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terça-feira, 21 de março de 2023

A política do medo - Revista Oeste

 Gabriel de Arruda Castro

O vazamento de mais de 100 mil mensagens de WhatsApp enviadas pelo então secretário da Saúde britânico mostra como o governo manipulou a opinião pública durante a pandemia 

Regent Street, Londres, durante o último bloqueio nacional de coronavírus | Foto: Montagem Revista Oeste/Shutterstock

Regent Street, Londres, durante o último bloqueio nacional de coronavírus -  Foto: Montagem Revista Oeste/Shutterstock  

O governo britânico adotou medidas duras sob o pretexto de combater a propagação da covid-19: trancou seus cidadãos em casa, impediu as pessoas de viajarem (dentro ou fora do país), fechou escolas e adiou cirurgias, mesmo em casos mais graves. 
O resultado não foi dos melhores: os dados mais recentes da Universidade Johns Hopkins, que se tornou referência na coleta de informações sobre a pandemia, mostram que o Reino Unido teve 325 mortes por 100 mil habitantes número praticamente idêntico ao do Brasil. A Suécia, que se recusou a implementar lockdowns, teve 235 mortes por 100 mil habitantes. Pior: por trás de afirmações assertivas sobre a necessidade de restrições às liberdades individuais, o que existia eram autoridades relutantes e desinformadas. Na melhor das hipóteses.

O The Telegraph, um dos mais importantes jornais britânicos, obteve mais de 100 mil mensagens de WhatsApp trocadas durante a pandemia entre o então secretário (equivalente a ministro) da Saúde britânico, Matt Hancock, e outras autoridades do Executivo. [os segredos sujos da pandemia - saiba mais, clicando aqui .] O material mostra, com detalhes, como o governo tentou manipular a opinião pública.

Casa do Parlamento e a Ponte Westminster, vazias, em Londres,
durante o lockdown | Foto: Shutterstock/Marton Kerek
Alerta sobre lockdowns
No fim de outubro de 2020, quando o governo do Reino Unido anunciou o segundo lockdown nacional, com a justificativa de parar a transmissão da covid-19, as autoridades sabiam dos efeitos negativos da medida. Um dos principais assessores do então primeiro-ministro, Boris Johnson, foi explícito: a restrição de circulação traria malefícios, e o assunto deveria ser tratado de forma aberta com a população.

“Acho que precisamos ser brutalmente honestos com as pessoas. Os lockdowns completos otimizam nossa sociedade/economia para lidar com a taxa de transmissão da covid — mas são terríveis para outros resultados (saúde não relacionada à covid, empregos, educação, coesão social, saúde mental etc.)”, escreveu Simon Case, em um grupo de WhatsApp que incluía Hancock e outras autoridades da Saúde. Mas o alerta não foi levado em conta.

Seis meses depois, a chefia do NHS (equivalente ao SUS brasileiro) detectou um crescimento na mortalidade de jovens e crianças, com “desordens mentais severas ou complexas”. O número total de crianças e adolescentes com esses distúrbios também havia aumentado. “Nós temos tido muito mais crianças e jovens no T4 do que antes da pandemia”, escreveu Nadine Dorries, uma das principais autoridades de Saúde à época. T4 é o código para os casos mais graves de transtornos mentais. A causa do problema, na visão de Nadine, era o lockdown.

O ministro temia que o noticiário sobre o Brexit tirasse a atenção da pandemia e enfraquecesse a tática do medo. Ele então indaga quando deveria “empregar a nova variante”

Os arquivos mostram ainda outras falhas imperdoáveis — como a falta de cuidado especial com os asilos, que concentraram mais de um quarto de todas as mortes na Inglaterra. 
Por causa da concentração de idosos em um mesmo espaço físico, era óbvio que essa população deveria ter um cuidado especial. 
Mas, nos primeiros meses da pandemia, o NHS orientou hospitais a darem alta para esses pacientes da forma mais rápida possível. 
Em muitos casos, os idosos nem chegaram a ser submetidos a testes de covid. Com isso, eles foram mandados de volta para os asilos, onde, em muito casos, o vírus se espalhou.

Em abril de 2020, quando recebeu a recomendação para que todos os pacientes oriundos de asilos passassem por testes de covid antes de ser liberados, Hancock se mostrou relutante: para ele, a medida “não acrescentaria nada” e causaria confusão quanto aos procedimentos-padrão. A testagem obrigatória para esse grupo só viria em agosto. No período de quatro meses, entre as mensagens e a mudança nas regras, 17.678 pessoas morreram de covid nos asilos.

Hertfordshire, na Inglaterra. Setembro de 2020 - 
 Foto: Peter Fleming/Shutterstock

O medo como estratégia
Outra revelação das mensagens obtidas pelo The Telegraph é que Hancock tentou usar o medo para manipular a opinião pública britânica. Em junho de 2020, Hancock afirma a um auxiliar que não era “algo ruim” que a imprensa estivesse dando ampla cobertura a uma pesquisa “sombria” da Universidade Cambridge que mostrava uma alta taxa de transmissão do vírus. Na avaliação dele, isto aumentaria a obediência às medidas impostas pelo governo.

Seis meses depois, o surgimento de uma variante da covid-19 foi recebido como uma ferramenta para causar medo na população e elevar o nível de adesão. Hancock diz: “Nós assustamos todo mundo com essa nova cepa” — a versão original é “frighten the pants off”, o que pode ser literalmente traduzido como “assustar a ponto de as calças caírem”.  O interlocutor, outro burocrata da Saúde, responde: “É, é isso que vai trazer a mudança de comportamento adequada”.

O ministro temia que o noticiário sobre o Brexit tirasse a atenção da pandemia e enfraquecesse a tática do medo. Ele então indaga quando deveria “empregar a nova variante”. Ou seja: a divulgação de informações sobre a cepa foi usada de forma estratégica para assustar a população.

Seis dias depois do diálogo, o governo anunciou o terceiro lockdown, que arruinou o Natal de 2020 para milhões de britânicos. As pessoas vivendo na região de Londres e no sudeste da Inglaterra não puderam passar o 25 de dezembro fora da própria casa.

Bloqueio para impedir a propagação da covid-19, 
em Kuala Lumpur, Malásia, 19/04/2020 - 
Foto: Shutterstock/Abdul Razak Latif
Chacota com a quarentena
Enquanto a população era afetada por medidas draconianas, que incluíam o fechamento de escolas e restrições a viagens nacionais e internacionais, as autoridades britânicas faziam chacota. Em fevereiro de 2021, em uma conversa com Hancock, Case pergunta: “Alguma ideia de quantas pessoas nós trancamos em hotéis ontem?”. O ministro responde com ironia: “149 (pessoas) escolheram entrar no país e agora estão em hotéis de quarentena graças ao seu próprio livre-arbítrio!”. Case responde: “Hilário”.

Em fevereiro de 2021, Case também debocha de passageiros submetidos a quarentenas obrigatórias: “Eu só quero ver alguns dos rostos das pessoas saindo da primeira classe e entrando em uma caixa de sapatos de luxo”.

No mês seguinte, Hancock compartilha uma reportagem dizendo que um casal foi multado em £ 10 mil, por uma pessoa não ter feito uma quarentena após ter voltado de Dubai. Desta vez, o destinatário é o próprio primeiro-ministro, Boris Johnson, que responde: “Ótimo”.

Anúncios espalhados na cidade, notificando as pessoas para
 ficarem em casa, sob as restrições de nível 4 da covid, Inglaterra -
 Foto: Yau Ming Low/Shutterstock

Livro censurado
As mensagens obtidas pelo The Telegraph também trazem revelações do que houve depois que Hancock deixou o cargo, em junho de 2021. Já fora do posto, ele começou a trabalhar em um livro sobre a pandemia. Quando o manuscrito estava pronto, ele o enviou ao governo britânico, que pede que obras do tipo sejam enviadas de antemão, para que nenhuma informação confidencial ou comprometedora venha a público.

