papel político". Infelizmente, não se requer nova investigação para saber que de lá para cá, ao longo dos últimos 16 anos, também nisso a situação só se agravou.

É só lembrar: o aparelhamento e a ação política dos sindicatos da categoria;
a partidarização das universidades públicas;
a ocultação de autores conservadores e liberais; 
a orquestração depreciativa contra o projeto Escola Sem Partido; atos de formatura que se assiste por aí. 
Nada de estranhar num país que cultua Paulo Freire, que assume atitude religiosa perante a obra mais descaradamente política que já li sobre educação e continua a influir em tantos no comando da barra de giz ou do ponteiro laser.

O PISA de 2018, divulgado em dezembro de 2019, continha apenas uma notícia boa para o Brasil: a convicção de que assim como está não dá para continuar. Lembre-se, porém, que, em nosso país, tudo precisa mudar, contanto que, para cada um, tudo fique como está. Resultado: num rol de 79 países, conseguimos as posições entre 58º e 60º em leitura, entre 66º e 68º em ciências e entre 72º e 74º em matemática. A variação decorre da margem de erro adotada pela pesquisa.

O resultado dessas posições de vanguarda, da formação de jovens de pouco estudo e nenhum livro, entregues a seus “criativos e não reprimidos impulsos”, está custando muito caro àqueles em quem se investiu de modo tão equivocado. Outro dia, deu-me dó de uma atendente de caixa quando a vi, disfarçadamente, contando nos dedos para calcular um troco de R$ 12 reais. Sem sucesso, apelou para a calculadora.

Sempre que alguém se apresentar como trabalhador em educação, lhe falar em educação para a cidadania, se disser freireano, saia correndo, chame a mulher e as crianças e grite por socorro, SOS, Mayday, salve-se quem puder! Em seguida seus filhos estariam falando em alternativos, fascistas, neoliberais, negacionistas, golpistas, excluídos, oprimidos, bem como em utopia, problematizar e por aí afora.
 
 
Percival Puggina (75), membro da Academia Rio-Grandense de Letras e Cidadão de Porto Alegre, é arquiteto, empresário, escritor e titular do site Conservadores e Liberais (Puggina.org); colunista de dezenas de jornais e sites no país. Autor de Crônicas contra o totalitarismo; Cuba, a tragédia da utopia; Pombas e Gaviões; A Tomada do Brasil pelos maus brasileiros. Membro da ADCE. Integrante do grupo Pensar+.
 
 

terça-feira, 20 de outubro de 2020

Os conservadores e a proteção da Família e da infância - Percival Puggina

Se formos estudar sobre conservadorismo folhando os mais brilhantes autores europeus, vamos morrer de inveja. Eles têm o que conservar ainda que o façam, como nós, sob intenso ataque. Têm tradição e a respeitam. Vivem em um continente onde existe visão de história e, principalmente, instituições estáveis e funcionais. Nós estamos apenas começando a nos conhecer. Ganhamos a eleição com uma visão bastante clara do que não queríamos. Convergiremos no que queremos?

***
Engels, em união de almas ignoradas e desmazeladas com Marx, atribuiu à instituição familiar os males do mundo e abriu mais uma porta ao sinuoso e misterioso raciocínio do filosófo de Tréveris. Verdadeira multidão de pensadores bebeu água na fonte marxista. Alinharam-se com o desconstrucionismo próprio dos movimentos revolucionários. Converteram suas jovens vítimas em bonequinhos da reengenharia social. Dedicaram as últimas décadas a desacreditar, tumultuar e sabotar a instituição familiar. Fazem-no com palavras e obras. No serviço de sua causa política.

O séquito dos adoradores de Marx desconsidera seus erros. No entanto, ele deve ter sua validade medida e bom modo de fazê-lo é se deixar conduzir pelo cordão de seus prognósticos. Sua bola de cristal nunca funcionou direito e suas previsões para o futuro da humanidade seriam mais acertadas se vasculhadas esotericamente na borra de uma xícara de café.

Não é para desfazer de Marx que estou escrevendo isso, mas para que, passados 137 anos de sua morte tenhamos um juízo adequado do valor, aos pósteros, de sua produção intelectual. Nada diferente do que a história nos reserva quando vamos examinar textos de outros pensadores que se arriscaram a vislumbrar além do horizonte. Não podem ser comprados pelo preço da etiqueta.

