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segunda-feira, 10 de abril de 2023

A esquerda latinizou a América - Rodrigo Constantino

 Revista Oeste

O que sempre diferenciou a América de países latino-americanos foi o respeito ao império das leis

 Donald Trump enfrenta 34 acusações criminais, que acarretam uma sentença máxima de 136 anos | Foto: Reprodução/Twitter

Donald Trump enfrenta 34 acusações criminais, que acarretam uma sentença máxima de 136 anos | Foto: Reprodução/Twitter 
 
Donald Trump é o primeiro ex-presidente norte-americano indiciado que pode acabar preso. Para tamanho acontecimento, sem precedentes, imagina-se algum crime terrível, tipo abusar de estagiárias na Casa Branca e depois mentir no Congresso, cometendo perjúrio
Mas não foi nada disso. Ele está sendo investigado pelo procurador distrital de Nova Iorque por pagar US$ 130 mil à atriz pornô Stormy Daniels, para que ela supostamente silenciasse sobre um relacionamento entre ambos.  

A acusação é extremamente frágil do ponto de vista legal, e vem sete anos depois, quando outros procuradores decidiram não seguir por caminho tão tortuoso. Para sair de “misdemeanor” para “felony” é preciso provar que o pagamento foi pela campanha de Trump, e não uma despesa pessoal dele para simplesmente impedir um escândalo particular. 

Mesmo comentaristas da imprensa esquerdista atestam a fragilidade do caso. Eis a verdade: a esquerda democrata persegue Trump faz tempo. Ele era um alvo em busca de um crime — ou mesmo um pretexto de crime —, o que difere bastante do império das leis, em que crimes são descobertos e depois se encontra o culpado. 

Ninguém vai conseguir negar o caráter político da decisão, ainda mais quando se sabe que o procurador Alvin Bragg teve sua campanha financiada pelo esquerdista George Soros
Prender Trump é uma obsessão da esquerda faz tempo, e nunca conseguiram nada substancial. Sem achar pelo em ovo, tiveram de desenhar um. [a mesma obsessão domina a esquerda brasileira, só que a esquerda os 'states', sendo menos burra, nada consegue, imagine a  do Brasil, burra, estúpida, idiota e incompetente.]
soros
George Soros, empresário e filantropo húngaro-americano, 
apoiador de movimentos que defendem ideologias de esquerda
 Foto: Reprodução/Flickr

Ron DeSantis, governador da Flórida, Estado onde Trump reside, comentou: “A armação do sistema jurídico para promover uma agenda política vira o Estado de Direito de cabeça para baixo. É antiamericano. O procurador distrital de Manhattan, apoiado por Soros, tem rasgado a lei para rebaixar os crimes e justificar a má conduta criminal. No entanto, agora ele está forçando a lei para atingir um oponente político. A Flórida não ajudará com um pedido de extradição, dadas as circunstâncias questionáveis ​​em questão com este promotor de Manhattan apoiado por Soros e sua agenda política”. 

O que sempre diferenciou a América de países latino-americanos foi o respeito ao império das leis. É verdade que, mesmo para pegar Trump, o sistema podre teve de buscar algum respaldo na lei, por mais patético que seja. Só isso já é um pouco melhor do que aquilo que se passa no Brasil, onde jornalistas são presos, censurados e têm contas bancárias congeladas e passaportes cancelados sem qualquer crime possível dentro do Código Penal ou da Constituição. 

Não obstante, isso é um passo perigoso dos democratas que abre precedente assustador. Qualquer procurador estadual poderá agora perseguir presidentes. Pode ser um tiro no pé politicamente, pois vai acabar fortalecendo a campanha de Trump nas primárias, já que ninguém aceita esse grau escancarado de perseguição. Mas representa um esgarçamento institucional lamentável para o país. 

É nessas republiquetas que o império da lei é substituído pelo arbítrio, que a coisa pública vira “cosa nostra” e o Estado acaba visto como um puxadinho do clã no poder

Quando até a revista The Economist, defensora de Obama, constata que processar Trump pelo caso da atriz pornô Stormy Daniels “parece um erro”, argumentando que a “acusação de pagamento de suborno é incerta e técnica demais para a claridade que os EUA precisam”, sabemos que os democratas estão exagerando demais na dose e colocam a nação em perigo. 

