Sem votos para mais nada
A votação
na Câmara dos Deputados da segunda denúncia de corrupção contra o presidente
Michel Temer significou para ele uma vitória, mas também uma derrota. Vitória
porque a Câmara arquivou a denúncia, impedindo assim que o Supremo Tribunal
Federal investigasse Temer por corrupção passiva, obstrução de justiça e
organização criminosa.
Derrota
porque o número de votos que enterrou a segunda denúncia, apesar do tanto que
ele gastou, foi menor do que o que derrotou a primeira em agosto último. Para
aprovar a reforma da Previdência, via emenda à Constituição, Temer precisará de
342 votos de um total possível de 513. [correção: uma emenda à Constituição para ser aprovada precisa dos votos de 3/5 dos deputados = 308 e 3/5 dos votos dos senadores = 49 votos, em dois turnos de votação.] A primeira denúncia foi arquivada com
263 votos. A segunda, com 251.
Não
haverá reforma da Previdência, a não ser que se chame por esse nome a reforma
meia-boca engatilhada para ser submetida à Câmara. Um arremedo de reforma
obrigará o sucessor de Temer a fazer uma de verdade. O sucesso do arremedo de
reforma dependerá mais de Rodrigo Maia (PMDB-RJ), presidente da Câmara, do que
de Temer.
Quer
dizer: se passar no Congresso, todos os méritos a Maia. [tem que passar na Câmara, etapa em que há espaço para uma possível influência do Maia; também tem que passar no Senado, onde o Maia tem influência ZERO.] Se não passar, a culpa
será de Temer. Que planejava passar à História como o presidente que desinflou
a crise econômica legada por Dilma, de triste memória. E que ainda por cima foi
capaz de promover reformas que seus antecessores não tiveram coragem de
encarar, ou não quiseram.
Antes de
ser duas vezes denunciado por corrupção, Temer imaginou que poderia tentar se
reeleger. Se não desse, sem dúvida funcionaria como um eleitor privilegiado do
próximo presidente. Quem apoiasse teria mais chances de vencer. Esses sonhos
foram pelo ralo depois que ele recebeu às escondidas o empresário Joesley
Batista, e foi gravado.
Restará a
Temer cumprir tabela até transferir para o seu sucessor a faixa presidencial
que não usa, ou porque não gosta ou por constrangimento. Vá cuidar da saúde, depois
do susto que levou com a obstrução urológica. Suas coronárias estão a exigir
também algum tipo de reparo. Desfrute das miçangas do poder. Por elas, muitos
já perderam a vida.
Fonte: Blog do Noblat - O Globo