O ensinamento que dá título a esse artigo pertence ao filósofo
Heráclito, considerado o pai da dialética. Para ele tudo está em
movimento. Isso significa que nós e nossas circunstâncias estão sempre
mudando, portanto, nada se repete.
Transpondo o antigo e sempre atual pensamento do filósofo grego para a
política do momento, tomemos como exemplo o caso de Lula e de seu
partido, o PT. Discute-se se ele ganha ou não a eleição presidencial de
2018. Surgem pesquisas onde ele figura com 30% de votação, porcentagem
que o PT manteve por muito tempo sem lograr vencer. Mas na mesma
pesquisa ele é rejeitado por 54% dos entrevistados. Para confundir mais a
opinião pública Lula é no momento o único candidato em campanha
frenética mesmo antes de ser indicado pelo PT, o que é ilegal, mas
permitido ao petista. Pesquisas podem ser eficiente marketing de
campanha e muita gente pode até crer que o candidato único já ganhou.
Entretanto, é interessante analisar se Lula e suas circunstâncias são
as mesmas de antes, quando ele pairava acima da lei e hipnotizava as
massas com bravatas, mentiras e palavreado vulgar.
Relembre-se que Lula foi transformado pelo marketing em um mito
inatacável, sendo que no Dicionário Aurélio uma das definições de mito
é: “ideia falsa, sem correspondente na realidade”. Será que agora o
mito está sofrendo uma erosão? Recordemos resumidamente alguns fatos
que mostram como mudaram as circunstâncias do poderoso chefão e do seu
partido.
1º - O impeachment de Rousseff foi antecedido por impressionantes,
inéditos e espontâneos protestos populares em todo o país, quando
milhões foram às ruas gritar: “Fora Dilma”. “Fora Lula”. “Fora PT”.
2º - A pressão das ruas desencadeou o impeachment que venceu por larga
margem de votos na Câmara e no Senado. Muito pedidos foram protocolados,
mas foi aceito aquele em que um dos signatários, significativamente,
foi Hélio Bicudo, um dos fundadores do PT, eminente companheiro por
muito tempo.
Em vão Lula tentou evitar que deputados e senadores votassem a favor da
cassação de sua criatura política. Seu desprestígio ficou evidente e
pode ser simbolizado pela “traição” do deputado Tiririca. Nem este
obedeceu ao “mestre”.
Mesmo Rousseff tendo conservado seus direitos políticos por uma manobra
inconstitucional, seu impeachment foi um tiro de canhão no peito da
Jararaca e do PT, algo cuja profundidade ainda não foi devidamente
analisada. De todo modo, pode-se dizer que ali começou a erosão do mito.
3º - Uma das consequências do impeachment apareceu nas eleições de
2016, quando o PT perdeu 60% de suas prefeituras. Em termos de poder e
cargos isso foi uma enormidade. Se o PT repetir a performance em 2018, o
que pode acontecer, se transformará em partido nanico, com pouca
representação no Congresso.
4º - A descrença com o partido foi demonstrada não só por Hélio Bicudo.
Em 9 de abril deste ano, membros do PT escolheram dirigentes municipais
e delegados estaduais. Compareceram cerca de 200 mil militantes, o que
representa menos da metade dos votantes de 2013. Além disso, 27% dos
municípios não conseguiram sequer formar uma chapa de 20 filiados para
compor o diretório municipal.
5º - Diante da crise petista, que sem dúvida enfraquece o “lulismo”,
ditos movimentos sociais resolveram arregimentar forças. Duas greves
gerais foram tentadas e as duas fracassaram redondamente.
6º – Lula, o inimputável foi condenado pelo Juiz Sergio Moro que também
sequestrou seus bens. Houve um ralo movimento de apoio ao líder na Av.
paulista, alguns gatos pingados em poucas cidades. Nenhuma multidão foi
às ruas para rasgar as vestes e arrancar os cabelos como Lula e o PT
esperavam.
7º - Enquanto isso, Temer não cai, está melhorando a economia e
conseguindo aprovação dos seus projetos no Congresso. Inclusive, as
mudanças na ultrapassada Lei Trabalhista, em que pese o espetáculo
pueril e ridículo das senadoras que tentaram em vão barrar a votação se
aboletando por sete horas na mesa diretora.
8º - Lula não tem mais a força do PMDB, os magnatas empreiteiros que o
elegeram estão presos, sem falar que seu próprio partido está
enfraquecido e atônito.
Poderá Lula ser absolvido por outros tribunais? Tudo é possível no país
da impunidade. Wesley Batista não recebeu “indulgência plenária” e
disse que processa quem o chamar de bandido? Se lula for absolvido poderá voltar à presidência em 2018? Ninguém
dispõe de bola de cristal para prever o futuro e o povo é facilmente
enganado, como já demonstrou em eleições passadas.
Um fato, porém, é real: nem Lula nem suas circunstâncias são as mesmas
e, assim, está difícil para ele conseguir nadar de novo no rio do poder.
Pelo bem do Brasil que isso não aconteça.
Maria Lucia Victor Barbosa é socióloga.