Diz a revista esquerdista britânica:Mas tratar um ex-presidente como um cidadão qualquer é uma faca de dois gumes. Procuradores, como o promotor de Justiça de Manhattan, possuem critério e arbítrio para decidir que casos investigam. Eles devem levar em conta a gravidade do caso, a probabilidade de garantir uma condenação e o interesse público no processo. O último elemento é o mais contencioso. Aproximadamente metade do público norte-americano tem total interesse em responsabilizar Trump; a outra metade crê que ele é vítima dos promotores e dificilmente percebe a decisão da Corte de ir adiante com o julgamento como imparcial”. 

Ilustração: Montagem Revista Oeste/Shutterstock

“Acredito que o caráter e a conduta do presidente Trump o tornam inadequado para o cargo”, disse o senador Mitt Romney, crítico de Trump, em um comunicado. “Mesmo assim, acredito que o promotor de Nova Iorque se esforçou para chegar a acusações criminais, a fim de se adequar a uma agenda política, acrescentou.  

Elon Musk zombou dos democratas por seu duplo padrão hipócrita. Musk respondeu a uma postagem na mídia social do líder da maioria no Senado, Chuck Schumer (D-NY), que afirmou que Trump “terá um julgamento justo que siga os fatos e a lei” e exortou os apoiadores de Trump a permanecerem pacíficos, com um aviso de que o povo norte-americano perderá a confiança no sistema de Justiça se os processos forem vistos como políticos e unilaterais. “Para evitar perder a confiança do público norte-americano, é importante que nosso sistema de Justiça persiga democratas e republicanos com igual vigor”, comentou Musk. “Qualquer partido que coloque a justiça antes do nepotismo é aquele que merece confiança.”

Quando Trump disse que Hillary Clinton tinha de ser presa pelo escândalo do servidor de e-mails, a mídia ficou em polvorosa. Agora a mesma imprensa aplaude o abuso de poder para tentar eliminar seu desafeto da corrida eleitoral. O cerne da questão aqui é a mentalidade de que os nobres fins justificam quaisquer meios. Essa tem sido a desgraça norte-americana nos tempos atuais, uma herança soviética, uma mentalidade perigosa. 

Parte-se da premissa (falsa ou questionável, no mínimo) de que Trump representa uma ameaça à democracia, e depois justifica-se tudo para “salvar” a democracia, inclusive o uso do aparato estatal para perseguir de forma abusiva o ex-presidente. Tem sido assim desde 2016: os que mais acusam Trump de colocar em risco a democracia norte-americana são os que não se importam de esgarçar o tecido institucional republicano para destruir um político. 

Isso é coisa de país latino-americano, convenhamos. É nessas republiquetas que o império da lei é substituído pelo arbítrio, que a coisa pública vira “cosa nostra” e o Estado acaba visto como um puxadinho do clã no poder. É um momento muito triste para a América, e não são poucos os que percebem o estrago e lamentam profundamente o ocorrido. Para tanto não importa — ou não deveria importar — o que se pensa de Trump em si. Ninguém está acima da lei, mas tampouco deve alguém ser alvo arbitrário da “lei”. 

Mapa da América do Sul | Ilustração: Shutterstock

No Brasil, como não poderia deixar de ser, petistas e tucanos estão em polvorosa tentando encontrar paralelos e imaginar que Bolsonaro será o próximo a ser indiciado ou preso, ainda mais quando, por coincidência, no mesmo dia da ida de Trump a Nova Iorque foi seu depoimento à Polícia Federal, por conta das tais joias sauditas recebidas de presente. O duplo padrão da esquerda também salta aos olhos no Brasil, claro, já que Lula e Dilma receberam inúmeros presentes valiosos e levaram para suas casas, de forma indevida. 

Gleisi Hoffmann, presidente do PT e companheira dos ditadores comunistas do mundo, escreveu: “Trump preso por 34 acusações criminais. Amanhã tem Bolsonaro depondo na PF. Tic tac tic tac…”. Ela acrescentou: “Bolsonaro escondeu caixas de presentes estrangeiros do Estado, há múltiplos indícios de que seu ministro da Justiça armou pra impedir eleitores de votar, inquérito da minuta do golpe tá quicando. Assim como Trump, ficha corrida do amigo genocida é grande”. [essa petista tem problemas de inteligência e de pensamento,por isso expele pela boca  tanta ... . ]

A esquerda tucanopetista corre desesperada para encontrar ou mesmo inventar algum crime contra líderes políticos da direita, pois assim podem manter a “alternância” de poder contida dentro do teatro das tesouras, tudo em casa, apenas um jogo de cena para ver quem da esquerda vai assumir o comando naquele momento. 

