PAULO LOPES/FUTURA PRESS
Há de se perguntar para o congressista se ele considera, por exemplo, voos em jatinhos oficiais gastos, digamos, vitais ao funcionamento da máquina estatal. Maia é um dos campeões em uso dessas aeronaves para deslocamentos pessoais, na maior parte das vezes tendo por destino a sua própria casa. Somente de janeiro a março último ele viajou 54 vezes em jatos da FAB, 30 das quais para o Rio de Janeiro, onde reside. O levantamento é do site Contas Abertas, que fiscaliza as despesas federais, e deixa expostas as vísceras dos inúmeros abusos praticados por aqueles que parecem legislar em causa própria e desconsiderar o esforço geral por economia.
O prezado leitor teria ideia de quanto custa um avião de lá para cá levando exclusivamente esse senhor que parece não poder viajar em voo de carreira como os demais mortais? Aos números: por ser subsidiado e tratar-se de uma aeronave da FAB, apenas os 30 deslocamentos à Cidade Maravilhosa representaram uma espetada de R$ 600 mil no tesouro da União. Só no trimestre em questão. Cada passagem em voo de carreira custaria bem menos. Na tarifa cheia, cerca de R$ 1.500, que poderiam sair do próprio bolso do parlamentar, por que não? As mesmas 30 viagens em uma empresa privada de táxi aéreo, com um modelo Legacy 600 como o da FAB, dariam R$ 2,3 milhões em despesas de transporte do zeloso guardião do controle fiscal, Rodrigo Maia. Eis o tamanho real da brincadeira! A distinção de transporte extraordinário decerto não é exclusiva. Contempla muitos dos pares do presidente da Câmara, ministros e executivos do aparato estatal. Adicione ainda à contabilidade de privilégios outras mordomias como auxílio moradia, auxílio combustível, carro particular, bolsa de estudo para filhos, aposentadorias especiais e outros penduricalhos disponíveis à elite de Estado dessa nossa republiqueta das bananas – algo jamais visto nos ditos países desenvolvidos – e será assim possível identificar aos poucos de onde sai parte absurda do chamado déficit público.
Um outro levantamento do mesmo site Contas Abertas demonstra que o Congresso Nacional custa, por dia, a bagatela de R$ 23 milhões ao País, ou R$ 8,4 bilhões ao ano. No valor estão incluídos quase 22 mil servidores efetivos e comissionados. No âmbito da esfera federal, o governo decidiu extinguir 60 mil cargos de funcionários públicos, dentre os quais (acredite!) datilógrafos, radiotelegrafistas, operadores de mimeógrafo, perfuradores digitais e por aí vai. Funções ultrapassadas, que há muito tempo perderam sua razão de ser, embora continuassem subexistindo no aparato estatal. E os devaneios não param por aí. É possível por acaso aceitar que o governador Luiz Pezão, do Rio de Janeiro, estado em vias de falência, abra uma licitação para contratar um jatinho executivo, ao valor de R$ 2,5 milhões ao ano, para conduzi-lo em seus compromissos?
Você, caro leitor, quer pagar por isso? Políticos como Maia, Pezão e quetais seguem fazendo diabruras enquanto posam de paladinos da disciplina fiscal e apelam por ajudas sistemáticas do erário para pagar suas contas. Políticos comandados por Maia pedem agora um fundo extra de R$ 3,6 bilhões para pagar despesas eleitorais em 2018. Uma bofetada no contribuinte. Cerca de dois mil prefeitos de cidades brasileiras – atente para o número! – não cumprem a Lei de Responsabilidade Fiscal. Ou seja: gastam mais do que arrecadam. Quer entender quem gerou o tal rombo monstro que paralisa a Nação?
Comece por aí. Todos precisam discutir e opinar sobre as contas públicas. Afinal, como o próprio nome diz, elas são de cada um de nós brasileiros e seu peso recai sobre nossas costas. Os senhores da lorota, que saem fazendo proselitismo em declarações públicas, ficam a impingir unicamente sobre o Executivo a culpa por todos os males enquanto deixam, matreiramente, de reconhecer sua responsabilidade no buraco. Realmente tem algo de muito errado nos tetos fiscais quando os remendos aqui e acolá não param de aparecer. O problema é identificar quem está disposto a admitir e a abolir os próprios privilégios. Maia inclusive.
Fonte: Editorial - Isto É - Carlos José Marques