A
violência é um problema visível para todos em um país no qual mais de 61 mil
pessoas foram assassinadas em 2016, segundo dados do Anuário Brasileiro de Segurança
Pública.
O tema ganhou relevância ainda maior depois que o Executivo federal retirou das mãos do governo do Rio de Janeiro a gestão do setor, assumindo o controle com a ajuda das Forças Armadas. O assassinato da vereadora Marielle Franco (PSOL-RJ) e de seu motorista, Anderson Gomes, após uma perseguição pelas ruas do Rio de Janeiro — crime ainda não desvendado — aumentou o foco sobre a questão, que hoje aflige os brasileiros tanto quanto a saúde e a corrupção.
O tema ganhou relevância ainda maior depois que o Executivo federal retirou das mãos do governo do Rio de Janeiro a gestão do setor, assumindo o controle com a ajuda das Forças Armadas. O assassinato da vereadora Marielle Franco (PSOL-RJ) e de seu motorista, Anderson Gomes, após uma perseguição pelas ruas do Rio de Janeiro — crime ainda não desvendado — aumentou o foco sobre a questão, que hoje aflige os brasileiros tanto quanto a saúde e a corrupção.
Fuzileiros
na Praia do Leblon - Fábio Guimarães / Agência O Globo
- Candidatos divergem sobre temas polêmicos
- Unanimidade sobre aumento de verbas
- Alckmin: 'É preciso um basta à impunidade'
- Bolsonaro: 'Tem que liberar a posse de armas'
- Ciro: 'Garantir a paz é tarefa do Estado'
- Marina: ‘É prioritária uma política integrada’
Candidatos divergem sobre temas polêmicos
Nesse
cenário, o debate sobre segurança pública está no centro da arena eleitoral, e
o GLOBO procurou os quatro pré-candidatos à Presidência mais bem colocados na
pesquisa Datafolha mais recente para saber como eles se posicionam em relação
ao financiamento das ações de segurança, à intervenção federal no Rio, ao
patrulhamento da fronteira, à redução da maioridade penal para 16 anos, à
flexibilização da posse e do porte de armas de fogo e sobre o impacto do
assassinato da vereadora Marielle. O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva
(PT) não foi considerado para a sondagem, já que ele está inelegível, pela
condenação em segunda instância, de acordo com a Lei da Ficha Limpa.
Entre os
ouvidos, apenas o deputado Jair Bolsonaro (PSL-RJ) acredita que uma das
soluções para melhorar a segurança dos brasileiros é ampliar a posse e o porte
de armas de fogo. A ex-senadora Marina Silva (Rede), o ex-ministro Ciro Gomes
(PDT) e ex-governador de São Paulo, Geraldo Alckmin (PSDB), consideraram que
essa medida aumentaria o número de homicídios.
Quase
todos os pré-candidatos são críticos à intervenção federal na segurança pública
do Rio, e consideram que a decisão do presidente Michel Temer teve motivação
política e careceu de planejamento e recursos financeiros para ter sucesso.
Alckmin, o único a não explicitar contrariedade à medida, disse, porém, que a
ação — “um remédio amargo” — não pode ser “banalizada”. Bolsonaro afirmou que
votou a favor do decreto na Câmara porque “era melhor do que nada”. O
parlamentar, porém, disse que se fosse bem planejada a intervenção poderia
ocorrer em todo o país, porque a insegurança está generalizada.
Unanimidade sobre aumento de verbas
A morte
da vereadora Marielle e de seu motorista foi apontada como uma afronta ao
Estado e uma evidência da fragilidade da intervenção federal no Rio por Marina
e Ciro. Já Alckmin considerou o crime “bárbaro”, com necessidade de apuração e
punição céleres. Bolsonaro, que ainda não havia se manifestado sobre o crime,
disse que foi “mais uma morte no Rio de Janeiro” e que é preciso aguardar a
investigação.
A maioria
dos pré-candidatos concordou na necessidade de aprimorar sistemas de
inteligência para vigiar fronteiras e combater o crime organizado. E todos
foram unânimes em desburocratizar e garantir verbas do orçamento para a
segurança pública.