O fato é que se há um território disputado na guerra cultural, fria e civil, é o território da família. Na perspectiva conservadora, essa é uma luta de vida ou morte porque, sem família perdem-se as crianças, vai-se a fé, e cessa a transmissão dos valores. Eis por que, mundo afora, tantos professores de modo velado ou explícito, jogam os filhos contra os pais, mormente se a clientela for de famílias daquela classe que a socióloga do PT, Marilena Chauí diz odiar.

Pense nas correntes políticas e ideológicas que agem contra a família, contra a infância, a favor da sexualização precoce ao mesmo tempo em que “problematizam” a sexualidade infantil com a ideia fixa da ideologia de gênero, impingida com inesgotável persistência. Observe que esses mesmos grupos políticos e partidários defendem a liberalização das drogas, referem-se à maconha como equivalente psicotrópico da independência e da liberdade. Usam a imagem da folha do vegetal como bandeira... “Abre as folhas sobre nós!”. Não sei qual será sua conclusão, mas para mim esses grupos estão tão preocupados com a infância quanto o Zucherberg com a chuva ácida na Polônia. Estão simplesmente fazendo sua parte na guerra cultural.

Agora, faça mais. Lembre-se do que aconteceu quando lançada a campanha de prevenção da gravidez precoce. 
Como reagiu a imprensa militante, quase sem exceção? 
Qual a atitude dos partidos revolucionários?
 As meninas eram apresentadas como Rapunzel presa na torre da bruxa Damares Alves, obrigadas a lançar as tranças para a escalada de seus príncipes... 
Metamorfosearam a campanha, para combatê-la, tanto quanto nossos congressistas metamorfosearam o pacote anticrime quando enviado ao Legislativo. 
A proteção da instituição familiar deve ser, portanto, um dos principais pontos para agregação dos conservadores brasileiros.

Percival Puggina (75), membro da Academia Rio-Grandense de Letras e Cidadão de Porto Alegre, é arquiteto, empresário, escritor e titular do site Conservadores e Liberais (Puggina.org); colunista de dezenas de jornais e sites no país. Autor de Crônicas contra o totalitarismo; Cuba, a tragédia da utopia; Pombas e Gaviões; A Tomada do Brasil pelos maus brasileiros. Membro da ADCE. Integrante do grupo Pensar+.


  

quarta-feira, 8 de julho de 2020

''O passado e o futuro'' - Coluna Alexandre Garcia

"Quanto mais parecido com Nostradamus é o futurólogo, mais atenção passa a merecer da mídia que sente necessidade de mudar de assunto, porque ninguém mais aguenta tanta notícia igual"

Em tempos de incertezas sanitárias e políticas, tem sido muito comum a convicção de que “sei que estou certo e os outros estão errados”. Mas seria bom que se pensasse que também os outros têm certeza de que estão certos e que eu estou errado. Ou seja, podem ser relativas as verdades de cada um de nós. O sol nasceu hoje é uma verdade. Mas o sol nascerá amanhã, já é uma verdade relativa.

Faço essa meditação de quarentena, porque noto que além do surto do coronavírus, somos pacientes de um surto de atividade de bolas de cristal. O confinamento que nos deixa distantes das conversas com os amigos, das palavras que nos chegam aos ouvidos no elevador, nos balcões das lojas, no ônibus, é um solilóquio que nos deixa ouvindo apenas as nossas frases e as das redes sociais que frequentamos –– e os verbos das frases nunca estiveram tanto no tempo futuro. O presente já nos exauriu e saltamos em fuga para o futuro, onde já nos contaram que haverá um “novo normal”.

Os profetas já revelaram como será o nosso novo trabalho, como degustaremos o novo jantar, quais serão as novas diversões. Imagino se as pessoas que escrevem artigos sérios sobre isso, ou concedem sérias e longas entrevistas sobre o novo normal, se estão realmente falando sério ou se estão se divertindo com a nossa ingenuidade. Já previram que chegará logo uma vacina e até quem vai ganhar a próxima eleição presidencial americana.

Quanto mais parecido com Nostradamus é o futurólogo, mais atenção passa a merecer da mídia que sente necessidade de mudar de assunto, porque ninguém mais aguenta tanta notícia igual. Mas o futuro real que nos espera é o tempo presente dos desempregados, das empresas fechadas, das contas públicas arrombadas, das novas corrupções viróticas. Um futuro com acusadoras perguntas sobre o passado: se tudo isso salvou vidas ou foi inútil. No ano passado, a média diária de mortes, segundo dados do Registro Civil, foi de 3.367; neste ano, com crescimento da população e a covid-19, pouco foi aumentada: 3.609 mortes por dia.

