Dentre os fatos em curso na reitoria da UFPel, o que mais chama a
atenção é o esforço dos envolvidos em conferir seriedade a ações
adequadas ao palco de um grupo político. Dá
tristeza admitir que em órgão vital de uma Universidade se costure
estratégia tão ridícula. Estratégia, aliás, reveladora dos desvios de
finalidade de que essas instituições são acusadas, numa generalização
imprópria. Sim, generalizações são impróprias, mas o problema, onde
existe, é este: elas se ideologizam, politizam e militam a ponto de
fazerem coisas assim. A universidade é deles.
Em
tais instituições, quando tomadas, opera a contradição em termos de um
pluralismo singular, monocular e monofônico. Um só pensar, um só ver e
um só falar. Estabeleceu-se em seu corpo social uma ditadura do
pensamento único, onde a divergência desperta mecanismos de rejeição, a
exemplo do organismo humano em presença de corpos estranhos. Isso é
gravíssimo. Chega-se, então, a prova provada pela UFPel: a reitora nomeada se presta
à função de “laranja” do companheiro mais votado para integrar a lista
tríplice. Os presentes à coletiva, em suas manifestações, tampouco
deixam dúvida sobre as cores desse companheirismo, pois se referiram ao
que faziam como forma de “contra atacar os golpistas de Brasília e de
Pelotas”... [esse negócio de lista tríplice não pode ser de seguimento obrigatório pelo presidente da República;
A listra tríplice pode existir como mera sugestão dos desejados pelos que serão comandados - agiu corretamente o presidente Bolsonaro quando escolheu para a chefia da PGR um nome que não estava listado;
A lista tríplice alimenta estultice tipo a da OAB, quando queria tornar obrigatório a escolha do primeiro nome da lista tríplice. Felizmente, aquela Ordem recebeu do STF a resposta adequada a sua falta de noção.
Aliás, esse negócio de lista tríplice tem que deixar de ser oficial - as leis que institucionalizam tais listas podem, e devem, se ajustadas.
Listas tríplices são uma forma simplificada de eleições e estas, no Brasil, perdem ainda que discretamente o valor. Exemplo: o presidente da República, eleito com quase 60.000.000 de votos, encontra grande dificuldade para governar - ora é atrapalhado por uma decisão judicial (que interpreta uma lei de forma diferente da que está escrita - decisão proferida por alguém que não recebeu um voto, unzinho que seja, para legislar) ou por um deputado com pouco mais de 70.000 votos e que obra da sorte foi eleito presidente da Câmara dos Deputados.]
Para o
fantasioso picadeiro acadêmico, o voto dos companheiros se sobrepõe à
lei federal, aos poderes atribuídos pela Constituição ao presidente da
República e à interpretação da lei já explicitada na liminar do ministro
Edson Fachin. Na lógica da douta militância, impor seu querer através
de um estratagema não é golpismo. Golpista é o governo, imperdoável por
havê-los afastado do poder com o peso de 57 milhões de votos. O ministro
Fachin, diga-se de passagem, também foi extraído por Dilma de idêntico
ninho ideológico, mas não deixou de ler, na lei, o que ela diz: da lista
tríplice, escolha o presidente quem quiser. Essa liberdade de escolha
não convive com artimanhas, jogos de guerra ou laranjas para contornar
as não escolhas do presidente. Se isso persistir, a universidade terá
uma reitora de direito e um reitor de fato...
Sempre que a
Constituição ou a legislação infraconstitucional atribui poderes de
escolha ao governante, ela atende ao interesse de promover, graças ao
rodízio dos grupos políticos no poder, simétrico rodízio entre
diferentes visões de mundo, de sociedade, de vida. Evita-se, assim, o
que acabou acontecendo no STF e na maior parte das universidades
federais, com a destruição do pluralismo, da universalidade, do espírito
acadêmico e do criativo convívio entre contrários.
É
compreensível a ira de quem aparelhou a universidade a ponto de se
permitir a “rebelião” da UFPel. Compreender quanto dói uma saudade não é
deixar de extrair a lição dissimulada no som cavo dos discursos vazios.
Percival Puggina (76), membro da Academia Rio-Grandense de Letras e
Cidadão de Porto Alegre, é arquiteto, empresário, escritor e titular do
site Conservadores e Liberais (Puggina.org); colunista de dezenas de
jornais e sites no país. Autor de Crônicas contra o totalitarismo; Cuba,
a tragédia da utopia; Pombas e Gaviões; A Tomada do Brasil pelos maus
brasileiros. Membro da ADCE. Integrante do grupo Pensar+.