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sábado, 10 de junho de 2023

A suprema conversão - Augusto Nunes

Revista Oeste

Faz quatro anos que nenhum esquerdista brasileiro comete sequer pecados veniais

 

 Antonio Palocci, Gleisi Hoffmann e Lindbergh Farias | Foto: Montagem Revista Oeste/Divulgação

  Supremo Tribunal Federal marcou para a penúltima semana de junho a absolvição de Gleisi Hoffmann e Paulo Bernardo, os dois últimos figurões do Partido dos Trabalhadores ainda à espera da carteirinha de inocente já concedida pelo Egrégio Plenário aos demais acusados de envolvimento com o chamado Quadrilhão do PT.  
Entre o fim do primeiro mandato de Lula, ao longo do qual foram desviados mais de R$ 1,5 bilhão extorquidos dos pagadores de impostos, e este crepúsculo do outono a vida seguiu seu curso. O casamento de Gleisi e Paulo Bernardo acabou. 
Ele sumiu do palco principal depois de deixar o Ministério do Planejamento e Orçamento de Lula. Ela trocou o Senado pela Câmara dos Deputados, foi ministra durante o governo Dilma e hoje preside o PT. Voltarão a juntar-se na celebração de uma proeza e tanto: consumada a absolvição da dupla, o partido que virou organização criminosa poderá reivindicar de novo o status de ajuntamento político mais puro do mundo.
 
Entre o nascimento em 1980 e a roubalheira escancarada em 2005 pelas patifarias do Mensalão, a sigla parida pelo cruzamento de operários desprovidos de dúvidas com intelectuais grávidos de certezas caprichou na pose de detentora do monopólio da virtude
Eleito deputado federal, Lula avisou que não perderia outros quatro anos tentando consertar um Congresso infectado por no mínimo 300 picaretas. 
 
 Obcecado pela Presidência da República, perdeu três eleições seguidas para adversários que acusou de representarem “o Brasil da corrupção”. Vitorioso em 2002, o PT precisou de apenas três anos para reduzir a farrapos a velha fantasia. Confrontados com as torpezas do Mensalão, até bebês de colo entenderam que o templo das vestais era o mais obsceno dos bordéis.

Posse da senadora Gleisi Hoffmann (PT-PR) como presidente do Partido dos Trabalhadores (5/7/2017) | Foto: Roberto Stuckert Filho

Não apareceu até agora um único e escasso inimigo de Jair Bolsonaro no inquérito das fake news ou no inquérito dos atos antidemocráticos. 
 As tribos da esquerda, portanto, não mentem, não conspiram nem querem conversa com golpistas. Mais de mil homens e mulheres capturados em Brasília no dia 9 de janeiro continuam usando tornozeleiras. Todos têm simpatia por Bolsonaro, juram os carcereiros. Os ex-deputados federais Daniel Silveira e Roberto Jefferson estão presos em regime fechado. Nenhuma gaiola hospeda algum político que tenha apoiado Lula. 
Eleito por mais de 340 mil cidadãos do Paraná, o ex-procurador federal Deltan Dallagnol teve o mandato cassado porque um ministro do TSE cumpre qualquer missão encomendada pelo padrinho. Deltan também ousou devolver à Petrobras parte da fortuna roubada por poderosos patifes. Lula já disse que não dormirá direito antes de foder gente assim. 

 

Flávio Dino, ministro da Justiça, Arthur Lira, presidente da Câmara dos Deputados, Geraldo Alckmin e Lula durante reunião com governadores | Foto: Ricardo Stuckert/PR

Julgado pelo Supremo em 2012, o bando de mensaleiros inaugurou o cortejo que engordaria a população carcerária com dezenas de devotos da seita que tem em Lula o seu único Deus. Não é pouca coisa, entusiasmou-se o Brasil que presta. 
E era só o começo, pareceu avisar a descoberta do Petrolão e reiteraram os altivos avanços da Operação Lava Jato. Pela primeira vez desde o Descobrimento, foi possível acreditar que a lei começara a valer para todos, e que havia vagas na cadeia para qualquer bandido da classe executiva, até para empreiteiros multibilionários, deputados, senadores, governadores, ministros, executivos cinco estrelas, até para um ex-presidente da República. 
Já não havia condenados à perpétua impunidade, imaginaram os profissionais da esperança. Se o mundo tivesse acabado naquele momento, caberiam no carrinho popular agora em gestação os dirigentes petistas poupados do fogo do inferno.
 
Mas no Brasil até o passado é imprevisível, confirmariam os anos seguintes. Assim, se o mundo acabasse neste momento, iriam direto para o céu — sem escalas, sem perigo, sem perder tempo com magistrados do Juízo Final — todos os brasileiros que ajudaram a premiar Lula com outro mandato, dos petistas de nascença aos recém-chegados ao grande clube dos cafajestes, dos comunistas carolas modelo Flávio Dino aos carolas nada santos como Geraldo Alckmin. 
Providos de um salvo-conduto com o selo do Pretório Excelso, todos se amparam no argumento devastador: faz quatro anos que ninguém no lado esquerdo do mapa político brasileiro tem de acertar contas com a Justiça. Desde 2019, por exemplo, o ministro Alexandre de Moraes acusa, indicia, processa, pune, prende e arrebenta por atacado. Já enquadrou centenas de suspeitos de todas as idades, classes sociais e sotaques regionais. Nenhum votou em Lula.

