Por mais que sejam feitas manobras, falsificações retóricas e
manipulação de dados, uma hora a verdade vem à tona. Quanto mais adia-se
sua revelação, mais aprofundado ficam os danos causados pela mentira e
chega-se a um ponto de ruptura entre a ficção e a realidade que, por ter
ficado escondida por tanto tempo, torna-se algo traumático. Estamos à
beira dessa ruptura.
O país está em crise econômica. E ela é grave. Por mais que o governo e
grande parte da imprensa neguem, não há mais como escondê-la.
Crescimento nulo ou negativo e uma inflação constante são sintomas mais
do que claros do colapso que nos aguarda. Ademais, a julgar pela forma
com que se tem lidado com ela, o destino que se desenha no horizonte é,
no mínimo, sombrio. Pode parecer apocalíptico... Será mesmo?
O endividamento do governo é inegável. Se pagamos a dívida externa, o
fizemos ao custo de um aumento exponencial do endividamento interno. O
país não consegue equilibrar suas contas, a não ser com um ajuste fiscal
burro que se concentrará no aumento da carga tributária em detrimento
do enxugamento dos gastos estatais. O reflexo do inevitável aumento de
imposto se dará no produto final ao consumidor que pagará cada vez mais
caro por mercadorias e serviços.
Soma-se, ainda, os programas sociais do governo que a cada dia contam
com mais e mais beneficiários, pressionando aqueles que produzem
riquezas a sustentarem quem nada produz; e pior, não querem produzir.
Para eles (e muitos estudiosos, estudantes, e intelectuais) o Estado
deve sustentar aqueles que não conseguem sustentar a si próprios.
Ao mesmo tempo, esse mesmo Estado torna a contratação de novos trabalhadores algo extremamente oneroso para o empreendedor, alimentando um círculo vicioso interminável. Acontece que nem o Estado possui dinheiro e tampouco o dinheiro é público: ele pertence a cada um dos trabalhadores e empresários que pagam impostos e direitos trabalhistas, sustentando, pois, a famigerada distribuição de renda.
Impossibilitado de diminuir a carga tributária que sustenta seus currais
eleitorais e conchavos políticos, nossos governantes resolve estimular o
consumo por intermédio da mais perniciosa das medidas: expansão do
crédito de maneira desenfreada e irresponsável. Com o aumento do meio
circulante, o preço dos produtos aumenta. É a implacável Lei da Escassez
em ação, lei que nem o mais corrupto governo petista é capaz de burlar.
O aumento de preços começa, então, a pressionar as pessoas que não tinham condições de contrair crédito à inadimplência, encarecendo-o para aqueles que não são beneficiários dos subsídios governamentais. Começa a ocorrer, como estamos vendo, uma queda na demanda e aumento da oferta o que poderia sugerir queda da inflação. Ocorre que, sem capacidade de contrair novas dívidas, o consumidor deixa de consumir, gerando aumento de estoques na indústria que, sem a possibilidade de comercializar os bens que produziu, começa a demitir funcionários a fim de evitar prejuízos maiores. São exatamente esses efeitos que estamos sentindo agora.
Com a queda na produção industrial e no consumo e o aumento da carga tributária, temos então um cenário clássico das economias tipicamente socialistas: estagflação. A produção industrial deixa de crescer, ou encolhe, e os preços sobem. Isso é, muito provavelmente, o que estamos vivendo agora. Essa situação gera grande desconfiança do investidor estrangeiro que retira o dinheiro do país e encarece a moeda forte, no caso, o dólar. Resultado: aumento do custo de produção (máquinas e fertilizantes são importados) e queda no valor das exportações. O país não gera caixa e a moeda evapora!
Para piorar a situação, temos ainda a conjuntura econômica internacional
que também desenha-se como preocupante. Afinal, a receita utilizada
pelos bancos centrais ao redor do mundo para conter os efeitos da crise
de 2008 foi, basicamente, a injeção de meio circulante na economia. Ou
seja, mesmo a nível mundial, estamos com um excesso de moeda que não
possui lastro para se sustentar. O Estado, a nível global, adotou a
política econômica keynesiana que retira os riscos do investimento do
indivíduo e o transfere para os governos, o que significa transferir
esses riscos para todos os cidadãos.
No pior dos cenários, as pessoas não conseguirão honrar suas dívidas e
terão que devolver seus imóveis e bens a seus credores, numa espécie de
crise imobiliária, porém muito mais abrangente e profunda. Essa é a
realidade como ela é, visível para qualquer um com o mínimo de interesse
em encaixar as peças do quebra-cabeça. Negá-la tornará o remédio cada
vez mais amargo e doloroso.
Repetir a mentira não a tornará verdade.
Fonte: Blog do Lenilton Morato