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domingo, 7 de maio de 2023

Selic - Juro alto é consequência de governo gastador, não é culpa do Banco Central

Gazeta do Povo - Vozes

Alexandre Garcia

Independência do Banco Central é comemorada

 O presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto.| Foto: José Cruz/Agência Brasil

Parece divertida, mas na verdade é triste essa nova onda da humanidade que está ganhando muitos seguidores
Uma importantíssima prova ciclística nos Estados Unidos foi vencida por um homem que se declara mulher. 
Como ele pôde participar da prova é algo que eu não entendo. 
Como é que as outras competidoras, todas mulheres, permitiram isso e concordaram em participar da prova em condições tão desiguais? 
Todo mundo sabe que a musculatura, a estrutura corporal do homem é diferente da mulher. 
Parece que colocaram em prática aquela charge com as bicicletas prontas para arrancar na largada, há uma moto no meio e o dono da moto diz: “ela se sente bicicleta”.

Política de gasto livre do governo mantém os juros nas alturas
O presidente Lula criticou o Banco Central por manter a taxa básica de juros, a Selic, em 13,75%.
Eu aprendi muito com a Federação das Indústrias do Rio Grande do Sul e repito aqui o que li agora na análise sobre esse assunto. Ela diz que sim, o juro está alto para combater a inflação, mas o problema não é do Banco Central; o problema é o governo. 

O governo está sinalizando liberação de gastos, com essa história de não seguir o teto; vai gastar mais e acha que a solução não é conter a despesa, mas cobrar mais do contribuinte, arrecadar mais impostos. Essa é a questão, e quem corrige isso?
Está nas mãos do Congresso, que irá votar o arcabouço do governo, e não do Banco Central. A taxa básica de juros é alta, eles reconhecem que a taxa é alta, prejudica os negócios da indústria, mas que isso não é causa, é consequência. A causa é o governo e suas políticas, que estão passando agora pelas mãos de deputados e senadores. Perfeita a análise da Federação das Indústrias do Rio Grande do Sul.
 
Governo tirou o time de campo na censura e perdeu no saneamento
Gostei muito de um comentário do José Roberto Guzzo, comparando essa retirada do projeto de censura nas redes sociais com o futebol. 
Ele disse que é como um time de futebol que, ao perceber que vai perder o jogo, não entra em campo. 
E no dia seguinte o governo perdeu – felizmente, porque não fica em perigo um futuro com água na casa de todos os brasileiros e esgoto na casa da maioria dos brasileiros. 
O Marco do Saneamento seria atingido por decisões do governo Lula, mas não passou o que queriam que passasse, que era estatizar de novo. Todo mundo sabe que poder público não funciona nesses casos
Poder público tem de funcionar para saúde, educação, segurança pública, Justiça... Para produzir coisas, entregar água na casa das pessoas, tirar esgoto da casa das pessoas, melhor deixar com a iniciativa privada, escolhida por meio de licitação. As estatais ficariam dispensadas de licitações para renovar contrato, mas isso foi derrubado pela Câmara e está indo agora para o Senado.
 
Devido processo legal é ficção no Brasil do STF
Almocei em Lisboa com uma juíza criminal, e ela está apavorada com o que está acontecendo com o devido processo legal no Brasil. 
Ela disse, por exemplo, que Bolsonaro não tem mais foro privilegiado, ele não é caso para o Supremo. 
E a questão de vacina não tinha nada a ver: Bolsonaro tinha passaporte vermelho, diplomático, e não precisava de vacina.  
O pior de tudo é que a subprocuradora-geral, Lindôra Araújo, avisou Alexandre de Moraes que não havia nenhum indício minimamente consistente para justificar uma busca na casa do ex-presidente
Isso, em condições normais de temperatura e pressão, de respeito ao devido do processo legal, teria acabado ali. Não é o juiz que pede; talvez o juiz possa pedir para orientar, instruir o processo, mas se o acusador diz que não há nenhuma razão para isso está tudo encerrado. 
No entanto, aqui o acusador diz que não tem nenhuma razão para busca e apreensão, e mesmo assim é feito. Esse é o “devido processo legal” completamente anormal que vigora no nosso país.