O fato é que desde 2019 meliantes que pareciam sem cura não são obrigados a comparecer à delegacia mais próxima, nem são fotografados de frente e de perfil. O fenômeno poderia configurar a maior conversão em massa da história caso resultasse, por exemplo, de um retiro espiritual conduzido pelos pregadores da CNBB. Seria igualmente animador se fosse fruto de longas reflexões durante a temporada na cela merecidamente providenciada pela Lava Jato. Quem acha que cadeia cura teria um argumento a mais. O problema é que não há na multidão de pecadores impunes que zanza por aí nada que se assemelhe, mesmo remotamente, à experiência vivida por São Paulo no caminho de Damasco. O que parece ter havido é a conversão do Supremo em Poder Moderador. Ou partido político.

Leia também “Ópera dos farsantes”

Augusto Nunes, colunista - Revista Oeste 


 

 

domingo, 12 de março de 2023

Tabata Amaral não tem senso de humor - Gazeta do Povo

Um blog de um liberal sem medo de polêmica ou da patrulha da esquerda “politicamente correta”.

Todo revolucionário costuma ser taciturno, manter um ar de seriedade excessiva, levar-se a sério demais. Eles são, afinal, os instrumentos da transformação social, aqueles ungidos que trarão o paraíso terrestre, que pretendem empurrar a história. 
A arrogância tende a vir junto do autoritarismo: o revolucionário enxerga até em indivíduos apenas obstáculos para seus nobres fins.

Tabata Amaral é uma revolucionária. Com fala mansa e postura moderada, a deputada esquerdista nunca me enganou - mas enganou familiares meus, menos atentos à política, justamente pela forma com que prega suas ideias radicais. Cria do bilionário Jorge Paulo Lemann, Tabata fez o L para "salvar a democracia", e agora cobra a fatura: quer impor sua agenda woke.

O deputado Nikolas Ferreira, o mais votado do país com 1,5 milhão de eleitores, resolveu colocar uma peruca para sua fala na tribuna sobre o Dia Internacional da Mulher, mostrando como a militância trans tem prejudicado as mulheres. Um debate saudável, necessário.

A performance foi parte do todo, para justamente expor o ridículo do transgenderismo fanático, que diz que basta um homem "se sentir" mulher para se transformar numa. Sem ter como rebater seus argumentos, a patrulha woke saiu em conjunto contra o deputado, e Tabata pediu a sua cassação. Ele teria cometido o crime de transfobia, segundo ela.

Mas não poderia ser ela a cometer o crime, por não aceitar que Nikolas, naquele momento, sentia-se como Nikole?
Fica claro que a postura da deputada esquerdista é absurda e autoritária. Não é de hoje que ela se mostra intransigente e quer cortar cabeças.

O humorista Bruno Lambert, que no mês passado foi denunciado ao Ministério Público de São Paulo pela deputada federal Tabata Amaral (PSB-SP) por suposta discriminação contra deficientes físicos em uma de suas piadas, foi demitido nesta quarta-feira (9) de um emprego em um banco no qual estava há nove anos devido à repercussão do caso.

A representação criminal da parlamentar está relacionada a um vídeo de uma apresentação do humorista, que não é famoso e não vive exclusivamente da comédia, publicado em suas redes sociais no qual ele narrava um caso em que teria se relacionado sexualmente com uma mulher cadeirante.

Na denúncia, Tabata disse que Lambert cometeu capacitismo, que é a discriminação contra pessoas com deficiência, e que as falas do humorista denotaram “machismo latente" pela maneira "explícita" e "jocosa" como descreveu a narrativa da relação sexual.

À Gazeta do Povo, o humorista negou o suposto capacitismo e destacou que a piada foi contada num ambiente próprio para humor e que os mais diversos grupos são retratados em shows de stand-up. “As pessoas estão com uma dificuldade gigantesca de diferenciar o CPF do personagem que está ali no palco, de entender o que é piada e o que é realidade”, afirmou.

O humorista está certo, claro. Será que Tabata viu o especial de Chris Rock na Netflix, que foi ao ar esta semana? Será que ela vai defender sua censura também por inúmeras "ofensas" proferidas contra "minorias", inclusive os negros a quem ele, negro, se refere pela "n-word" proibida? Tabata não sabe o que é humor e qual a sua função. Talvez devesse ler o livro O Riso de Henry Bergson, para começar.

Arthur Lira, sob pressão da patota esquerdista, fez uma reprimenda ao deputado Nikolas Ferreira: "O Plenário da Câmara dos Deputados não é palco para exibicionismo e muito menos discursos preconceituosos. Não admitirei o desrespeito contra ninguém. O deputado Nikolas Ferreira merece minha reprimenda pública por sua atitude no dia de hoje. A todas e todos que se sentiram ofendidas e ofendidos minha solidariedade".

