A imprensa, na média, sabidamente, não gosta de evangélicos e ruralistas.
Tratam as duas bancadas no Congresso como caricaturas do atraso, o que é pura estupidez e preconceito ideológico
Reportagem da
Folha desta segunda informa que o MBL (Movimento Brasil Livre) — um dos
principais organizadores das megamanifestações em favor do impeachment
de Dilma —, ruralistas e evangélicos se unem por agenda liberal.
É claro que
as esquerdas vão chiar: “Olhem aí! Viram só? Bem que nós avisamos!”.
Pois é… “Viram” exatamente o quê? Estranho seria se um movimento de
caráter claramente liberal se unisse à CUT, ao MST e ao MTST.
O MBL atuou
em parceria com representantes da CNA e da bancada evangélica em favor
do impeachment. Leio na Folha o seguinte: “Os três grupos não pretendem
desfazer a união e têm reunião conjunta marcada para esta terça (3).
Juntos, fazem planos para influenciar as votações no Congresso em torno
da defesa de um Estado mínimo, de pautas conservadoras, da reforma
trabalhista e do ajuste fiscal”.
Não sei se a
síntese é exatamente essa, mas vá lá. Eu nunca tenho claro o que quer
dizer “estado mínimo” e duvido um pouco que o MBL o tenha conceituado.
Eu sei o que é Estado necessário. Por exemplo: eu gostaria que ele fosse
mais efetivo em segurança e que não fosse dono de banco e petroleira.
Com eficiência, os brasileiros estariam mais seguros e seriam menos
roubados, não é mesmo, Petrobras?
O que
significa exatamente “pauta conservadora”? Não deve ser trocar
cusparadas com deputado ex-bbb ou perseguir negros e gays. O meu candidato a
vereador em São Paulo, por exemplo, é um rapaz do MBL: Fernando
Holiday, que é negro e gay. Mas não vou votar nele em razão dessa dupla
condição, mas porque ele representa valores liberais e é contra o que
chamo de “sindicalização do espírito”.
Já a reforma
trabalhista e a responsabilidade fiscal, creio, são matérias de bom
senso. Deveriam ser consideradas o eixo de uma militância
“progressista”, desde que essa palavra não tivesse sido submetida a
novilíngua orwelliana, que fez dela sinônimo de “esquerdista”.
A imprensa,
na média, sabidamente, não gosta de evangélicos e ruralistas. Tratam as
duas bancadas no Congresso como caricaturas do atraso, o que é pura
estupidez e preconceito ideológico.
Coincidentemente, um amigo me mandou há pouco trecho de um texto deste escriba que circula nas redes. Esta:
Retomo
Em conversa com a Folha, Renan Santos, um
dos coordenadores do Movimento Brasil Livre, anuncia a disposição de
combater o reajuste dos servidores do Judiciário Federal. Foi aprovado
regime de urgência para a tramitação da proposta, que eleva os salários
em até 41% até 2019, com impacto previsto de R$ 6,9 bilhões. “Qual a
coerência disso?”, pergunta Santos. Resposta: nenhuma!
É isso aí.
Já defendi aqui há tempos que o MBL e outros movimentos que lutaram em
favor do impeachment passem a operar no interior dos partidos — com a
concordância destes, é claro — e a atuar com marca própria. Do mesmo
modo, vejo com muitos bons olhos a aproximação desses grupos com
bancadas temáticas do Congresso.
Afinal, chegou a hora de as pessoas que produzem riquezas se articularem para enfrentar as que produzem apenas discursos.
Fonte: Blog do Reinaldo Azevedo