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domingo, 17 de janeiro de 2021

Singular pluralismo na UFPel - Percival Puggina

Dentre os fatos em curso na reitoria da UFPel, o que mais chama a atenção é o esforço dos envolvidos em conferir seriedade a ações adequadas ao palco de um grupo político. Dá tristeza admitir que em órgão vital de uma Universidade se costure estratégia tão ridícula. Estratégia, aliás, reveladora dos desvios de finalidade de que essas instituições são acusadas, numa generalização imprópria. Sim, generalizações são impróprias, mas o problema, onde existe, é este: elas se ideologizam, politizam e militam a ponto de fazerem coisas assim. A universidade é deles.
Em tais instituições, quando tomadas, opera a contradição em termos de um pluralismo singular, monocular e monofônico. Um só pensar, um só ver e um só falar. Estabeleceu-se em seu corpo social uma ditadura do pensamento único, onde a divergência desperta mecanismos de rejeição, a exemplo do organismo humano em presença de corpos estranhos. Isso é gravíssimo. Chega-se, então, a prova provada pela UFPel: a reitora nomeada se presta à função de “laranja” do companheiro mais votado para integrar a lista tríplice. Os presentes à coletiva, em suas manifestações, tampouco deixam dúvida sobre as cores desse companheirismo, pois se referiram ao que faziam como forma de “contra atacar os golpistas de Brasília e de Pelotas”... [esse negócio de lista tríplice não pode ser de seguimento obrigatório pelo presidente da República;
A listra tríplice pode existir como  mera sugestão dos desejados pelos que serão comandados - agiu corretamente o presidente Bolsonaro quando escolheu para a chefia da PGR um nome que não estava listado;
A lista tríplice alimenta estultice tipo a da OAB, quando queria tornar obrigatório a escolha do primeiro nome da lista tríplice. Felizmente, aquela Ordem recebeu do STF a resposta adequada a sua falta de noção.
Aliás, esse negócio de lista tríplice tem que deixar de ser oficial - as leis que institucionalizam tais listas podem, e devem, se ajustadas.
Listas tríplices são uma forma simplificada de eleições e estas, no Brasil, perdem ainda que discretamente o valor. Exemplo: o presidente da República, eleito com quase 60.000.000 de votos, encontra grande dificuldade para governar - ora é atrapalhado por uma decisão judicial (que interpreta uma lei de forma diferente da que está escrita - decisão  proferida por alguém que não recebeu um voto, unzinho que seja, para legislar) ou por um deputado com pouco mais de 70.000 votos e que obra da sorte foi eleito presidente da Câmara dos Deputados.] 

Para o fantasioso picadeiro acadêmico, o voto dos companheiros se sobrepõe à lei federal, aos poderes atribuídos pela Constituição ao presidente da República e à interpretação da lei já explicitada na liminar do ministro Edson Fachin. Na lógica da douta militância, impor seu querer através de um estratagema não é golpismo. Golpista é o governo, imperdoável por havê-los afastado do poder com o peso de 57 milhões de votos. O ministro Fachin, diga-se de passagem, também foi extraído por Dilma de idêntico ninho ideológico, mas não deixou de ler, na lei, o que ela diz: da lista tríplice, escolha o presidente quem quiser. Essa liberdade de escolha não convive com artimanhas, jogos de guerra ou laranjas para contornar as não escolhas do presidente. Se isso persistir, a universidade terá uma reitora de direito e um reitor de fato...

Sempre que a Constituição ou a legislação infraconstitucional atribui poderes de escolha ao governante, ela atende ao interesse de promover, graças ao rodízio dos grupos políticos no poder, simétrico rodízio entre diferentes visões de mundo, de sociedade, de vida. Evita-se, assim, o que acabou acontecendo no STF e na maior parte das universidades federais, com a destruição do pluralismo, da universalidade, do espírito acadêmico e do criativo convívio entre contrários. 

É compreensível a ira de quem aparelhou a universidade a ponto de se permitir a “rebelião” da UFPel. Compreender quanto dói uma saudade não é deixar de extrair a lição dissimulada no som cavo dos discursos vazios.

Percival Puggina (76), membro da Academia Rio-Grandense de Letras e Cidadão de Porto Alegre, é arquiteto, empresário, escritor e titular do site Conservadores e Liberais (Puggina.org); colunista de dezenas de jornais e sites no país. Autor de Crônicas contra o totalitarismo; Cuba, a tragédia da utopia; Pombas e Gaviões; A Tomada do Brasil pelos maus brasileiros. Membro da ADCE. Integrante do grupo Pensar+.