Conteúdo editado por: Marcio Antonio Campos

Alexandre Garcia, colunista - Gazeta do Povo - VOZES


quarta-feira, 10 de novembro de 2021

Panturrilhas, o nosso 'segundo coração'

Marcio Atalla - O Globo

A forças das pernas refletem na longevidade ativa

Nunca se falou tanto da importância dos músculos e sua força como um marcador de saúde e de autonomia para longevidade ativa. E os músculos das pernas são ainda os mais importantes nesse processo.

Leia também: Universidades criam exoesqueletos que aumentam a velocidade da corrida ou caminhada

Todos os movimentos do nosso corpo são realizados pelas contrações musculares que fazemos, logo, quem tem pouca musculatura tem também músculos mais fracos, o que acarretará em maior dificuldade para exercer funções do dia a dia, como caminhar, carregar sacolas, subir escadas, dar um “pique” pra atravessar uma rua...

Saiba mais: Dar 7 mil passos por dia reduz em até 70% o risco de morte, mostra estudo

Muitos estudos já constataram que a baixa quantidade de massa muscular está relacionada a uma vida mais curta e uma velhice com doenças. Até mesmo a capacidade funcional e cognitiva, é afetada com a falta da músculos das pernas! Um estudo feito pelo King’s College de Londres, mostrou que as pernas, que reúnem o maior grupo muscular no corpo humano, tem grande responsabilidade em manter as funções cognitivas. O estudo contou com 324 mulheres gêmeas, com idade média de 55 anos. Elas foram acompanhadas durante 10 anos e suas capacidades de aprendizado e memória foram testadas regularmente. Uma década depois, a gêmea que tinha mais força nas pernas no início do estudo teve melhores resultados e sofreu menos perda cognitiva associada ao avanço da idade que sua irmã.

Segundo a revista americana Prevention, entre os sinais de longevidade, os músculos das pernas fortes estão no topo da lista, como os mais importantes e essenciais. Não é pra menos que as panturrilhas são consideradas uma espécie de “segundo coração” do nosso corpo. É por meio da contração e do relaxamento desses músculos que o sangue é bombeado de volta para o coração com mais eficiência, e como é um movimento contra a gravidade, precisa de eficientes contrações musculares para acontecer. Logo pernas fortes farão esse trabalho melhor!

Um estudo da Universidade de Copenhague, na Dinamarca, concluiu que bastam duas semanas de inatividade muscular para que jovens adultos, com média de 23 anos, perdessem um terço da força, se equiparando a pessoas com entre 40 e 50 anos de idade. O estudo analisou jovens e pessoas de meia idade que tiveram uma das pernas imobilizadas para efeito de comparação. Os mais jovens perderam um terço da força muscular, enquanto os idosos, por volta de um quarto. Porém, os jovens perdem duas vezes mais massa muscular, pelo fato de terem mais músculos.

A equipe também investigou o tempo em que os participantes demorariam para recuperar a força. O treino era de bicicleta, três vezes por semana, com carga leve. Esse treino não foi suficiente para recuperar a força muscular inicial, apenas a massa muscular perdida. A recuperação da potência, nesse caso, deveria ser feita com ajuda de exercício de força resistida, como a musculação.

Isso acontece porque existem duas coisas: a força, a potência muscular e a quantidade de massa muscular. E uma não está relacionada à outra. A potência, ou força muscular, é a tensão máxima que pode ser gerada por um músculo ou um grupo muscular. E não necessariamente um cara grandão, cheio de músculos aparentes, tem uma boa potência muscular. Muitas vezes, uma pessoa visualmente mais “fraca” pode ser mais forte
É como comparar um fisiculturista com um lutador de artes marciais, como Bruce Lee, por exemplo. Os músculos são formados por fibras de contração rápida e de contração lenta. Estas estruturas agem de maneiras diferentes em ações de explosão muscular e de resistência. Ou seja: tamanho não tem relação direta com força.