Não foi o suficiente para a militância woke. Vera Magalhães, colunista do Globo, escreveu: "Em 2023 um deputado homem e branco se sente seguro o bastante para usar a tribuna da Câmara no Dia da Mulher para vomitar transfobia, machismo e misoginia. Essa segurança vem da certeza de impunidade. Vai ser isso mesmo, Arthur Lira? A Câmara vai ser o vale-tudo do preconceito?"

Vera, como sabemos, tem preconceito contra conservadores, e sempre destila autoritarismo no esforço de censurar cada um deles. No mundo ideal de Tabata e Vera, ninguém mais pode fazer piada politicamente incorreta (i.e., piada), o Artigo 53 da Constituição, que garante a imunidade material parlamentar a quaisquer opiniões, deixa de existir para a direita, e todos seremos forçados a nos tornar pessoas "maravilhosas" como Tabata e Vera, enquanto o estado garante absorvente para todas as mulheres (ou melhor, "pessoas que menstruam").

É um mundo insuportável, claro. Mas felizmente esse autoritarismo está encontrando cada vez mais resistência, inclusive com o deboche. 
O deputado Nikolas atingiu seu objetivo, como Chris Rock. 
Ambos mostraram como gente woke revolucionária é desprovida de senso de humor e, por isso mesmo, perigosa e totalitária.

domingo, 19 de fevereiro de 2023

NYT vira alvo de militância trans - Rodrigo Constantino

Gazeta do Povo - VOZES

Um blog de um liberal sem medo de polêmica ou da patrulha da esquerda “politicamente correta”.

Há anos o NYT se vende como jornal sério e imparcial, enquanto demonstra claro viés esquerdista em suas reportagens. O jornal contribuiu de certa forma para a cultura do cancelamento, ao retratar comentaristas conservadores como "extrema direita" responsáveis por "discursos de ódio".

Gente moderada como Ben Shapiro foi tratada dessa maneira absurda por vários comentaristas do NYT, alimentando o clima persecutório que levou aos "cancelamentos" de muitos direitistas.  
Mas como a direita sempre alegou, essa perseguição ideológica fanática não ficaria restrita aos conservadores, pois a visão totalitária sempre demanda mais.
 
Quem alimenta corvos acaba com os olhos arrancados. Quem planta vento colhe tempestade. 
 E é justamente o que está acontecendo agora com o próprio NYT. 
O jornal, milagrosamente, publicou uma matéria até razoável sobre cirurgias em transgêneros, mostrando o lado científico da coisa, o medo dos pais, os riscos de mutilar jovens etc. 
A turma woke não curtiu...

Cerca de 200 colaboradores e ex-colaboradores do New York Times assinaram uma carta aberta condenando o jornal por sua cobertura. Na carta endereçada ao editor do Times, os colaboradores dizem que têm "sérias preocupações sobre o viés editorial nas reportagens do jornal sobre pessoas transgênero, não-binárias e de gênero não conforme". O NYT tem viés?! Não creio!

A lista de signatários inclui alguns jornalistas proeminentes do Times, como a colaboradora de opinião Roxane Gay, o repórter cultural J. Wortham e o ex-repórter Dave Itzkoff. Contou com um número muito maior de escritores, como Ed Yong do The Atlantic e Jia Tolentino do The New Yorker, que contribuem apenas ocasionalmente, e outros como os atores Lena Dunham e Cynthia Nixon. Na carta, eles dizem que o Times tratou a cobertura da diversidade de gênero "com uma mistura assustadoramente familiar de pseudociência e linguagem eufemística e carregada", e reportagens recentes omitiram as associações de algumas fontes com grupos anti-trans.

A carta também se concentra em um artigo da revista do New York Times sobre crianças que estão questionando sua identidade de gênero, no qual a autora Emily Bazelon explorou o que chamou de "questões delicadas" que foram transformadas em "dinamite política" pela direita. 
A taxa de arrependimento de adultos no passado que tiveram mudança de gênero foi muito baixa, ela escreveu. Mas na sociedade de hoje, ela perguntou: "Quantos jovens, especialmente aqueles que lutam com sérios problemas de saúde mental, podem estar tentando se livrar de aspectos de si mesmos de que não gostam?"
 
Os críticos do NYT alegaram que sua reportagem poderia servir de combustível para o preconceito da "extrema direita" e para a intolerância. Mas enquanto o NYT trouxe dados científicos, a carta dos críticos traz apenas apelos emocionais e rótulos, tentando interditar o debate.  
Essa não tem sido a tática da esquerda radical faz tempo? 
A intimidação não tem surtido efeito, e o próprio NYT não tem sido instrumento disso no passado recente?

Ao menos o jornal rebateu com alguma coragem, alegando que faz jornalismo isento enquanto os críticos são militantes com uma causa. "Nosso jornalismo se esforça para explorar, interrogar e refletir as experiências, ideias e debates na sociedade – para ajudar os leitores a entendê-los. Nossas reportagens fizeram exatamente isso e estamos orgulhosos disso", disse o porta-voz do NYT.

