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sábado, 17 de setembro de 2022

Votos no escuro - Carlos Alberto Sardenberg

Quanto mais distante o candidato está da vitória, mais detalhadas são as suas propostas de governo. Inversamente, quanto mais perto do poder, mais vagos tornam-se seus programas. [Já Bolsonaro tem programa de governo aprovado desde 2018, que não foi executado devidos os boicotes, até sabotagens, que seu governo sofreu e tudo completado pela pandemia e a guerra da Ucrânia. Agora, em seu segundo mandato tem condições de executar o que foi suspenso.]

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Tome-se o caso do endividamento. Cerca de 80% das famílias brasileiras estão endividadas. Claro, há dívidas boas (como aquelas para compra da casa própria) e dívidas péssimas, como no cheque especial ou rotativo do cartão de crédito.

Mas como as taxas de juros estão em alta e devem permanecer elevadas por muitos meses, avançando até 2024, toda dívida torna-se perigosa, ainda mais com inflação alta [em evidente, porém lenta, queda.] e de Muitos lares já foram atropelados. Segundo dados da Confederação Nacional do Comércio, em agosto passado 30% das famílias tinham alguma conta em atraso – o maior percentual da série iniciada em 2010.

         O que dizem os candidatos?

Ciro Gomes, empacado nos 8%, tem uma proposta ampla para a renegociação meio forçada de todas as dívidas de pessoas e empresas. Tecnicamente, é de implementação muito difícil, praticamente impossível, mas de todo modo revela a preocupação do candidato em buscar os instrumentos para isso.

Já o favorito Lula só entrou no assunto por conta de Ciro. Sua campanha percebeu como o tema levantado pelo candidato do PDT era sério e trazia apelo eleitoral. Mas o que deu na proposta petista? Uma vaga promessa de renegociação.

É nada. Há empresas especializadas nisso. Se for para apresentar algo de novo, por exemplo, algum tipo de financiamento barato e garantido, seria preciso mostrar o dinheiro e a modalidade de empréstimo.Complicado, claro. O presidente da República não pode mandar o Banco Central reduzir os juros na marra. Pela nova lei, o BC é uma agência independente. Seu presidente atual, Roberto Campos Neto, tem mandato até dezembro de 2024 e precisa operar conforme regras bem definidas – a principal delas sendo a de colocar a inflação na meta. Como está longe da meta, vai manter juros muito elevados.

Isso é fato a limitar qualquer política econômica para os próximos dois anos, no mínimo. Como retomar investimentos e consumo nesse ambiente? Como elevar os gastos em programas sociais – incluindo o salário mínimo, indexador das aposentadorias – com o governo quebrado e endividado?

Lula, e insistimos nele por ser o favorito, tem resposta pronta quando se colocam essas questões: “olhem para meus governos anteriores”.  Não faz o menor sentido. As situações são completamente diferentes. Para começar, o primeiro Lula foi beneficiado por uma onda de crescimento mundial, que derrubou os níveis de pobreza em todo o mundo emergente. Com o crescimento dos mais desenvolvidos e da China, os preços dos produtos de exportação dos emergentes atingiram níveis inéditos. Choveram dólares.

Hoje, Estados Unidos e Europa caminham para a recessão. O motor chinês se engasgou com a política de Covid-zero, que sempre deixa milhões de pessoas em lockdown, interrompendo atividades econômicas.  Internamente, o primeiro Lula recebeu de FHC um governo arrumado: o Real instalado, a regra da responsabilidade fiscal e do superávit primário, inflação domada. Agora, vai receber o oposto disso tudo.E o candidato favorito ainda falar em reestatizar a Eletrobras. Com que dinheiro?  

Só se confiscar as ações que foram vendidas inclusive a milhares de pessoas físicas, que puderam usar parte de seu FGTS para adquirir papéis da empresa de energia. [se tratando de um governo petista, esquerdista, comunista, o CONFISCO de ECONOMIAS, POUPANÇA, DOS CIDADÃOS É PERFEITAMENTE POSSÍVEL - em tal tipo de governo só ganha a NOMENKLATURA = da qual os mais pobres e os trabalhadores estão excluídos.]