Existe um outro ponto fundamental sobre pernas fortes e longevidade ativa. O fato de que perdemos massa muscular, de forma espontânea, fazendo ou não atividade física, com o passar dos anos. Mas, faze-la é fundamental para evitar que essa perda ocorra de forma acelerada. À medida que uma pessoa envelhece, a precisão e a velocidade de transmissão das instruções entre o cérebro e as pernas diminuem, e isso provoca quedas, tombos. Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), a prevalência de quedas, pelo menos uma vez ao ano, gira entre 30 e 60% na população com mais de 65 anos, e em pessoas acima de 80 anos, a prevalência é ainda maior e a mortalidade associada a quedas chega a ser seis vezes maior.

A fratura, como consequência dos traumas, já é a quinta principal causa de morte em indivíduos a partir dos 65 anos, e também é responsável por 70% das mortes acidentais em pessoas com mais de 75 anos. 
Pessoas muscularmente mais fracas têm 60% mais chance de morrer por qualquer causa quando comparadas às pessoas mais fortes.
Por isso, o importante é caminhar, movimentar bastante as pernas, mantendo-as fortes, firmes, alertas
Se você é praticante de atividade física, e fica sem fazer seu exercício físico por duas semanas, por exemplo, e ao retomar os exercícios, percebe o quão mais difícil está sendo fazer a mesma corrida ou levantar o mesmo peso de antes, significa que você perdeu força e massa magra. E a recuperação nem sempre é tão rápida. 
Por isso, o melhor é manter as pernas fortes e firmes, durante toda a vida.

Marcio Atalla, colunista - O Globo

 

terça-feira, 10 de novembro de 2020

O recado dessas pessoas - Carlos Andreazza

O Globo

É aposta na derrota desqualificar a legitimidade daqueles que votam em Trump — e Bolsonaro 

O que ora vemos nos EUA é um dos futuros do Brasil. Este expediente golpista, [golpista ? Curioso é que quando usado por um candidato que não faz parte do sistema é golpe; fosse usado por algum esquerdista, algum apátrida ou coisa parecida seria expediente legitimo.

Logo gritariam que judicializar uma questão é direito de qualquer cidadão - aliás, em 2022 Bolsonaro não vai usar esse recurso por ser esmagadora sua vitória mas, se houvesse necessidade ele seria acusado de golpista = golpe via Poder Judiciário???]de acusar fraude no sistema eleitoral, será usado por Jair Bolsonaro daqui a dois anos, qualquer que seja sua condição competitiva. Ninguém se poderá proclamar surpreendido. O presidente brasileiro não esconde as cartas; ou não terá sido ele, poucos meses atrás, a afirmar ter provas — jamais apresentadas — de que a eleição de que saiu vencedor fora fraudada? Não falava de 2018, mas para 2022. [provas devem ser apresentadas ao Poder Judiciário, se e quando for necessário].

Donald Trump ataca, em 2020, a mais poderosa expressão da democracia na América: o voto combinado à independência federativa. Mobiliza suspeição sobre a integridade da exata mesma estrutura descentralizada por meio da qual se elegeu em 2016. Empreendimento especialmente grave porque mina — com mentiras vestidas de teorias da conspiração — uma instituição, a tradição eleitoral americana, fundada na confiança entre cidadãos. [cabe lembrar que o Poder Judiciário, em vários tribunais, incluindo a Suprema Corte, aceitou os questionamentos apresentados pelo presidente Donald Trump. Ou o Poder Judiciário dos EUA se tornou cúmplice de uma sabotagem?]

Não se trata de um mau perdedor, com o que se confundiria com uma criança. Mas de um sabotador. Um populista autoritário que manipula, como fazem os personalistas, a fantasia influente sobre a própria potência. Ou seja: alguém como ele não perde senão roubado — eis a mensagem, destinada a fomentar o choque e manter ativa a militância.

Trump fala para 2024 e age amparado por um precedente lamentável, embora de natureza diversa. Judicialização de processo eleitoral é sempre trauma. Refiro-me à eleição de 2000; aquela em que o democrata Al Gore levou a apertada derrota para o republicano George W. Bush à Suprema Corte. Dirão ambas as partes, os democratas de então e os republicanos de hoje, que recorrer à Justiça é do jogo. Certo. Vendo agravar-se fissura nunca curada, digo eu que, do jogo, certamente não é, ancorar as demandas judiciais plantando dúvida, sem provas, contra um pacto social, o eleitoral, dependente de boa-fé. Democratas afirmam que assim procedem agora os republicanos. Republicanos, que assim procederam os democratas há 20 anos. Aí está. Não é belo; sendo óbvio o tipo de oportunista que se beneficia do império da suspeição.