Alckmin: 'É preciso um basta à impunidade'
Defendo a
criação da Agência Nacional de Inteligência, que cuidaria exclusivamente da
integração dos sistemas de inteligência e dos efetivos policiais da União,
estados e municípios no combate ao crime organizado. Para a integração, o uso
da tecnologia é indispensável. É praticamente impossível monitorar 17 mil
quilômetros de fronteiras sem um sistema de inteligência.
Qual a
melhor forma de garantir a aplicação dos recursos da segurança pública?
O Brasil
já tem um Fundo Nacional de Segurança Pública, mas a destinação desse dinheiro
não é obrigatória, e o repasse aos estados é extremamente burocrático.
Precisamos estabelecer regras claras de aplicação dos recursos.
Qual sua
posição sobre as modificações no Estatuto do Desarmamento?
A saída
não está em armar a população. Isso só aumentaria a sensação geral de
insegurança. Cabe ao Estado proteger os cidadãos. Tirar armas das ruas deve ser
a missão do Estado.
Qual a
sua opinião sobre a redução da maioridade penal?
É preciso
dar um basta à cultura da impunidade, que deseduca. Defendemos uma atualização
do ECA (Estatuto da Criança e do Adolescente) para endurecer o tempo de
internação do menor que cometer crime hediondo, de três para oito anos.
A
intervenção na área de segurança pública no Rio de Janeiro foi acertada?
A
intervenção foi um remédio amargo contra uma doença grave, uma medida
excepcional que não pode ser banalizada. Não existe mágica para resolver. A premissa
é uma polícia motivada e preparada não só para capturar bandidos e investigar
crimes, mas também com inteligência e tecnologia para preveni-los.
Qual o
significado da morte da vereadora Marielle Franco e do motorista Anderson?
Marielle
e Anderson foram executados, um crime bárbaro, que exige apuração célere e
punição exemplar.
Bolsonaro: 'Tem que liberar a posse de armas'
Ninguém
vai resolver essa questão. Outros países com grandes fronteiras também não
conseguiram. Mas tem como atenuar. Vou buscar a ajuda das Forças Armadas. O
Sisfron (Sistema Integrado de Monitoramento de Fronteiras) é muito caro e não
tem sido efetivo. Também pretendo revogar a portaria do Ministério da Justiça
que regulamenta a abordagem dos agentes de segurança na fronteira. Ela é muito
branda, não permite apontar armas para suspeitos, por exemplo.
Qual a
melhor forma de garantir a aplicação dos recursos da segurança pública?
Precisa
mudar a regra para evitar contingenciamento dos recursos. O orçamento tem que
ser impositivo e realista para essa área, que é a mais importante para o país.
E sou contra o Ministério da Segurança Pública.
Qual sua
posição sobre as modificações no Estatuto do Desarmamento?
Os
critérios para a posse e o porte de arma de fogo são muito subjetivos. Tem que
liberar a posse de armas para todo mundo, como ocorre nos Estados Unidos. Eu
daria porte de armas para caminhoneiros e vigilantes, por exemplo. Já existe um
bang-bang no Brasil, mas apenas um lado pode atirar.
Qual sua
opinião sobre a diminuição da maioridade penal?
Quando eu
cheguei à Câmara fiz uma Proposta de Emenda Constitucional (PEC) para reduzir a
maioridade penal para 16 anos. Defendo a redução.
A
intervenção na área de segurança pública do Rio de Janeiro foi acertada?
Ela foi
decidida numa quarta-feira de cinzas, sem planejamento e ninguém sabia. Nem o
comando do Exército nem o interventor. Foi uma intervenção política, mas votei
favorável ao decreto na Câmara porque é melhor do que nada.
Qual o
significado da morte da vereadora Marielle Franco e do motorista Anderson?
Para a
democracia não significa nada. É mais uma morte no Rio de Janeiro e temos que
aguardar a investigação.