Vão fazer como? Devolver o dinheiro para o FGTS? Seria uma quebra de confiança, um golpe jurídico que desmoralizaria o governo por muito tempo. Finalmente, há outra bomba na praça: as finanças estaduais, destruídas pelas reduções compulsórias de ICMS. Aliás, o que os candidatos a governador dizem sobre isso? Tomar dinheiro do governo federal, que não tem.

         Tudo considerado, o favorito Lula deve respostas, especialmente agora que quer tomar eleitores de Ciro e Simone. Estes aceitariam voto no escuro?

Carlos Alberto Sardenberg, jornalista 

 

quinta-feira, 22 de fevereiro de 2018

Ritmo da economia

Quando o IBGE divulgar o PIB de 2017, no dia 1º de março, o número deve ficar em torno de 1%, mas o resultado do último trimestre ficará pequeno, entre 0,1% e 0,3% em comparação com o terceiro. Vai parecer que o PIB está desacelerando. Mas os economistas acreditam que a economia está ganhando fôlego. As famílias vão gastar R$ 100 bilhões a menos com dívidas e isso alavancará o consumo em 2018.

O Itaú Unibanco estima que o PIB do quarto trimestre subiu apenas 0,1% em relação ao terceiro. O Bradesco e o BNP Paribas projetam 0,3%. Por essa forma de se olhar, a economia parece estar perdendo vigor, já que no primeiro trimestre houve uma forte alta de 1,3%, seguida de um número de 0,7%, no segundo, e de 0,1% no terceiro. O problema, explicam os economistas, é que o crescimento da agropecuária ficou concentrado no primeiro trimestre e agora está “roubando” PIB dos outros trimestres, do ponto de vista estatístico:  — O quarto trimestre deve ser baixo, em relação ao terceiro, mas por uma questão estatística. O PIB da agricultura ficou concentrado no primeiro trimestre e por isso ele ficou negativo nos outros três. Mas quando a gente olha para as outras duas formas de comparação do PIB, sobre o trimestre do ano anterior e no acumulado em 12 meses, a tendência de aceleração é clara — explica o economista Artur Passos, do Itaú.

A taxa em 12 meses, de fato, mostra isso. Depois de afundar 4,6% no segundo trimestre de 2016, o PIB ficou cada vez menos negativo a cada trimestre e fechará 2018 com uma alta em torno de 1%, voltando para o azul pela primeira vez desde 2014. Em 2018, continuará acelerando, podendo fechar em 3%, como estimam tanto o Itaú quanto o BNP Paribas, ou até mais.  — O índice de difusão do PIB, calculado pelo Itaú, que mostra quantos setores estão crescendo, estava em 46% em janeiro. Em novembro já havia subido para 54%. O crescimento está mais espalhado — completa Passos.

O economista Gustavo Arruda, do banco BNP Paribas, aposta que o crédito será uma das alavancas para o crescimento. Ele chama atenção para a queda do endividamento das famílias, que irá liberar renda para o consumo. O Banco Central tem um indicador que mede o comprometimento da renda mensal com o pagamento de dívidas. Em dezembro, ele caiu para 20%, o percentual mais baixo desde 2011. Pela estimativa do BNP, o número continuará caindo este ano, para 18,5%, o que significa R$ 100 bilhões a menos de gastos com dívidas em 2018 em relação a 2017. — A média entre 2011 e 2016 foi de 22% de comprometimento da renda com pagamento de dívidas. Agora, já percebemos uma queda mais acentuada e isso vai continuar. É significativo o impacto disso no consumo — explicou. [nos tempos do Lula e Dilma não havia controle para o endividamento; agora a queda do endividamento é que libera renda para o consumo - caindo o endividamento haverá mais renda para alimentar o consumo.]


O grande problema continuará sendo o desemprego. Apesar das estimativas de queda ao longo deste ano, e com mais criação de vagas formais, não há qualquer projeção de que a taxa, que hoje está em 11,8%, volte rapidamente aos patamares anteriores à crise. O presidente da Associação Brasileira da Indústria Têxtil (Abit), Fernando Pimentel, conta que o seu setor perdeu 130 mil vagas entre 2015 e 2016. No ano passado, abriu apenas 2 mil postos e este ano deve gerar 20 mil: — Se esse ritmo for mantido, o setor vai precisar de mais seis anos para recuperar o que perdeu. As empresas aprenderam a ficar mais “magras”, ou seja, a produzir mais com menos funcionários. E, além disso, há as incertezas na economia e na política que têm travado os investimentos em novas plantas.