O agora ex-ministro foi repreendido, depois de questionar o papel da China na origem do vírus. Por pressão do governo, o livro acabou editado em sua versão final. Um dos trechos removidos afirmava que a tese de vazamento laboratorial era a mais plausível para a origem do vírus: “Imagine que houvesse o surgimento de um novo vírus mortal em Wiltshire e nós revelássemos o fato de que o surgimento “apenas por acaso” aconteceu perto de um lugar chamado Port Down. As pessoas ririam de nós até não poder mais”, ele comparava. Port Down é sede do laboratório avançado (e secreto) do Ministério da Defesa Britânico. O trecho é uma referência ao Instituto de Virologia de Wuhan, na China, que fica a poucos quilômetros de onde os primeiros pacientes da covid-19 foram detectados.

Caso emblemático
Para Hélio Angotti, que é doutor em medicina e foi secretário de Ciência, Tecnologia, Inovação e Insumos Estratégicos do Ministério da Saúde durante a gestão de Jair Bolsonaro, o caso do Reino Unido é emblemático. “Não digo em específico que o ministro da Saúde do Reino Unido tenha ambicionado prejudicar alguém, mas provavelmente acabou servindo aos interesses de quem não se importava nem um pouco com o bem do próximo. E, de fato, a mentira nunca será uma boa opção ao lidar com crises de saúde pública”, diz.

Se isso aconteceu no Reino Unido, um país de longa tradição democrática e que se orgulha do profissionalismo do seu serviço público, não é difícil imaginar como outros governos acobertaram informações sobre a pandemia.

O também médico Raphael Câmara, que foi de Atenção Primária à Saúde no Ministério da Saúde, não tem dúvidas de que, se as mensagens privadas de outros governantes durante a pandemia viessem a público, o conteúdo seria semelhante. “A pandemia foi muito politizada, e ficou automático que a esquerda era a favor dos lockdowns, e a direita era contra. Com isso, não se conseguia fazer um debate científico sério”, ele diz, antes de complementar: “Como a maior parte dos influenciadores de saúde e da imprensa são de esquerda, tomou-se isso (a defesa dos lockdowns) como verdade absoluta”, afirma.

Para Angotti, a lição dos desmandos da pandemia é a necessidade de mais vigilância sobre o que fazem os governos em nome de abstrações como “saúde pública”: “Misturar politicagem barata com saúde e ciência é uma péssima ideia, que pode terminar muitas vezes custando caro em vidas humanas”.

Leia também “A vitória da Prevent Senior”

 

Gabriel de Arruda Castro, colunista - Revista Oeste


quinta-feira, 2 de março de 2023

Literatura infantil“A Fantástica Fábrica de Chocolate” é submetido a censura por recomendação de “leitores sensíveis” - Gazeta do Povo

Ideias

A Fantástica Fábrica de Censura - Censura a Roald Dahl

Puffin Books, editora original do famoso livro infantil, alterou o conteúdo das obras do escritor já falecido por orientação de “leitores sensíveis”.| Foto: Reprodução/Martins Fontes

Roald Dahl, britânico autor de “A Fantástica Fábrica de Chocolate”, falecido aos 74 anos em 1990, está tendo seu texto submetido pela editora à interferência póstuma por causa de críticas de “leitores sensíveis” profissionais — que querem alterações que muitos chamariam de politicamente corretas. 
A Puffin Books, selo editorial da gigante Penguin para títulos infantis, fundado em 1940, publicou uma nota discreta em sua página de copyright declarando que seus livros “foram escritos há muitos anos, portanto, nós fazemos revisão regular da linguagem para assegurar que continuem a ser desfrutados por todos hoje”. 
O autor já vendeu mais de 250 milhões de cópias de suas obras no mundo.

Seis outros livros do autor foram afetados pela edição “sensível” além de “A Fantástica Fábrica”, livro publicado originalmente em 1964, com primeira adaptação em filme de 1971 e edições diferentes em português — a reportagem usou a tradução de 2016, da Martins Fontes. O jornal britânico The Telegraph encontrou a nota e publicou uma investigação preliminar das mudanças na última segunda-feira (20). “A linguagem relacionada ao peso, saúde mental, violência, gênero e raça foi cortada e reescrita”, resumiu o jornal. Uma das mais importantes foi no livro “Matilda”(1988): uma menção a outro autor infantil britânico, Rudyard Kipling, uma clara homenagem de Dahl, foi cortada e substituída pela respeitada autora Jane Austen, em nome da diversidade de gênero.

Entre outras mudanças, Augusto Glupe, menino gordo que cai em um rio de chocolate da fábrica porque “só ouvia a voz do seu enorme estômago” e se debruçara na grama “lambendo o chocolate como se fosse um cachorro”, não pode mais ser chamado de “gordo como um balão inflado, tinha o corpo cheio de dobras de banha e seu rosto era uma bola de massa com dois olhinhos espremidos”, como diz a edição original. Agora, em vez de gordo, Augusto é apenas “enorme”. Outra personagem, Violeta Chataclete, que os umpa-lumpas, funcionários da fábrica, chamam em canção de “irritante, feia e nojenta” por mascar chiclete o tempo todo, na nova edição não é chamada de “feia” mais.

O livro “As Bruxas” (1983), que virou filme com Anjelica Huston em 1990 e com Anne Hathaway em 2020, também sofreu alterações. “Grande rebanho de damas” virou “grande grupo de damas”. “Você deve estar louca, mulher!” virou “Você deve ter perdido a cabeça!”. Na edição de 2001, o narrador explica que “Uma bruxa é sempre uma mulher. Não quero falar mal das mulheres. A maioria delas é amável. Mas fato é que todas as bruxas são mulheres. Não existe bruxo homem”. Toda a ressalva a favor das mulheres foi cortada e substituída por “Uma bruxa é sempre mulher. Não existe bruxo homem”.

Quando um menino é transformado em rato pelas bruxas, mais uma vez cortaram o adjetivo “gordo” — e também uma fala dizendo que ele precisa de dieta. Uma descrição da aparência grotesca das bruxas foi completamente eliminada: “Simplesmente não consigo contar o quão horrendas elas eram, de alguma forma a visão era ainda mais grotesca porque por baixo daquelas carecas cheias de feridas os corpos estavam vestidos com roupas da moda e bonitas. Era monstruoso. Era anormal”. O jornal britânico encontrou 59 dessas mudanças na obra.

Em “Matilda”, a censura não gostou que um personagem ficava branco de susto, e trocou por pálido. Também cortou a comparação do rosto de uma mulher ao de um cavalo. Em “James e o Pêssego Gigante” (1961), os “homens das nuvens” tornaram-se “pessoas das nuvens”, a cabeça da Senhorita Aranha não é mais descrita como “preta” a pele de uma minhoca não é mais “de uma linda cor de rosa”, mas “lindamente lisa”. Ao todo, são centenas de mudanças na obra completa.

Os “leitores sensíveis” são de uma organização chamada Inclusive Minds (“mentes inclusivas”), que se descreve como “um coletivo para pessoas que são apaixonadas pela inclusão, diversidade, igualdade e acessibilidade na literatura infantil e estão comprometidas com mudar a cara dos livros infantis”.

Não é a primeira vez que o politicamente correto, especialmente motivado por novas crenças dos movimentos identitários, interfere na publicação de livros.

Como alertou a Gazeta do Povo, trata-se de uma nova onda de censura e já há alvos equivalentes brasileiros, como a obra de Monteiro Lobato.
 