Trump opera a desconfiança com maestria. Mas só o faz porque produto de uma grande parcela da sociedade americana que descrê. E que, porque descrê, endossa que seu presidente dilapide pilares civilizacionais e aposte na cultura da suspeita. Ele é a manifestação de uma doença no pulmão da democracia liberal. Um sintoma que teve mais de 70 milhões de votos, muitíssimos dos quais ou não acreditam ou não se importam que um aparato eleitoral vigente há mais de dois séculos seja esculachado.[os mais de 70.000.000 de eleitores que votaram em Trump possuem o direito legítimo de ter suas denúncias esclarecidas.

Os republicanos, sob a liderança do presidente Donald Trump,  não querem que as eleições sejam anuladas. Querem, o que é um legítimo direito, que a lisura das mesmas seja comprovada.Constatada fraude, a anulação é uma consequência inevitável.]

Esperava-se — nas bolhas elitistas — que das urnas emergisse dura resposta a Trump. A realidade que se impõe é outra, porém. Ele perde, mas fica. Vasta porção da comunidade está de saco cheio do sistema e sustenta as condições permanentes para que discurso e prática trump-bolsonaristas, de desconstrução institucional, prosperem. Boa parte da sociedade americana idem a brasileira não acredita que o establishment, aí incluído o aparelho eleitoral, represente-a, que cuide de seus interesses. Há uma erosão agressiva do valor da representação. É daí que se eleva o populismo autoritário.

É erro grave enfrentar o que Trump e Bolsonaro são criminalizando aqueles que representam. Eles representam gente. Milhões de pessoas. É erro estúpido, obra de arrogância, aposta na derrota, desqualificar a legitimidade daqueles que votam em Trumpe Bolsonaro como se fossem monstros fascistas ou imbecis alienados. Trump, como Bolsonaro, é fruto do esgarçamento do tecido social; esgarçamento que decorre de as pessoas sentirem, na pele, que o fosso se alarga e aprofunda entre elas e aqueles que as deveriam defender. Descrença. As pessoas estão convencidas de que o establishment se voltou para si, que existe apenas para cuidar dos próprios interesses, o que vai agravado — no caso brasileiro — pelo processo de condenação da atividade política.

O fosso aumenta. A antiga classe média, outrora liga, perde — perdeu — a musculatura. Amplia-se o volume de excluídos. Amplia-se a sensação de desamparo dos que se sentem traídos, abandonados, pelas elites político-econômicas. A ideia de voto se deteriora. Amplia-se a base de ressentimentos e de ressentidos. É o circuito que alimenta a desconfiança.

O trump-bolsonarismo é um orgânico complexo enriquecedor e explorador de ressentimentos. Chamar de gado quem dá vazão a suas insatisfações-desilusões votando em Bolsonaro é empurrar ainda mais esses indivíduos aos braços do populismo; equivale a tratar como bovina uma rara escolha — talvez a forra — de quem muitas vezes nunca tem escolha. Trump e Bolsonaro ascendem dessa captação de sentimentos, desse arrebanhar de impotentes. Eles atacam as instituições republicanas autorizados por uma engrenagem de descrenças que processa República como coisa de poucos.

Vá falar a um desempregado, cuja esperança é não ter o filho cooptado pelo tráfico, sobre a importância da democracia... Trump ora se insurge será Bolsonaro amanhã — contra o mesmo sistema que o cidadão do país profundo sente que o exclui. Eles têm mandato para isso. É preciso entender o recado dessas pessoas. 