Cada vez mais "progressistas" e democratas se dão conta do clima insuportável de censura na sociedade por pressão da "woke mob"
É o caso do comediante Bill Maher, que tem comparado essa turma com os comunistas soviéticos, com toda razão. 
O pêndulo extrapolou demais. A liberdade de expressão está ameaçada. A imprensa mal consegue reportar riscos ou problemas pessoais nessas questões identitárias. A asfixia é plena. Mas finalmente começa a haver reação, até mesmo de quem ajudou a alimentar o monstro. Menos mal...

Rodrigo Constantino, colunista - Gazeta do Povo - VOZES


terça-feira, 1 de fevereiro de 2022

O SENADO E AS FICHAS SOBRE A MESA - Percival Puggina

O presidente cumpriu o que dissera: não atende mais determinações do ministro Alexandre de Moraes. Ao considerar extemporâneo o pedido da AGU para que o presidente, em vez de comparecer à delegacia como estabelecera o ministro, se manifestasse por escrito, Alexandre dobrou a aposta. Bolsonaro, por sua vez, dobrou também, silenciando. 

Que outras fichas tem o ministro para pôr sobre a mesa? Os colegas do Pleno. 
Irão cobrir a aposta dele e ordenar o comparecimento do presidente a uma delegacia? 
Há alguns meses, isso não surpreenderia. Hoje, não sei não. Esse é um jogo que roda sob os olhos da sociedade e esta já percebeu o empenho com que o ministro e a maior parte de seus colegas dão curso à tarefa de destruir a harmonia entre os poderes e desestabilizar o governo. 
 
“Tanto vai o cântaro à fonte que um dia lá se quebra”, diz um bem aplicável provérbio. A fúria persecutória contra o presidente da República e seus apoiadores se tornou tão evidente que ele, tudo indica, resolveu dar um basta. 
De fato, quando se pensa em todas as violações do sistema acusatório que vigem em inquéritos abertos dentro do STF e se percebe o quanto esses inquéritos são pernetas, puxando sempre para o mesmo lado, não há como a sociedade não se escandalizar.  

Enquanto os dias passam, olho para o Senado e percebo que o Senado não olha para mim. Nem para você, leitor. O Senado olha para os senadores e estes só atentam para si mesmos. Com a mais generosa boa vontade, as exceções a esse quadro egocêntrico não chegam a vinte.

Eis uma das grandes missões da ação política em favor do Brasil ao longo deste ano eleitoral. 
Vinte e sete senadores serão escolhidos pelos eleitores no primeiro domingo de outubro. 
Cada estado deve passar um pente fino na atuação dos que se apresentarem buscando renovar os mandatos. 
É preciso conhecer e tornar conhecidas, entre outras, as respectivas posições em relação à CPI da Lava Toga, à CPI da Covid, à prisão após condenação em segunda instância, à governabilidade do país, ao pacote anticrime.

A rigor, toda a insegurança jurídica causada por excessos monocráticos e colegiados do STF, apontados por Marco Aurélio Mello quando ministro, podem ser atribuídos ao desequilíbrio causado pelas décadas em que coube à esquerda política (mais precisamente a José Dirceu) apontar ao Senado os ocupantes dessas cadeiras. Agora, é o que temos, um poder de estado fazendo política sem voto.

Deveria ser tarefa de gincana encontrar um esquerdista, investido de autoridade, que se mantenha dentro de seu quadrado.

Para o Senado, diferentemente do Supremo, a vida segue outro curso. Nossa Câmara Alta é um poder cujos membros se submetem à manifestação periódica de seus eleitores
Então, em outubro, sela-se o destino de 27 senadores. 
Salvem-se os raros bons e renovação já! 
Os restantes 54 entram na contagem regressiva para 2026.  
Também a estes deve ir o recado dos cidadãos de seus Estados. 
É a hora da cobrança, da revisão de vida, do respeito ao eleitor, da transparência das condutas. 
Hora de compreender que dirigir é servir.     

Percival Puggina (77), membro da Academia Rio-Grandense de Letras, é arquiteto, empresário e escritor e titular do site www.puggina.org, colunista de dezenas de jornais e sites no país. Autor de Crônicas contra o totalitarismo; Cuba, a tragédia da utopia; Pombas e Gaviões; A Tomada do Brasil. Integrante do grupo Pensar+.


quinta-feira, 25 de novembro de 2021

A PERSPICÁCIA DO PIU-PIU, A VISÃO CLARA DO MAGOO E 2020 d.C. Esquerdistas culposos e outras assombrações

Adriano Marreiros

 

Difícil mesmo é notar que alguém é um esquerdista culposo, principalmente se você é essa pessoa: você jamais vai admitir porque ainda não sabe disso.  Da mesma forma que um engenheiro que errou no cálculo de uma viga nem sempre sabe que a casa caiu, você também não sabe o quanto é um militante de esquerda involuntário. Involuntário, mas culposo.

Eu: em junho do ano passado.

Quando eu era criança, e até na adolescência, existia um desenho animado com um passarinho chamado Piu-piu.  Em todos os episódios ele ficava frente a frente com um gato chamado Frajola, que queria devorá-lo e, mesmo diante de tão clara ameaça, o tolinho dizia: “Eu ACHO que vi um gatinho”.  Sim, ele só... achava...