Reações
O escritor Salman Rushdie, ativista da liberdade de expressão que recentemente perdeu a visão de um olho após ser atacado a facadas por um fundamentalista islâmico, condenou a interferência editorial da Puffin: “Roald Dahl não era um anjo, mas isso é uma censura absurda”, tuitou o autor. “A Puffin Books e os administradores do legado de Dahl deveriam ter vergonha”.

(...)

Roald Dahl também foi piloto da aeronáutica britânica durante a Segunda Guerra Mundial. Suas histórias, lembrou o Telegraph, são marcadas por um humor negro apropriado para crianças e reviravoltas surpreendentes, com doses de Schadenfreude (o prazer em ver alguém se dar mal) contra personagens por seu mau comportamento dar em maus resultados.

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Gazeta do Povo - Ideias


sexta-feira, 25 de fevereiro de 2022

“Regular a imprensa”: como a ideia de Lula é vista por Bolsonaro, Moro e Doria

Leonardo Desideri

Liberdade de expressão

A intenção de regular os meios de comunicação em um eventual retorno à Presidência da República em 2023 vem sendo repetida de forma obstinada por Luiz Inácio Lula da Silva (PT) em declarações nos últimos meses. Em entrevista no último dia 9 à Rádio Clube, de Pernambuco, o ex-presidente voltou ao tema, o que suscitou discussões sobre os riscos para a liberdade de imprensa no Brasil em caso de um novo mandato de Lula.

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“Você não pode deixar a internet do jeito que está. Você não pode deixar a internet virar uma fábrica de mentiras, uma fábrica de fake news, uma fábrica de provocações”, disse o político que já foi preso. Ele definiu seu projeto de regulamentação da mídia de forma vaga e disse apenas que é necessário “estabelecer determinadas regras de civilidade nos meios de comunicação”. “É preciso que haja regulamentação na imprensa. Você não pode regulamentar a imprensa escrita, mas você tem internet para regular, tem o sistema de televisão”, afirmou.

O ex-juiz Sergio Moro (Podemos), pré-candidato à Presidência, criticou as falas do petista por meio do Twitter. “Lula quer controlar o conteúdo de TV e internet e de forma dissimulada chama isso de ‘democratização’. Isso é coisa de regimes autoritários. Liberdade de imprensa é pilar da democracia e é INEGOCIÁVEL”, disse Moro.

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O governador de São Paulo, João Doria (PSDB), também se manifestou contra Lula. “Liberdade de imprensa é um princípio básico da democracia. Regular imprensa significa censurar a imprensa. Seja da direita ou da esquerda, quem flerta com a censura, compactua com o autoritarismo e com a ditadura. Um atraso para o Brasil e uma afronta à liberdade do país”, afirmou Doria.

As suspeitas de flerte com o autoritarismo não são exageradas. Lula nunca escondeu sua simpatia pelo chavismo, que tem um histórico de graves violações à liberdade de imprensa na Venezuela. Em 2017, a ditadura comandada por Nicolás Maduro aprovou a “Ley contra el Odio, por la Convivencia Pacífica y la Tolerancia” (Lei contra o Ódio, pela Convivência Pacífica e a Tolerância), que surgiu de uma alegada necessidade de coibir o “discurso de ódio” na internet, mas é usada, na prática, para calar a oposição.

Por outro lado, defender a necessidade de regulamentar a atuação de meios de comunicação não é necessariamente uma pauta da extrema-esquerda. Nos Estados Unidos e em algumas nações da Europa, a regulação dos meios de comunicação por agências que atuam de forma independente - mas pertencem ao governo - já existe. No Reino Unido, por exemplo, o Office of Communications (Ofcom), instituído em 2003, é a autoridade que regula televisão, rádio, telecomunicação e outros serviços. Uma de suas funções é proteger o público de conteúdos ofensivos. Nos EUA, um papel parecido cabe à Federal Communications Commission (FCC), instituída em 1934.

No Brasil, em 2009, o Supremo Tribunal Federal (STF) revogou a lei de imprensa do período militar, o que, na opinião de alguns juristas, deixou um vácuo normativo sobre o assunto no país. Desde então, processos relacionados à imprensa são levados à Justiça e analisados somente à luz da Constituição, do Código Civil e do Código Penal. Além disso, não há um órgão cuja função específica seja regular temas relacionados à radiodifusão.

O tema da liberdade de expressão nos meios de comunicação tende a ser, em 2022, um dos focos dos debates na corrida presidencial. As discussões sobre os limites dessa liberdade e sobre as formas de conter dinâmicas nocivas para o convívio social suscitadas pela internet têm ficado cada vez mais acirradas, especialmente com a crescente interferência do Poder Judiciário no assunto. [luladrão, o descondenado petista, está atrasado em sua ideia de censura, afinal,  a imprensa já está sob censura, especialmente, quando operada por apoiadores do presidente Bolsonaro. Exemplos: o ministro Barroso já decretou que as urnas eletrônicas usadas no Brasil - também em Bangladesh e no Butão - são invioláveis.Quem ousar discordar corre o risco de prisão imediata, a pretexto da necessidade de preservar a democracia; o ministro Fachin, tem também o hábito de considerar 'discurso de  ódio' comentários sobre algo que lhe desagrade. Os ministros citados e alguns dos seus pares podem usar além dos 'crimes' citados, a classificação atos antidemocráticos e outros apelidos.]

Uma semana antes da fala de Lula sobre o controle da imprensa, o presidente Jair Bolsonaro (PL) abordou o tema em seu discurso na sessão solene de abertura dos trabalhos do Congresso em 2022. A declaração pareceu dirigida de forma indireta ao petista.

“Reafirmo, meus senhores: me sinto hoje parlamentar aqui, também. Não deixemos que qualquer um de nós, quem quer que seja que esteja no Planalto, ouse regular a mídia. Não interessa por quê, com qual intenção e objetivo. A nossa liberdade, a liberdade de imprensa, garantida em nossa Constituição, não pode ser violada ou arranhada por quem quer que seja neste país", afirmou.

Em setembro do ano passado, Bolsonaro já tinha feito uma declaração no mesmo sentido, após uma fala semelhante de Lula. “A nossa liberdade de imprensa, com todos os seus defeitos, tem que persistir. No que depender de nós, jamais teremos quaisquer medidas visando censurá-los. É melhor falando do que calado”, disse o presidente.

Durante seu governo, Bolsonaro entrou em diversos conflitos com jornalistas, ameaçou cortes de publicidade e chegou a insinuar que a concessão pública da Rede Globo poderia não ser renovada em outubro de 2022. Até agora, no entanto, as diferenças do presidente com a imprensa não saíram da retórica.

Em setembro de 2021, Bolsonaro editou uma Medida Provisória para alterar o Marco Civil da Internet. O objetivo era dar uma solução legislativa para o problema da liberdade de expressão nas redes sociais no Brasil. O seu principal alvo era a moderação injustificada de conteúdos e de contas em redes sociais. A MP exigia “acesso a informações claras, públicas e objetivas” sobre qualquer tipo de moderação de conteúdo feita por redes sociais. As redes deveriam explicar “os critérios e os procedimentos utilizados para a decisão humana ou automatizada” para suas decisões, exceto em casos que envolvessem segredos comerciais ou industriais.

O documento também pedia “contraditório, ampla defesa e recurso” diante de qualquer tipo de moderação de conteúdo nas redes sociais, que precisariam disponibilizar um canal específico para que as pessoas que tivessem seus conteúdos removidos pudessem se manifestar.

A MP foi criticada por diversos setores da sociedade por não tratar a fundo o problema da veiculação de informações falsas, e acabou sendo devolvida pelo Congresso. Depois, tornou-se um projeto de lei, mas está com a tramitação parada.