Carlos Andreazza, colunista - O Globo

 

domingo, 1 de novembro de 2020

Salada indigesta - Alon Feuerwerker

Análise Política

Qualquer um que erre pouco e portanto colha sucessos em série corre o risco crescente de alguma hora cometer um erro muito grave. Costuma ser um subproduto da autossuficiência. Será o caso de Jair Bolsonaro se continuar colocando dificuldades no caminho da produção e distribuição por aqui em massa de alguma vacina eficaz contra o SARS-CoV-2. [quer nos parecer que o presidente Bolsonaro apenas adota uma postura de isenção e imparcialidade - dever de todo funcionário público, especialmente do maior e mais importante = Presidente da República Federativa do Brasil = evitando demonstrar simpatia com qualquer projeto de vacina.]

Imagine o leitor ou leitora uma situação em que a vacinação já tenha começado em diversos lugares do planeta, mas esteja parada aqui devido a questiúnculas políticas. Um que errava pouco e quando errou decidiu caprichar foi Donald Trump. Só olhar as pesquisas de março para cá. Se Joe Biden ganhar na terça-feira, a maior parte da conta irá para o comportamento errático e politicamente primário do incumbente. Que deixou de bandeja para o adversário a defesa da saúde e do bem-estar coletivos.

Trump, a exemplo de Bolsonaro, apostou no ponto futuro. Alguma hora as pessoas passariam a ter mais medo da ruína que do vírus. Não deixa de fazer sentido. Onde estava o risco maior para Trump? No meio do caminho tinha uma eleição, e era prudente saber como estaria a pandemia na hora de os eleitores saírem para a urna. Bolsonaro leva algumas vantagens sobre o colega. Duas são as principais. Não enfrenta uma oposição unificada e o mandato dele só estará em jogo daqui a dois anos. Por enquanto, o preço que paga pela imagem de certo desdém diante da vida humana não compromete decisivamente sua musculatura político-eleitoral. E é altamente provável que em 2022 a Covid-19 já esteja bem mais controlada. [o que imaginamos ser no momento a principal preocupação do presidente Bolsonaro é minorar a fome que atinge milhões de brasileiros e consolidar a retomada da economia.

Em termos da coronavírus a solução imediata é manter as condições que amplie a imunidade de rebanho e rogar a DEUS para que seja desenvolvida uma vacina segura e eficaz contra a Covid-19.]

Acontece que, ao contrário de Trump, o presidente brasileiro não tem uma base parlamentar sólida e coesa. Foi o que salvou o norte-americano no impeachment. O risco para Bolsonaro se mergulhar na impopularidade é bem maior. Os animais selvagens no ecossistema de Brasília têm um faro especialmente aguçado para sentir o cheio de patos mancos. Todas as pesquisas mostram que quando existir uma vacina a esmagadora maioria da população vai querer se vacinar. Há aqui e ali preferências sobre a nacionalidade do imunizante, mas na hora do vamos ver o cidadão e a cidadã comuns não ficarão indiferentes a um passaporte para a volta à normalidade no transporte, na escola, no trabalho, no lazer.

Bolsonaro tem mostrado desconforto sobre a possibilidade de a guerra da vacina acabar judicializada. Se raciocinar bem, talvez seja uma solução para o presidente. Ele fica por aí adulando o núcleo mais duro da sua base, enquanto outros resolvem o problema prático que se não for resolvido irá causar grave dor de cabeça ao ocupante do Planalto. Aconteceu assim com o auxílio emergencial. E, por falar nele, Bolsonaro já tem bons desafios para abrir 2021. O fim do auxílio. A necessidade declarada de cumprir draconianamente o teto de gastos. A sucessão nas presidências do Congresso. O rescaldo de um resultado (até agora) não brilhante da eleição municipal. A possível derrota de Trump.

Uma crise com a vacina da Covid-19 será um tempero e tanto para essa salada já indigesta.

Alon Feuerwerker, jornalista e analista político

Publicado originalmente na revista Veja número 2711, de 04 de novembro de 2020


domingo, 11 de março de 2018

Maior problema do sonho centrista é ele não interessar hoje nem à esquerda nem à direita, os atores de fato

Políticos-candidatos em busca de musculatura buscam distanciar-se de hipotéticos extremismos, e assim preencher espaços eleitorais teoricamente “de centro”. A presença forte de Bolsonaro e a estigmatização do PT oferecem a oportunidade de ocupar um locus narrativo de equilíbrio, pacificação, diálogo, de busca de consensos para desatar nós, agudos e crônicos.