Vamos ter um futuro de julgamentos sobre o que passou
sobre o que poderia ter sido feito e não foi; 
e sobre o que se fez e que não deveria ter sido feito. 
Na França, famílias já estão entrando na Justiça para responsabilizar autoridades que teriam omitido tratamento na fase inicial da doença. Mesmo sem bola de cristal, é possível prever que esses últimos meses serão muito discutidos nos próximos. 
Resta saber se teremos aprendido alguma coisa para o futuro.

Alexandre Garcia, jornalista - Coluna no Correio Braziliense


quinta-feira, 30 de abril de 2020

Se amizade prejudica, como é que alguns ministros do STF foram indicados para a Corte? - Alexandre Garcia

Gazeta do Povo  


Só não pode o amigo do Bolsonaro
O ministro do STF Alexandre de Moraes foi indicado para a vaga pelo ex-presidente Michel Temer

O ministro do STF Alexandre de Moraes foi indicado para a vaga pelo ex-presidente Michel Temer| Foto: Rosinei Coutinho/SCO/STF

Hoje é feriado de 1º de maio, mas, como está tudo parado, é uma ironia dizer que hoje é feriado. Nos tempos do ditador Getúlio Vargas, em que havia o círculo operário e ele fazia grandes discursos no estádio de São Januário, que era o maior estádio do Rio de Janeiro na época, poderíamos falar de feriado.

O que mantinha Getúlio no poder era esse movimento trabalhista. Quando acabou a guerra, os militares o depuseram e ele voltou ao cargo pelo voto, em 1950. E acabou se suicidando em agosto de 1954.
O suicídio teve a ver com estripulias dos seguranças de Getúlio. Naquele tempo seguranças eram pessoas da confiança do presidente, não tinha nada a ver com as Forças Armadas e as polícias como é hoje.
O trabalho livre liberta
O dia do trabalho existe porque no dia 1 de maio de 1886 houve uma greve que foi combatida com a tiros, em Chicago, e assim se decidiu comemorar o dia. É uma homenagem a quem trabalha. Eu comentei, nesta semana, sobre a libertação dos campos de prisioneiros na Alemanha. Nos portões estava escrito “o trabalho liberta”. Mas o trabalho que liberta é o trabalho livre e hoje no Brasil a gente vê tanta gente precisando e querendo trabalhar sem poder.

Os que hoje eu chamo de “invisíveis” são mais de 50 milhões de brasileiros que trabalham de manhã para garantir o almoço e o jantar de seus filhos.

Só não pode o amigo de Bolsonaro?
O presidente Bolsonaro repetiu que não engole a decisão do ministro do STF, Alexandre de Moraes, de impedir a nomeação de Alexandre Ramagem de se tornar o novo diretor-geral da Polícia Federal por meio de uma liminar. O pedido foi do PDT.

O ministro alega que é preciso ter impessoalidade na indicação e o delegado é amigo de Bolsonaro e seus filhos. O delegado e o presidente nem se conheciam até o dia em que Bolsonaro foi eleito.Ramagem havia sido designado para fazer a segurança de Bolsonaro depois que o então candidato levou uma facada. A indicação foi pelo trabalho brilhante que ele tem na Polícia Federal.

Alexandre Ramagem começou acompanhar o presidente 24 horas por dia. Bolsonaro disse que só não dormia com ele, mas o dois tomavam café juntos e foi assim que surgiu uma amizade.
Se amizade prejudica, como é que Alexandre de Moraes foi indicado pelo ex-presidente Michel Temer para o Supremo Tribunal Federal se os dois são amigos? 
Ou Gilmar Mendes foi indicado por FHC se os dois trabalhavam juntos no Palácio do Planalto?
Ou então Dias Toffoli, sendo amigo de Lula, foi indicado pelo ex-presidente se ele era advogado do PT?
Ou o primo de Collor de Mello, Marco Aurélio, foi indicado para o Supremo?

