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quinta-feira, 13 de janeiro de 2022

Torcida pequena e barulhenta - Alon Feuerwerker

Análise Política

Processo eleitoral é ambiente propício a ciclotimias. A luta pelo poder mexe forte com a emoção, e costuma levar a oscilações. Vai-se da euforia à depressão, e vice-versa. Buscar os fatos e as variáveis objetivas é prudente para evitar ser arrastado na montanha russa. E é sempre razoável trabalhar com a possibilidade de a realidade virar de repente.

Semanas atrás, o vento soprou a favor da assim chamada terceira via, com a vitória de João Doria nas prévias do PSDB, o lançamento da pré-candidatura de Sergio Moro e a entrada mais firme de nomes como Rodrigo Pacheco e Simone Tebet. Do mesmo jeito que soprara a favor, e sem que se saiba exatamente por quê, algumas semanas depois o vento virou.

Serão só as pesquisas?

E, agora, no “Zeitgeist” deste nosso microtempo, a única dúvida é se Luiz Inácio Lula da Silva ganha no primeiro ou no segundo turnos, neste caso contra Jair Bolsonaro. Melhor ir com calma. Faltam quase nove meses para o primeiro comparecimento às urnas, tem muita água para correr sob a ponte. E qual a situação de cada um?

A de Jair Bolsonaro é peculiar.
Os números da vacinação contra a Covid-19 no Brasil vão bem, e as principais estatísticas econômicas na passagem de ano (na esfera fiscal, no comércio exterior e no emprego) vêm vindo algo acima das (más) expectativas. Mas as pesquisas mostram a dificuldade de o presidente fazer boas notícias virarem musculatura.

Cada um tem sua explicação. Na pandemia da Covid-19, tema-líder nas preocupações do povo, Bolsonaro fez aos adversários o favor de projetar a imagem de alguém muito mais apetrechado para criar problemas do que para resolvê-los. E essa impressão acabou contaminando o conjunto da imagem presidencial. Dificuldade que mais se agrava quanto mais incompreensíveis são as atitudes do presidente em relação às vacinas.

Daí a, por enquanto, baixa capacidade de o governo transferir ao presidente o capital acumulado nas realizações de seus ministros
O que se complica por outro detalhe
Bolsonaro produz polêmicas em série que geram bem mais calor que luz, aí as entregas materiais do governo enfrentam outro obstáculo para ocupar espaço comunicacional.

Lula está num momento favorável. Recolhe inercialmente, como antípoda natural de Bolsonaro, a maior parte da rejeição ao presidente e pode dar-se ao luxo de trabalhar, por enquanto, a favor do tempo. Período que se bem utilizado servirá para treinar para quando tiver de caminhar em meio ao inevitável tiroteio verbal e às cascas de banana. [lula, o descondenado,  conta como alguma coisa? existe politicamente?]

E os demais? A terceira via até o momento continua fazendo tudo igual à espera de que, desta vez, acabe colhendo um resultado diferente. Sua principal mensagem, “contra os extremos”, vem dando pouco retorno desde 2018, mas o pessoal não mostra sinal de esmorecer. Seguem firmes fazendo musculação dentro da bolha.

Os times da terceira via têm lembrado as agremiações futebolísticas sobre as quais certa hora o locutor para e diz: “a torcida é pequena, mas olha o barulho que faz”.  A grande aposta do “centro” continua sendo Jair Bolsonaro desmoronar politicamente e abrir espaço para um renovado antilulismo que não precisaria carregar o passivo do bolsonarismo. Por enquanto não há sinal de isso acontecer. Mas, como disse, falta muito tempo para a eleição.[tempo que apresentará resultados favoráveis ao capitão - tentando evitar a segunda vitória do presidente Bolsonaro, os inimigos do presidente = os inimigos do Brasil = lançaram um balão de ensaio mostrando pretensão de acabar com a reeleição.
O fracasso está sempre ao redor dos inimigos do Brasil = inimigos do presidente.] 
 
Alon Feuwewerker, jornalista e analista político
 

quarta-feira, 30 de setembro de 2020

A segunda onda - Nas entrelinhas

Alguma transferência de renda precisa ser assegurada à população mais pobre no próximo ano, e o Congresso precisa encontrar uma saída. O governo não quer cortar na própria carne

Tudo indica que realmente está havendo uma segunda onda da pandemia na Europa — principalmente na Inglaterra, na Espanha e na Itália —, mas não se pode afirmar, ainda, que o mesmo esteja ocorrendo no Amapá, no Amazonas e em Roraima, onde o número de casos voltou a subir. A média nacional de transmissão da pandemia abaixo de 1/1 indica que o pior já passou, realmente, embora o número de casos confirmados continue muito alto. A sensação é de que estamos no meio de uma montanha russa, que parece não tem fim. São 142, 2 mil mortes e 4,7 milhões de casos confirmados até ontem, número só ultrapassado pelos Estados Unidos.

