Dirigentes do PT repreenderam o ex-ministro José Dirceu em
razão de suas últimas entrevistas, nas quais o petista afirmou que seria
uma questão de tempo “para a gente tomar o poder”, além de querer
retirar o poder de investigação do Ministério Público e de restringir o
papel do Supremo Tribunal Federal (STF) ao de uma Corte constitucional
no País.
Um interlocutor afirmou que no partido a avaliação é de que o
ex-ministro está “falando demais”. Além da reação dos dirigentes, a
campanha de Fernando Haddad, o presidenciável petista, quer distância
das declarações polêmicas de Dirceu – solto em junho pela Segunda Turma
do STF após ser condenado em segunda instância na Operação Lava Jato. As
falas causaram irritação pelo momento em que foram feitas – a reta
final da campanha – e por obrigar a candidatura de Haddad a uma postura
defensiva.
Dirceu, segundo outro dirigente, quer “mostrar uma
importância que não tem”. A ordem é dizer que o papel do ex-ministro é zero na campanha e
evitar que suas declarações tenham impacto na campanha de Haddad, como
as de auxiliares do principal oponente do PT, o candidato do PSL, Jair
Bolsonaro. No domingo, dia 30, em São Luis, Dirceu tratou da polêmica. Ao lançar
o primeiro volume de sua biografia, ele afirmou que usou uma expressão
“infeliz”. “Porque dá condições para se explorar como se eu tivesse
falando que existe uma coisa que é ganhar eleição e outra coisa que é
tomar o poder. Eu estava respondendo no caso de um golpe.”
Em entrevista ao jornal El País, o ex-ministro respondeu à
pergunta sobre se havia possibilidade de o PT ganhar a eleição, mas não
levar. Disse que achava improvável, que a comunidade internacional não
aceitaria. E completou: “E dentro do País é uma questão de tempo pra
gente tomar o poder. Aí nós vamos tomar o poder, que é diferente de
ganhar uma eleição”.
Viagens
Dirceu iniciou um périplo pelo Brasil em 4 de setembro para lançar a
biografia. “E como sempre, vou fazer política, que ninguém é de ferro”,
disse na ocasião. Percorreu 11 capitais. Começou a viagem de carro. Está
em companhia da mulher, da filha menor e do editor de seu livro, o
jornalista Luiz Fernando Emediato, dono da editora Geração.
Na Bahia, a editora alugou um ônibus leito na empresa Corumbal. “É
uma pequena empresa que tem oito veículos comumente alugados para bandas
de música”, afirmou Emediato. O ônibus que leva Dirceu havia sido usado
antes por uma banda de axé.
A rotina do ex-ministro é de encontros com a militância petista,
entrevistas para jornalistas locais e sessões de autógrafos. A
receptividade de Dirceu entre o público lulista pode ser medida pelas
vendas do livro – cerca de 25 mil exemplares até o momento.
Ao mesmo tempo, a rejeição a ele pode explicar a forma escolhida por
ele para viajar. No ônibus leito, o ex-chefe da Casa Civil pode escapar
ao incômodo de hostilidades, geralmente registradas por meio de
telefones celulares em aviões. O ônibus não impede, no entanto, que o ex-ministro tenha de pensar em
estratagemas: para ir a restaurantes sem ser incomodado, Dirceu usa um
chapéu e óculos escuros. Ele esteve em todas as capitais do Nordeste,
região chave para Haddad. Nesta segunda-feira, dia 1º, deixou São Luís
(MA) e foi para Belém, capital do Pará, último ponto antes do primeiro
turno das eleições.
Enquanto espera a definição da Justiça, Dirceu escreve outros dois
livros: um sobre o sistema penal e um romance sobre a luta armada.
As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.
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