É muito mais aceitável, no mesmo poder, alguém indicar um servidor de carreira para fazer o seu trabalho do que indicar um companheiro para ser ministro do Supremo Tribunal Federal, que é de outro poder.
O art. 2° da Constituição determina que existam três poderes independentes e harmônicos. Mesmo assim a gente vê um juiz substituto do Ceará impedir que Bolsonaro nomeie um presidente para a Fundação  Palmares – decisão que foi derrubada.
Se o presidente nomear um ministro cachaceiro e vigarista, ainda sim não se pode impedir.  Mas, se esse indicado aparecer bêbado no ministério e continuar fazendo vigarice, pode-se entrar com um pedido de  responsabilidade.

Mas foi o presidente que nomeou e deu um voto de confiança para esse sujeito que não devia. Se fosse isso, o presidente precisaria demiti-lo imediatamente ou se tornaria responsável pelos atos desse ministro. É assim que funciona a separação de poderes.
Bolsonaro vai insistir nessa história porque ele acha que é uma injustiça. O pior é que com esse ato o ministro Alexandre de Moraes pressupõe que há uma associação com intuito de delinquir entre o presidente e Ramagem.

Parece que o ministro tem uma bola de cristal, a qual mostra para ele que Bolsonaro vai cometer um crime, o que é muito grave. É hora da gente pensar nesses acontecimento do Brasil.

Vozes - Alexandre Garcia, jornalista - Gazeta do Povo


sábado, 19 de outubro de 2019

Gilmar x Moro: o duelo definitivo se aproxima - Veja - Blog do Noblat

 Por Vitor Hugo Soares - Blog do Noblat - Veja

Alto risco explosivo

Desperta interesse e causa suspense, a intensa carga de eletricidade com alto risco explosivo e outros perigos, nada desprezíveis, que se acumulam no céu de Brasília. Além da mensagem no Twitter do general Eduardo Villas Boas, ex-comandante da Forças Armadas, sobre os atuais ruídos no STF. Sinais do tempo quente e abafado, em face também dos ensaios e perspectivas de um duelo de tirar o fôlego, envolvendo o esquentado integrante do Pleno da corte maior, Gilmar Mendes, e o reconhecido estrategista Sérgio Moro, ministro da Justiça e da Segurança Pública, ex-juiz condutor da Lava Jato. Isso sem falar das faíscas constantes que saem do centro do poder no Palácio do Planalto e no Congresso.

Na iminência deste confronto que se aproxima, vale a pena prestar atenção nas preliminares dos últimos dias e nos estilos pessoais e profissionais, marcantemente distintos, dos dois contendores. De um lado Gilmar, o “caubói” de pensamento febril, modos desconcertantes de aplicar golpes abaixo da linha da cintura do adversário e, principalmente, da língua ferina que cospe fogo. No lado oposto da praça do embate, o outro duelante: Moro, de perfil pétreo e, geralmente, tão indecifrável quanto os famosos labirintos das pirâmides egípcias. Igualmente hábil no manuseio do revólver, mas sempre imprevisível quanto à mão (direita ou esquerda) e o momento exato do disparo certeiro.

Esta semana, na Conversa com Bial (TV Globo), o ministro do Supremo sacou primeiro e bem ao seu modo e jeito: vistos e conhecidos desde o tempo dos tiros trocados, dentro do Pleno do STF, com o presidente da corte e relator do processo de Mensalão, Joaquim Barbosa, em confrontos sucessivos e de arrepiar a Nação. De repente, “sem que nem pra que” (assim dizia minha saudosa e atenta mãe, na minha infância à beira do São Francisco, rio da minha aldeia), Mendes atirou à queima roupa no ex-juiz condutor da maior operação de combate à corruptos e corruptores do País: “Moro chegou ao governo quase como um primeiro-ministro, mas virou esse personagem que o Bolsonaro leva para o jogo do Flamengo”. Bang!

Moro não negou fogo. Procurado pelo jornal O Globo, para responder, o mais bem avaliado ministro do atual governo – incluindo o próprio presidente da República, atingido de raspão por uma bala perdida do ministro do STF – disparou sem perder o prumo e o estilo, ao contestar. “Além de sempre ter tratado o STF e todos os seus ministros com todo respeito, tenho consciência tranquila em relação aos meus atos, tanto é que não tenho nenhum problema em ir a locais públicos, inclusive estádios de futebol. Bang!