Na teoria, é uma comunicação lógica. O eleitor médio não quer saber de confusão. Quer emprego, salário, segurança, boa escola para os filhos e um sistema eficiente de saúde pública. Coisas teoricamente mais acessíveis se o país não estiver mergulhado numa guerra fratricida e sem quartel entre facções cuja única esperança de sobrevivência é a eliminação do inimigo.  O problema, sempre eles, são os fatos. Vamos recapitular. O PT estava bem adaptado aos mecanismos brasileiros clássicos de produção e reprodução do poder. Quando o partido se enfraqueceu criticamente e os adversários decidiram que era conveniente aproveitar a janela de oportunidade extra-agenda, precisaram, para removê-lo, implodir todo o edifício institucional.

O “centro” eleitoral para 2018 nada mais é que a esperança de reverter esse omelete para ovo cru. Não deixa de ser uma ideia, pois pelo jeito o omelete deu uma desandada. O cansaço com a confusão é perceptível. Mas existem obstáculos. O principal deles: ninguém descobriu ainda como fazer o ovo cozido ou frito voltar ao estado em que saiu da galinha.  A política brasileira faz lembrar passados recentes. A esquerda parece estar na segunda metade dos anos 60 do século passado. A ofensiva adversária é mortal, mas ela prefere ver no desastre anunciado uma oportunidade de disputa de hegemonia. A direita está nos anos 70. Sonha com um país politicamente pacificado, mas com o caminho do poder fechado aos adversários.

Centro político é algo imaterial. Esquerda e direita chegam a soluções intermediárias, necessariamente temporárias, quando há um interesse objetivo comum e a opção de simplesmente eliminar o oposto se mostra inexequível. O exemplo mais recente entre nós foi a transição negociada de 1984/85, que produziu três décadas de relativa paz antes de agora colapsar.  Há na direita hoje qualquer interesse de buscar um pacto de pacificação com o PT? Não, pois implicaria aceitar que o PT possa disputar o poder em condições de igualdade. Sem isso, a pacificação tampouco interessa ao partido de Lula, que tem hegemonia absoluta na esquerda real e uma narrativa capaz de manter reunido seu mercado eleitoral.

Daí que todas as tentativas de anabolizar um “centro” tenham falhado, ou estejam patinando. Falta espaço material para essa construção. A hora ainda é dos ulysses, não chegou o momento dos tancredos. Se é que vai chegar. A direita está apavorada com a resiliência de Lula e a esquerda está inclinada a achar que acreditou demais na democracia burguesa. Acenos centristas são vistos à direita como ilusões de kerenskys, e à esquerda como patetices de gorbatchevs. Esses ensaios ou são apenas farsescos, lobos-maus vestidos de vovozinha para abocanhar a chapeuzinho vermelho, ou são movimentos sinceros mas desprovidos de significado real. Mesmo se vitoriosos, seriam abduzidos por um dos polos da disputa de fato.

Abdução já visível nas estruturas tradicionais que ao longo destas três décadas representaram, em maior ou menor grau, essa visão de um “centro democrático”. Alckmin talvez seja um dos últimos moicanos. Será o candidato, mas montado numa estrutura que nada mais tem a ver com a antiga ambição social-democrata do PSDB. Basta olhar quem vem atrás dele na fila.  Já no PT, que depende mais de Lula do que os outros dependem de seus líderes, mesmo Lula não tem mais a mesma liberdade de voo. O partido acabará fazendo o que o ex-presidente mandar, mas a inquietação é perceptível. Há sempre um custo para o líder quando as escolhas dele conduzem a armadilhas. Ainda mais quando ele não sabe bem como sair delas.
*
Há outro complicador. Na política, acordos são obrigatoriamente políticos. Reconhece-se a legitimidade alheia e reparte-se poder. Mas toda a pressão da opinião pública stricto sensu é para deslegitimar as duas coisas. Bonito agora é governar com viés absolutista esclarecido. Sendo que o “esclarecido” significa seguir bovinamente essa mesma opinião pública.

* Alon Feuerwerker é jornalista e analista político/FSB Comunicação