Também tinha um outro personagem chamado Mr. Magoo.  Era um senhor que não enxergava nada, mas achava que via perfeitamente, e corria os maiores perigos, só se livrando deles por mero acaso: apenas porque era um desenho bem humorado e não a realidade.

Então fiquei adulto e não vejo mais esses desenhos. Talvez nem tanto por ter ficado adulto, mas porque os programas infantis minguaram, não só pelas restrições ridículas que fizeram quanto à propaganda de produtos infantis, que praticamente a destruíram, mas também porque os novos programas infantis só querem saber de lacração.

Isso, no entanto, não me impediu de lembrar bem daqueles dois ótimos desenhos e descobrir que nunca foram ficção.  Nunca.  Na verdade as pessoas que negam a realidade que aparece na cara delas existem aos montes, como as que negam a Guerra Cultural e o Globalismo.  Piu-Piu não acabou, apenas saiu das telas, se reproduziu aos montes e sua ingenuidade apatetada apenas colabora com o fim da Cultura Ocidental, das Liberdades e das Soberanias...  Só que agora eles nem ACHAM que viram um gatinho: eles dizem que o gatinho é fake news...

Mr. Magoo é outro personagem que vejo materializado constantemente em pessoas.  Pessoas completamente cegas mas que acham que, no Mito da caverna, seriam justamente o cara que fugiu e viu a verdadeira luz.   Não conseguem enxergar nada do que acontece à sua volta, e ainda não se lascaram totalmente por mero acaso – ou se lascaram e não perceberam, como agora que estão vendo a Economia do depois, como desejavam, justamente porque nada viam nem percebiam.  Só que sorte não dura para sempre e globalistas e outros autoritários não são tão bonzinhos quando os autores de desenhos.  Os Magoos já se ferram mais que o Coyote, só que sem aquela vida eterna, mas ainda acham que os cegos são os realistas a quem xingam de terraplanistas e negacionistas.

Esta semana já reclamei demais disso, porque andei recebendo conselhos pretensamente sábios de Piu-Pius e Magoos.  Já deu! (ou melhor, “Deu pra ti?!”, porque estou em Porto Alegre).

***

Paro por hoje e sugiro que comprem meu livro se quiserem mais coisa minha.  Que foi?  Fui direto demais?  Tosco?  Não convém ser tão cara de pau?  Mas, como o Belchior,  “eu não posso cantar como convém, sem querer ferir ninguém”.  Ou não seria eu…  Não vou ficar enrolando igual a vendedor.  Recomendo, sim, o meu novo livro: “2020 d.C.  Esquerdistas Culposos e outras Assombrações”.  Um livro de crônicas: de crônicas de Liberdade e profecias de servidão.  Longe de ser uma mera coletânea, é uma obra em que as crônicas foram divididas em seções, por temas, explicados com textos inéditos e bem humorados em seus inícios (novas crônicas, pois) e, ao final de cada um deles, existem prints de notícias e matérias que situam aquelas crônicas no tempo ou comprovam seu caráter um tanto quanto profético, por mais que eu quisesse ter errado. 

 O próprio prefácio, do Sileno, foge do tradicional por ser dividido em 3 partes espalhadas pelo livro.  Ele diz que um livro meu não poderia mesmo ter um prefácio tradicional pois se trata de um "autor um tanto estrambólico num país de gente normal”: não tenho como discordar… 

 A capa representa o principal assunto do livro, a luta do bem contra o mal, porque assim é a luta pelas Liberdades, e ela, o título, o livro e eu somos comentados na orelha escrita por Sílvio Munhoz, também autor desta série, especialista justamente numa escrita que bate no pé da orelha. Antes do Sílvio veio o belo livro da Érika, cujo filho foi o autor dessa bela capa com São Jorge e o dragão. Salve Jorge! 

 Valeu, Scansani, valeu, Sileno, valeu, leitores.  Não quero cansá-los: pra que vocês comprem o livro!

Adriano Marreiros -  Portal Tribuna Diária.


quinta-feira, 6 de maio de 2021

El Salvador: demitir o Supremo Tribunal inteiro foi golpe ou não? - Vilma Gryzinsky

Blog Mundialista - VEJA

O jovem presidente Nayib Bukele diz que o Congresso fez tudo de acordo com a Constituição, mas não foi exatamente assim

“A nossos amigos da comunidade internacional”, tuitou Nayib Bukele. “Nossas portas estão mais abertas do que nunca. Mas, com todo respeito: estamos limpando nossa casa… e isso não é da sua alçada”. Como El Salvador é um país pequeno – o menor da América Central, com apenas seis milhões de habitantes – e sem nenhum poder de negociação no cenário internacional, é claro que a demissão dos cinco integrantes da Corte Constitucional, com funções semelhantes ao Supremo Tribunal, é da conta de quem tem voz de comando. E, obviamente, nenhum outro país tem voz mais alta do que os Estados Unidos.

Deliberadamente, o encarregado de negócios americano, Brendan O’Brian, boicotou a reunião de embaixadores estrangeiros, incluindo ONU, OEA e União Europeia, aos quais Bukele chamou para uma explicação em off. Tudo acabou transmitido em rede nacional de televisão, inclusive as reações em que o atilado Bukele, que sabe ser persuasivo e até sedutor, fingiu surpresa. “Houve condenações  pelo que aconteceu no sábado e me parece muito estranho, não esperávamos de forma alguma uma condenação internacional, não porque fôssemos ingênuos, mas porque não havia nada que condenar”.

