Atritos produzidos pelo presidente e seu círculo diminuem, e Congresso aprende a lidar com anomalia
Contrastado com os cinco primeiros meses de mandato, o governo de Jair Bolsonaro vive seu melhor momento. Pararam as flechadas que vinham de fora, da família belicosa ou dos
lunáticos associados, contra setores da administração. Os militares
mostraram o caminho ao deixarem de bater palmas para maluco dançar.
O presidente também colaborou diante do corredor polonês por que
passavam medidas provisórias cruciais no Congresso. Impôs derrotas a
suas alas radicais e a Sergio Moro para não perder o essencial. As lideranças no Congresso decantaram seu mecanismo de lidar com um
Executivo anômalo. Fixaram um rol de prioridades e um filtro pelo qual
dificilmente passarão extravagâncias do Planalto. A chefia do Supremo também parece buscar sintonia. Colocou rapidamente
em votação o tema das privatizações e da venda de ativos de estatais. A
decisão estabiliza expectativas pelos próximos anos.
Uma brisa de alívio na inflação dos alimentos, em meio a tanta notícia
ruim na economia, soma-se aos fatores favoráveis à situação. Da comida
cara se nutrem, quase sempre, as ondas de insatisfação popular contra o
presidente. A centro-esquerda se aproveitou mal dos meses de instabilidade
provocados pelo núcleo bolsonarista. Continua fixada a exotismos, como a
campanha Lula livre, a negação de responsabilidade pela devastação
econômica e o desprezo pelas reformas fiscais.
Todas as opções palpáveis que se apresentaram durante as crises de
Bolsonaro falavam a língua da centro-direita: o vice Hamilton Mourão, o
governador João Doria, o ministro Moro e o apresentador Luciano Huck. O presidente pode ter sentido a própria carne chamuscada e decidido
recuar. Pode ter intuído que os adversários estão bem mais próximos. Ou
nada disso. Foi apenas uma rara bonança no padrão tempestuoso do
governo. O tempo dirá.