Nos últimos meses, em diversas entrevistas e declarações, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva falou sobre seu desejo de regular os meios de comunicação no Brasil em caso de um eventual novo mandato na Presidência da República a partir de 2023.

Em agosto do ano passado, ele afirmou a uma rádio da Bahia: “Estou ouvindo muito desaforo, leio muito a imprensa. Tem alguns setores da imprensa que não querem que eu volte a ser candidato. Porque, se eu voltar, vou regular os meios de comunicação deste país”.

Lula afirmou em um discurso da mesma época que era preciso aprovar de forma urgente a regulamentação da comunicação no Brasil. Na ocasião, ele chegou a citar a mídia da Venezuela que, segundo ele, “destruiu” Hugo Chávez, a exemplo do que a imprensa brasileira teria feito com ele próprio.

No campo da comunicação, o homem de confiança de Lula é o jornalista Franklin Martins, ex-ministro-chefe da Secretaria de Comunicação Social de seu governo. A principal proposta de Martins é criar um Conselho Nacional de Comunicação, com composição representativa dos poderes públicos e de setores da sociedade civil, para estabelecer normas e políticas públicas do setor da comunicação. A criação de conselhos é comum em democracias, mas o aparelhamento desse tipo de órgão sempre foi uma marca da gestação de ditaduras socialistas. No caso do Brasil atual, um dos riscos relacionados a um órgão do tipo para o controle da comunicação seria o de eles acabarem capturados por ONGs de caráter progressista, que costumam se perpetuar em assentos destinados à sociedade civil em conselhos dessa espécie.

O modelo de controle de imprensa que costuma ser mais citado como inspiração pelo PT é o britânico. A regulação da imprensa do Reino Unido é exercida por um órgão chamado Ofcom — abreviação de Office of Communications —, estabelecido em 2002 para controlar as indústrias de radiodifusão e de telecomunicações e os correios do Reino Unido.

A atribuição legal do Ofcom é representar os interesses dos cidadãos britânicos perante os meios de comunicação e proteger o público de conteúdos nocivos ou ofensivos. Historicamente, desde sua criação, a necessidade de existência do órgão nunca chegou a ser contestada no Reino Unido de forma expressiva, mas algumas de suas decisões causam polêmica.

No começo de 2021, por exemplo, o Ofcom passou a fiscalizar a presença de discurso de ódio em meios de comunicação. “Discurso de ódio” é definido pelo órgão como “toda forma de expressão que espalha, incita, promove ou justifica o ódio com base na intolerância a deficiências, etnia, origem social, sexo, gênero, mudança de gênero, nacionalidade, raça, religião ou crença, orientação sexual, cor, características genéticas, idioma, opinião política ou qualquer outra opinião, pertença a uma minoria nacional, propriedade, nascimento ou idade”.

Crítico da atuação do Ofcom
, o jurista britânico Andrew Tettenborn observou, em artigo de 2021 publicado no site The Critic, que o Ofcom é uma ameaça à liberdade de expressão no Reino Unido, citando vários casos em que sua atuação poderia estar extrapolando a sua missão original.

“Em maio deste ano, o Ofcom interveio com força para sancionar as emissoras por veicular assuntos que supostamente se oporiam ao consenso científico e reduziriam a confiança popular nas tentativas do governo de lidar com a Covid-19. (…) Além da regulamentação direta, nos últimos três anos ou mais, o Ofcom tem aproveitado a ampla função estatutária que lhe foi confiada para promover a igualdade de oportunidades em relação a raça e sexo, impondo exigentes cotas às emissoras sob ameaça de encerramento e até mesmo retirada da licença caso não se conformem às diretrizes”, escreveu Tettenborn.
Moro é contrário à ideia de controle da imprensa, mas já foi favorável à “prisão de radicais” no inquérito dos atos antidemocráticos

Tanto Doria quanto Moro já manifestaram posicionamentos contrários à ideia de regular a imprensa proposta por Lula, e nunca falaram em projetos de regulamentação da comunicação no Brasil. Ambos também já criticaram Bolsonaro por seus conflitos com jornalistas.

Em seu discurso de filiação ao Podemos, em novembro de 2021, Moro fez uma declaração que pareceu direcionada tanto a Lula como a Bolsonaro: “Chega de ofender ou intimidar jornalistas. Os jornalistas são essenciais para o bom funcionamento da democracia e agem como vigilantes de malfeitos dos detentores de poder. A liberdade de imprensa deve ser ampla. Jamais iremos estimular agressões. Jamais iremos propor controle sobre a imprensa – social ou qualquer que seja o nome com que se queira disfarçar censura ou controle de conteúdo”, afirmou.

Apesar da defesa da liberdade de expressão, Moro já se manifestou favorável à prisão de investigados do inquérito dos atos antidemocráticos, em junho de 2020. “A prisão de radicais que, a pretexto de criticar o STF, ameaçam explicitamente a instituição e seus ministros, é correta. A liberdade de expressão protege opiniões, mas não ameaças e crimes. O debate público pode ser veemente, mas não criminoso”, disse ele à época.[esqueçam o Moro como candidato a presidente; pensem, no ex-juiz e mais uma dezenas de ex-alguma coisa, como candidato a uma vaga de deputado, sem preocupação do Moro em defender os interesses do povo, seu objetivo será o de conseguir foro privilegiado - que acompanha o mandato parlamentar.]
 
Leonardo Desideri, colunista - Gazeta do Povo

quinta-feira, 23 de setembro de 2021

Geniais no fracasso - Revista Oeste

Theodore Dalrymple

Existem jornalistas que são excelentes guias para o mundo, contanto que você acredite exatamente no contrário do que escrevem
 
Existem pessoas que são geniais no fracasso. Conheço algumas cuja habilidade de perder dinheiro em um mercado em alta não se equilibra pela habilidade de ganhar dinheiro em um mercado em baixa: elas só perdiam dinheiro em todas as circunstâncias. Essas pessoas não tinham déficit de inteligência nem mesmo de informação; na verdade, pareciam ter uma vontade de fracassar, como se o sucesso fosse um tanto vulgar. Como seres humanos, não eram pessoas não atraentes.

Sugeri que um deles escrevesse uma newsletter financeira, colocando a ressalva de que os leitores deveriam fazer exatamente o oposto do que quer que fosse recomendado. Mas é provável que até mesmo isso tivesse um mau resultado, porque, assim que todo mundo fizesse o oposto dos conselhos dele, que seriam supostamente ruins, essas recomendações se mostrariam boas e, portanto (diante da ressalva), ruins.

Esse homem fazia os Quatro Cavaleiros do Apocalipse parecerem arautos de boas-novas

Existem jornalistas que são excelentes guias para o mundo, contanto que você acredite exatamente no contrário do que escrevem. Entre eles figura um certo tipo de correspondente estrangeiro britânico que está sempre em busca de algum lugar no qual projetar seus sonhos permanentemente utópicos e adolescentes. Com frequência, são figuras de classe alta, talvez envergonhados das próprias origens privilegiadas, pelas quais buscam se redimir apoiando revoluções em outras partes.

Entre eles, por exemplo, estava um homem chamado Basil Davidson, que tinha uma espécie de genialidade para elogiar ditadores que se deleitavam, ou estavam prestes a se deleitar, com o genocídio, a fome em larga escala ou com a fuga de boa parte da população. Ele elogiou Tito enquanto o ditador consolidava seu poder por meio de um massacre. Elogiou a China comunista pouco antes do Grande Salto para a Frente, que causou uma das piores crises de fome da história da humanidade. E, talvez o mais bizarro, viu na revolução da Guiné-Bissau a esperança de um mundo melhor. Esse homem fazia os Quatro Cavaleiros do Apocalipse parecerem arautos de boas-novas.

