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terça-feira, 2 de outubro de 2018

Declarações de Dirceu colocam PT na defensiva

Dirigentes do PT repreenderam o ex-ministro José Dirceu em razão de suas últimas entrevistas, nas quais o petista afirmou que seria uma questão de tempo “para a gente tomar o poder”, além de querer retirar o poder de investigação do Ministério Público e de restringir o papel do Supremo Tribunal Federal (STF) ao de uma Corte constitucional no País.

Um interlocutor afirmou que no partido a avaliação é de que o ex-ministro está “falando demais”. Além da reação dos dirigentes, a campanha de Fernando Haddad, o presidenciável petista, quer distância das declarações polêmicas de Dirceu – solto em junho pela Segunda Turma do STF após ser condenado em segunda instância na Operação Lava Jato. As falas causaram irritação pelo momento em que foram feitas – a reta final da campanha – e por obrigar a candidatura de Haddad a uma postura defensiva. 

Dirceu, segundo outro dirigente, quer “mostrar uma importância que não tem”.  A ordem é dizer que o papel do ex-ministro é zero na campanha e evitar que suas declarações tenham impacto na campanha de Haddad, como as de auxiliares do principal oponente do PT, o candidato do PSL, Jair Bolsonaro.  No domingo, dia 30, em São Luis, Dirceu tratou da polêmica. Ao lançar o primeiro volume de sua biografia, ele afirmou que usou uma expressão “infeliz”. “Porque dá condições para se explorar como se eu tivesse falando que existe uma coisa que é ganhar eleição e outra coisa que é tomar o poder. Eu estava respondendo no caso de um golpe.”

Em entrevista ao jornal El País, o ex-ministro respondeu à pergunta sobre se havia possibilidade de o PT ganhar a eleição, mas não levar. Disse que achava improvável, que a comunidade internacional não aceitaria. E completou: “E dentro do País é uma questão de tempo pra gente tomar o poder. Aí nós vamos tomar o poder, que é diferente de ganhar uma eleição”.

Viagens
Dirceu iniciou um périplo pelo Brasil em 4 de setembro para lançar a biografia. “E como sempre, vou fazer política, que ninguém é de ferro”, disse na ocasião. Percorreu 11 capitais. Começou a viagem de carro. Está em companhia da mulher, da filha menor e do editor de seu livro, o jornalista Luiz Fernando Emediato, dono da editora Geração.

Na Bahia, a editora alugou um ônibus leito na empresa Corumbal. “É uma pequena empresa que tem oito veículos comumente alugados para bandas de música”, afirmou Emediato. O ônibus que leva Dirceu havia sido usado antes por uma banda de axé.
A rotina do ex-ministro é de encontros com a militância petista, entrevistas para jornalistas locais e sessões de autógrafos. A receptividade de Dirceu entre o público lulista pode ser medida pelas vendas do livro – cerca de 25 mil exemplares até o momento.

Ao mesmo tempo, a rejeição a ele pode explicar a forma escolhida por ele para viajar. No ônibus leito, o ex-chefe da Casa Civil pode escapar ao incômodo de hostilidades, geralmente registradas por meio de telefones celulares em aviões. O ônibus não impede, no entanto, que o ex-ministro tenha de pensar em estratagemas: para ir a restaurantes sem ser incomodado, Dirceu usa um chapéu e óculos escuros. Ele esteve em todas as capitais do Nordeste, região chave para Haddad. Nesta segunda-feira, dia 1º, deixou São Luís (MA) e foi para Belém, capital do Pará, último ponto antes do primeiro turno das eleições.
Enquanto espera a definição da Justiça, Dirceu escreve outros dois livros: um sobre o sistema penal e um romance sobre a luta armada.

As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.


domingo, 30 de setembro de 2018

O PT quer ‘tomar o poder’

Ao afirmar que é apenas uma “questão de tempo” para que o PT efetivamente tome o poder, José Dirceu, réu triplamente condenado, dá a entender que esse processo já está em curso. 


