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segunda-feira, 21 de setembro de 2020

As saias-justas do intérprete de libras de Bolsonaro

Aos 40 anos, Fabiano Guimarães da Rocha experimenta uma inesperada fama e já recebe até sugestões para entrar na política

Nem um simples passeio no fim de semana é mais o mesmo. No último sábado, por exemplo, Fabiano estava com a família numa feira, em Brasília. Depois de ser insistentemente acompanhado por olhares por onde passava, um rapaz se aproximou e pediu: “Você poderia tirar uma foto comigo?”. Dias antes, seu irmão gêmeo havia passado por uma situação semelhante. Em um restaurante no Rio de Janeiro, foi abordado por um garçom e pela proprietária do estabelecimento, que perguntavam se ele trabalhava com o presidente da República. A resposta foi negativa, mas os curiosos não queriam acreditar. Só se convenceram quando ele mostrou uma fotografia ao lado do verdadeiro “assessor do presidente”. Aos 40 anos, Fabiano Guimarães da Rocha, responsável por interpretar na língua brasileira de sinais (libras) os pronunciamentos de Jair Bolsonaro, experimenta uma inesperada fama e já recebe até sugestões para entrar na política — uma brusca mudança de vida.
PERFEITA TRADUÇÃO - Fabiano Guimarães: sempre ao lado do presidente nas viagens, entrevistas e solenidades, o intérprete usufrui uma inesperada popularidade, recebe sugestões para que se candidate e passa por alguns perrengues por causa do imprevisível vocabulário do chefe - Fotos Cristiano Mariz/.

O carioca chegou a Brasília em setembro do ano passado. Na época, a primeira-dama Michelle Bolsonaro pediu ao presidente que traduzisse simultaneamente seus discursos para os surdos. O Planalto abriu então duas vagas para intérprete. Fabiano soube da seleção, se candidatou e foi chamado. Desde então, ele se tornou figura onipresente ao lado do presidente, participa de viagens, aparece na televisão durante entrevistas e acompanha as cerimônias oficiais. O intérprete aprendeu libras quase por acaso. Aos 18 anos, era membro de uma igreja e participava de um grupo que fazia apresentações religiosas. Certo dia, o líder do grupo inseriu na coreografia um pouco da língua de sinais. Ele ensaiou os primeiros movimentos, se interessou por libras, resolveu estudá-la e se tornou professor. “Faço parte de uma parcela histórica de intérpretes, daqueles que roeram o osso para a construção de tudo o que hoje existe”, conta.

Discreto, ele não gosta de falar muito sobre o trabalho ao lado do presidente. No governo, segundo ele, o maior desafio é traduzir o ministro da Economia, Paulo Guedes, visto que há muitos termos técnicos que nem sempre são diferenciados na linguagem de sinais — investimento e financiamento, por exemplo, são interpretados da mesma maneira. É, porém, o presidente Bolsonaro, conhecido por seu falatório nada técnico, que deixa Fabiano em apuros. Os pronunciamentos do presidente nunca são informados previamente, mas normalmente o intérprete recebe briefings para se preparar, o que não evita determinadas surpresas, como o episódio em que Bolsonaro chamou jornalistas de “bundão”. Fabiano foi rápido no gatilho, fazendo gestos circulares para traduzir o palavrão presidencial. “Nós interpretamos a fala do orador. O script que nós temos é o da fidelidade, e temos o compromisso de transmitir o discurso de quem o pronuncia. O que o presidente ou uma autoridade fala, a fala é dele. A gente só faz a transcrição”, explica. Longe, porém, de Fabiano fazer qualquer crítica ao presidente, a quem diz ter entregado seu voto em 2018 e concordar com seus valores sobre religião e família. Evangélico fervoroso, o intérprete de libras participa de manifestações pró-governo, é apoiador de Bolsonaro  nas redes sociais e até usa ternos encomendados ao mesmo alfaiate do presidente.

Em VEJA, MATÉRIA COMPLETA

Publicado em VEJA, edição nº 2705de 23 de setembro de 2020


segunda-feira, 8 de outubro de 2018

Bolsonaro diz que vai ao TSE exigir explicações sobre problemas nas urnas

O candidato do PSL à Presidência da República, Jair Bolsonaro, questionou os resultados do 1º turno das eleições 2018 na noite deste domingo, 7. 

Em uma transmissão ao vivo feita por sua página oficial no Facebook, ele disse que “se tivéssemos confiança no voto eletrônico, já teríamos o voto do futuro Presidente da República decidido no dia de hoje”.

Ao lado do economista Paulo Guedes e de uma intérprete de libras, Bolsonaro disse que vai exigir soluções junto ao Tribunal Superior Eleitoral. “Não podemos esmorecer”, disse ainda o candidato.

As frases do candidato foram vagas e não fizeram menção a um problema específico – na manhã deste domingo, seu filho Flávio Bolsonaro, senador eleito pelo Rio de Janeiro, publicou tuíte com vídeo que mostrava urna que autocompletava voto para Fernando Haddad (PT). Na tarde do domingo, o TRE-MG publicou vídeo desmentindo as imagens publicadas por Flávio – um técnico fez uma perícia no vídeo indicando edição.

O pronunciamento de Bolsonaro durou nove minutos e treze segundos. No discurso, o candidato do PSL reafirmou diversas bandeiras de sua campanha, como a redução de ministérios – “serão 15”, disse – e de empresas estatais. “Teremos pelo menos 50 estatais a menos, privatizando ou extinguindo”, afirmou.  Também falou sobre segurança pública e fez um aceno às mulheres, eleitorado que foi considerado seu ponto fraco durante boa parte da campanha. “Vamos trazer a paz para as mulheres, para as mães quando seus filhos vão para a faculdade ou para um evento social. Vamos jogar pesado em cima disso.”

Adversário. O candidato do PSL também fez comentários, de forma vaga, ao seu rival no segundo turno, Fernando Haddad. Uma das principais críticas foi a de que o petista buscará se distanciar de Lula. “Você vê nosso opositor dizendo que não vai mais visitar ninguém em Curitiba”, afirmou. “Também quer fazer uma cartinha ao povo brasileiro”, disse, em referência à Carta do Povo Brasileiro, documento assinado por Lula durante a campanha de 2002 e que o ajudou a vencer o pleito na época.
“Não podemos continuar flertando com o comunismo e o socialismo”, afirmou ainda o capitão reformado, dizendo que seus rivais “quebraram grandes empresas brasileiras e arrebentaram com os fundos de pensões”. Fez ainda menção à imprensa, “lamentando” que parte da mídia não tenha “lido o programa de governo deles, com a proposta de controle social da mídia”.
No fim da sessão, Bolsonaro ainda conclamou seus eleitores a permanecerem mobilizados. “Estou aqui porque acredito em vocês e vocês acreditam no Brasil. O objetivo do Executivo e do Parlamento é produzir felicidade. Até a vitória, se Deus quiser.

IstoÉ