A reforma trabalhista, diz Pimentel, é positiva, mas ainda vai precisar de uns 4 ou 5 anos para ser pacificada nos tribunais. Esse é o tempo estimado para que a Justiça julgue as ações da nova legislação e crie uma jurisprudência que retire as dúvidas sobre as novas regras.  — A reforma foi muito positiva porque viabiliza a formalização de outras formas de emprego e de relação entre empregador e empregado. Mas levará tempo para se ter um panorama mais claro sobre os seus efeitos — disse Pimentel.

A economia está em recuperação. As travas para uma retomada mais rápida continuam sendo a incerteza política e a ausência de solução para o desequilíbrio crônico das contas públicas.

Coluna da Miriam Leitão - O Globo

 

quinta-feira, 9 de fevereiro de 2017

Tanto pró e tanto contra

Quando o PIB parar de cair, teremos deixado a recessão para trás e iniciado o processo de recuperação

Há um intenso debate sobre se a economia brasileira já saiu da recessão ou, se não, quando isso pode acontecer. Recessão quer dizer queda do Produto Interno Bruto (PIB), quando um país produz em um determinado período menos do que em momentos anteriores. Isso aconteceu em 2015, quando o PIB caiu espantosos 3,8%, e em 2016, provável redução do mesmo tamanho. Portanto, quase 9% de perda de produto em dois anos.

O desastre estará superado apenas quando a economia recuperar essa perda. Quando, por exemplo, a taxa de desemprego voltar para a casa dos 6%. Vai levar tempo longo. Mas o caminho começa com uma zeragem: quando o PIB parar de cair, teremos deixado a recessão para trás e iniciado o processo de recuperação.  Isso já estaria acontecendo neste ano de 2017?

Listo aqui primeiro os fatores que puxam o Brasil para baixo e os que empurram para cima. Em seguida, abordo fatores já em andamento. E depois as perspectivas positivas e negativas.
O que puxa para baixo:
Desemprego — 12,5 milhões de pessoas sem trabalho é um enorme drama familiar e um efeito econômico grave: reduz o consumo das famílias, poderoso motor do PIB;
Endividamento das famílias e das empresas há um excesso de dívidas formadas no período do crédito fácil, frequentemente subsidiado e sem critério e, no caso das empresas, apoiando os empresários amigos do governo petista. O momento é de reduzir dívidas, o que, de novo, reduz consumo e investimentos;
Crise fiscal dos estados Rio, Minas e Rio Grande do Sul têm PIBs regionais fortes. A falta de dinheiro afeta todos os setores da economia local.

O que puxa o Brasil para cima:
Safra agrícola 2016/17 — excelente, acima dos padrões, deve ter um valor bruto de R$ 545 bilhões, renda espalhada por todo o interior brasileiro. Vai gerar preços de alimentos comportados e mais excedentes de exportação. Aliás, as exportações de carne já iniciaram janeiro detonando;
Liberação das contas inativas do FGTS — nada menos que R$ 43 bilhões, estimativa da Caixa, que chegarão aos bolsos de 30 milhões de trabalhadores. É dinheiro, algo em torno de 0,7% do PIB, que poderá ser usado para abatimento de dívidas e consumo novo;
Queda forte da inflação IPCA de janeiro, divulgado ontem, foi recorde de baixa. Isso preserva a renda das famílias e dá ganho para quem obteve reajustes salariais acima de 5% no ano passado;
Queda acentuada dos juros — poderoso estímulo ao investimento.

Daqui para a frente, o que pode atrapalhar:
Crise política em Brasília, que bloqueie a atividade do governo e do Congresso, impedindo a votação das reformas.
E aqui cabe uma observação: essa crise pode surgir com as delações da Odebrecht e as investigações decorrentes dela. Vai daí, simplificando, se diz que a Lava-Jato pode atrapalhar — escorregada que nós mesmos demos em comentário no “Jornal da Globo”, na última terça. Mas logo corrigida com o seguinte ponto: a Lava-Jato é favorável ao Brasil, muda para melhor a política, o comportamento ético e a economia, neste caso, ao tornar evidente os malefícios do capitalismo dos amigos do governo. E abre espaço para uma política correta e um capitalismo de verdade, em que a eficiência e a competição valem mais que a propina paga ao governante de plantão.

