De mãos abanando
Deputados e
senadores ferozmente contrários à aprovação do pacote de combate ao
crime e à corrupção enviado pelo governo ao Congresso cogitam uma
suprema maldade para atingir diretamente o ministro Sérgio Moro, da
Justiça e da Segurança Pública, a quem temem e querem ver pelas costas. Moro foi o autor do
pacote. E uma das medidas ali propostas proíbe a indicação para o
Supremo Tribunal Federal de quem tenha, nos quatro anos anteriores,
“ocupado mandato eletivo federal ou cargo de procurador-geral da
República, advogado-geral da União ou ministro de Estado”.
A maldade em estudo:
aprovar só parte do pacote, desidratado das medidas mais duras contra a
corrupção e de outras que, segundo eles, demonizam a política. Mas
manter entre as medidas aprovadas a que impediria Moro de ser indicado a
ministro do Supremo como o presidente Bolsonaro promete fazer. Pela primeira vez em
público, Bolsonaro confessou que garantiu a Moro fazê-lo ministro do
Supremo, condição para que ele afinal aceitasse ser ministro do seu
governo. Sua entrevista à rádio Bandeirantes foi uma maneira de afagar o
ex-juiz no momento em que Moro só colhe dissabores.
O mais recente deles foi a
aprovação por Comissão Especial do Congresso da devolução ao Ministério
da Economia do Controle de Atividades Financeiras (COAF), órgão que na
Medida Provisória que deu nova configuração administrativa ao governo
foi transferido para o ministério ocupado por Moro. Dissabor tão recente
quanto foi também a assinatura por Bolsonaro do decreto que ampliou o
porte de armas. Moro teve apenas 24 horas para examinar o decreto e dar
sua opinião. Foi contra ampliação tão ambiciosa. Fez uma série de
reparos. Não foi atendido por Bolsonaro.
Daí o afago que ganhou
ontem do presidente. “Eu fiz um compromisso com ele porque ele abriu mão
de 22 anos de magistratura. Eu falei: a primeira vaga que tiver lá, vai
estar a sua disposição”, declarou Bolsonaro, a propósito da futura
indicação de Moro para uma vaga de ministro no Supremo. Tradução do recado de
Bolsonaro para Moro: fique comigo até o fim do próximo ano que cumprirei
o que combinamos. É claro que a nomeação depende da aprovação do seu
nome pelo Senado, e aí é com você. (Moro entrou numa fria por excesso de
vaidade.)