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quinta-feira, 9 de fevereiro de 2017

Reforma da Previdência - Polícia pressiona Congresso - Somos reféns da polícia

Polícia pressiona Congresso contra a reforma da Previdência

Ato para contestar a mudança de regras de aposentadoria reúne 5 mil manifestantes e desemboca em invasão da Câmara dos Deputados

Antes mesmo de a Comissão Especial da reforma da Previdência começar os trabalhos, a indefinição sobre o tema esquentou o clima na Câmara dos Deputados. Uma manifestação de 5 mil policiais contra a proposta, que contou com a participação de mais de 20 deputados, terminou com spray de pimenta, gritos e discussões acaloradas dentro da Casa, na tarde de ontem. A confusão começou após policiais civis entrarem armados no Congresso, por volta das 18h. Enquanto integrantes da União dos Policiais Brasileiros (UPB) — que reúne, entre outros, policiais civis, federais, rodoviários federais e agentes penitenciários — se dirigiam ao auditório Nereu Ramos para continuar o debate, o grupo armado tentava chegar ao plenário, quando foi contido por seguranças da Câmara.

Apesar de não ter resultado em agressões físicas ou detenções, o embate é um sinal de alerta para o governo quanto à insatisfação dos profissionais de segurança pública com a proposta. “Levar spray de pimenta faz parte da luta”, disse o presidente da Confederação Brasileira de Trabalhadores Policiais Civis (Cobrabol), Jânio Bosco Gandra, um dos organizadores da manifestação. Agora, completou, “o presidente Michel Temer já sabe o que os policiais são capazes de fazer. Não aqui, mas no Brasil todo”.

“Se for preciso, vamos invadir a Câmara”, garantiu um manifestante, seguido de aplausos, no auditório lotado. Outra ameaça dos policiais, que teria um impacto ainda maior, é a de paralisação das atividades. Para o presidente da Federação Nacional dos Policiais Federais (Fenapef), Luís Boudens, a manifestação de ontem foi a primeira de muitas e pode ser entendida como “um prenúncio para paralisações como a que está ocorrendo no Espírito Santo”, caso o governo insista em incluir os policiais na reforma. A UPB, que se reunirá na próxima terça-feira para discutir os próximos passos, não descarta uma greve geral. “Muitos estados estão reivindicando, mas esperamos que isso não seja necessário”, disse Gandra.

A decisão, segundo o presidente da Cobrabol, dependerá da “reação dos deputados”, com quem os policiais pretendem conversar hoje, em visita aos gabinetes. As discussões têm sido, até o momento, proveitosas. Segundo os cálculos de Boudens, 27 deputados manifestaram apoio direto aos policiais apenas na tarde de ontem. Só da base aliada, nos últimos dias, mais de 80 deputados disseram apoiar a causa, segundo Gandra.

Um deles foi o deputado Mendes Ribeiro Filho (PMDB-RS), que fez um discurso crítico à proposta do governo já na Comissão de Constituição e Justiça (CCJ), em dezembro, ao anunciar que, independentemente do que indicar o partido, ele votará contra a proposta, que definiu como “desumana” e “irresponsável”. Recentemente, o deputado Veneziano Vital do Rêgo (PMDB-PB) disse que também não vota a favor da PEC “do jeito que está”. Lideranças do PT, da Rede, do PSOL e do PDT já se posicionaram oficialmente contra a reforma.

A tensão tem se intensificado desde a criação da comissão especial, na última terça-feira. Até o fim desta edição, 19 dos 37 integrantes ainda não tinham sido indicados pelos partidos. Depois que ela for instalada, o que é esperado para a próxima terça-feira, os deputados terão apenas 10 sessões para propor emendas ao texto do governo. A esperança dos policiais é que uma delas retire os profissionais de segurança pública das novas regras.


  • Análise da notícia

    Somos reféns da polícia

    » Leonardo Cavalcanti
    Um debate que poderia se restringir aos salários e aos direitos previdenciários de policiais mostra o quanto a sociedade brasileira é refém das forças de segurança. E não apenas no Espírito Santo, onde o número de mortes, depois de uma greve insana, ultrapassa 90, mas em todos os estados. Os governadores não conseguem comandar as tropas — e muito por culpa deles.         
   Se, no passado, usaram as polícias como braços armados do poder local, agora não conseguem interferir na estrutura da Civil e da Militar, que parecem poder tudo e apenas mantêm a ordem quando conquistam benefícios. Na reforma da Previdência, o governo federal resolveu excluir os militares para não se indispor com a corporação num momento conturbado. São eles que estão nas ruas no Espírito Santo. Politicamente, abriu a brecha para que outros grupos, como os policiais civis, também tentem ficar de fora do projeto. E assim seguimos.

[ Se impõe uma diferenciação no trato das reivindicações dos militares e as dos policiais civis.
Existe peculiaridades entre as duas funções e citamos apenas uma:
- os militares não podem se associar a sindicatos e também não realizam manifestações portando armas.
Já os policiais civis podem ser sindicalizados e realizam manifestações paredistas portando armas.
Não é justo nem legal que os policiais civis recebam os mesmos benefícios concedidos a militares, exatamente para compensar as agruras da carreira militar.] 

Fonte: Correio Braziliense 

 


 

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