Alexandre Garcia
Com o objetivo de desgastar o candidato à reeleição, a CPI corre o risco de desgastar ela própria a cada sessão espetaculosa
[o ridículo de cada sessão espetaculosa consegue superar e antecipar o mais cômico esperado - aquela do senador Calheiros, o relator imposto, ocupar tempo questionando o presidente da Anvisa por não ter usado máscara em março 2020, impõe que as demais sessões da CPI se realizem no picadeiro de um circo mambembe e nos deixa tentado, não fosse pelo respeito que dedicamos aos nossos dois leitores, a perguntar: "o que tem ...?"]
Este início de CPI não surpreendeu. Os senadores da comissão agiram como
era esperado. E os depoentes, também. Muitas intenções, suposições e,
ainda, sem revelações.
Recebemos o já ouvido, já visto, já sabido.
Como
no Senado da Roma antiga, agitaram-se questores e catilinas e até catões
a repetir delenda Bolsonaro, delenda Bolsonaro. Não fingem isenção e
deixam claro o objetivo, conhecido por gregos e troianos, de enfraquecer
o presidente para evitar reeleição. Depois dos interrogatórios, há
entrevista para acertar a versão do acontecido, uma espécie de extensão
do palanque.
A CPI se instalou por ordem de um juiz do Supremo — o
que, certamente, não teria acontecido se o presidente do Senado fosse
Antônio Carlos Magalhães. [eles sabem a quem mandar - ACM jamais cumpriria a ordem e ainda esculacharia a pretensão.] O presidente Pacheco curvou-se e considerou
dois requerimentos: o primeiro, do senador Randolfe Rodrigues(Rede-AP),
com 31 assinaturas, e o do senador Eduardo Girão (Podemos-CE), com 45
assinaturas. O das 31 assinaturas, tornou-se vice-presidente da comissão
e seu objetivo de investigar o presidente prevalece sobre o do senador
de 45 assinaturas, que é investigar o destino dos bilhões federais aos
estados e municípios.
Com isso, a CPI investiga o provedor dos recursos e não os executores dos gastos.
O senador Girão citou em seu requerimento o fato de a Polícia Federal conduzir 61 investigações sobre fraudes diversas com dinheiro federal, mas isso não motivou, até agora, os inquisidores da comissão. Mesmo porque, nela há dois pais de governadores — um deles o próprio relator — e um ex-governador, com a família investigada em desvios da saúde — o próprio presidente da comissão. [além do que sabem que se for investigar as fraudes diversas 'autoridades locais' estarão enroladas e estas autoridades locais podem envolver e com certeza certeza envolverão, outras e outras autoridades.]
As lideranças partidárias que indicaram os integrantes
da CPI desafiaram a memória popular sobre a ficha dos inquisidores.
A
CPI ainda não se deu conta do que isso representa.
Vai se expor por 90
dias.
Com o objetivo de desgastar o candidato à reeleição, a CPI corre o
risco de desgastar ela própria a cada sessão espetaculosa.
Por
enquanto, a inquisição pouco santa já condenou a cloroquina. O
articulista gaúcho Percival Puggina previu, esta semana, que a CPI vai
inocentar o vírus.
Alexandre Garcia, colunista - Correio Braziliense