Ao longo
dos seus cinco anos de existência, a Lava Jato provocou diferentes sensações.
Quando realizou suas primeiras prisões, a operação causou um estranhamento no
país. Quando obteve as primeiras delações, ateou um receio em Brasília. Quando
começou a encarcerar empreiteiros, produziu pânico no PIB e nos subterrâneos do
Poder. Quando obteve condenações em série de figurões da oligarquia
político-empresarial, a Lava Jato acendeu uma euforia nas ruas.
O
impeachment de Dilma e a prisão de Lula deram a Sergio Moro e aos rapazes da
força-tarefa de Curitiba uma sensação de invulnerabilidade. Ferida, a aliança
que saqueou os cofres públicos impunemente desde a chegada das caravelas passou
a se guiar por uma lei que, em Brasília, é conhecida como Lei de Murici, que
estabelece no seu artigo primeiro: "Cada um cuida de si". Desde
então, os alvos da Lava Jato e seus aliados jogavam com o tempo. Esperavam pelo
dia em que a faxina, por rotineira, virasse um assunto chato. Os adversários da
Lava Jato avaliam que a hora do troco chegou. Ironicamente, um tropeço da
força-tarefa de Curitiba anima a reação.
A ideia de abrir uma fundação privada anticorrupção com R$ 2,5 bilhões
provenientes de uma punição aplicada pelo governo dos Estados Unidos contra a
Petrobras revelou-se um disparo de míssil contra o pé dos 13 procuradores que
celebraram o acordo. Na administração pública, nada do que precisa ser muito
explicado cai bem. Contestado pela própria procuradora-geral da República
Raquel Dodge, o acordo sobre a fundação foi suspenso pelo ministro Alexandre
Moraes, do Supremo. Foi a segunda paulada na Lava Jato em menos de 24 horas.
Na
véspera, o plenário da Suprema Corte havia transformado a Justiça Eleitoral no
novo foro privilegiado dos políticos. Fez isso ao decidir, por 6 a 5, que
processos em que a ladroagem estiver misturada ao caixa dois serão julgados
pelo ramo eleitoral do Judiciário, onde vigora, em matéria penal, a impunidade. Os
corruptos esfregam as mãos, enquanto tramam contra o pacote anticorrupção de
Sergio Moro. Está em curso um movimento para apagar a Lava Jato e acender o
forno que assa pizzas.