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segunda-feira, 23 de maio de 2016

Gasolina fica 10% mais barata com intervenção do Cade

Combustível chegou a ser vendido a quase R$ 4 o litro. Agora, com a maior rede sob controle do Cade, pode ser encontrado por R$ 3,59. Com a redução dos valores nas bombas, a inflação no Distrito Federal cedeu e é a menor do país em maio

Demorou, mas a decisão do Conselho Administrativo de Defesa da Concorrência (Cade) de intervir nos postos de combustíveis do Distrito Federal está dando resultados. Desde o início de março, quando o órgão decidiu nomear um administrador para a maior rede da capital federal, a Cascol, os preços da gasolina já registram queda de até 10%. Na média, o litro do derivado de petróleo era vendido a R$ 3,935. Agora, é ofertado, por R$ 3,624. Mas quem pesquisar bem pode encher o tanque a R$ 3,590 o litro.


Como os combustíveis têm peso importante no cálculo da inflação de Brasília, o custo de vida cedeu. Segundo o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA-15), divulgado na última sexta-feira pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), a carestia na capital do país cravou alta de 0,55% em maio, contra 0,86% da média nacional. No acumulado do ano, a taxa está em 2,76%, ante 4,21% do Brasil. Em 12 meses, o indicador aponta alta de 8,73% frente aos 9,62% do país. A tendência é de que a gasolina continue contribuindo para o alívio no bolso dos brasilienses.

Na avaliação de técnicos do Cade, não havendo nenhum fator atípico, como aumento de impostos, ainda há espaço para que o combustível fique mais barato. O órgão regulador calcula que, na média, os preços da gasolina praticados no Distrito Federal antes da intervenção nos postos estavam 20% acima do normal. Eles chamam a atenção para o recuo mais forte dos preços nas bombas a partir de abril, quando o interventor Wladimir Eustáquio Costa assumiu a gestão da Cascol. Aos poucos, ele está desmontando o cartel que sempre foi característico no DF.

Concorrência
A percepção dos técnicos do Cade é sustentada pelo IBGE. De acordo com o IPCA-15, nos 30 dias terminados em 15 de maio, os combustíveis ficaram, na média, 3,05% mais baratos na capital federal. Somente a gasolina apontou queda de 2,99%, o maior tombo entre as 11 capitais pesquisadas. “A situação melhorou bem. Mas a gasolina ainda continua cara. Acredito que os preços podem cair mais”, afirma o assistente financeiro Daniel Fernandes, 22 anos. “O cartel não foi desmontado por completo”, acrescenta.

A intervenção no grupo Cascol foi um desdobramento da Operação Dubai, deflagrada pela Polícia Federal em 24 de novembro de 2015. Sete pessoas foram presas, suspeitas de participação no cartel dos combustíveis. Como consequência, a Cascol assinou um Termo de Ajustamento de Conduta (TAC) com Ministério Público do Distrito Federal (MPDFT). “O acordo serviu como um limitador contra os abusos”, avalia Alisson Proazzi, gerente de um posto. Segundo ele, mesmo os revendedores que não fazem parte do grupo, que detém quase 30% do mercado de combustíveis do DF, acompanham o movimento forçado pelo Cade e pelo MPDFT.

Os consumidores querem mais. Mesmo tendo reduzido em 15% os gastos mensais com gasolina entre março e maio, o empresário Luís Aires, 30 anos, vê o alívio como insignificante. “Durante muito tempo, fomos explorados pelos postos, arcando com valores muito acima do real”, diz. Para ele, é importante que a queda continue para que, ao longo do tempo, a economia realmente valha a pena. “Cansamos de ser enganados. O cartel que foi desbaratado nunca mais deve voltar. As autoridades não podem nos decepcionar”, ressalta.

Transparência
Para especialistas, os combustíveis mais baratos dão um refresco no orçamento das famílias, que estão sofrendo com o desemprego e o elevado nível de endividamento. “Os preços administrados, nos quais se incluem os da gasolina, do álcool e do diesel, vinham subindo muito. Tanto que o consumo desses produtos caiu bastante”, afirma Fábio Bentes, economista-sênior da Confederação Nacional do Comércio (CNC). Ele ressalta que o recuo dos curtos dos combustíveis deve se refletir por toda a economia, já que o grosso do transporte de mercadorias pelo país é feito por estradas. “Veremos fretes mais baratos. Essa, pelo menos, é a expectativa”, acrescenta.

Segundo o servidor público Célio Rodrigues, 41, o Cade e o Ministério Público deveriam usar a intervenção nos postos para dar maior transparência aos preços. “Hoje, não se sabe ao certo o que estamos pagando. O que é o valor real do derivado do petróleo, o que é imposto federal e quanto de tributos pagamos para estados e municípios. É uma caixa-preta”, afirma. Na avaliação dele, será um erro se, num momento como esse, o governo de Michel Temer elevar a Contribuição de Intervenção no Domínio Econômico (Cide), que incide sobre os combustíveis.

Fonte: Correio Braziliense