E o que aconteceu sábado foi que os novos deputados governistas, uma maioria esmagadora na Assembleia Nacional, assim que tomaram posse votaram pela destituição da Corte Constitucional. É preciso cuidado para não comparar automaticamente tudo que está acontecendo em El Salvador com as disputas políticas no Brasil – embora as semelhanças não devam ser ignoradas. [preciso ter em conta que a Assembleia Nacional de El Salvador representa o povo que a elegeu, detendo a SOBERANIA sobre todos os assuntos nacionais. 
E, em uma democracia, a vontade do povo, via seus representantes legitimamente eleitos deve ser SOBERANA, INQUESTIONÁVEL.
No caso especifico de El Salvador a quem os cinco membros destituídos representavam?]

Nayib Bukele, de uma família de palestinos cristãos pelo lado paterno, é um fenômeno político. Foi eleito presidente em 2019 com 53% dos votos e hoje tem aprovação de 90%.  Com essa impressionante popularidade, detonou os partidos tradicionais, a Aliança Republicana Nacionalista, Arena, de direita, e a esquerdista Frente Farabundo Martí de Libertação Nacional, herdeira do movimento guerrilheiro que conseguiu tomar o poder nos anos noventa.

A aprovação sem precedentes abriu caminho a que 64 dos 84 deputados eleitos em fevereiro fossem dos quatro partidos aliados do governo – 56 são do Novas Ideias, criado do nada por Bukele. Com essa tremenda maioria na mão, o presidente de 39 anos riscou do mapa, por votação na Assembleia, os cinco integrantes da Corte Constitucional e o procurador-geral também, todos acusados de serem subordinados aos partidos agora na oposição.

A Constituição salvadorenha permite que isso seja feito, mas obviamente com um mecanismo específico e devido processo.“Foi chocante ver que, sem trâmites prévios, destituíssem os magistrados sem que eles pudessem dizer nada”, lamentou o embaixador da União Europeia, Andreu Bassols.

Na verdade, três deles disseram, por rede social: o processo foi anticonstitucional, mas mesmo assim eles estavam renunciando aos cargos. A ideia de que a maioria possa atropelar a minoria, evidentemente, contraria os princípios democráticos. “É importantíssimo que, quando há uma grande maioria desse governo na Assembleia, essa maioria sirva para reforçar a democracia”, repisou Bassols.

“O culpado dessa crise não ganhou nada”, espetou o La Prensa Gráfica. “Não haverá lobistas nem campanhas em rede sociais que restabeleçam a imagem que Bukele queria construir além fronteiras”.  O jornal o acusa de desencadear uma crise diplomática desnecessária com os Estados Unidos, justamente no momento em que o novo governo quer abrir os cofres para ajudar os países de onde sai o grosso da massa humana que vai atrás do sonho americano. 

Ou foge do pesadelo centro-americano, onde a dupla maligna, corrupção e criminalidade, cria condições de vida insuportáveis. Bukele foi eleito justamente com base no combate aos dois males e seu futuro depende disso. Se fizer como tantos, no longo histórico de autoritarismo na América Latina, e se encastelar no poder, será uma grande decepção, mas não exatamente uma surpresa. “A constituição faculta  a Assembleia textualmente a nomear e remover os magistrados”, desafiou o presidente. “Esta Assembleia está fazendo o que prometeu, por isso os senhores não veem grandes manifestações nas ruas. A Assembleia cumpriu ao pé da letra a Constituição da República”.

“Bukele golpista”, diziam faixas das manifestações de protesto – realmente minúsculas.  A reação internacional pode ser mais efetiva, mas Bukele, o político que governa pelo Twitter, dá longas entrevistas em inglês fluente e usa jaqueta de couro com boné de aba virada para trás, já avisou que vem mais uma “limpa”, como ele classifica: “O povo não nos colocou aqui para negociar. Vão ter que sair. Todos”.

Vilma Gryzinski, jornalista - Blog Mundialista - VEJA 

 

 

quarta-feira, 24 de fevereiro de 2021

O fenômeno do presidente com 90% de aprovação - Blog Mundialista

Presidente de El Salvador já brigou com Supremo, Congresso, imprensa e coronavírus, alcançando índices de popularidade arrasadores

Nayib Bukele não usou gravata nem na própria posse – no máximo, um lencinho no bolso do paletó, às vezes combinando com as meias, o figurino exibido ao ser recebido por Donald Trump na Casa Branca no ano passado. Quando discursou na Assembleia Geral da ONU, mandou uma selfie. Aos 39 anos, certamente não vai mudar o estilo, que inclui, no dia a dia, jaqueta de couro e boné invertido, quando comemorar o resultado da eleição para o Congresso: seu partido, saído do nada, tem 64% das preferências.