Outra figura como essa foi Richard Gott, um especialista em América Latina, editor literário do jornal de esquerda-liberal The Guardian, que nunca conheceu um movimento literário latino-americano que ele não aprovasse, incluindo o Sendero Luminoso, que era claramente marxista com tendência a Pol Pot. Ele escreveu que o Sendero Luminoso não ia tomar o poder, ia simplesmente assumir o poder quando o Estado peruano entrasse em colapso, e claramente achava que isso seria uma coisa boa. A essa altura, ele estudava os movimentos de guerrilha latino-americanos fazia 30 anos, provando que a esperança nunca deixa de brotar no peito de um ideólogo.

Um dos livros do senhor Gott me faz sorrir, não porque o autor fosse intencionalmente um humorista (apoiadores de revoluções raramente o são), mas por causa de seu título maravilhosamente absurdo. O livro se chama In the Shadow of the Liberator: Hugo Chávez and the Transformation of Venezuela (Na Sombra do Libertador: Hugo Chávez e a Transformação da Venezuela, em tradução livre). Foi publicado em 2000.

Não se pode negar que Hugo Chávez de fato transformou a Venezuela. Ele instituiu os tipos de política que, se tivessem sido adotadas no Oceano Pacífico, mais cedo ou mais teriam causado uma escassez de água salgada. Não é exatamente um segredo que a antiga elite política da Venezuela era ruim, mas não é preciso ser Nostradamus para prever que Chávez seria muito pior. Na verdade, era preciso ser um especialista como Richard Gott para não prever isso.

O que me traz ao Afeganistão. Minha breve jornada por lá tem mais de 50 anos. Naquela época, eu não passava de um jovem imaturo que sabia pouco ou nada de história. Mas até mesmo eu podia ver que o Afeganistão — um país de paisagens magníficas e selvagens, e homens magníficos e selvagens — não era exatamente um bom candidato para a democracia parlamentar ocidental. Os obstáculos para isso eram óbvios e numerosos; e quando certos representantes americanos demonstraram surpresa que o regime e seu Exército, fartamente munido de tecnologia militar, tivesse entrado em colapso tão rápido diante de um pequeno exército de fanáticos barbudos, só consegui ficar impressionado com sua falta de realismo.

Os Jogos Olímpicos de 1980 foram realizados em Moscou antes que tivesse havido qualquer melhora real nas relações entre Oriente e Ocidente. Na época, a ortodoxia entre os especialistas era que a União Soviética duraria para sempre, o que significa um século ou dois. Apenas um pequeno número de observadores — entre os quais estavam Andrei Amalrik e Olivier Todd — não acreditava nisso. A maior parte dos especialistas achava que a União Soviética estava no auge de seu poder, com muitos Estados-satélite pelo mundo, em vez de estar em vias do declínio.

Um jornalista esportivo britânico que não era conhecido por suas sofisticadas análises dos eventos mundiais, que não sabia nada sobre a União Soviética e nunca soube nada, deu uma olhada no Aeroporto de Moscou e afirmou: “Isso não pode continuar”. Olhar para o Aeroporto de Moscou foi o suficiente para que ele constatasse que toda a estrutura da União Soviética devia estar economicamente podre. O país estava tentando se exibir, mas não conseguia nem erigir um vilarejo de Potemkin. O jornalista esportivo enxergou algo em poucos segundos que departamentos universitários inteiros não entenderam depois de décadas de estudo.

Não estou sugerindo que o conhecimento detalhado de outro país (ou, na verdade, de qualquer outra coisa) não valha nada, que tudo o que alguém precisa fazer para entender o mundo é olhar em volta por alguns minutos e tirar conclusões sobre problemas complexos. O que estou dizendo na verdade é que é possível alguém, ou um grupo de pessoas, estudar algo por muitos anos e continuar sendo totalmente irrealista sobre isso, enxergar os detalhes sem o mais óbvio padrão para os detalhes. Na verdade, grupos de especialistas podem estar tão grosseiramente errados quanto indivíduos mal informados. Eles se confirmam em seus erros e têm medo de fugir à regra em relação aos colegas.

O ingrediente que falta é o bom senso. Descartes nos diz, ironicamente, claro, que o bom senso é tão amplamente distribuído que ninguém acha que precisa ter mais. 
Como aumentar o bom senso no mundo? 
Existem especialistas no assunto? [por favor,     SEM especialistas; 
os tempos da Covid-19, mostraram que indivíduos, que  nada sabiam, e continuam sem saber, sobre determinado assunto, se apresentavam como especialistas,  prontos a dizer exatamente o que um órgão integrante da mídia militante desejava divulgar; pronto, estava expelido mais um ESPECIALISTA EM NADA.]

Leia também “A verdade no abstrato”

Theodore Dalrymple - Revista Oeste 

 

segunda-feira, 9 de agosto de 2021

Presidente da COP 26 reconhece práticas sustentáveis do agro brasileiro e Brasil recordista em energia renovável

Durante visita a Embrapa Cerrados, o britânico pediu que o Brasil divulgue o sistema Integração Lavoura-Pecuária-Floresta para o mundo 

Em vídeo publicado no Twitter, Alok Sharma, presidente da Conferência das Nações Unidas para Mudanças Climáticas (COP 26), disse que a tecnologia dos sistemas de Integração Lavoura-Pecuária-Floresta aplicados no Brasil é o tipo de inovação que o mundo precisa. Estou falando aqui da Embrapa Cerrados, nos arredores de Brasília, onde tecnologias inovadoras e de baixo carbono estão ajudando a aumentar a produtividade agrícola brasileira ao evitar o desmatamento prejudicial e criando empregos verdes para os brasileiros”, afirma.

Leia mais: “Tereza Cristina: ‘Agropecuária brasileira é solução para desafios da produção sustentável’”

Durante visita ao centro de pesquisas, Sharma esteve acompanhado por Peter Wilson, embaixador do Reino Unido; por Fernando Camargo, secretário de Desenvolvimento Rural e Inovação do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa); por Celso Moretti, presidente da Embrapa; e por Sebastião Pedro da Silva Neto, chefe-geral da Embrapa Cerrados.

O britânico, que irá presidir a Cop 26 em outubro e novembro deste ano em Glasgow, na Escócia, também pediu “ao Brasil que apresente este trabalho pioneiro e traga outros países para esta jornada”. A fala reconhece as ações realizadas pela agropecuária brasileira e a estratégia do governo federal, por meio do Mapa, para divulgar as técnicas de produção de baixa emissão de carbono do país.

Brasil atinge dezena de recordes na produção de energia renovável
Pela primeira vez, força gerada pelos ventos foi capaz de abastecer 102% da Região Nordeste durante 24 horas. O Brasil bateu dez recordes de produção de energia de fontes renováveis na Região Nordeste no último mês. Os dados foram divulgados nesta segunda-feira, 9, pelo Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS). Foram quatro recordes de geração eólica média e quatro de geração instantânea, além de dois recordes de energia solar.

Leia mais: “Termoelétricas de biomassa podem fazer ofertas adicionais de energia”

O Ministério de Minas e Energia destacou o índice registrado em 22 de julho, quando, pela primeira vez, a força gerada pelos ventos foi capaz de abastecer 102% da Região Nordeste durante 24 horas. Só naquele dia foram produzidos mais de 11 mil megawatts médios de energia eólica. De acordo com o ONS, esse tipo de energia hoje representa 10,9% da matriz elétrica brasileira, e a expectativa é que chegue a 13,6% ao fim de 2025.

Já em 30 de julho, foi registrado o novo recorde de geração de energia solar, com o acúmulo de 682 megawatts médios em apenas 24 horas. Essa quantidade corresponde a 5,8% da demanda da Região Nordeste. Atualmente, a energia solar representa 2% da matriz nacional, com expectativa de atingir 2,9% até o fim deste ano.

