Virou uma chicana política, com direito a articulações de bastidores,
pressões partidárias e lobby no Planalto, a escolha do substituto do
ministro Teori Zavascki no STF. A vetusta instituição, que se orgulha de
procedimentos eminentemente técnicos em suas deliberações, é alvo no
momento de interesses específicos e grupos diretamente envolvidos nas
rinhas e impasses que o Supremo tem a despachar. No tabuleiro da Justiça
não há posto mais cobiçado no momento. Ativistas religiosos – de
católicos a protestantes, incluindo as bancadas cristãs do Congresso –
trabalham para colocar no lugar de Teori alguém antenado com suas ideias
conservadoras como a proibição do aborto. Naquele colegiado, uma
votação favorável à descriminalização até o terceiro mês de gestação já
saiu vitoriosa.
Legendas e parlamentares envolvidos nos desdobramentos
da Lava Jato empenham-se, por sua vez, na escolha de alguém que se
posicione contra a prisão de condenados em segunda instância, tese já em
avançado processo de consolidação na Suprema Corte e que viabilizou as
delações. Das questões de fé às mais mundanas aspirações, não há pauta
que não mova agremiações com ideologias diversas. Até a Ong “Vem pra
Rua”, autoproclamada líder dos protestos pelo impeachment de Dilma,
engajou-se na disputa. Não lançou nome específico, mas firmou posição
contra qualquer alternativa que apresente comprometimento com partidos
ou faça parte diretamente do governo Temer. Uma lista de candidatos, com
fotos e perfis, será divulgada nas redes sociais pela Ong explicando as
motivações para o veto. Nela estarão inscritos os nomes de Alexandre
Moraes, atual ministro da Justiça, e do advogado Heleno Torres, que
assinou parecer contrário à saída da ex-mandatária.
Os tucanos, por sua
vez, lideram uma trupe de siglas, incluindo DEM, PR, PTB, PSD e parte do
PMDB, favorável ao ministro Moraes por considerá-lo “qualificado”, “com
experiência jurídica” e fiel à nova gestão. O advogado Torres, logo que
viu despontar o seu nome, tratou de lançar louvas ao presidente Temer
em declarações públicas que criaram constrangimento ao Planalto. Além
deles, o procurador do Ministério Público no TCU, Julio Marcelo, e a
atual advogada-geral da União, Grace Mendonça, entraram no páreo dos
favoritos. O primeiro respaldado pelo conselho de procuradores gerais
que chegou a encaminhar carta à Presidência nesse sentido. Já o nome de
Grace caiu nas graças do Governo, preocupado em aumentar o quórum
feminino do STF. Ao todo, ao menos 15 postulantes estão na disputa.
Entre os mais polêmicos deles, está a indicação do jurista Ives Gandra
Martins Filho, ministro do Tribunal Superior do Trabalho, membro da Opus
Dei e que recentemente fez declarações misóginas, pregando a obediência
da mulher no casamento, o celibato, além de críticas ao casamento de
homossexuais. Por seus pares é abertamente classificado como
“retratado”, “xenofóbico” e “destemperado”. A escolha é complexa e o
caminho para chegar a ela está repleto de armadilhas e botes dos grupos
interessados. O presidente Michel Temer, a quem cabe a decisão soberana
de encaminhar o indicado, já avisou que só irá se pronunciar após a
escolha do relator da Lava Jato pelo Supremo.
Não quer ser acusado de
interferir no andamento desse processo. Professor em direito
constitucional como é, Temer cerca-se de cautela. Estava inclinado até o
final de semana por opções mais técnicas, ligadas a outras cortes. Sabe
o quanto é difícil agraciar todas as correntes desse intrincado jogo e
deve se guiar pelo embasamento jurídico e conhecimento do postulante
sobre as grandes carências nacionais. De uma maneira ou de outra, não
deixa de ter um lado perverso e pouco dignificante tamanha corrida pela
vaga de Teori. Logo após a tragédia que vitimou o relator da Lava Jato,
aspirantes se apresentaram, cada um a sua maneira, a maioria por
intermédio de simpatizantes. Ainda em meio ao velório, nas conversas ao
redor do caixão, intensas negociações eram flagradas. O feirão de nomes
não deve turvar a lisura e transparência necessárias à indicação. Não é
na base da fuzarca, onde ganha quem grita mais alto, que deve ser
nomeado o sucessor. Mais do que nunca, espera-se do mandatário Temer
imparcialidade e serenidade nesse difícil veredicto. [que o melhor seja escolhido: IVES GANDRA MARTINS FILHO - se há entre os ministros do STF os que defendem a 'marcha da maconha', o 'casamento homossexual', o 'aborto', o que impede que também tenha ministros contrários as aberrações citadas?
Ou defender práticas criminosas ( apologia ao crime, caso da 'marcha da maconha', caso do aborto - e aberrações - casamento homossexual, entre outras) é condição que torna favorável a indicação e ser contra o crime é ponto contrário?]
Fonte: Editorial - Isto É - Carlos José Marques
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sábado, 28 de janeiro de 2017
Feirão de nomes para o Supremo
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