Os dois partidos até agora dominantes, refletindo ainda os alinhamentos da brutal guerra civil dos anos 80, a Arena, direita pura e dura, e a Frente Farabundo Martí de Libertação Nacional, a guerrilha esquerdista convertida às delícias do poder, têm, respectivamente, 5% e 6% das preferências.  No meio da pandemia, brutal num país onde o principal produto de exportação são os imigrantes clandestinos que buscam uma vida melhor nos Estados Unidos, a popularidade de Bukele atinge inacreditáveis 90%. Isso com um encolhimento econômico 8,6%. “Seria menos difícil explicar os altíssimos índices de aprovação se Bukele pudesse apresentar indicadores econômicos e sociais destacados ou sequer aceitáveis. Não tem”, suspirou no Washington Post o escritor Roberto Valencia.

O escritor alinha três motivos para o fenômeno Bukele. Merecem ser conhecidos por aspirantes a reproduzi-lo. Primeiro, domínio da “máquina propagandística-comunicativa”. Segundo, habilidade para “impor a agenda nacional e neutralizar os que considera seus inimigos nos âmbitos político, jornalístico e de ativismo”. Os tais inimigos “respondem com soberbia”, criticando Bukele, publicitário por profissão, não ter terminado a faculdade e seus seguidores – mais de um milhão – pelos erros de ortografia. As elites são iguais em toda parte.

É difícil dizer se Nayib (grafia castelhana para Najib) é de esquerda ou de direita. Tendo começado na FMLN, pela qual se elegeu prefeito de San Salvador, ele foi se descolando da esquerda, embora tenha mantido como modelo de combate à corrupção o mexicano Andrés Manuel López Obrador. Assim que assumiu, acabou com o alinhamento com a Venezuela promovida pelos dois presidentes anteriores, da FMLN, incluindo Mauricio Funes, exilado na Nicarágua para fugir aos processos por corrupção.

Eleito presidente no primeiro turno, em junho de 2019, como uma espécie de versão latino-americana de Emmanuel Macron – cara nova, partido criado do nada, o Ideias Novas, inconformismo do eleitorado com os políticos tradicionais, campanha por redes sociais -, ele quase deu um autogolpe em fevereiro do ano passado. Entrou no Congresso com soldados e policiais armados para forçar a aprovação de um projeto de lei prevendo a compra de cem milhões de dólares em equipamentos de segurança. “Poderia ter dado um golpe”, jactou-se.

Poderia mesmo. Um presidente com 90% de aprovação pode praticamente tudo,  como já se viu abaixo da linha do Equador. El Salvador é um país pequeno, de apenas 21 mil quilômetros quadrados e sete milhões de habitantes, saído quase diretamente da violência da época da guerrilha para a criminalidade organizada nas gangues que fazem os similares brasileiros parecerem estadistas. Bukele é acusado de ter feito um acordo com a MS-13 (Mara Salvatrucha, a maior das facções) para diminuir em 60% o mais alto índice de homicídios do planeta – no ápice, o país bateu em 106 homicídios por 100 mil habitantes. Policiais e militares nas ruas, parte do “plano estratégico de controle territorial”, dão algum respiro a uma população refém dos criminosos.

Quando assumiu, Bukele – descendente de palestinos cristãos por parte de pai – consagrou uma palavra conhecida: “Enviando”. Assim se comunicava, pelo celular, com os ministros, determinando a demissão de apaniguados dos governos anteriores. Quando a ministra do Desenvolvimento lamentou que a falta de uma ponte num local distante do país havia causado a morte de 18 crianças, ele foi rápido: “Seu pedido foi atendido pela equipe multidisciplinar do governo. A ponte começará a ser construída em 72 horas”.

A aprovação em massa que medidas assim provocam levou Bukele a brincar com a própria popularidade. “Oficialmente, sou o presidente mais cool do mundo”, orgulhou-se. “O que ele está fazendo é um ato de transparência populista que faz com que pareça um justiceiro que vela pelo povo, mas que na realidade está violando o Estado de Direito, o ordenamento jurídico e os mecanismos de desligamento de cada instituição”, queixou-se ao El País o cientista político Rafael Molina, falando sobre as demissões via Twitter.

Populismo é assim mesmo. Quando dá certo, mesmo que por alguns períodos, o povo gosta. E retribui com 90% de aprovação.

Blog Mundialista - Vilma Gryzinski - VEJA


domingo, 16 de agosto de 2020

A derrota da realidade - Eliane Cantanhêde

O Estado de S.Paulo

Se os fatos não correspondem às versões, danem-se os fatos; Bolsonaro agradece

A realidade e os fatos vão para um lado, a popularidade do presidente Jair Bolsonaro vai para o outro, confirmando que a propaganda é a alma do negócio e que o grande desafio dos governantes em processo de reeleição não é dar bons exemplos, agir estrategicamente e tomar as decisões mais adequadas ao País, mas manter um eleitorado cativo, cooptar o indeciso e atacar sem piedade qualquer tipo de opositor.

[as versões, em sua grande maioria, distorcem os fatos, adaptando-os com a maximização de 'erros', supostamente do governo.
Quem interpreta os fatos é quem os manda se danar.
O que se percebe é sempre considerado realidade e a percepção depende em muito da versão.] 


