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domingo, 11 de março de 2018

Maior problema do sonho centrista é ele não interessar hoje nem à esquerda nem à direita, os atores de fato

Políticos-candidatos em busca de musculatura buscam distanciar-se de hipotéticos extremismos, e assim preencher espaços eleitorais teoricamente “de centro”. A presença forte de Bolsonaro e a estigmatização do PT oferecem a oportunidade de ocupar um locus narrativo de equilíbrio, pacificação, diálogo, de busca de consensos para desatar nós, agudos e crônicos.

Na teoria, é uma comunicação lógica. O eleitor médio não quer saber de confusão. Quer emprego, salário, segurança, boa escola para os filhos e um sistema eficiente de saúde pública. Coisas teoricamente mais acessíveis se o país não estiver mergulhado numa guerra fratricida e sem quartel entre facções cuja única esperança de sobrevivência é a eliminação do inimigo.  O problema, sempre eles, são os fatos. Vamos recapitular. O PT estava bem adaptado aos mecanismos brasileiros clássicos de produção e reprodução do poder. Quando o partido se enfraqueceu criticamente e os adversários decidiram que era conveniente aproveitar a janela de oportunidade extra-agenda, precisaram, para removê-lo, implodir todo o edifício institucional.

O “centro” eleitoral para 2018 nada mais é que a esperança de reverter esse omelete para ovo cru. Não deixa de ser uma ideia, pois pelo jeito o omelete deu uma desandada. O cansaço com a confusão é perceptível. Mas existem obstáculos. O principal deles: ninguém descobriu ainda como fazer o ovo cozido ou frito voltar ao estado em que saiu da galinha.  A política brasileira faz lembrar passados recentes. A esquerda parece estar na segunda metade dos anos 60 do século passado. A ofensiva adversária é mortal, mas ela prefere ver no desastre anunciado uma oportunidade de disputa de hegemonia. A direita está nos anos 70. Sonha com um país politicamente pacificado, mas com o caminho do poder fechado aos adversários.

Centro político é algo imaterial. Esquerda e direita chegam a soluções intermediárias, necessariamente temporárias, quando há um interesse objetivo comum e a opção de simplesmente eliminar o oposto se mostra inexequível. O exemplo mais recente entre nós foi a transição negociada de 1984/85, que produziu três décadas de relativa paz antes de agora colapsar.  Há na direita hoje qualquer interesse de buscar um pacto de pacificação com o PT? Não, pois implicaria aceitar que o PT possa disputar o poder em condições de igualdade. Sem isso, a pacificação tampouco interessa ao partido de Lula, que tem hegemonia absoluta na esquerda real e uma narrativa capaz de manter reunido seu mercado eleitoral.

Daí que todas as tentativas de anabolizar um “centro” tenham falhado, ou estejam patinando. Falta espaço material para essa construção. A hora ainda é dos ulysses, não chegou o momento dos tancredos. Se é que vai chegar. A direita está apavorada com a resiliência de Lula e a esquerda está inclinada a achar que acreditou demais na democracia burguesa. Acenos centristas são vistos à direita como ilusões de kerenskys, e à esquerda como patetices de gorbatchevs. Esses ensaios ou são apenas farsescos, lobos-maus vestidos de vovozinha para abocanhar a chapeuzinho vermelho, ou são movimentos sinceros mas desprovidos de significado real. Mesmo se vitoriosos, seriam abduzidos por um dos polos da disputa de fato.

Abdução já visível nas estruturas tradicionais que ao longo destas três décadas representaram, em maior ou menor grau, essa visão de um “centro democrático”. Alckmin talvez seja um dos últimos moicanos. Será o candidato, mas montado numa estrutura que nada mais tem a ver com a antiga ambição social-democrata do PSDB. Basta olhar quem vem atrás dele na fila.  Já no PT, que depende mais de Lula do que os outros dependem de seus líderes, mesmo Lula não tem mais a mesma liberdade de voo. O partido acabará fazendo o que o ex-presidente mandar, mas a inquietação é perceptível. Há sempre um custo para o líder quando as escolhas dele conduzem a armadilhas. Ainda mais quando ele não sabe bem como sair delas.
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Há outro complicador. Na política, acordos são obrigatoriamente políticos. Reconhece-se a legitimidade alheia e reparte-se poder. Mas toda a pressão da opinião pública stricto sensu é para deslegitimar as duas coisas. Bonito agora é governar com viés absolutista esclarecido. Sendo que o “esclarecido” significa seguir bovinamente essa mesma opinião pública.

* Alon Feuerwerker é jornalista e analista político/FSB Comunicação