Nem precisa ter bola de cristal para antever que isso não vai parar por aí. Aliás, ainda na Conversa com Bial, o ministro do Supremo deu pistas claras de que o tira-teima está próximo e que ele já se prepara para isso. “Vamos ter capítulo sobre o eventual significado da Vaza Jato, o eventual aproveitamento ou não de prova ilícita nesta questão”, disse. Quando isso acontecer – se de fato acontecer – será provavelmente o momento do duelo definitivo dos dois titãs.
Com seu notório estilo enigmático, é bem provável que, em silêncio, o ministro Sérgio Moro já esteja também azeitando o gatilho de sua arma, para quando chegar a hora do acerto de contas final. A conferir.

Vitor Hugo Soares é jornalista, editor do site blog Bahia em Pauta. 
E-mail: vitors.h@uol.com.br

Publicado no Blog do Noblat - VEJA 




quarta-feira, 13 de junho de 2018

“A Copa que era nossa” e outras notas de Carlos Brickmann

Ao contrário do que acreditam coxinhas e petralhas, o mundo não gira em torno de suas fixações. Nem tudo é política

Meninos, eu vi: na Copa de 62, quando nem se imaginava a transmissão direta pela TV, a Rádio Bandeirantes montou um imenso painel no Vale do Anhangabaú, em São Paulo, com botões no lugar de jogadores. Pedro Luís e Edson Leite irradiavam e os botões se moviam simulando a partida. Um mar de gente, centenas de milhares de pessoas, acompanhava o painel. O Brasil foi bicampeão; e bicampeões foram os que acompanharam a Copa.

Hoje, diz o Datafolha, a maioria da população, 53%, não tem interesse pela Copa. Já surgiu a tese de que a camisa da Seleção, sendo amarela como o pato da Fiesp usado nos protestos contra Dilma, perdeu prestígio. Besteira: a camisa é canarinho, amarelo-canário, e foi festejada na Copa de 1970, apesar de tentarem (sem êxito) identificá-la com a ditadura militar.

Ao contrário do que acreditam coxinhas e petralhas, o mundo não gira em torno de suas fixações. Nem tudo é política. No caso da Seleção e da Copa, há outro fator: em 58, em 62, em 70, cada torcedor conhecia cada jogador. Os convocados jogavam em seu time, ou contra ele; torcia-se pelo craque do time (e, portanto, pela Seleção). Hoje, poucos craques estão no Brasil, ou aqui se consagraram: saíram meninos e cresceram muito longe da torcida. Normalmente, têm ligação com o Brasil, mas é mais distante.
Gilmar, Nilton Santos, Didi, Vavá, Pelé, esses o torcedor conhecia e sabia onde jogavam. Responda rápido: aqui, onde jogava Roberto Firmino? [ou: quem é Roberto Firmino?]

Sinal de alerta
Seguidores de Jair Bolsonaro voltaram a atacar João Doria. Adversários de Bolsonaro também colocaram Doria na alça de mira. Mau sinal para o candidato do PSDB, Geraldo Alckmin: indica que os concorrentes voltam a considerar provável que, diante da imobilidade de Alckmin nas pesquisas, o partido resolva trocá-lo por Doria. Doria nega que queira ser candidato, mas essas coisas são meio complexas: se o partido lhe fizer um apelo, por que não fazer o sacrifício de atender aos pedidos e disputar a Presidência?

A tática de Alckmin
Alckmin tem dito a amigos que sua tática é ficar tranquilo, sem fazer marola. Acredita que Bolsonaro já esteja batendo no teto, incapaz de chegar mais alto; acredita que o candidato do PT tenha mais chances de alcançar o segundo turno; acredita que os partidos tradicionalmente alinhados ao PSDB, que agora tentam criar um candidato de centro, acabem concluindo que este candidato já existe e é ele, Alckmin. No segundo turno, ganharia os votos de todo o eleitorado antipetista e chegaria à Presidência. Pode ser; mas a manutenção de baixos índices nas pesquisas estimula outros partidos a tentar viabilizar novos candidatos (mesmo que sejam do próprio PSDB, como Doria). E se, de repente, Ciro Gomes atrai alguma legenda de centro? [a presença de Alckmin em todas as eleições presidenciais que disputou, sempre favoreceu aos adversários;
além de ser uma presença nefasta é ruim de voto -ser  candidato a governador é bem diferente  de ser candidato a presidente.]