Não importam os princípios, importa o que bate diretamente no bolso. Não importam os fatos, importam as versões. Os esquemas da família Bolsonaro, de rachadinhas, funcionários fantasmas e do vício de pagar em dinheiro vivo escola, plano de saúde e até apartamentos não têm efeito na popularidade nem na rejeição do presidente. Diminui daqui, soma dali, o resultado é que Jair Bolsonaro continua sendo o único candidato à Presidência em 2022 e está em ascensão.

Também não interessa o desempenho trágico do presidente no combate ao coronavírus, que até aqui matou perto de 110 mil brasileiros. Como não importam o desmanche do Ministério da Saúde, a disparada das queimadas na Amazônia, o desdém pelo meio ambiente, o abandono da Educação, a exclusão da cultura da pauta nacional e a política externa desastrosa. Sergio Moro, Lava Jato e órgãos de combate à corrupção? Já vão tarde. Quem está interessado nisso? Em Polícia Federal? Coaf? Receita? PGR? Só essa mídia “esquerdista”, “petista”, para desmistificar o “mito”. O “povo” tem mais o que fazer e com o que se preocupar.
[IMPORTANTEa pesquisa tenta forçar uma resposta desfavorável ao presidente Bolsonaro, mas não consegue.
VEJAMOS:
1 - apresenta duas perguntas sobre a responsabilidade do presidente Bolsonaro pelas mortes resultantes da covid-19 - a pergunta tinha que ser apresentada de forma neutra;
2 -  faz outra pergunta tentando atribuir aos governadores a responsabilidade .
CONCLUSÃO: por questionar de forma explícita a responsabilidade de um dos Poderes da União e não questionar a dos outros dois Poderes, a parcialidade, contra o Poder Executivo = presidente BOLSONARO = se torna evidente, indiscutível.
3 - Por uma questão de Justiça deveria constar uma pergunta sobre a responsabilidade do Poder Judiciário e do Poder Legislativo.
Gostem ou não, os dois Poderes praticaram atos que ajudaram e/ou atrapalharam o combate à peste maligna.] 
Igualmente pouco importa se Bolsonaro assassinou as promessas de campanha e voltou à “velha política” e ao Centrão. Os bolsonaristas raiz, de memória curta, continuam fiéis e o número de desgarrados é compensado nas pesquisas por outro tipo de rebanho: o dos que precisam do Estado para sobreviver, até para comer. Para esses, não interessa se Bolsonaro apenas cedeu ao Congresso, mas sim que é ele quem distribui os R$ 600 e o socorro a empresas.

Além desse fator objetivo, que muda a percepção no Nordeste e entre os desempregados e os que ganham até dois salários mínimos, houve também uma guinada estratégica que estancou a sangria na classe média e entre os escolarizados: Bolsonaro parou de prejudicar Bolsonaro. [esta é uma das poucas versões que combina com os fatos.] Pôs de lado a metralhadora giratória contra tudo e todos, saiu das manchetes e reverteu a curva: deixou de cair, passou a subir.

Portanto, a nova pesquisa Datafolha, apurando que Bolsonaro atingiu o melhor índice de aprovação desde a posse – 37% - e reduziu sua rejeição em dez pontos porcentuais – para 34% - pode ter definido dois jogos internos no governo: a favor de estourar o teto de gastos para vitaminar a campanha do presidente e, portanto, contra Paulo Guedes.

Se Rogério Marinho, Tarcísio de Freitas e o time militar têm o Datafolha para convencer Bolsonaro de que gastança garante reeleição, o que Guedes tem para contrapor? Um crescimento econômico pífio em 2019, antes da pandemia, e... mais nada. Ah! Mas foi o presidente quem atrapalhou a reforma tributária e vetou a administrativa! Ok, é verdade. Mas quem quer saber da verdade, se a versão bolsonarista é que importa?

Moro foi dormir ídolo e acordou Judas, [qualquer traidor ganha o codinome Judas, e o ex-juiz e ex-ministro não seria a exceção.]Luiz Henrique Mandetta era um poço de popularidade e secou, [o ex-ministro médico, traiu os dois lados:
 - o presidente da República nos comícios, que chamavas de entrevistas, quando era contra o seu chefe - criticar o presidente era a regra;
- traiu os seus admiradores quando pregava o isolamento social e se despediu de servidores sem máscara, sem nada do que diz wser essencial para combater a pandemia.]  o general Santos Cruz era líder e virou uma ilha entre militares. Guedes pode ir se preparando. Os “gabinetes do ódio” (no plural) não atuam só contra críticos e esquerdistas, mas para apagar a verdade e massificar versões e fake news. As pesquisas depois colhem o resultado. Descobrem, por exemplo, que Bolsonaro não tem nada a ver com as 106 mil mortes!!! [por favor !!! quem souber de um só ato - unzinho que seja - do presidente Bolsonaro que atrapalhou, prejudicou, o combate ao coronavírus, por favor, nos informe. Que resultou em uma morte que seja. 
Não valem, comentários e opiniões do presidente  que não se transformaram em ações.] Bolsonaro e bolsonaristas vão muito bem. Não se pode dizer o mesmo do Brasil e dos brasileiros. 

Eliane Cantanhêde, colunista - O Estado de S. Paulo