Com informações da Agência Brasil

 

sexta-feira, 9 de julho de 2021

A guerra do establishment contra a condição da mulher

Intervenção sobre o quadro "O Nascimento de Vênus", de Sandro Botticelli
Intervenção sobre o quadro "O Nascimento de Vênus", de Sandro Botticelli

segunda-feira, 14 de dezembro de 2020

Gilmar Mendes está treinando para ser o pior decano da história do Supremo

Autópsia de uma chicana

No recesso do lar, Gilmar Mendes usa linguagem de gente, diz frases inteligíveis e até encurta palavras. Sua mulher, Guiomar Feitosa, por exemplo, virou simplesmente Guio. Em retribuição, ela passou a chamá-lo de Gil. Além de economizarem duas consoantes e uma vogal, os apelidos têm um som mais carinhoso. Também os trajes caseiros são singelos. O Gilmar doméstico gosta da linha bermudão, camisa de mangas curtas, meias soquete e par de tênis novinho em folha. É esse o combo popularizado pelas fotos que o mostram zanzando por Lisboa, sempre perseguido por algum turista brasileiro com um celular na mão e um cacho de insultos na ponta da língua.

As coisas mudam quando está em ação o ministro do Supremo Tribunal Federal. Terno escuro e gravatas sombrias, óculos de primeiro da classe no grupo escolar, os instintos mais primitivos traduzidos nas caras e bocas desenhadas pelos lábios possantes, o centroavante rompedor do Timão da Toga faz bonito com seu repertório de jogadas repulsivas. Carrinhos por trás, gols de mão, cotoveladas no nariz do adversário, cravos da chuteira pisoteando braços de goleiro, pontapés no tornozelo — é vasto o repertório de lances abjetos assimilados pelo bacharel em Direito nascido em Mato Grosso que ganhou do presidente Fernando Henrique Cardoso uma vaga no STF. Foi a recompensa pelos serviços prestados aos chefes e amigos no comando da Advocacia-Geral da União.

A toga que o cobre adverte: sai Gil e entra no Pretório Excelso o Eminente Ministro Gilmar Mendes, o Maritaca de Diamantino, o Gerente-Geral da Fábrica de Habeas Corpus para Culpados, o Morubixaba da Segunda Turma, o Juiz dos Juízes, o Doutor em Tudo. Muda o dialeto. Nos votos, troca “proibição” por “vedação”, “caminho” por “senda”, “proteger” por “albergar”. Nada acontece contra alguém, mas “em desfavor de”. Nenhum assunto é discutido: está “em comento”. Ao latinório e ao juridiquês castiço, Gilmar adiciona citações de juristas alemães e trechos em inglês sem tradução.  
No fim do texto impenetrável, o superministro condensa o espetáculo da arrogância em três palavras: “É como voto”.

Essa é a última linha do inverossímil palavrório em que Gilmar Mendes tentou provar que é inconstitucional o trecho da Constituição que proíbe a reeleição dos presidentes da Câmara e do Senado. As 64 páginas caberiam na seguinte frase: “Para que não haja perigo de melhorar, vamos manter onde estão o Rodrigo Maia e o Davi Alcolumbre”. Ao optar por um calhamaço que funde todos os truques, trejeitos e trapaças que marcam seu estilo, Gilmar ministrou uma aula magna de tapeação. E produziu um documento que merece figurar como fecho glorioso de uma História Universal da Chicana.

Segundo Gilmar, todos os regimes e épocas provam que não há democracia sem reeleição no Legislativo

Chicana, explicam os dicionários, é um substantivo feminino que significa “processo artificioso, abuso de recursos e formalidades em questões judiciais; querela de má-fé, cavilação; ardil, sofisma”.  
O voto de Gilmar é tudo isso — e mais um pouco. 
O objetivo era jogar no lixo o parágrafo do artigo 54 que fixa em dois anos o mandato dos membros das mesas do Congresso, “vedada a recondução para o mesmo cargo na eleição imediatamente subsequente”. Para deixar claro que não é bem assim, o ministro da defesa de bandidos faz uma viagem no tempo e no espaço que tem vaga assegurada na mais exigente Antologia das Discurseiras de Porta de Cadeia.
O voo do Maritaca de Diamantino começa pelo Parlamento britânico, faz uma escala nos Estados Unidos, avança para a Espanha renascida das cinzas da ditadura de Francisco Franco, recua para os tempos do imperador Pedro II, sobrevoa a República Velha, ameaça pousar no Brasil dos anos 50, arremete ao topar com a ditadura militar instaurada em 1964 e acaba reduzido a destroços pela colisão com os fatos. Segundo Gilmar, todos os regimes e épocas provam que não há democracia sem reeleição no Legislativo. E por que não no Brasil? 
Porque a Constituição de 1988 incorporou um entulho autoritário legado pelos generais-presidentes, mais especificamente por Artur da Costa e Silva. Foi o pai do Ato Institucional nº 5 quem resolveu livrar-se de parlamentares que, na chefia das casas do Congresso, viviam colocando pedras no caminho dos liberticidas. Gilmar louva sobretudo dois heróis da resistência: o senador paulista Auro de Moura Andrade e o deputado mineiro José Bonifácio Lafayette de Andrada.

Haja safadeza. Quem conhece a História aprendeu que foi Auro quem, em 2 de abril de 1964, declarou vaga a Presidência da República porque João Goulart deixara o país sem autorização do Legislativo. Até o gramado da Praça dos Três Poderes sabia que João Goulart estava em Porto Alegre. O descendente de José Bonifácio de Andrada e Silva, o Patriarca da Independência, era o presidente da Câmara em 13 de dezembro de 1968, a sexta-feira em que foi decretado o AI-5. [felizmente, tanto em 64 quanto em 68, havia um senador da República e um deputado federal para participar,um declarando vago o cargo mais importante da República e outro presidindo a Câmara dos Deputados.Nas duas ocasiões a existência dos ilustres citados melhorou o Brasil, possibilitando seu reerguimento, apesar de agora insistirem em soterrar nossa Pátria Amada.]  

Zezinho Bonifácio apareceu no plenário para avisar que o Congresso entraria em recesso por tempo indeterminado. Irritado com a tranquilidade do presidente, o deputado Celso Passos, do MDB mineiro, berrou o desafio: “Seja mais Andrada e menos Zezinho”. O desafiado preferiu a segunda opção: olhou na direção de Passos, fechou o punho direito, cruzou os braços e revidou com uma “banana”.

Entre uma mentira e um soco na verdade, Gilmar infiltra citações dos atuais ministros do Supremo que nada têm a ver com o caso da reeleição. Todos menos Marco Aurélio Mello. A exceção faz sentido. Marco Aurélio é o atual decano. E Gilmar herdará o posto em julho de 2021, com a aposentadoria do ministro indicado pelo primo Fernando Collor. Aos olhos do Maritaca de Diamantino, Marco Aurélio é um interino que exerce imerecidamente as funções do Pavão de Tatuí. A autópsia da chicana disfarçada de voto informa que Gilmar Mendes já está treinando para entrar na história como o pior decano de todos os tempos.

Sobre o fim da comédia da reeleição dos presidentes da Câmara e do Senado, leia também a reportagem “Por que a Câmara é tão ruim”

Augusto Nunes, jornalista - Coluna na Revista Oeste 

 

domingo, 15 de novembro de 2020

Réquiem para Hong Kong – O Estado de S. Paulo

Opinião

Não há mais uma única voz pró-democracia no Parlamento de Hong Kong atualmente.