Rir, rir, rir
Henrique Meirelles conta com três fatores para se transformar em nome forte: apoio da máquina do Governo, bons resultados na economia e cacife para pagar a maior parte da campanha (ou até mesmo a campanha toda). Só que o mundo não é bem assim: Michel Temer, com 3% de aprovação, sob ameaça de novo pedido de processo, não controla mais nem seus aliados próximos ainda soltos, quanto mais a máquina do Governo. 

Os resultados da economia são bons, especialmente considerando-se que foram obtidos em curto prazo e sob permanente crise política, mas uma ampla maioria de eleitores acha que a economia vai mal. Até agora, Meirelles, com apelo popular nulo, não conseguiu passar ao eleitor que sua área vai melhor do que se poderia esperar. E pagar a campanha, OK. Mas fará isso mesmo sem chances de crescer? Agora, o dado humorístico: sugeriram a Meirelles que se posicione mais à esquerda. Será engraçado se ele aceitar.

A vida como ela não é
Sim, os ministros do Supremo Tribunal Federal têm à disposição um servidor que ajeita as cadeiras sempre que algum deles se senta ou levanta (naturalmente, um funcionário por ministro). Não, este detalhe não é o top da mordomia: bom mesmo é desfrutar de uma área exclusiva de embarque no Aeroporto de Brasília, pela qual o Supremo paga R$ 374,6 mil por ano. Questão de segurança: os ministros não precisam se misturar à plebe rude para embarcar. Seu espaço fica a uns 2 km do embarque dos passageiros comuns. No momento do embarque, o ministro é levado de van até o avião e sobe por uma escada exclusiva para uma porta lateral do finger, onde finalmente (que fazer?) se mistura com os cidadãos sem toga.
Mas ainda estão sujeitos a agressões verbais de gente mal-educada, que expressa em voz alta suas restrições ao trabalho de um ou outro ministro.

Bola de cristal
Frase do ex-presidente americano Ronald Reagan: “A política é supostamente a segunda profissão mais antiga. Vim a perceber que tem uma semelhança muito grande com a primeira”.

Publicado na Coluna de Carlos Brickmann


sábado, 9 de junho de 2018

Juiz que soltou autor de feminicídio um dia antes do crime manda prendê-lo

Ele alegou não ter tido "bola de cristal" para prever o feminicídio. Especialista destaca que era necessário preservar a vida da mulher acima de tudo e encaminhar o agressor a atendimento psicossocial

O juiz Aragonê Nunes Fernandes, do Núcleo de Audiências de Custódia do Tribunal de Justiça do Distrito Federal e dos Territórios (TJDFT) e do Juizado de Violência Doméstica e Familiar Contra a Mulher de Samambaia, decretou a prisão de Vinícius Rodrigues de Sousa, 24 anos, acusado de matar a companheira, Tauane Morais dos Santos, 23, a facadas em Samambaia na quarta-feira (6/6). O mesmo magistrado havia mandado soltar o acusado um dia antes do crime. Ele alegou não ter tido "bola de cristal" para prever o feminicídio.

Após matar a mulher, Vinícius tentou suicídio com cerca de 20 golpes de faca e está internado em estado gravíssimo - sedado, respirando por aparelhos e com pressão mantida sob medicação - no Hospital Regional de Taguatinga.  Na avaliação da antropóloga Lia Zanotta, especialista em violência doméstica, não é necessária uma "bola de cristal". "O menor dano era manter a prisão desse sujeito. Não basta medida cautelar, porque o Estado não garante a proteção da mulher. Era também necessária medida que obrigasse o agressor a ser encaminhado a um serviço psicossocial e que, de forma nenhuma, fosse, sem outra escuta, liberado", argumenta.

[Esses 'especialistas' sempre assustam. 

Especialista em que? em feminicidio? 

os que criaram o termo, politicamente correto,  feminicidio, com certeza são adeptos da teoria da 'mulher sapiens' criada pelo poste Dilma.  A mulher é antes de tudo um ser humano - assim, ao ser assassinada é vítima de um homicidio.

As medidas protetivas comprovadamente  são ineficazes, insuficientes, para proteger a vida da mulher - caso o autor das ameaças esteja disposto a cumpri-las;

e, infelizmente a legislação penal brasileira não permite a prisão de quem ameaça - exceto em situações excepcionais.

