Polícia pressiona Congresso contra a reforma da Previdência
Ato para contestar a mudança de regras de aposentadoria reúne 5 mil manifestantes e desemboca em invasão da Câmara dos Deputados
Antes mesmo de a Comissão Especial da reforma da Previdência começar os
trabalhos, a indefinição sobre o tema esquentou o clima na Câmara dos
Deputados. Uma manifestação de 5 mil policiais contra a proposta, que
contou com a participação de mais de 20 deputados, terminou com spray de
pimenta, gritos e discussões acaloradas dentro da Casa, na tarde de
ontem. A confusão começou após policiais civis entrarem armados no
Congresso, por volta das 18h. Enquanto integrantes da União dos
Policiais Brasileiros (UPB) — que reúne, entre outros, policiais civis,
federais, rodoviários federais e agentes penitenciários — se dirigiam ao
auditório Nereu Ramos para continuar o debate, o grupo armado tentava
chegar ao plenário, quando foi contido por seguranças da Câmara.
Apesar de não ter resultado em agressões físicas ou detenções, o embate é um sinal de alerta para o governo quanto à insatisfação dos profissionais de segurança pública com a proposta. “Levar spray de pimenta faz parte da luta”, disse o presidente da Confederação Brasileira de Trabalhadores Policiais Civis (Cobrabol), Jânio Bosco Gandra, um dos organizadores da manifestação. Agora, completou, “o presidente Michel Temer já sabe o que os policiais são capazes de fazer. Não aqui, mas no Brasil todo”.
“Se for preciso, vamos invadir a Câmara”, garantiu um manifestante, seguido de aplausos, no auditório lotado. Outra ameaça dos policiais, que teria um impacto ainda maior, é a de paralisação das atividades. Para o presidente da Federação Nacional dos Policiais Federais (Fenapef), Luís Boudens, a manifestação de ontem foi a primeira de muitas e pode ser entendida como “um prenúncio para paralisações como a que está ocorrendo no Espírito Santo”, caso o governo insista em incluir os policiais na reforma. A UPB, que se reunirá na próxima terça-feira para discutir os próximos passos, não descarta uma greve geral. “Muitos estados estão reivindicando, mas esperamos que isso não seja necessário”, disse Gandra.
A decisão, segundo o presidente da Cobrabol, dependerá da “reação dos deputados”, com quem os policiais pretendem conversar hoje, em visita aos gabinetes. As discussões têm sido, até o momento, proveitosas. Segundo os cálculos de Boudens, 27 deputados manifestaram apoio direto aos policiais apenas na tarde de ontem. Só da base aliada, nos últimos dias, mais de 80 deputados disseram apoiar a causa, segundo Gandra.
A tensão tem se intensificado desde a criação da comissão especial, na última terça-feira. Até o fim desta edição, 19 dos 37 integrantes ainda não tinham sido indicados pelos partidos. Depois que ela for instalada, o que é esperado para a próxima terça-feira, os deputados terão apenas 10 sessões para propor emendas ao texto do governo. A esperança dos policiais é que uma delas retire os profissionais de segurança pública das novas regras.
- Análise da notícia
Somos reféns da polícia
Se, no passado, usaram as polícias como braços
armados do poder local, agora não conseguem interferir na estrutura da
Civil e da Militar, que parecem poder tudo e apenas mantêm a ordem
quando conquistam benefícios. Na reforma da Previdência, o governo
federal resolveu excluir os militares para não se indispor com a
corporação num momento conturbado. São eles que estão nas ruas no
Espírito Santo. Politicamente, abriu a brecha para que outros grupos,
como os policiais civis, também tentem ficar de fora do projeto. E assim
seguimos.
[ Se impõe uma diferenciação no trato
das reivindicações dos militares e as dos policiais civis.
Existe peculiaridades entre as duas
funções e citamos apenas uma:
- os militares não podem se associar a
sindicatos e também não realizam manifestações portando armas.
Já os policiais civis podem ser sindicalizados e realizam manifestações
paredistas portando armas.
Não é justo
nem legal que os policiais civis recebam os mesmos benefícios concedidos a
militares, exatamente para compensar as agruras da carreira militar.]
Fonte: Correio Braziliense