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segunda-feira, 19 de outubro de 2015

"ELES PERDERAM A DECÊNCIA"



Sim, a Dilma pedalou! Pedalou, pedala, incorre em crime previsto na Constituição, mas há quem faça pouco caso do assunto. Seu tutor, o ex-presidente Lula, que o diga. Ele tripudia da acusação. Encontra até desculpas que, no seu entender, justificam as afrontas legais da pupila. Lula admitiu publicamente que Dilma pedala e pedalou para “pagar o Bolsa Família, para pagar o Minha Casa, Minha Vida”. Na visão oportunista e sem limites do líder do PT, os fins justificam os meios. Foi o que ele disse e fez ao longo de dois mandatos e repete agora como mantra. Lula não mede consequências.
 
Quer, inclusive, que o governo gaste mais, libere empréstimos do BNDES, crédito para a baixa renda e gere empregos. Parece fácil falar depois que seu grupo quebrou a nação com a tal “nova matriz econômica” e dilapidou os cofres públicos com benefícios e desvios para simpatizantes e apaniguados do partido. Lula não enxerga o óbvio. Ou esconde. Joga pra plateia. Critica Dilma abertamente, sem pudores.  

Disse que ela adotou o discurso de quem perdeu. Que só fala em cortes e ajustes. Que se esquece de conversar com o povo. Depois, pede compreensão “por Dilminha”. Lula distorce a realidade. Para ele o problema do País não é econômico, mas político. Pouco importa que a inflação caminhe para a casa dos dois dígitos. Que o déficit nominal ultrapasse os 8% no ano. Que a queda do PIB alcance a marca recorde de 3% negativos. Que as empresas quebrem. Lula não emite qualquer comentário sobre as acusações que rondam dois de seus filhos. Não é tema adequado, na consideração dele, para dividir com seus seguidores. 

Mais fácil para Lula é acionar o PT em busca de um acordo que salve o segundo mandato de Dilma. Mesmo que em troca da blindagem do encrencado deputado Eduardo Cunha. Foi o que ele fez. Barganhou a sobrevivência de um e do outro na base do “ajude ela que no Conselho de Ética tentamos segurar você”. A despudorada aliança mostra a que ponto chegou o jogo de conchavos dessa turma pelo poder. Às favas com a lei. Com a moral. Com o zelo pelas práticas republicanas. O Brasil está à mercê de líderes sem escrúpulos. Lula move-se de acordo com as suas conveniências. 

Para retornar ao Planalto. Oscila de humor e de opinião em relação à Dilma na cadência da temperatura ambiente. Criador e criatura vivem a dança das aparências. Ela também se deixa levar nesse minueto de chantagens, do toma-lá-dá-cá, como se não tivesse mais nada a fazer. Comercializou ministérios com a raia miúda dos parlamentares. E correu ao abraço com seu arquirrival Cunha, tentando livrar-se do impeachment. Escolhe sempre os piores pares. 

O ministro da saúde em vigor, empossado por ela, caiu em descrédito. Pregou a tungada da CPMF na entrada e na saída. Bitributação inaceitável. Aliás quase nada das deliberações de Dilma e de sua equipe têm sido aceito. Nem os vetos. Dilma invoca a prerrogativa de jamais ter cometido malfeitos na vida política. Mede os deslizes conforme sua régua. Mentir em campanha, “fazer o diabo”, leiloar o governo por um punhado de votos, largar a maior estatal do País nas mãos de saqueadores e administrar as contas públicas em benefício próprio não estão no seu radar de equívocos. 

Por esses dias a pajelança política que envolve Dilma, Lula & Cia assumiu patamares inimagináveis. O Planalto adiou até a eliminação dos três mil cargos comissionados medida anunciada como demonstração de corte na própria carne – para atender a base aliada e acomodar o clima de insatisfação no berço político. A encenação burlesca choca os brasileiros. Causa repúdio. Indignação e revolta. Com qual moral Dilma, Lula & Cia se arvoram o direito a legitimidade? 

Fonte: Carlos José Marques, diretor editorial - IstoÉ