Como os políticos conservadores gozam de amplo apoio popular, é preciso usar todo o aparato estatal para persegui-los e a censura nas redes sociais para tentar calar os influenciadores que denunciam o esquema. O sistema podre e carcomido, até aqui, tem se saído vitorioso. Resta saber até quando, pois é preciso combinar com os “russos”… 

Leia também “Massacre trans”

Rodrigo Constantino, colunista - Revista Oeste

 

sábado, 26 de fevereiro de 2022

E OS FATOS PEDEM SOCORRO - Percival Puggina

Eu faço esse tipo e coisa. Li todo o pronunciamento do ministro Fachin ao tomar posse como presidente do TSE... Li e guardei. Por ora, vou me deter em apenas dois pontos.

No primeiro, o ministro fala da imprensa.

Quem almeja a paz, portanto, também reconhece o papel da imprensa livre e efetivamente respeitada em todas as suas prerrogativas, na garantia do pluralismo democrático.”

Onde está essa imprensa que o ministro vê exercendo suas prerrogativas na garantia do pluralismo democrático e cobrando respeito? 
Certamente não no coro uniforme dos grandes grupos de comunicação; nem no silêncio do consórcio dessas empresas em relação ao que não convém tornar conhecido; 
nem na sua terrível omissão ante o ativismo judicial dos nossos tribunais superiores.

No segundo, fala das redes sociais (sem as mencionar diretamente).

Nada menos de 11 vezes Fachin, em diferentes momentos, menciona o tema da informação. Foi o que ele mais enfatizou, dirigindo-se, sempre, sem o referir, ao protagonismo direto da sociedade na comunicação.

Em contrapartida, se há algo irrepreensível na comunicação social é o que ele chama, genericamente, mas com endereço bem específico, de imprensa. E o vice-versa é verdadeiro: para a essa imprensa, se há algo insusceptível de crítica nas instituições nacionais, são nossos tribunais superiores.

O ministro então se volta ao que denomina circuito desinformativo”. Menciona o “Programa de Enfrentamento à Desinformação"; clama peloprotagonismo da verdade no sistema informativo”; afirma que o tal “circuito desinformativo impulsiona o extremismo”; põe lupa sobre as “armadilhas da pirataria informativa”; denuncia a “normalização da mentira” e reitera o “combate à desinformação”.

Tudo certo, mas a contradição grita nas entrelinhas! Há um peso para a comunicação da sociedade nas redes e outro para os grandes veículos. Como foi, principalmente, a livre manifestação da sociedade nas redes sociais que travou o projeto de poder da esquerda em 2018, não há, sobre estas, nem uma palavra positiva! É sobre elas e só sobre elas que incidem agora os rótulos e as suspeitas. Sobre elas, e só sobre elas, se aplicam censura, ameaças, articulações, acusações.

Do discurso, se depreende, então, que o ministro bebe da grande imprensa a verdade na mais cristalina de suas formas, sem fake news, nem fake analysis, nem factoides, nem omissões, nem acordos, nem conivências, nem conveniências. 

Essa imprensa idealizada só pode, então, conviver na unanimidade que a caracteriza. Convenientemente, morre o pluralismo e os fatos pedem socorro. 

Percival Puggina (77), membro da Academia Rio-Grandense de Letras, é arquiteto, empresário e escritor e titular do site www.puggina.org, colunista de dezenas de jornais e sites no país. Autor de Crônicas contra o totalitarismo; Cuba, a tragédia da utopia; Pombas e Gaviões; A Tomada do Brasil. Integrante do grupo Pensar+.


