Telefonei para um querido e velho amigo, jurista dos bons. A essas credenciais, ele soma invejável talento para analisar política. Eu queria ouvi-lo, depois de ano e meio sem conversarmos. Impressionou-me vivamente o que falou, autorizando-me a reproduzir, como farei abaixo, sintetizando hora e meia de sua dissertação.
Impossível
estimar o número de pessoas que, em virtude disso, deixaram de
comparecer. Mesmo assim, milhões de brasileiros foram às ruas sem que um
vidro sequer fosse quebrado, sem que um carro fosse arranhado, com as
autoridades policiais sendo aplaudidas e com preces sendo dirigidas a
Deus. À vista de todos, a mentira circulou de pernas curtas e de
muletas. Muitas estratégias oposicionistas entraram em colapso naquele
dia. [esqueceram até de mostrar na TV a simulação de panelaços!!!]
Derrotada no dia 7, a mídia amiga da oposição assumiu a publicidade da manifestação pelo impeachment agendada para o dia 12 de setembro. Como nunca se viu antes, fez eco às convocações, listando cidades e locais. Se participar do apoio ao presidente fora um perigo, ir às ruas pelo impeachment seria algo sereno, tranquilo como um entardecer na lagoa.
Só o fracasso foi clamoroso. Tão clamoroso que teve que ser admitido. O impeachment morreu ali. Junto com ele, perderam força quaisquer ações oposicionistas que precisem de apoio popular, ou tragam para a rua, novamente, as cartas perdedoras exibidas no dia 12 do mês passado. "O que vocês têm aí?”. É assim na democracia, não?
É apenas uma análise, mas dela se pode dizer, como Giordano Bruno: “Se non è vero, è molto ben trovato” (se não é verdade, é muito bem achado).
Percival Puggina (76), membro da Academia Rio-Grandense de Letras, é arquiteto, empresário e escritor e titular do site www.puggina.org, colunista de dezenas de jornais e sites no país. Autor de Crônicas contra o totalitarismo; Cuba, a tragédia da utopia; Pombas e Gaviões; A Tomada do Brasil. Integrante do grupo Pensar+.