Se até Toffoli desistiu de Dilma, não há mais salvação
Se ainda estivesse em cena,
Shakespeare diria que há algo de novo no reino de Brasília. O clima atual da
cidade parece fazer com certas pessoas mudem radicalmente seu comportamento. Primeiro, foi o
procurador-geral Rodrigo Janot, que
inventou duas teses jurídicas monstruosas. Uma delas foi a blindagem
completa da presidente Dilma Rousseff, que não poderia sequer ser investigada
por crimes cometidos no mandato anterior.
A estranha tese, fruto de uma interpretação
tendenciosa de um artigo constitucional aprovado antes da existência da
reeleição, chegou a
ganhar entusiasmados adeptos, até que o
ministro Teori Zavascki colocasse as coisas em ordem, dizendo que qualquer cidadão, até mesmo no exercício da
presidência da República, pode e
deve ser investigado por suspeita de irregularidade.
Há
duas semanas, também para blindar Dilma, Janot inventou a coisa julgada em processo administrativo,
e a nova tese também ganhou incondicionais apoiadores, até que ficasse patente o ridículo da teoria, criada para tenra
arquivar a investigação de irregularidades na campanha eleitoral de Dilma.
DE
REPENTE
Como diria Vinicius
de Moraes, não mais que de repente o
procurador Janot assumiu nova postura, destruindo totalmente a blindagem do governo, ao
enviar ao Supremo pedido de abertura de inquérito
para que o Ministério Público Federal investigue
irregularidades na campanha de Lula para reeleição, em 2006, e nas duas campanhas de Dilma, em 2010 e 2014.
Ainda
não satisfeito, o procurador-geral pediu também abertura de inquérito para investigar o chefe da campanha de Dilma em
2014, atual ministro Edinho
Silva, da Comunicação, além do ministro-chefe da
Casa Civil Aloizio Mercadante, por sua campanha ao governo de São Paulo
em 2010, e do senador tucano Aloysio Nunes Ferreira,
também pela campanha de 2010 que o levou ao Congresso.
UM NOVO TOFFOLI
Além da mudança de
postura de Janot,
também causou forte impacto o aparecimento de uma nova
versão do ministro Dias Toffoli, atual
presidente do Tribunal Superior Eleitoral, que vai decidir em breve quem ficará
no poder. As
opções do TSE são Dilma Rousseff, Michel Temer, Aécio Neves ou um novo
presidente a ser eleito diretamente, se Dilma e
Temer caírem juntos antes de completar dois anos de mandato, ou escolhido indiretamente pelo Congresso,
se Dilma e Temer forem cassados já no terceiro ou
quarto ano do mandato.
Na última sessão do TSE, a grande surpresa
foi ver Toffoli defender ardorosamente a investigação das campanhas de Dilma,
ao assinalar que a decisão de realizar esta apuração não é uma determinação
isolada do ministro Gilmar Mendes. “Isto
consta do acórdão do TSE e é uma determinação da Corte”, disse Toffoli,
encerrando as discussões.
TRADUÇÃO SIMULTÂNEA
É claro que essas
novidades na política necessitam de tradução simultânea. Janot e Toffoli mudaram drasticamente de opinião, porque sabem
que o governo Dilma já acabou e vai levar de roldão Lula e o PT. Portanto, não adianta mais tentar defender a honra de quem já está
publicamente desonrado.
Ao mudar de postura, Janot tenta reconstruir sua biografia, que
estava indo para a lata do lixo da História, enquanto Toffoli começa agora a escrever a
biografia que ele nunca teve.
Fonte: Carlos Newton – Tribuna da Imprensa