A propósito não sou especialista.]
Para Iara Lobo, colaboradora do Comitê Nacional de Vítimas da Violência (Convive), o juiz foi precipitado ao relaxar a prisão. "É comum que as pessoas não acreditem que isso (feminicídio) vá acontecer. Só as medidas cautelares não são suficientes. Há casos em que se percebe de pronto que necessitam de uma assistência maior e de um olhar diferenciado. Dentro e fora de casa, casos de violência ocorrem com grande constância", resume. No domingo, Vinícius havia sido preso após, conforme depoimento da mulher à Polícia Civil, ele ter se “descontrolado”, quebrado diversos eletrodomésticos que haviam sido comprados por ela, como a televisão e a geladeira, tê-la agredido, ameaçado de morte e tentado enforcá-la. O filho de 2 anos do casal testemunhou a cena.

Segundo informações do TJDFT, "a despeito do indiciado encontrar-se hospitalizado, o auto de flagrante foi analisado e a prisão preventiva deferida, diante da extrema gravidade do crime praticado, bem como mediante o franco descumprimento de medida protetiva imposta em favor da vítima". Para Lia Zanotta, é preciso que juízes e operadores do Direito escutem as mulheres. Nesse caso, segundo ela, houve claros indícios de violência, como denúncia de vizinhos, ações agressivas evidentes contra a mulher e destruição do apartamento, que poderiam levar a mulher à morte. Lia Zanotta reforça que o intuito da Lei Maria da Penha é prevenir a continuidade da violência, mas que há juízes que a veem como muito punitiva e que, por isso, relaxam as prisões diante do fato de que muitas ameaças não configuram em atentados contra a vida.

Medidas protetivas
A ata de audiência de custódia que relaxou a prisão de Vinícius na terça-feira (8/6) mostra que o magistrado justificou que a concessão e a fixação de medidas protetivas eram suficientes para acautelar o processo e manter o suspeito a ele vinculado, protegendo também, por consequência, a integridade da ofendida. As medidas incluíam: afastamento do lar ou domicílio ou local de convivência com a mulher e com os filhos; proibição de contato por qualquer meio de comunicação; proibição de se aproximar da mulher e dos familiares - limite mínimo de 300 metros de distância; proibição de ausentar-se do Distrito Federal por mais de 30 dias, a não ser que autorizado pela Justiça.

Ontem, após a morte de Tauane e decretada prisão preventiva de Vinícius, o juiz Aragonê Nunes Fernandes registrou em audiência: “Por não termos ‘bola de cristal’, não temos como prever aqueles que realmente concretizarão as ameaças que fazem. Prender a todos, indistintamente, não parece ser o melhor caminho a seguir”. A prisão gerou a instauração de procedimento criminal distribuído ao Tribunal do Júri de Samambaia, onde os fatos serão apurados e o processo seguirá seu trâmite até o julgamento do acusado. 

A audiência de custódia em que Vinícius foi solto, na terça-feira (5), contou com a participação de promotor. O Ministério Público do Distrito Federal e Territórios (MPDFT) informou ao Correio que, na ocasião, "não havia registros policiais de episódios anteriores de agressão, e o autor somente foi posto em liberdade condicionado ao cumprimento das medidas protetivas em favor da vítima e dos filhos do casal". "Assim, com base nos fatos trazidos nos autos de prisão em flagrante, não havia elementos que indicassem que o custodiado descumpriria as medidas protetivas, tampouco que mataria a própria companheira antes de tentar ceifar a própria vida", informou o órgão, em nota.
O MP lamentou o crime e garantiu que "vem se empenhando para aperfeiçoar os critérios de avaliação de risco de violência doméstica, sempre em busca de providências que alcancem proteção à mulher".

Garantia do direito à vida 
A Lei Maria da Penha define, no artigo 3º, que devem ser asseguradas às mulheres as condições "para o exercício efetivo dos direitos à vida, à segurança, à saúde, à alimentação, à educação, à cultura, à moradia, ao acesso à justiça, ao esporte, ao lazer, ao trabalho, à cidadania, à liberdade, à dignidade, ao respeito e à convivência familiar e comunitária".

Vítimas e familiares podem buscar suporte diante de casos de violência doméstica em núcleos espalhados por todo o DF. Agressores devem comparecer a reuniões em promotorias de Justiça e contam com apoio especializado em centros de atendimento psicossocial. 