domingo, 18 de março de 2018

O livro das lamentações

Poderia ser apenas uma comédia bufa, mas os ingredientes do livro “A Verdade Vencerá” compõem o cenário de mais uma das farsas montadas pelo ex-presidente Lula na tentativa de reescrever a história de despautérios em que se transformou sua vida nos últimos anos. Auxiliado por dois jornalistas petistas (Juca Kfouri e Maria Inês Nassif), Lula deu três açodados depoimentos nos últimos dias 7, 15 e 28 de fevereiro, a toque de caixa, sem qualquer compromisso com a realidade, para rebater, em vão, os argumentos juridicamente consistentes de que ele cometeu crimes de lavagem de dinheiro e corrupção. Por ter recebido um tríplex no Guarujá como propina da construtora OAS, beneficiada por facilidades nos contratos da empreiteira junto a Petrobras, Lula foi condenado, em segunda instância, a 12 anos e 1 mês de prisão e deverá ser preso nos próximos dias como manda a lei. Porém, em nenhum momento das 216 páginas do livro, que chegou às livrarias na sexta-feira 16, Lula apresenta fatos que contestem os inúmeros documentos, depoimentos e fatos sobre os desvios que cometeu na Lava Jato. Dedica-se apenas a fazer bravatas e ditar frases de efeito, como: “Estou pronto para ser preso”.


 PANFLETÁRIO O livro lançado por Lula não traz uma única linha que conteste as inúmeras provas de que cometeu crime de corrupção e lavagem de dinheiro no caso do tríplex

Vestindo o figurino de vítima, para variar, o ex-presidente diz que ainda vai recorrer a instâncias superiores (STJ e STF), mas que está conformado com o cárcere. “O que não estou é preparado para a resistência armada. Como sou democrata, nem aprender a atirar eu aprendi. Então, isso está fora de cogitação”. Nega também que esteja arquitetando fugir do País. “Não vou me esconder em embaixada. A palavra fugir não existe no meu dicionário”. Promete ficar em sua casa em São Bernardo do Campo à espera dos agentes da Polícia Federal, pois acorda sempre às 5h para fazer ginástica. Chega a fazer-se de coitado, ao dizer que desde que se curou de um câncer na laringe em 2012, “não tenho mais medo de nada”. E garante que não vai liderar “nenhuma desobediência civil” – sim, sua tropa pode fazê-lo sem que lhe exija sujar as mãos.

Como não tem argumentos para defender-se das bem fundamentadas acusações feitas na Justiça, o ex-presidente aproveita o livro panfletário até para atacar o ex-ministro Antonio Palocci, que já foi seu principal colaborador e tido como seu eventual sucessor, mas que agora está negociando delação premiada com o Ministério Público, fazendo-lhe pesadas acusações. O ex-ministro já afirmou em juízo que Lula fez um pacto de sangue com a Odebrecht e recebeu R$ 300 milhões em propinas da construtora. “Eu tenho pena do Palocci. Ele diminui a figura dele fazendo o que fez. Ou ele não aguentou a prisão e quer liberdade ou ele tem dinheiro e está negociando uma parte. Eu lamento”.

O livro todo é um corolário de lamentações. Sem argumentos de defesa, o ex-presidente aproveitou para fazer análises políticas, incluindo críticas à sua sucessora. Afirma, por exemplo, que faltou empenho a Dilma Rousseff para evitar o impeachment. “Em todas as conversas que eu mantinha, as pessoas se queixavam 100% do Mercadante e 101% da Dilma. Cheguei ao ponto de dizer para a Dilma: ‘Olha, você vai passar para a história como a única presidente que nem os ministros te defenderam”. Ele diz ainda que em 2014, depois da vitória, Dilma lhe pareceu uma pessoa “triste e inquieta” e que sua sensação foi a de que ela “não tinha gostado de ganhar”.

Produzido pela editora Boitempo em prazo recorde, a “Verdade Vencerá começou a ser concebido depois que o Tribunal Regional Federal da 4ª Região (TRF-4), de Porto Alegre, confirmou, no dia 24 de janeiro, a sentença de condenação do juiz Sergio Moro, majorando a pena de prisão em mais dois anos e meio. A decisão de colocá-lo nas livrarias, contudo, veio na semana passada, depois que o Superior Tribunal de Justiça (STJ) rejeitou o habeas-corpus preventivo por 5 a 0, praticamente sacramentando a prisão do ex-presidente. O livro, dessa forma, serve apenas como rascunho mal-acabado da verdadeira história de um ex-presidente que assumiu como “a alma mais honesta do mundo” e acabou virando ícone da corrupção.