Um regime autoritário pode se instalar da maneira clássica, por meio de um golpe, ou como resultado de um paulatino processo de captura do poder por um determinado grupo político, que assegura sua hegemonia a partir do aparelhamento do Estado. De um modo ou de outro, o resultado é sempre o mesmo: a submissão do Estado - e da Nação - aos interesses de quem o controla, o exato oposto de uma democracia. É precisamente isso o que o PT tentará fazer se esse partido conseguir vencer a eleição presidencial.  Para os que ainda concedem ao PT o benefício da dúvida, enxergando naquele partido credenciais democráticas que a sigla há muito perdeu - se é que um dia as teve -, recomenda-se a leitura de uma entrevista que o “companheiro” José Dirceu deu ao jornal El País.

Na entrevista, o jornal pergunta ao ex-ministro, deputado cassado e réu triplamente condenado se ele acredita na possibilidade de que o PT seja impedido de assumir a Presidência caso vença a eleição - ou seja, se pode haver um golpe. José Dirceu considera essa hipótese “improvável”, pois significaria colocar o Brasil na rota do “desastre total”, uma vez que “na comunidade internacional isso não vai ser aceito”. Mas então Dirceu, condenado a mais de 33 anos de prisão por corrupção no âmbito da Lava Jato, deixa claro que, para o PT, as eleições, afinal, são apenas uma etapa na tomada do poder. “Dentro do país é uma questão de tempo para a gente tomar o poder. Aí nos vamos tomar o poder, que é diferente de ganhar uma eleição”, explicou o ex-ministro.

Não é preciso grande esforço para perceber o projeto antidemocrático petista nessas poucas palavras. Quando diz que “tomar o poder” é diferente de “ganhar uma eleição”, significa que o poder pode ser conquistado e consolidado à margem ou mesmo a despeito do natural processo democrático - que, justamente, tem como um de seus fundamentos a alternância de governantes, para evitar a cristalização de um determinado grupo político-partidário na máquina estatal.

Ao afirmar que é apenas uma “questão de tempo” para que o PT efetivamente tome o poder, Dirceu dá a entender que esse processo já está em curso. Pode-se dizer que os esquemas arquitetados pelo PT e seus associados para corromper o Congresso eram parte da estratégia, e só não foram mais longe porque houve um acidente de percurso - a Operação Lava Jato.

Mas há um aspecto menos escandaloso e mais insidioso nessa ofensiva do PT, que é a construção, passo a passo, da hegemonia do pensamento e da ação petistas em diversos setores da sociedade - e, para que essa estratégia insinuada por Dirceu seja bem-sucedida, é preciso contaminar de petismo também as instituições sobre as quais repousa a tarefa de garantir a democracia. Foi exatamente o que o chavismo fez na Venezuela, não à toa um modelo de “democraciapara os petistas. 

Em resolução publicada depois do impeachment da presidente Dilma Rousseff, em 2016, o PT lamentou não ter se concentrado na “construção de uma força política, social e cultural capaz de dirigir e transformar o País”, o que incluía a reforma do Estado para se contrapor ao que chamou de “sabotagem conservadora”, e disse ter falhado ao não “promover oficiais (das Forças Armadas) com compromisso democrático e nacionalista” - isto é, militares alinhados ao PT.

Mas, como constatou Dirceu, nem o impeachment de Dilma nem a prisão do máximo líder da camarilha petista, Lula da Silva, interromperam o empreendimento autoritário do partido. Ao contrário: a autorização dada ontem pelo ministro do Supremo Tribunal Federal Ricardo Lewandowski para que Lula possa dar entrevistas na cadeia mostra o quanto as instituições basilares da democracia continuam permeáveis ao lulopetismo. [a autorização já foi devidamente cassada, pelo ministro Luiz Fux, em uma segunda derrota do Lewandowski em apenas um dia.]
 
Para permitir que Lula, encarcerado por corrupção e lavagem de dinheiro, dê declarações com potencial para influir na disputa presidencial, tumultuando um processo já bastante confuso, Lewandowski invocou a “liberdade de imprensa”. Ou seja, recorre-se a um dos princípios mais caros aos regimes democráticos para garantir a Lula um privilégio - situação por si só incompatível com uma democracia, mas muito coerente com a “tomada de poder” pelo PT.

[aos defensores do absurdo que é o criminoso Lula ter direitos e privilégios que não são concedidos a outros bandidos condenados, sugerimos a leitura atenta do presente Editorial do jornal O Estado de S. Paulo - apesar de apenas o último parágrafo derrubar todo e qualquer argumento dos que defendem que um valor importante, caro à democracia, seja utilizado para dar privilégios, benesses, a um bandido.] 

Editorial - O Estado de S. Paulo