Correio Braziliense

domingo, 18 de junho de 2017

Acertei tudo, no detalhe! Janot usou a direita xucra para tentar a absolvição histórica do PT

Em quatro textos, todos escritos no dia 13 de fevereiro, cantei a bola do que está em curso. Minha bola de cristal se chama ciência política; meu dom divinatório, estudo. Fui xingado, espezinhado, malhado, grampeado... E a sanha me custou dois empregos. Mas venci!

Sim, eis um post gigantesco. A escrita “cocô de cabrito” (em bolinhas) ou de pato (em jatinhos) não me interessa — estilo inaugurado nas redes por Paulo Henrique Amorim. Escrevo textos para pessoas alfabetizadas, que leem.  Vou ter de puxar pela memória. A minha e a de vocês.

Sei bem o que passei a partir do dia 13 de fevereiro, quando acusei a direita xucra de estar fazendo o jogo do PT e das esquerdas. Fui demonizado, xingado, ofendido. Vagabundos e vagabundas, disfarçados e disfarçadas de jornalistas, apontavam o dedo: “Ele não gosta da Lava-Jato! Ele fala mal de Sérgio Moro! Ele é contra a prisão de bandidos”. Não! O que eu fazia, desde meados do ano passado, era apontar o esforço de Rodrigo Janot, procurador-geral da República, para promover uma espécie de absolvição histórica do PT, o que, diga-se, está em curso. Sentenciei, então, numa coluna da Folha de 17 de fevereiro: “Se todos são mesmo iguais, então Lula é melhor.”

A audiência do programa de rádio que eu fazia então, “Os Pingos nos Is”, na Jovem Pan, só crescia. Os “Pingos” não existem mais. Saiu do ar quando era o programa mais ouvido do país. Melhor a morte do que a decadência. Agora, faço “O É da Coisa”, na BandNews FM, entre 18h e 19h, para todo o país, e até as 19h20 para São Paulo. Tenho a impressão de que já lidera no horário, vamos ver. As visitas a meu blog, que estava hospedado, então, na VEJA, se mantinham altíssimas. Hoje, ele está, como veem, na página da RedeTV!/UOL. E quase todos os leitores já sabem disso.

Ah, mas as redes sociais… O bueiro do capeta resolveu, com seus larápios e seus robôs, me transformar num saco de pancadas. Era o mais odiado pelas esquerdas, desde sempre, e me transformei no alvo preferencial da direita “lava-jateira”, que não percebia o golpe de Rodrigo Janot. Aquilo que, para mim, podia ser quase tocado de tão presente e evidente era tido como miragem.  Longe de perceberem o jogo perigoso de Janot, alguns grupos decidiram marchar em favor da operação, acusando uma conspiração que nunca existiu.

Passei a enfrentar patrulha no meu trabalho, do tipo “barra-pesada” mesmo! Como eu ousava ser crítico da Lava-Jato? Estaria eu empenhado em defender os tucanos? Como me atrevia a criticar decisões de Sérgio Moro? “Olhe, eu fui a uma festa, e falaram mal de você!” Pois é. A minha crítica estava certa.  A festa é que era ruim.

E, como sabem, a perseguição partiu também de Brasília. Em meio a mais de duas mil gravações, pinçaram um grampo de uma conversa minha com Andrea Neves. Papo de jornalista com fonte, como ficou evidente. Mas a divulgação criminosa me custou dois pedidos de demissão. Não, não fiquei na rua da amargura porque haviam me sobrado dois empregos: a coluna na Folha e o comentário diário no RedeTV! News. Com efeito, em 50 minutos, lá me foram duas ocupações: uma de 12 anos, e outra de três anos e meio. Uma hora depois, eu já estava, de novo, digamos, quadruplamente empregado. E ainda recebi outras ofertas muito generosas, pelas quais sou imensamente grato.
Tenho muito apreço pelos posts que inauguraram o meu confronto com a direita xucra lava-jateira, que hoje, como se sabe, tem um herói: Joesley Batista!  Rodrigo Janot, este patriota sem igual, jogou lama da reputação de praticamente todas as lideranças políticas para fazer de Joesley Batista o nosso herói sem nenhum caráter.

Aos posts! Pena eu não ter usado meus dons premonitórios para ganhar na mega-sena, né? Mas me ocorre agora que, para ganhar, e é preciso jogar, rsss.


 Fonte: Blog do Reinaldo Azevedo