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segunda-feira, 24 de julho de 2023

Rumores de cassação - Os boatos sobre a minha morte - Sérgio Moro

Gazeta do Povo - VOZES

Mark Twain foi um dos maiores escritores de todos os tempos. Entre suas obras, encontra-se o clássico da literatura norte-americana As aventuras de Huckleberry Finn.  
Twain também é conhecido por ter a sua morte anunciada prematuramente pela imprensa em duas ocasiões, tornando-se um dos recordistas em obituários prematuros.

Na primeira vez, em 1897, enquanto Twain estava em Londres para cobrir a comemoração dos 60 anos do reinado da rainha Vitória, um jornalista do New York Herald foi enviado a sua casa nos Estados Unidos, diante de rumores de que ele estava pobre e gravemente doente, à beira da morte. Twain, em uma entrevista, relatou o episódio, esclareceu que quem estaria doente era um primo dele e, com seu bom humor característico, afirmou que “o relato sobre minha morte é um exagero”.

Em 1907, o New York Times noticiou que Twain poderia ter morrido afogado no mar, após temporária perda de contato com o iate no qual ele viajava. Superado o episódio, Twain concedeu entrevista (“Twain hesita em admitir que está morto”, New York American, 5 de maio de 1907) informando, mais uma vez com o bom espírito característico, que o rumor de que ele teria se perdido era infundado e que ele “honestamente não acreditava que teria se afogado, mas que iniciaria a mais rigorosa investigação para determinar se estava vivo ou morto”. 

Comprometeu-se a informar de imediato a população caso descobrisse que estava morto.

    Nas últimas semanas, pulularam declarações de adversários políticos e mesmo matérias jornalísticas especulativas declarando a morte prematura de meu mandato de senador, antevendo uma cassação pela Justiça Eleitoral

Twain morreria, de ataque cardíaco, apenas em 1910, quando da passagem do cometa Halley pela Terra
No ano anterior, ele havia declarado que veio à vida na anterior passagem do cometa, em 1835, e que partiria com ele, em uma afirmação premonitória, muito melhor do que as referidas barrigadas jornalísticas.

Nas últimas semanas, pulularam declarações de adversários políticos e mesmo matérias jornalísticas especulativas declarando a morte prematura de meu mandato de senador, antevendo uma cassação pela Justiça Eleitoral. Nada de novo sobre a face da terra. No ano passado, durante a campanha, um desses adversários alardeou em comício que “Sergio Moro não será senador”, o que me rendeu muitos votos, dada a rejeição a essa figura, enquanto outro, nas sombras, sabotava a minha candidatura, afirmando que ela seria indeferida pelo Tribunal Regional Eleitoral, inclusive apontando, com convicção absoluta, qual seria o placar. Bem, ganhamos a eleição, eu e meus 1.953.188 eleitores, e a minha candidatura foi deferida por unanimidade de votos tanto no TRE como no TSE.

Não ignoro que a democracia brasileira está fragilizada e que os adversários do atual governo Lula estão sendo perseguidos politicamente
O próprio presidente tem feito declarações absurdas, como a de que não descansaria enquanto “não f* o Moro” ou de que “essa gente tem de ser extirpada”, referindo-se, nessa última ocasião, a pessoas que cometeram excessos em protesto, mas que devem ser punidas na forma da lei e não exterminadas conforme o desejo presidencial
O fato é que, neste momento, passados seis meses de governo, já ficou claro que Lula não é um democrata.  
Sua admiração por ditadores denuncia o que verdadeiramente pensa. Longe de apostar em pacificação, investe na polarização política, repetindo a lógica amigo/inimigo.
 
Neste cenário, é claro que aqueles que se opõem de verdade ao atual governo federal encontram-se em risco, sejam políticos, com ou sem mandato, jornalistas, empresários ou mesmo o cidadão comum. 
A pretensão do governo de regular e censurar as redes sociais é mais um exemplo. Busca-se a conformidade, com a supressão do dissenso; então, propor ações judiciais para cassar mandatos de adversários políticos passa a ser uma ação natural e não uma afronta ao eleitor e à democracia. 
 
Convidei Maria Corina Machado, a líder da oposição democrática na Venezuela, para falar em audiência no Senado Federal a fim de que ela esclareça a situação da ditadura de Maduro. 
 Lutar pela democracia na América Latina, além de ser um dever moral, joga luzes no que pode acontecer aqui se persistirmos com a naturalização da censura e perseguição política no Brasil. 
A Venezuela também pode ser aqui, embora pareça no momento algo distante.
 