Ciro: 'Garantir a paz é tarefa do Estado'
Contamos
com um grupo de especialistas em segurança pública que tem debatido os mais
diversos pontos para a área. Toda ação voltada para o combate ao crime nas
nossas fronteiras passa por investimento em tecnologia, inteligência,
contrainteligência, satélites, drones, escâneres e sensoriamento remoto.
Qual a
melhor forma de garantir a aplicação dos recursos da segurança pública?
Não é
mais adiável que o governo federal tome a iniciativa de criar um sistema
nacional de segurança pública que envolva desde as guardas civis metropolitanas
até os serviços de inteligência das Forças Armadas, passando pelas Polícias
Militar, Civil e Federal.
Qual sua
posição sobre as modificações no Estatuto do Desarmamento?
É justo o
apelo popular por mais segurança, no entanto, não é armando todo mundo que você
vai resolver este problema. A tarefa de garantir a paz para as famílias do
campo e da cidade é do Estado. O que nós precisamos é equipar melhor nossas
polícias.
Qual sua
opinião sobre a redução da maioridade penal?
Parece
equivocada. No grupo de discussão que temos sobre segurança pública muitas
ideias têm surgido para trabalhar este tema, entre elas a possibilidade de
agravar medidas socioeducativas para os reincidentes.
A
intervenção na área de segurança pública no Rio de Janeiro foi acertada?
A
iniciativa é uma impostura politiqueira que atende a um gravíssimo e justo
clamor popular. É uma iniciativa sem planejamento, sem orçamento e parte de um
equívoco grosseiro: encarregar as Forças Armadas — treinadas para matar o
inimigo e proteger nossas fronteiras — de formar culpa de delinquentes.
Qual
significado a morte da vereadora Marielle Franco e do motorista Anderson?
É o crime
organizado chamando o Estado para a briga. É triste constatar que estas mortes
se somam aos mais de 62 mil homicídios que aconteceram no ano passado, dos
quais apenas 8% foram investigados.
Marina: ‘É prioritária uma política integrada’
O
policiamento de fronteiras precisa ser organizado com base em um sistema de
monitoramento e inteligência de informações. A Polícia Federal deve atuar ao
lado das Forças Armadas.
Qual a
melhor forma de garantir a aplicação dos recursos da segurança pública?
É
necessário ampliar a eficiência e a transparência na execução dos recursos. O
governo federal precisa assumir responsabilidades e priorizar uma Política
Nacional de Segurança Pública, de maneira integrada e estratégica com estados e
municípios.
Qual sua
posição sobre as modificações no Estatuto do Desarmamento?
É um
instrumento importante de combate à violência. Sou contra alterações que
flexibilizem o acesso ao uso de armas.
Qual sua
opinião sobre a redução da maioridade penal?
Sou
contra. O Brasil já possui um sistema para responsabilização de menores, que é
o Estatuto da Criança e do Adolescente. Este sistema prevê medidas
socioeducativas, que possuem caráter coercitivo, como a privação de liberdade.
A
intervenção na área de segurança pública no Rio de Janeiro foi acertada?
A
gravidade da situação da segurança pública no Rio de Janeiro é o resultado da
incapacidade dos sucessivos governos estaduais e de muitos anos de omissão do
governo federal. No entanto, a intervenção federal, da forma como foi
realizada, não teve o planejamento adequado, o que não pode acontecer com a adoção
de uma medida extrema em uma situação de tamanha gravidade.
Qual o
significado da morte da vereadora Marielle Franco e do motorista Anderson?
Quando
recebi a notícia do assassinato da Marielle e seu motorista, logo me veio na
memória a triste lembrança das mortes de Chico Mendes, irmã Dorothy (Stang), e
tantos outros, cuja a busca de justiça foi interrompida por um ato de extrema
violência. A luta por justiça e contra a discriminação, no Brasil, sempre foi,
e continua sendo, punida com a morte. O caso de Marielle é emblemático. Depois
de sua eliminação física, ainda tentam, de maneira sórdida e covarde, matar sua
causa com notícias caluniosas.
O Globo
O Globo