Dito isto, é preciso notar que a Lava-Jato vai atingir autoridades que estão no comando do governo e do Congresso. Esses políticos apanhados podem simplesmente cair fora, por vontade ou forçados. Nesse caso, sem problemas. São substituídos, e segue a recuperação.  Provavelmente, porém, vão espernear, se agarrar ao cargo e tentar sabotar a Lava-Jato com a ajuda de amigos no Judiciário e no governo. Isso levará a atrasos na política econômica. Paciência: a responsabilidade será dos políticos corruptos e coniventes. O país não sai da crise se eles forem perdoados. Portanto, o caminho a seguir é apoiar a Lava-Jato na busca da punição nos tribunais e esperar que o povo mude nas eleições  [deixando de votar em coisas tipo Lula, Dilma, Marina, Renan e muitos outros. Regra: NÃO VOTAR EM LADRÃO, NÃO VOTAR EM INCOMPETENTE - outras categorias existe, apesar de menos cotadas. Eliminando o máximo dos que integram uma das destacadas, já estaremos bem; lembrando que tem o ladrão competente e o ladrão incompetente e ambos devem ser expelidos.] — o que, aliás, já fez em boa parte nas eleições municipais.

E o que pode empurrar para cima?
Reformas previdenciária, trabalhista e algo de tributária sendo votadas no Congresso neste ano. É boa a chance, dada a maioria de Temer.
Concessões de obras de infraestrutura, coisa que depende da agilidade do governo federal. [agilidade do governo Temer é algo praticamente impossível de existir - o que é um complicador;
sem esquecer que quando decide costuma errar e tem que refazer.]
E novos investimentos em petróleo, o que também dá agilidade ao governo em montar os leilões. Isso depende de uma mudança importante na lei de conteúdo nacional, uma herança petista, que atrasa e encarece os investimentos.
Uma pela outra, o pessoal, na média, acha que o Brasil cresce um pouquinho neste ano (0,5%), saindo do zero neste primeiro trimestre e chegando ao final do ano com um ritmo de expansão mais forte. Isso preparando um PIB superior a 2% em 2018.
A ver.

Fonte: Carlos Alberto Sardenberg, jornalista - O Globo

sábado, 16 de maio de 2015

Balanço mostra que endividamento líquido da Petrobras subiu

 Apesar do aumento das dívidas, alavancagem da estatal ficou menor 
O balanço divulgado pela Petrobras nesta sexta-feira mostrou que o nível de endividamento líquido da companhia subiu, alcançando R$ 332,457 bilhões no primeiro trimestre. A empresa havia fechado o ano passado com dívida líquida de R$ 282 bilhões ou US$ 106 bilhões. Apesar do endividamento ter subido, como a geração de caixa também aumentou, a relação dívida líquida/geração de caixa saiu de 4,77 vezes para 3,86 vezes, o que é bem visto pelo mercado.

Esse indicador mostra a capacidade de pagamento de uma empresa. Analistas consideram que o limite para uma situação confortável para uma companhia é um número em torno de 3,5.  — A alavancagem sofreu redução por conta do aumento do Ebitda (geração de caixa operacional). Temos uma preocupação em buscar uma redução. Isso vai depender de iniciativas, e a mais importante delas é a discussão do plano de negócios. Há uma tendência de redução desse indicador e só teremos uma ideia disso com o novo plano de negócios — disse Ivan Monteiro, diretor financeiro da Petrobras.

Questionado sobre o impacto dos empréstimos realizados com o banco chinês China Development Bank (CDB), de US$ 3,5 bilhões, o diretor frisou que os recursos só serão desembolsados ao longo do segundo trimestre deste ano. Por isso, dizem analistas, o nível de alavancagem sofreu redução. Ivan ressaltou ainda que a companhia vai continuar com sua política de preços.  — A companhia praticará preços competitivos de mercado o tempo inteiro — enfatizou Ivan Monteiro.

sábado, 9 de maio de 2015

Crise negada

Por mais que sejam feitas manobras, falsificações retóricas e manipulação de dados, uma hora a verdade vem à tona. Quanto mais adia-se sua revelação, mais aprofundado ficam os danos causados pela mentira e chega-se a um ponto de ruptura entre a ficção e a realidade que, por ter ficado escondida por tanto tempo, torna-se algo traumático. Estamos à beira dessa ruptura.
 
