Agentes da Polícia do Senado denunciaram que a instituição desativou escutas legais em residências de senadores investigados na Lava Jato. Agora são perseguidos
No Brasil, quem se dispõe a seguir a vida corretamente enfrenta todo tipo de dissabor. Quem decide denunciar coisas erradas, então, acaba sendo punido. É o que acontece no Senado, onde o feitiço se volta contra os feiticeiros. Dois agentes da Polícia do Senado denunciaram, em outubro do ano passado, que a organização utilizava maletas antigrampo para localizar e retirar escutas ambientais instaladas pela Polícia Federal sob ordens do Judiciário em gabinetes e residências de senadores. Ou seja, a Polícia do Senado estava obstruindo a Justiça, uma vez que essas escutas objetivavam flagrar senadores encrencados na Lava Jato. As maletas foram apreendidas pela PF, mas, ao invés de penalizar quem obstruía a Justiça, os agentes é que estão sendo perseguidos: não conseguem promoções e respondem a inquérito na Polícia do Senado.
FALA QUE EU TE ESCUTO A PF apreendeu maletas antigrampo
usadas no Senado para desativar escutas determinadas pela Justiça
(Crédito: Pedro Ladeira/Folhapress)
Enquanto a investigação para saber se servidores do Senado agiam para obstruir a Lava Jato está parada, continuam correndo as apurações contra os funcionários da Casa que decidiram ser informantes da PF e revelaram a existência das maletas. Um inquérito da Polícia do Senado foi aberto contra os dois delatores – Paulo Igor Silva e Carlos Alfama – , acusados de “subtração de documentos”. Quais documentos? Os que foram usados “a fim de subsidiar informações sobre o crime de obstrução que estava sendo cometido”. “Ressalte-se que nos documentos subtraídos de forma ilícita constam informações sensíveis de senadores da República”, afirma o boletim de ocorrência do inquérito da Polícia do Senado.
Maletas antigrampo
As maletas antigrampo foram apreendidas pela PF e eram usadas sempre que os parlamentares desconfiavam serem alvos de escutas instaladas em seus gabinetes ou em suas residências, algumas após ações de busca e apreensão da Lava Jato.
Coincidentemente, no 19 de maio de 2017, um dia depois da busca e apreensão da PF nos endereços do senador Aécio Neves (PSDB-MG), o presidente do Senado, Eunício Oliveira (PMDB-CE), pediu que o STF devolvesse as maletas. Mas Eunício disse à ISTOÉ que a data do ofício foi apenas “coincidência”.
Fato é que, passados cerca de nove meses desde a deflagração da investigação, o STF continua com a apuração suspensa até decidir se a ação contra agentes da Polícia do Senado também atinge senadores, que têm direito ao benefício do foro privilegiado. As maletas antigrampo estão lacradas no STF e ainda não foram periciadas.
Enquanto isso, os denunciantes do esquema só enfrentam reveses. A Polícia do Senado chegou a pedir a quebra de sigilo telefônico de Alfama e Paulo Igor para descobrir se foram eles que fizeram cópias dos documentos entregues à PF. O juiz Jaime Travassos, da 10ª Vara Federal de Brasília, negou a medida, considerada “desproporcional”. Ele concordou com o procurador Frederico Paiva, que afirmou à Justiça ser claro que os documentos “subtraídos” foram usados pela PF e que não seria preciso quebrar sigilo para descobrir isso. E indicou que há “retaliação” contra os agentes denunciantes.
Fonte: Isto É