Continuarei a fazer oposição ao governo Lula e a denunciar a escalada autoritária. Tenho confiança não só na correção da Lava Jato como na retidão da campanha eleitoral. 
Não antecipo resultados da Justiça Eleitoral porque seria ofensivo aos magistrados e eu, ao contrário de meus adversários, respeito a instituição. Mas, repetindo Twain, não acredito honestamente que meu mandato já tenha sido cassado, mas prometo fazer uma investigação rigorosa e comunicar de imediato ao público se me descobrir morto. 
Ao contrário de Twain, não posso prometer ficar até a próxima passagem do Halley (2061) e certamente estarei longe da política até então, mas pretendo, nos oito anos de meu mandato, honrar os votos que recebi dos eleitores paranaenses e persistir lutando pela democracia e contra a corrupção e fazendo oposição a esse desastroso governo Lula, o que é quase a mesma coisa.

Conteúdo editado por: Marcio Antonio Campos

Sergio Moro, senador da República,coluna na Gazeta do Povo - VOZES

 

quinta-feira, 4 de junho de 2020

QUEM SABE LEVAMOS ESTE PAÍS A SÉRIO? - Percival Puggina

Instalou-se no Brasil um estresse político que, mantido, conduzirá a um final infeliz. Ou seja, a tensão está aumentando e arrastando a nação a um estágio cada vez mais crítico. Não haverá solução boa pelo caminho das picuinhas e da crescente violência verbal e comportamental.

O quadro é alarmante. Chega-se ao fim de cada dia abastecido de notícias que amplificam os sentimentos de pânico, medo, revolta, e de uma raiva que arde no peito e clama pelo mau lenitivo chamado... vingança. Na política, passada a régua nessa conta, comprou-se por cem um estresse que talvez não valesse vinte. De outro lado, epidemia de temores é abastecida com dose diária de notícias alarmantes em que recordes são batidos e barreiras ultrapassadas, como se estivéssemos numa olimpíada funesta do obituário internacional.

O povo, que tanto agita os fantasmas mentais de alguns senhores da Suprema Corte, não tem culpa alguma na instabilidade política do país. O povo, o soberano povo, é vítima
É dele o desemprego, o prato magro do pouco alimento, o teto perdido, o lazer impossível, o beco sem saída, a esperança perdida, os longos dias vazios e as ainda maiores noites de insônia. Todos esses apertos passam longe, bem longe dos que exibem a musculatura do respectivo poder enquanto se encaram com aquele olhar gentil com que os boxeadores esquentam hormônios para a luta.

Muitos titulares de poder de Estado talvez se sentissem melhor se o povo se recolhesse em isolamento sanitário horizontal, em isolamento político vertical e num lockdown acústico de onde sequer suas vozes fossem ouvidas. No entanto, as manifestações populares estão salvando a democracia enquanto os poderes se provocam, rixam, e disputam supremacia onde deveria haver independência e harmonia.

Por longos meses, o governo vitorioso nas urnas buscou escorar-se no povo, com o qual Bolsonaro tem conexão incomum. No entanto, à medida que preservava o estilo e os laços com o povão, indispensáveis para manter suas salvaguardas no tabuleiro da política, ele perdia apoiadores naquela parcela da elite que votou nele, mas nunca o acolheu muito bem. Prefeririam, esses, um conservador estilo britânico, tipo Stanley Baldwin, ou seja, um Bolsonaro gentleman, que nunca existiu. Seu apoio perde vigor entre aqueles que, vendo as dificuldades enfrentadas pelo governo esperam dele uma atitude impossível. A atitude possível, perfeitamente possível, é dar o primeiro passo no rumo certo.

Muitas vezes, ao longo dos anos, ouvi dizer que “o Brasil é maior do que a crise”, e tem sido. No entanto, se mais estável, com instituições melhores, seria um país melhor para seus filhos. Este é o país de Bonifácio, de Nabuco, de Caxias, de Pedro II, de Mauá. Não será derrotado num conflito de picuinhas! As urnas falaram alto em 2018 e exigem respeito, principalmente daqueles, tão poderosos e arrogantes, que a ninguém julgam dever respeito. Zele Deus por esta sua nação.

Percival Puggina (75), membro da Academia Rio-Grandense de Letras, é arquiteto, empresário e escritor e titular do site www.puggina.org, colunista de dezenas de jornais e sites no país. Autor de Crônicas contra o totalitarismo; Cuba, a tragédia da utopia; Pombas e Gaviões; A Tomada do Brasil. Integrante do grupo Pensar+.