O país está em crise econômica. E ela é grave. Por mais que o governo e grande parte da imprensa neguem, não há mais como escondê-la. Crescimento nulo ou negativo e uma inflação constante são sintomas mais do que claros do colapso que nos aguarda. Ademais, a julgar pela forma com que se tem lidado com ela, o destino que se desenha no horizonte é, no mínimo, sombrio. Pode parecer apocalíptico... Será mesmo?
 
O endividamento do governo é inegável. Se pagamos a dívida externa, o fizemos ao custo de um aumento exponencial do endividamento interno. O país não consegue equilibrar suas contas, a não ser com um ajuste fiscal burro que se concentrará no aumento da carga tributária em detrimento do enxugamento dos gastos estatais. O reflexo do inevitável aumento de imposto se dará no produto final ao consumidor que pagará cada vez mais caro por mercadorias e serviços. 
 
Soma-se, ainda, os programas sociais do governo que a cada dia contam com mais e mais beneficiários, pressionando aqueles que produzem riquezas a sustentarem quem nada produz; e pior, não querem produzir. Para eles (e muitos estudiosos, estudantes, e intelectuais) o Estado deve sustentar aqueles que não conseguem sustentar a si próprios.
 
Ao mesmo tempo, esse mesmo Estado torna a contratação de novos trabalhadores algo extremamente oneroso para o empreendedor, alimentando um círculo vicioso interminável. Acontece que nem o Estado possui dinheiro e tampouco o dinheiro é público: ele pertence a cada um dos trabalhadores e empresários que pagam impostos e direitos trabalhistas, sustentando, pois, a famigerada distribuição de renda.
 
Impossibilitado de diminuir a carga tributária que sustenta seus currais eleitorais e conchavos políticos, nossos governantes resolve estimular o consumo por intermédio da mais perniciosa das medidas: expansão do crédito de maneira desenfreada e irresponsável. Com o aumento do meio circulante, o preço dos produtos aumenta. É a implacável Lei da Escassez em ação, lei que nem o mais corrupto governo petista é capaz de burlar.

O aumento de preços começa, então, a pressionar as pessoas que não tinham condições de contrair crédito à inadimplência, encarecendo-o para aqueles que não são beneficiários dos subsídios governamentais. Começa a ocorrer, como estamos vendo, uma queda na demanda e aumento da oferta o que poderia sugerir queda da inflação. Ocorre que, sem capacidade de contrair novas dívidas, o consumidor deixa de consumir, gerando aumento de estoques na indústria que, sem a possibilidade de comercializar os bens que produziu, começa a demitir funcionários a fim de evitar prejuízos maiores. São exatamente esses efeitos que estamos sentindo agora.
 
Com a queda na produção industrial e no consumo e o aumento da carga tributária, temos então um cenário clássico das economias tipicamente socialistas: estagflação. A produção industrial deixa de crescer, ou encolhe, e os preços sobem. Isso é, muito provavelmente, o que estamos vivendo agora. Essa situação gera grande desconfiança do investidor estrangeiro que retira o dinheiro do país e encarece a moeda forte, no caso, o dólar. Resultado: aumento do custo de produção (máquinas e fertilizantes são importados) e queda no valor das exportações. O país não gera caixa e a moeda evapora!
 
Para piorar a situação, temos ainda a conjuntura econômica internacional que também desenha-se como preocupante. Afinal, a receita utilizada pelos bancos centrais ao redor do mundo para conter os efeitos da crise de 2008 foi, basicamente, a injeção de meio circulante na economia. Ou seja, mesmo a nível mundial, estamos com um excesso de moeda que não possui lastro para se sustentar. O Estado, a nível global, adotou a política econômica keynesiana que retira os riscos do investimento do indivíduo e o transfere para os governos, o que significa transferir esses riscos para todos os cidadãos.
 
No pior dos cenários, as pessoas não conseguirão honrar suas dívidas e terão que devolver seus imóveis e bens a seus credores, numa espécie de crise imobiliária, porém muito mais abrangente e profunda. Essa é a realidade como ela é, visível para qualquer um com o mínimo de interesse em encaixar as peças do quebra-cabeça. Negá-la tornará o remédio cada vez mais amargo e doloroso.
 
Repetir a mentira não a tornará verdade.