[cabe perguntar aos honcongueses,  se querem ir para a República Popular Democrática da Coreia (Coreia do Norte)?  lá terão democracia até no nome oficial do país.]

A democracia de Hong Kong foi executada em junho deste ano quando o Partido Comunista Chinês, aproveitando-se da distração mundial causada pela pandemia, aprovou uma lei de segurança nacional draconiana que eliminou o sistema “um país, dois sistemas”. Agora, Pequim trabalha para sepultar o cadáver e apagar a sua memória. O estrangulamento foi rápido, mesmo para os padrões chineses. Há muito tempo a possibilidade de uma maioria democrática no Conselho Legislativo, o Parlamento de Hong Kong, já fora eliminada pelo Partido Comunista: das suas 70 cadeiras, só metade é eleita diretamente e as restantes são distribuídas a representantes corporativos pelos próceres de Pequim no governo local.

Em julho, logo após a lei de segurança entrar em vigor, o governo pró-Pequim cassou o direito de 12 políticos, incluindo 4 parlamentares, de se elegerem. Em seguida, a pretexto da pandemia, as eleições que deveriam ocorrer em setembro foram adiadas para o ano que vem. Neste mês, oito líderes da oposição, incluindo cinco parlamentares, foram presos. Alguns dias depois, o Congresso comunista em Pequim autorizou as autoridades locais a depor quaisquer parlamentares “não patriotas”. Ato contínuo, os mandatos de quatro legisladores foram cassados sem maiores justificativas. Os últimos 15 parlamentares da oposição – 2 já haviam renunciado quando do adiamento das eleições – abdicaram em protesto. Hoje, não há mais uma única voz pró-democracia no Parlamento de Hong Kong.

Poder-se-ia esperar que as forças de oposição fossem às ruas, como no ano passado. Mas as restrições relacionadas ao coronavírus e, mais ainda, o aparato de repressão chinês devem mantê-las confinadas. Desde a nova lei, vozes dissidentes na academia foram forçadas a se demitir, jornalistas foram detidos e a imprensa local pró-Pequim está acossando os juízes considerados lenientes com manifestantes democratas, enquanto o Partido Comunista manipula as engrenagens para gradualmente, mas inexoravelmente, pulverizar a divisão de poderes em Hong Kong. A autonomia da cidade, que fora pactuada com o Reino Unido em 1997 para durar até 2047, na prática acabou em 2020.

O governo britânico abriu um caminho para conferir a cidadania a 3 milhões de honcongueses. Os Estados Unidos aprovaram em 2017 um decreto que permite sanções a funcionários chineses envolvidos em abusos em Hong Kong e em outros locais – como a província de Xinjiang, onde milhões de muçulmanos chineses são brutalmente perseguidos – e deve aplicá-las agora. Um outro decreto legislativo norte-americano permite revogar o status comercial especial concedido a Hong Kong caso a China elimine a sua autonomia. Há indícios de que Joe Biden pretende endurecer essas sanções, embora, em atenção ao povo de Hong Kong, isso deva ser feito gradualmente. [se o esquerdista, rejeitado até por sua vice,  se tornar presidente dos EUA logo irá perceber que suas sanções só prejudicam o marisco.] 

Tudo isso servirá de munição para a guerra comercial dos EUA contra a China, que traz em seu seio o embrião de uma guerra fria. Nesse mesmo momento a China endurece domesticamente a sua autocracia; intensifica as hostilidades militares contra Taiwan ou em territórios sob disputa no Mar do Sul e nas fronteiras com países como a Índia; boicota países críticos ao regime, como a Austrália; e se movimenta para reorganizar a ordem multilateral global. É importante, portanto, que as democracias liberais se mobilizem para responsabilizá-la moralmente pela quebra de seus compromissos. Mas essa mobilização, por mais importante que seja em vista de futuros abusos, não será capaz de reverter a morte da democracia em Hong Kong.

Há apenas um ano o cenário parecia bem diferente. As ruas foram tomadas por manifestantes e a oposição conseguira ganhos sem precedentes no Parlamento. As expectativas para as eleições de 2020 eram ainda maiores. Mas, emblematicamente, elas não ocorreram. As eleições que ocorrerão em 2021 serão inúteis. Hoje, está claro que o que prometia ser a primavera da democracia em Hong Kong era antes o estertor de um outono – apenas véspera de um inverno que não terá mais fim.

Opinião - O Estado de S. Paulo


 

quinta-feira, 4 de junho de 2020

QUEM SABE LEVAMOS ESTE PAÍS A SÉRIO? - Percival Puggina

Instalou-se no Brasil um estresse político que, mantido, conduzirá a um final infeliz. Ou seja, a tensão está aumentando e arrastando a nação a um estágio cada vez mais crítico. Não haverá solução boa pelo caminho das picuinhas e da crescente violência verbal e comportamental.

O quadro é alarmante. Chega-se ao fim de cada dia abastecido de notícias que amplificam os sentimentos de pânico, medo, revolta, e de uma raiva que arde no peito e clama pelo mau lenitivo chamado... vingança. Na política, passada a régua nessa conta, comprou-se por cem um estresse que talvez não valesse vinte. De outro lado, epidemia de temores é abastecida com dose diária de notícias alarmantes em que recordes são batidos e barreiras ultrapassadas, como se estivéssemos numa olimpíada funesta do obituário internacional.

O povo, que tanto agita os fantasmas mentais de alguns senhores da Suprema Corte, não tem culpa alguma na instabilidade política do país. O povo, o soberano povo, é vítima
É dele o desemprego, o prato magro do pouco alimento, o teto perdido, o lazer impossível, o beco sem saída, a esperança perdida, os longos dias vazios e as ainda maiores noites de insônia. Todos esses apertos passam longe, bem longe dos que exibem a musculatura do respectivo poder enquanto se encaram com aquele olhar gentil com que os boxeadores esquentam hormônios para a luta.

Muitos titulares de poder de Estado talvez se sentissem melhor se o povo se recolhesse em isolamento sanitário horizontal, em isolamento político vertical e num lockdown acústico de onde sequer suas vozes fossem ouvidas. No entanto, as manifestações populares estão salvando a democracia enquanto os poderes se provocam, rixam, e disputam supremacia onde deveria haver independência e harmonia.

Por longos meses, o governo vitorioso nas urnas buscou escorar-se no povo, com o qual Bolsonaro tem conexão incomum. No entanto, à medida que preservava o estilo e os laços com o povão, indispensáveis para manter suas salvaguardas no tabuleiro da política, ele perdia apoiadores naquela parcela da elite que votou nele, mas nunca o acolheu muito bem. Prefeririam, esses, um conservador estilo britânico, tipo Stanley Baldwin, ou seja, um Bolsonaro gentleman, que nunca existiu. Seu apoio perde vigor entre aqueles que, vendo as dificuldades enfrentadas pelo governo esperam dele uma atitude impossível. A atitude possível, perfeitamente possível, é dar o primeiro passo no rumo certo.

Muitas vezes, ao longo dos anos, ouvi dizer que “o Brasil é maior do que a crise”, e tem sido. No entanto, se mais estável, com instituições melhores, seria um país melhor para seus filhos. Este é o país de Bonifácio, de Nabuco, de Caxias, de Pedro II, de Mauá. Não será derrotado num conflito de picuinhas! As urnas falaram alto em 2018 e exigem respeito, principalmente daqueles, tão poderosos e arrogantes, que a ninguém julgam dever respeito. Zele Deus por esta sua nação.

