A meteórica
ascensão política do carioca Eduardo Consentino Cunha, 57 anos, economista, ex-radialista, será
dividida daqui para frente entre AD e DD. Antes da Denúncia do Procurador Geral
da República que o alvejará hoje, e Depois da Denúncia. Antes dela, Eduardo era
o todo poderoso presidente da Câmara dos Deputados e um dos caciques do seu
partido, o PMDB. Cortejado pelos líderes dos demais partidos, tinha a força
para abrir um processo de impeachment contra a presidente da República. [Denúncia não é julgamento; menos ainda sentença. A delação
premiada precisa de provas que a completem.
Qual a razão de tantos desejarem
destruir o Cunha?
Enquanto Cunha for presidente da
Câmara ele tem o poder de dar andamento a qualquer pedido de impeachment contra
Dilma e sendo o pedido apoiado por 342 deputados segue para o Senado e lá,
sobre a presidência do presidente do Supremo Tribunal Federal, segue um rito específico e que não está
sujeito à vontade do presidente do STF, ainda que presidindo o Senado, nem do
procurador-geral da república.
E, não esqueçamos, aceita a denúncia
pela Câmara a presidente é imediatamente afastada das usas funções.] Depois
da denúncia, e por mais que proclame sua inocência e que finja tranquilidade,
durante algum tempo ele se debaterá como um náufrago que tenta não morrer
afogado. Até a ocasião em que assistiremos ao início do seu longo e excitante
velório político.
O
pernambucano Severino Cavalcanti renunciou à presidência da Câmara e, em seguida, ao mandato por ter
recebido um mensalinho de R$ 10 mil
pago pelo concessionário de um restaurante. Depois sequer conseguiu se eleger
prefeito de João Alfredo, sua cidade. Eduardo
é muito diferente do bronco Severino, eu sei, embora os dois tenham
alcançado o terceiro posto mais importante da República como legítimas
expressões dos deputados que integram o chamado “baixo clero” da Câmara.
Ocorre que,
além do momento político ser outro, a
acusação contra Eduardo nada tem a ver com um inocente mensalinho, a
levarmos em conta as cifras espantosas desenterradas pela Lava Jato. Eduardo será denunciado por corrupção
passiva e lavagem de dinheiro. [acusado – denunciado ≠ julgado = condenado.]
Segundo Rodrigo Janot,
procurador-geral da República, ele recebeu 5 milhões de dólares em propina paga
pelo empresário Júlio Camargo. É o primeiro de uma longa lista de quase 50
políticos cujos destinos ficarão por conta dos 11 ministros do STF. Ao saber,
ontem, o que o espera, Eduardo garantiu do alto de sua soberba: - Eu não farei afastamento de nenhuma
natureza. Vou continuar no exercício para o qual fui eleito pela maioria da
Casa. Estou absolutamente tranquilo e sereno em relação a isso.
Como bom ator, procurou
transmitir serenidade. Falou, de preferência, para seu público interno, que
ainda não o abandonou, mas também mandou recado para os outros dois especiais
endereços da Praça dos Três Poderes, em Brasília – o Planalto e o Supremo. Por
ora, era o que ele poderia fazer. A consistência da denúncia do procurador
dará uma ideia da sobrevida a que Eduardo terá direito. Se ela impressionar pelas provas citadas, Eduardo será, pouco a
pouco, largado de mão pelos que sempre o apoiaram.
E ao fim e ao cabo, só lhe
restará a renúncia.
Fonte:
Blog do
Noblat