A média móvel de mortes nos últimos sete dias foi de 678 óbitos, o que dá uma média de 28 mortos por hora. Mas é um número 15% menor do que o da semana anterior, o que realmente representa um alento. O presidente Jair Bolsonaro não está nem aí para essa discussão sobre segunda onda, naturalizou o número de mortes como fizeram os generais e políticos italianos em Trento e Trieste, até que a História, muitos anos depois, cobrou-lhes a responsabilidade. Já comentei esse assunto por aqui, mas não custa relembrar. Quando a Itália entrou na I Guerra Mundial, em 1915, ao lado da “Entente” (aliança entre França, Inglaterra e Rússia), os políticos e militares italianos acreditavam que seria uma oportunidade de libertar Trento e Trieste do jugo estrangeiro e declararam guerra ao Império Austro-Húngaro. Centenas de milhares de jovens foram recrutados e lançados à batalha.

No primeiro confronto, porém, o exército inimigo manteve as suas linhas de defesa de Izonso e o ataque foi contido. Morreram 15 mil italianos. Na segunda batalha, foram 40 mil mortos; na terceira, 60 mil. Os italianos lutaram “por Trento e por Trieste” em mais oito batalhas, até que, em Caporreto, na décima-segunda, foram derrotados fragorosamente e empurrados pelas forças austro-húngaras às portas de Veneza. Citado no livro Homo Deus, de Yuval Noah Harari (Companhia das Letras), o episódio ficou conhecido como a síndrome “Nossos rapazes não morreram em vão”. Foram contabilizados 700 mil italianos mortos e mais de 1 milhão de feridos ao final da guerra.

Por que isso aconteceu? Por que a autocrítica não é o forte dos militares nem dos políticos. Depois de perder a primeira batalha de Izonzo, havia duas opções: admitir o erro e assinar um tratado de paz com o Império Austro-Húngaro, que enfrentava outros três exércitos poderosos; ou continuar a guerra e apelar para o patriotismo. Prevaleceu a segunda, porque a primeira tinha o ônus de ter que explicar para os pais, as viúvas e os filhos dos 15 mil mortos de Izonso por que eles morreram em vão.

Bolsonaro não teme um segundo ciclo da covid-19, já anda criticando o prefeito de Manaus, Arthur Virgílio Neto (PSDB), que estuda fazer um novo lockdown para conter o aumento do número de casos na capital do Amazonas, que desmente a tese de que já haveria “imunização de rebanho” no estado. [destaques:
- nos países em que está ocorrendo a 'imunidade de rebanho, o crescimento de casos é constante - já o de Manaus é sobe e desce, típico dos ajustes de contagem que, percentualmente, são relevantes, dado o reduzido número absoluto de casos;
- ainda não há vacina, o fecha tudo, para tudo, já acabou e os números começaram a cair = IMUNIDADE DE REBANHO.
Com uma participação mais efetiva de medicação preventiva e curativa - neste caso nos primeiros dias.] não surgiu vacina, 
O presidente da República naturalizou as mortes por covid-19, a “gripezinha”, e culpa governadores e prefeitos pelo desemprego em massa. Na sua avaliação, a política de isolamento social é responsável pela desorganização da economia e não o novo coronavírus, como acreditam sanitaristas e economistas.

Renda Cidadã 
Na verdade, teme — com razão — uma segunda onda de desemprego, maior do que a primeira, em decorrência da recessão e do fim do auxílio emergencial. Mesmo com a flexibilização do isolamento social na maioria das cidades — a razão da lenta queda do número de casos e de mortes —, a atividade econômica não se recuperou nos níveis esperados. O governo arrecada menos, os investidores foram embora, e muitas atividades econômicas deixaram de existir, por falta de consumidores. Houve uma revolução nos hábitos pessoais, com grande impacto na mobilidade urbana, fazendo com que muitos negócios desaparecessem.

É nesse contexto que a discussão sobre o Renda Cidadã, o programa que Bolsonaro pretende lançar para substituir o Bolsa Família, está sendo posta. Existe um ingrediente eleitoral inequívoco, cuja digital é a extinção do Bolsa Família, mas a preocupação de Bolsonaro com a situação das pessoas que ficaram sem trabalho e perderão toda a renda faz sentido. Alguma transferência de renda precisa ser assegurada à população mais pobre do país no próximo ano, e o Congresso precisa encontrar uma saída. O governo não quer cortar na própria carne, reduzindo gastos desnecessários — está mais do que provado que existem — e privilégios do serviço público; prefere meter a mão nos precatórios, empurrando as dívidas judiciais para as calendas, e pongar o Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educaçao Básica (Fundeb), desviando recursos para o Renda Cidadã.

[Post um tanto quanto pessimista; felizmente, a competência, lucidez e sobriedade do articulista, o mantiveram na linha da verdade, não atribuindo ao presidente Bolsonaro a responsabilidade pela secura e incêndios no cerrado do DF, tentação a que grande parte da mídia não resistiu]. 

O curioso nessa história é que o ministro da Economia, Paulo Guedes, passou de cavalo a burro. Antes, era a política econômica que ditava as propostas do governo, aos políticos cabia defendê-las no Congresso; agora, são os líderes do governo na Câmara e no Senado que dão as cartas, a equipe econômica corre atrás de soluções técnicas para viabilizá-las, o que geralmente não acontece. As reformas tributária e administrativa colapsaram. O mercado está reagindo: alta do dólar e queda na Bovespa. Os investidores estão cada vez mais cabreiros com o Brasil.

Nas Entrelinhas - Luiz Carlos Azedo, jornalista - Correio Braziliense