 IstoÉ


Os dois assassinatos de Marielle: Após o corpo, querem matar sua reputação... - Veja mais em https://blogdosakamoto.blogosfera.uol.com.br/2018/03/18/os-dois-assassinatos-de-marielle-apos-o-corpo-querem-matar-sua-reputacao/?cmpid=copiaecola

terça-feira, 30 de agosto de 2016

Dilma não responde a acusações e repete argumentos


Presidente afastada perde oportunidade de se defender de maneira efetiva, e se limita a fazer o discurso destinado à luta política do lulopetismo de volta à oposição
O comparecimento da presidente afastada Dilma Rousseff ao Senado poderia reservar alguma surpresa. Chegou-se a prever que o discurso de Dilma entraria para a História. Mas a decisão, até corajosa, da ré, de ir ao Congresso se defender foi frustrante. Viu-se apenas a enfadonha repetição de velhos argumentos.

O pronunciamento da presidente afastada repetiu a ideia, sem pé nem cabeça, de que é vítima de um “golpe parlamentar”, desfechado por uma conspiração fantasiosa das elites, sob o “silêncio cúmplice da mídia”. Ora, agride-se o mensageiro pelo teor da mensagem, o que vem acontecendo, por parte de lulopetistas, desde o mensalão, noticiado com destaque, como teria de ser, pelo jornalismo profissional. 

Estranho foi o fato de a denúncia do “golpe” ser feita no Congresso, em pleno funcionamento, e na presença do presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), Ricardo Lewandowski, responsável por conduzir o julgamento propriamente dito. STF este ao qual a defesa da presidente recorreu algumas vezes, o que jamais seria possível num verdadeiro golpe. Aliás, sequer haveria STF num golpe para valer, não de fantasia. Na verdade, tudo transcorre dentro do estado democrático de direito, garantida toda a liberdade de defesa, substituindo-se, pelo Congresso, uma presidente que cometeu crimes de responsabilidade pelo seu vice, eleito em chapa única pelos mesmos 54 milhões de votos. Simples assim.

Esta versão delirante do processo de impeachment visa a encobrir o desrespeito, comprovado de forma sólida pela acusação, à Constituição e à Lei de Responsabilidade, pela presidente Dilma, em 2015, ao continuar com as “pedaladas”, e na emissão de decretos de liberação de despesas, sem a aprovação do Congresso.  O período abordado pelo processo é apenas o primeiro ano do segundo governo de Dilma, porque assim foi decidido pelo então presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), ao aceitar o pedido de impedimento, em dezembro desse ano.

Mas a manobra de fazer com que instituições financeiras oficiais (Banco do Brasil, Caixa , BNDES) e até o FGTS arcassem com despesas do Tesouro, em operações disfarçadas, ilegais, de financiamento à União, havia começado a ser feita em maior escala desde o final do segundo governo Lula.  O truque é atrasar repasses do Tesouro a essas instituições, feitos para ressarci-las pela equalização de taxas de juros, por exemplo, em financiamentos agrícolas, industriais etc. Também houve atrasos no Bolsa Família.  Se essas operações, as “pedaladas”, serviram para mascarar rombos no Tesouro, a emissão de decretos de gastos sem o aval do Congresso — um ato monárquico — se baseou na filosofia da política do “novo marco macroeconômico”, a favor de mais gastos, a qualquer custo, na vã tentativa de resgatar a economia da recessão. Não deu certo, como se viu. Na conhecida visão de Dilma, a crise surgiu da conjuntura internacional. Na sua versão dos fatos não existiu o estelionato eleitoral praticado por ela e aliados na campanha de 2014, jogando para debaixo do tapete a gravidade da situação fiscal e mantendo a inflação artificialmente baixa, por meio do condenável represamento de tarifas.
A presidente afastada desafiou a prudência ao misturar momentos históricos muito diversos, comparando-se a Getúlio Vargas, a Juscelino Kubitschek e a João Goulart. Mas vale tudo para insistir na farsa do “golpe”. Também é insensata a tentativa da presidente afastada de colocar no mesmo plano o julgamento pelo qual passou na Justiça Militar, na ditadura, com o atual, em tramitação dentro de todas as norma legais. Dilma repetiu que Eduardo Cunha, ex-aliado do PT, foi peça-chave no impeachment, ao se vingar dela supostamente por ter se recusado a levar o PT a ajudá-lo no Conselho de Ética. Mas o impeachment só chegou a este ponto porque até agora a grande maioria de deputados e senadores tem concordado com as acusações. Sozinho, Cunha nada conseguiria. 