Percival Puggina (75), membro da Academia Rio-Grandense de Letras, é arquiteto, empresário e escritor e titular do site www.puggina.org, colunista de dezenas de jornais e sites no país. Autor de Crônicas contra o totalitarismo; Cuba, a tragédia da utopia; Pombas e Gaviões; A Tomada do Brasil. Integrante do grupo Pensar+.


sexta-feira, 6 de março de 2020

A resposta contra a crise e o vírus - Míriam Leitão

O presidente Jair Bolsonaro mudou vários pontos da reforma administrativa, mas tem adiado insistentemente o seu envio ao Congresso. Ela e a proposta de reforma tributária estão paradas no governo. O problema é que diante do baixo crescimento do ano passado e dos riscos de desaceleração forte da economia internacional, por causa do coronavírus, a agenda de reformas é a resposta que a equipe econômica gostaria de dar para manter um clima positivo na economia do país.

Na semana que vem, a projeção de crescimento oficial será revista de 2,4% para 2%. As previsões de várias instituições do mercado financeiro são de crescimento menor e há várias delas refazendo os cálculos para baixo. A explicação dada dentro do Ministério da Economia é que apesar  de ter sido apenas 1,1% de alta do PIB, no último trimestre o país cresceu 1,7% em comparação ao mesmo trimestre do ano anterior. E que a composição do PIB mudou, há muito mais presença do PIB privado que do governo.

O governo não pensa em adotar qualquer estímulo fiscal, ao contrário de alguns países que estão anunciando expansão de gastos. A avaliação feita no governo é que a economia brasileira tem uma “dinâmica própria” e, portanto, será menos atingida. E que é possível estimular o crescimento através das reformas. A crise internacional decorrente do coronavírus já atingiu o país, na verdade. Estão em queda todas as projeções de alta do PIB e já houve um forte impacto no câmbio. Para se  ter uma ideia, a cotação de R$ 4,65 de ontem representa uma alta de 16% desde 30 de dezembro, quando estava em R$ 4,00.

Se a resposta que será dada pelo país à crise é a aceleração das reformas, é preciso que elas andem. Para isso, precisam ser enviadas. proposta de reforma administrativa já foi alterada, mas ainda permanece no gabinete do presidente. Um dos pontos principais seria a desindexação dos salários do funcionalismo. O presidente Bolsonaro vetou esse dispositivo sob o argumento de que a reforma da Previdência já havia feito várias alterações de regras para os servidores e que, por enquanto, não haveria qualquer mudança nesse sentido. Do ponto de vista econômico isso era fundamental, na visão dos formuladores. O argumento levado ao presidente foi que a inflação está caindo, portanto, esse seria o melhor momento para dar mais um passo no processo de desindexação. Não o convenceram. “Mais pra frente”, ele disse. Outro ponto que o presidente tirou da reforma foi a proibição de que servidores, de atividades típicas de Estado, tenham filiação partidária. A reforma também não atingirá os atuais funcionários. 

Portanto, o ganho fiscal num primeiro momento será pequeno, mas a tese é a de que se criará um funcionalismo público “britânico” no futuro. De qualquer maneira, até agora o presidente mantém esse projeto em sua mesa. A expectativa é a de que ele envie na próxima semana. “Estamos trabalhando para isso”, afirma um economista do governo.
A reforma tributária foi formulada em etapas, como já disse aqui. E a primeira fase a ser enviada é a de união do PIS-Cofins, que deve ir para o Congresso em uma ou duas semanas. O problema é como esse pedaço de reforma se encaixará na proposta que está tramitando. Na avaliação que se faz no governo, a emenda 45, que tramita na Câmara, inspirada em ideias do economista Bernard Appy, aumentaria muito a taxação sobre o comércio.

A avaliação de empresários e consultores é a de que os efeitos da reforma tributária devem demorar a chegar na atividade real. Antes, o que se espera é um período de paralisia e até de aumento de custos, porque dois modelos tributários estarão vigorando paralelamente: o atual  e o novo, que precisa ser entendido e regulamentado.

São muitos os conflitos de interesse e eles podem ocorrer dentro de um mesmo setor. A Abinee, por exemplo, explica que o segmento elétrico é intensivo em mão de obra. Por isso, pode ser mais propenso a aceitar um imposto de transações financeiras, desde que a folha de pagamento seja desonerada. Já as empresas do ramo eletrônico pensam o contrário, pois são mais dependentes de investimentos e se preocupam mais com os custos de capital. Para que dê certo o plano de responder à crise dando mais ritmo às reformas será preciso duas preliminares: que os projetos sejam enviados e que exista mais diálogo com o Congresso

Míriam Leitão, jornalista - O Globo - Com Alvaro Gribel São Paulo


quarta-feira, 9 de outubro de 2019

A moda pegou: o estilo performático de protestos ecológicos - Blog Mundialista

Milenaristas em suas crenças de que o mundo vai acabar e teatrais nas manifestações, adeptos do grupo Extinction Rebellion exportam modelo para mundo


Tem lá a sua graça as manifestações que militantes do Extinction Rebellion estão fazendo em Londres. Pelo menos enquanto os incautos não ficam presos no trânsito ou no metrô. Paralisar nós vitais da cidade é o objetivo tático. Sobre o estratégico falaremos mais adiante. O pendor britânico para a excentricidade e o histórico de militâncias exótica são expostos em todo seu esplendor. Ao contrário das manifestações habituais, mulheres e homens de cabelos brancos estão na linha de frente.

É uma forma de organização deliberadamente planejada pelos líderes do movimento.
Os “seniors” são convocados em todo o país como voluntários para se acorrentar, colar, amarrar ou simplesmente deitar no chão e exigir o esforço de quatro policiais, no mínimo, para serem removidos sem danos para as articulações ou outras partes mais sensíveis. A expressão de felicidade do pessoal da terceira idade parece ter saído diretamente dos tempos em que eram jovens e felizes, tipo anos setenta. O cheiro de maconha também. Mas nada tão radical quanto o pessoal que queria sentar, meditar e, movido a LSD, fazer o Pentágono levitar, como na grande marcha de 14 de abril de 1967 em Washington, contra a guerra do Vietnã.

Também não existem nomes como Allen Guinsberg, Timothy Leary ou Abbie Hoffman, poetas, intelectuais e ideólogos da era da chapação e da revolução dos costumes.
Tem umas estrelinhas e modelos, gente menos conhecida fora do mundo do showbusiness britânico.A mais famosa, Emma Thompson, uma espécie de Greta Thunberg da terceira idade, dessa vez não pegou um voo de primeira classe em Los Angeles para fazer proselitismo em Londres.
Essa história de simpatizantes milionários de causas ecológicas que cruzam o mundo em aviões particulares parece que finalmente está pegando mal.

(...)

O choro convulsivo também caracterizou manifestações recentes de Greta Thunberg. No caso dela, indicando que problemas de saúde mental já reconhecidos, inclusive depressão profunda, não estão recebendo tratamento adequado.
Uma menina de 16 anos no estado da jovem sueca deveria ter adultos responsáveis à sua volta.
Nem um Nobel da Paz daria jeito nessa realidade.

Charme anarquista
A preocupação legítima com a “crise ambiental”, o novo nome do aquecimento global, pode desencadear processos emocionais artificialmente estimulados.  Até o príncipe Harry já disse que tem dias em que acha difícil levantar de manhã da cama diante dos “problemas do mundo” – outro sinal clássico de depressão.
E também dos fenômenos milenaristas, a convicção de um apocalipse iminente, no passado movido por sentimentos religiosos; hoje insuflado por prognósticos climáticos catastróficos.  Crianças e adultos, na Inglaterra e outros países europeus, derramaram lágrimas sentidas ao verem que a “Amazônia está em chamas”.
Curiosamente, o assunto simplesmente desapareceu. Nem a grande queima de floresta virgem na Bolívia, um episódio de fato terrível, é discutida.


MATÉRIA COMPLETA Em Blog Mundialista - VEJA - Vilma Gryzinski