A presidente afastada perdeu grande oportunidade de fazer uma defesa efetiva. Só repetiu o discurso da sua bancada, mais voltado para um futuro sem ela no Planalto


Fonte: Editorial – O Globo


segunda-feira, 19 de outubro de 2015

"ELES PERDERAM A DECÊNCIA"



Sim, a Dilma pedalou! Pedalou, pedala, incorre em crime previsto na Constituição, mas há quem faça pouco caso do assunto. Seu tutor, o ex-presidente Lula, que o diga. Ele tripudia da acusação. Encontra até desculpas que, no seu entender, justificam as afrontas legais da pupila. Lula admitiu publicamente que Dilma pedala e pedalou para “pagar o Bolsa Família, para pagar o Minha Casa, Minha Vida”. Na visão oportunista e sem limites do líder do PT, os fins justificam os meios. Foi o que ele disse e fez ao longo de dois mandatos e repete agora como mantra. Lula não mede consequências.
 
Quer, inclusive, que o governo gaste mais, libere empréstimos do BNDES, crédito para a baixa renda e gere empregos. Parece fácil falar depois que seu grupo quebrou a nação com a tal “nova matriz econômica” e dilapidou os cofres públicos com benefícios e desvios para simpatizantes e apaniguados do partido. Lula não enxerga o óbvio. Ou esconde. Joga pra plateia. Critica Dilma abertamente, sem pudores.  

Disse que ela adotou o discurso de quem perdeu. Que só fala em cortes e ajustes. Que se esquece de conversar com o povo. Depois, pede compreensão “por Dilminha”. Lula distorce a realidade. Para ele o problema do País não é econômico, mas político. Pouco importa que a inflação caminhe para a casa dos dois dígitos. Que o déficit nominal ultrapasse os 8% no ano. Que a queda do PIB alcance a marca recorde de 3% negativos. Que as empresas quebrem. Lula não emite qualquer comentário sobre as acusações que rondam dois de seus filhos. Não é tema adequado, na consideração dele, para dividir com seus seguidores. 

Mais fácil para Lula é acionar o PT em busca de um acordo que salve o segundo mandato de Dilma. Mesmo que em troca da blindagem do encrencado deputado Eduardo Cunha. Foi o que ele fez. Barganhou a sobrevivência de um e do outro na base do “ajude ela que no Conselho de Ética tentamos segurar você”. A despudorada aliança mostra a que ponto chegou o jogo de conchavos dessa turma pelo poder. Às favas com a lei. Com a moral. Com o zelo pelas práticas republicanas. O Brasil está à mercê de líderes sem escrúpulos. Lula move-se de acordo com as suas conveniências. 

Para retornar ao Planalto. Oscila de humor e de opinião em relação à Dilma na cadência da temperatura ambiente. Criador e criatura vivem a dança das aparências. Ela também se deixa levar nesse minueto de chantagens, do toma-lá-dá-cá, como se não tivesse mais nada a fazer. Comercializou ministérios com a raia miúda dos parlamentares. E correu ao abraço com seu arquirrival Cunha, tentando livrar-se do impeachment. Escolhe sempre os piores pares. 

O ministro da saúde em vigor, empossado por ela, caiu em descrédito. Pregou a tungada da CPMF na entrada e na saída. Bitributação inaceitável. Aliás quase nada das deliberações de Dilma e de sua equipe têm sido aceito. Nem os vetos. Dilma invoca a prerrogativa de jamais ter cometido malfeitos na vida política. Mede os deslizes conforme sua régua. Mentir em campanha, “fazer o diabo”, leiloar o governo por um punhado de votos, largar a maior estatal do País nas mãos de saqueadores e administrar as contas públicas em benefício próprio não estão no seu radar de equívocos. 

Por esses dias a pajelança política que envolve Dilma, Lula & Cia assumiu patamares inimagináveis. O Planalto adiou até a eliminação dos três mil cargos comissionados medida anunciada como demonstração de corte na própria carne – para atender a base aliada e acomodar o clima de insatisfação no berço político. A encenação burlesca choca os brasileiros. Causa repúdio. Indignação e revolta. Com qual moral Dilma, Lula & Cia se arvoram o direito a legitimidade? 

Fonte: Carlos José Marques, diretor editorial - IstoÉ